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Leadbeater, C. W.
Excertos de ‘O Lado Oculto das Coisas‘, 1913
De certo modo, podemos considerar os espíritos da natureza como os habitantes originais da terra, afugentados de algumas partes dela pela invasão do homem, assim como o têm sido muitos animais selvagens. Tal como estes, os espíritos da natureza evitam as grandes cidades e todos os sítios onde os homens se reúnem; de sorte que sua influência quase não se faz sentir. Mas nos recantos tranquilos do interior, no meio da floresta e no campo, nas montanhas ou no mar, os espíritos da natureza estão sempre presentes, e, apesar de raramente se mostrarem, sua influência é enorme e se encontra em toda a parte, à semelhança do perfume das violetas, que impregnam o ar, não obstante estarem modestamente ocultas entre as folhas.
Os espíritos da natureza formam uma evolução à parte, de todo distinta da evolução da humanidade no estágio atual. Já ficamos conhecendo o curso percorrido pela Segunda Emanação através dos três reinos elementais, descendo até o mineral e subindo pelos reinos vegetal e animal para atingir a individualidade no nível humano. Sabemos que, depois de alcançada a individualidade, o desenvolvimento da humanidade conduz gradualmente nossos passos ao Caminho, e então continuamos para a frente com vistas ao Adeptado e às possibilidades grandiosas que se acham além.
Essa a nossa linha de desenvolvimento; não devemos, porém, cometer o erro de pensar que seja a única. Neste mesmo globo, a vida divina está impulsionando para cima, através de várias correntes, das quais a nossa é apenas uma, e, numericamente, de modo algum a mais importante. Servirá para ajudar- nos a compreendê-lo se nos lembrarmos de que, enquanto a humanidade em sua manifestação física ocupa tão somente uma pequena parte da superfície terrestre, entidades de um nível correspondente de outras linhas de evolução não apenas povoam a terra em muito maior número do que os homens, mas ao mesmo tempo enchem as enormes planícies do mar e os campos do ar.
LINHAS DE EVOLUÇÃO
No estágio atual vemos essas correntes seguirem paralelamente uma à outra, mas por enquanto inteiramente distintas. Os espíritos da natureza, por exemplo, nunca foram nem jamais serão membros de uma humanidade como a nossa, ainda que a vida interior do espírito da natureza provenha da mesma Divindade Solar que a nossa, e a Ela deva igualmente retornar. As correntes podem ser mais ou menos consideradas como acompanhando pari passu o nível mineral, mas tão logo passam ao arco ascendente da evolução começa a surgir a divergência. O estágio de metalização é naturalmente aquele em que a vida se encontra mais profundamente imersa na matéria física; enquanto, porém, algumas das correntes retêm formas físicas ao longo de vários dos estágios posteriores de seu desenvolvimento, tornando-as, cada vez mais, uma expressão da vida interior, há outras correntes que começam a alijar a parte mais grosseira, e durante o seu restante aperfeiçoamento neste mundo somente se utilizam de corpos compostos de matéria etérica.
Uma dessas correntes, por exemplo, depois de terminar o estágio em que participa da mônada mineral, em vez de passar ao reino vegetal reveste-se de veículos de matéria etérica que habitam o interior da terra, vivendo realmente dentro da rocha sólida. A muitos estudantes é difícil compreender como é possível que uma criatura assim more no interior de uma substância sólida como a rocha ou a crosta terrestre. Criaturas dotadas de corpos de matéria etérica não encontram obstáculo na substância da rocha para o seu movimento ou sua visão. Em verdade, a matéria física em seu estado sólido é, para elas, o seu elemento natural e o seu habitat – o único a que estão adaptadas e onde se sentem em casa. Essas vidas inferiores, em veículos etéricos amorfos, não são de fácil compreensão para nós; mas, de qualquer forma, elas evolucionam de estágio quando, apesar de ainda habitarem a rocha sólida, vivem na proximidade da superfície da terra, em vez de ficarem nos sítios profundos; e as mais desenvolvidas são, ocasionalmente, capazes de se destacarem da terra por um período curto.
Tais criaturas são vistas algumas vezes, e mais frequentemente ouvidas, em cavernas ou minas, e na literatura medieval foram descritas com o nome de gnomos. A matéria etérica de seus corpos não é, nas condições ordinárias, visível aos olhos físicos; assim, quando se fazem visíveis, uma de duas coisas sucede: ou elas se materializam, envolvendo-se em um véu de matéria física, ou o observador experimenta um aumento de sensibilidade, que o habilita a responder ao comprimento das ondas etéricas superiores, e a ver o que normalmente lhe não é perceptível.
A ligeira e transitória exaltação da faculdade para isso necessária não é muito incomum, nem difícil de obter-se; e por outro lado a materialização se torna fácil para criaturas que se acham tão somente um pouco além dos limites da visibilidade, e que, por isso, seriam vistas com muito mais frequência do que o são, se não fosse a dificuldade criada pela vizinhança dos seres humanos – dificuldade que todas elas partilham, exceto os tipos inferiores dos espíritos da natureza. Seu próximo estágio de adiantamento as conduz à subdivisão das fadas, o tipo de espíritos da natureza que vivem habitualmente na superfície da terra, como nós, embora usem apenas corpos etéricos; e, depois, passam a espíritos do ar, no reino dos anjos, pela forma que mais tarde será explicada.
A onda de vida que se acha no nível mineral manifesta-se não só nas rochas que formam a crosta sólida da terra, mas também nas águas do oceano; e, assim como aquelas podem atravessar as formas etéricas inferiores de vida (presentemente desconhecidas do homem) no interior da terra, assim também as últimas podem passar através das correspondentes formas etéricas inferiores que têm sua morada nas profundezas do mar. Neste caso igualmente o estágio ou reino seguinte nos conduz a formas mais precisas, conquanto ainda etéricas, habitantes das profundidades médias, e que só mui raramente aparecem na superfície. Para elas, o terceiro estágio (correspondente ao das fadas em relação aos espíritos das rochas) consiste em se unirem à imensa legião dos espíritos da água que pululam nas vastas planícies do oceano com sua vida jovial.
Tomando exclusivamente corpos de matéria etérica, as entidades que seguem essas linhas de desenvolvimento, como se verá, saltam sobre os reinos vegetal e animal, bem como sobre o reino humano. Contudo, há outros tipos de espíritos da natureza que entram naqueles dois reinos antes de principiarem a diversificar. No oceano, por exemplo, há uma corrente de vida que, após deixar o nível mineral, roça o reino vegetal sob a forma de algas marinhas, e em seguida se dirigem, passando pelos corais, as esponjas e os enormes cefalópodes das águas meio profundas, para a grande família dos peixes e só posteriormente é que se integram na classe dos espíritos da água.
Veremos que esses conservam o corpo físico denso como veículo até um nível muito mais elevado; e da mesma forma observaremos que as fadas da terra são recrutadas, não somente na classe dos gnomos, mas também nas camadas menos evolucionadas do reino animal, pois vamos deparar com uma linha de desenvolvimento que apenas toca o reino vegetal sob a forma de minúsculos fungóides, passando para as bactérias e animálculos de vários tipos, para os insetos e os répteis, até à interessante família das aves, e só depois de muitas encarnações entre estes ingressa na tribo ainda mais graciosa das fadas.
Mais outra corrente se diversifica na vida etérica em um ponto intermediário, pois, enquanto aparece durante algum tempo no reino das abelhas, e depois para um grupo de criaturas etéricas que estão em estreita correspondência com as últimas – aqueles pequenos espíritos da natureza semelhantes a beija-flores, que tão amiúde vemos esvoaçarem ao redor das flores e das plantas, e que desempenham tão importante papel na produção de suas múltiplas variedades, sendo muitas vezes utilizado o seu alegre entretenimento para especializa-Ias e ajuda-Ias a crescer.
Faz-se, porém, necessário estabelecer aqui uma cuidadosa distinção, para evitar confusão. As pequenas criaturas que cuidam das flores podem dividir-se em duas grandes classes, embora haja certamente muitas variedades de cada espécie. A primeira classe chamar-se-á propriamente a dos elementais, porque, apesar de serem belas, são apenas formas-pensamento, e, portanto, não se trata verdadeiramente de criaturas viventes. Talvez se deva antes dizer que são entidades que só têm existência temporária, pois, conquanto se mostrem muito ativas e ocupadas durante suas curtas vidas, não têm realmente uma evolução, não passam por reencarnações, e quando concluem sua tarefa se desfazem, dissolvendo-se na atmosfera ambiente, tal e qual sucede com as nossas formas- pensamento. São as formas-pensamento dos Grandes Seres ou Anjos que têm a seu cargo a evolução do reino vegetal.
Quando algum desses Grandes Seres tem uma ideia nova relacionada com uma das espécies de plantas ou flores que estão aos seus cuidados, cria uma forma-pensamento destinada especialmente a levar avante a ideia. Esta toma quase sempre a forma ou de um modelo etérico de flor ou a de uma criaturinha que permanece junto à planta ou à flor durante todo o tempo em que se estão formando os botões, e os vai construindo com o feitio e a cor imaginados pelo anjo. Mas assim que a planta alcançou seu pleno desenvolvimento, ou a flor desabrochou, o trabalho está findo e exaurido o seu poder, e, conforme disse, a criaturinha simplesmente se desintegra, porque a vontade de elaborar aquele trabalho era a única alma que a animava.
Existe, porém, outro tipo de pequeninas criaturas, que se veem frequentemente brincando com flores, e são essas realmente espíritos da natureza, de que também há inúmeras variedades. Uma das formas mais comuns é, conforme já citei, algo que se assemelha bastante ao pequenino beija-flor, e que se pode ver como que zumbindo ao redor das flores, tal como o faz o beija- flor ou a abelha. Essas lindas criaturinhas nunca se tornarão humanas, porque não pertencem à mesma linha de evolução dos homens. A vida que os está animando procede das ervas e dos cereais (como o trigo e a aveia), quando se encontrava no reino vegetal, e, depois que ingressou no reino animal, das formigas e das abelhas. Agora atingiu o nível desses minúsculos espíritos da natureza, e seu próximo estágio será o de animar graciosas fadas de corpos etéricos que vivem na superfície da terra. Mais tarde, transferir-se-á para as salamandras ou espíritos do fogo, já sem corpos etéricos e portadores apenas de corpos astrais. Subsequentemente, animará os diferentes estágios do grande reino dos anjos.
A EVOLUÇÃO DA VIDA
SUPERPOSIÇÃO
Em todos os casos de transferência da onda de vida de um para outro reino, observa-se grande amplitude de variações; há numerosas superposições entre os reinos. Pode-se notá-lo mais claramente ao longo de nossa própria linha evolutiva, pois a vida que chegou aos mais elevados níveis do reino vegetal nunca se transfere para a parte ínfima do reino animal, mas, ao contrário, nele ingressa em um estágio bem adiantado. Recorde-se o exemplo que há pouco mencionei: a vida que animou uma grande árvore florestal jamais desce a animar um enxame de mosquitos, nem uma família de ratos, camundongos ou animaizinhos semelhantes; ao passo que estes são formas apropriadas para aquela porção da onda de vida que deixou o reino vegetal ao nível da margarida ou do dente-de-leão.
É necessário, em geral, subir a escada da evolução; mas parece que a parte superior de um reino é, numa grande extensão, paralela à parte inferior do que se acha acima, sendo assim possível operar-se a transferência de um para outro em diferentes níveis e em vários casos. A corrente de vida que ingressa no reino humano evita inteiramente os estágios mais baixos do reino animal; isto é, a vida que agora se dirige à humanidade nunca se manifesta através dos insetos ou dos répteis; esteve às vezes, no passado, presente no reino animal ao nível dos grandes répteis antediluvianos, mas atualmente passa diretamente das formas superiores da vida vegetal para os mamíferos. Analogamente, quando os animais domésticos mais adiantados se individualizam, não necessitam descer à forma do selvagem primitivo para sua primeira encarnação humana.
O diagrama anexo (página anterior) mostra algumas dessas linhas de desenvolvimento em forma tabular, as quais não devem, porém, ser consideradas as únicas, visto que há, sem dúvida, outras linhas ainda não observadas, e existe certamente toda a espécie de variantes e possibilidades de cruzamento, em diversos níveis, de uma linha com outra; de modo que tudo quanto podemos fazer é dar os traços gerais do esquema.
Conforme se pode ver no esquema, em um estágio ulterior todas as linhas de evolução convergem para um ponto comum; pelo menos, à nossa acanhada visão parece não haver distinção de glória entre aqueles Seres Excelsos – conquanto, se maior fosse o nosso conhecimento, talvez pudéssemos tornar mais completo o nosso quadro. Seja como for, sabemos que, por muito que a humanidade se encontre acima do reino animal, além e acima da humanidade existe, por sua vez, o grande reino angélico, e que ingressar entre os Anjos é uma das sete possibilidades que o Adepto depara abertas diante de si. Esse mesmo reino é também o próximo estágio dos espíritos da natureza, mas aqui temos outro exemplo da superposição já mencionada, por isso que o Adepto entra nesse reino em um alto nível, omitidos três de seus estágios, enquanto que o passo imediato à frente, a fim de alcançar o mais elevado tipo de espírito da natureza, é chegar à classe inferior dos anjos, começando assim pelo primeiro degrau desta escada especial.
É ao ingressar no reino angélico que o espírito da natureza recebe a Centelha divina da Terceira Emanação, alcançando assim a individualização – exatamente como o animal ao passar para o reino humano; e outro ponto de analogia consiste em que, assim como somente através do contato com a humanidade o animal adquire a individualização, assim também o espírito da natureza a adquire pelo contato com o anjo – procurando aproximar-se dele e trabalhando para agradá-lo, até finalmente aprender como fazer ele mesmo o trabalho do anjo.
O espírito da natureza mais adiantado não é, portanto, um ser humano etérico ou astral, pois ainda não é um indivíduo; no entanto, é ele muito mais que um animal etérico ou astral, porque seu nível intelectual paira muito acima de tudo quanto vemos no reino animal, e em verdade se equipara em muitos aspectos à média da humanidade. Por outro lado, algumas das variedades primárias possuem apenas uma limitada inteligência, e parecem aproximar-se neste particular dos beija-flores, das abelhas ou das borboletas, com os quais tanto se assemelham. Como vimos no diagrama, esse nome de espírito da natureza se aplica a um segmento imenso do arco da evolução, inclusive estágios correspondentes à totalidade dos reinos vegetal e animal, e à humanidade até o nível atual de nossa própria raça.
Alguns dos tipos inferiores não agradam ao senso estético; mas isso ocorre igualmente com os espécimes inferiores dos répteis e dos insetos. Há tribos não desenvolvidas de aspectos grosseiros, e naturalmente sua aparência corresponde ao seu estado de evolução. Há massas disformes, de grandes bocas vermelhas e abertas, que vivem no meio de repugnantes emanações etéricas de sangue e carne em decomposição, e que são horríveis à vista e aos sentidos de toda pessoa de mente pura; assim também são as vorazes criaturas crustáceas de cor vermelho-escura que rodeiam as casas de má fama, e os monstros ferozes, parecidos com polvos, que se regalam com as orgias do bêbado e dos que se entregam aos vapores do álcool. Mas até mesmo essas harpias não são más em si, posto que repulsivas ao homem; e este jamais entrará em contato com elas se ele próprio não se degradar até igual nível, tornando-se escravo das paixões subalternas.
São somente esses espíritos da natureza e outros de espécie primitiva e desagradável que se aproximam voluntariamente do homem comum. Outros de tipo semelhante, mas de aspecto menos material, dão a impressão de estarem imersos em emanações especiais de tipo grosseiro, como aquelas produzidas pela ira, avareza, crueldade, inveja: ciúme ou ódio. As pessoas que se deixam dominar por tais sentimentos ficarão constantemente sujeitas a ter à sua volta essas nauseabundas gralhas do mundo astral, que estremecem de um júbilo hediondo, acotovelando-se umas, às outras, na ansiosa antecipação de um explorar de paixões, e, a sua maneira cega e confusa, tudo fazem no sentido de as provocar ou intensificar. É difícil crer que horrores tais possam pertencer ao mesmo reino dos espíritos joviais que vamos descrever.
FADAS
O tipo mais conhecido do homem é o das fadas, os espíritos que vivem normalmente na superfície da terra, embora possam atravessar o solo à vontade por serem os seus corpos constituídos de matéria etérica, Suas formas são múltiplas e variadas, mais frequentemente humanas e de tamanho reduzido, com feições ou membros de um grotesco algo exagerado. Sendo plástica a matéria etérica e facilmente moldável pela força do pensamento, são capazes de assumir à vontade qualquer aparência, possuindo, contudo, formas próprias e definidas, que usam quando não precisam de outra para algum fim especial, e, portanto, não necessitam de empregar sua vontade para mudar o aspecto. Também possuem suas próprias cores, que distinguem as tribos ou espécies, tal como acontece com as aves em suas variações de plumagem.
Há um número imenso de subdivisões ou raças entre elas, e os indivíduos destas subdivisões diversificam em inteligência e disposição, precisamente como se dá com os seres humanos. Ainda como os seres humanos, as diversas raças habitam diferentes países, ou às vezes regiões diferentes do mesmo país, e os membros de uma raça tem geralmente tendência a viver juntos, do mesmo modo que o fazem os homens de uma nação. No conjunto, sua distribuição é idêntica à que existe nos demais reinos da natureza; como os pássaros, dos quais alguns tipos parecem ter evolucionado, algumas variedades são peculiares a determinada região, outras são comuns em uma região e raras em outras, havendo ainda as que podem ser encontradas em qualquer parte. À semelhança dos pássaros, os tipos de cores mais brilhantes vivem nas regiões tropicais.
TIPOS NACIONAIS
Os tipos predominantes nas diversas partes do mundo são claramente distinguíveis, inclusive em seus aspectos característicos. Ou será talvez porque terá sido a sua influência, no lento curso dos tempos, que se fez sentir nos homens, animais e plantas que viviam perto deles? .E se fosse o espírito da natureza que estabeleceu o Sistema, seguido inconscientemente pelos outros reinos? Por exemplo, não podia haver contraste mais acentuado do que aquele entre os bonequinhos álacres, brincalhões, de cores alaranjada e purpúrea ou escarlate e dourada, que dançam entre os vinhedos da Sicília, e as criaturas quase contemplativas, de cores cinzenta e verde, que se movimentam sossegadamente entre os carvalhos e os matagais cheios de urzes da Bretanha, ou as “inocentes aparições” de um dourado escuro que frequentam as regiões montanhosas da Escócia.
Na Inglaterra, a variedade verde-esmeralda é provavelmente a mais comum, e eu também a tenho visto nos bosques da França e da Bélgica, no distante Massachusetts e nas margens do rio Niágara. As vastas planícies dos Dakotas são habitadas por uma espécie preta e branca que não vi em outro lugar, e a Califórnia é alegrada por uma espécie branca e dourada, que também parece ser única.
Na Austrália, o tipo mais frequente é uma criatura que se distingue por sua magnífica cor luminosa azul-celeste; mas há uma grande diversidade entre os habitantes etéricos da Nova Gales do Sul ou de Vitória e os da tropical Queensland do Norte. Estes últimos muito se aproximam dos das Índias Neerlandesas. Java parece abundar especialmente nessas graciosas criaturas, e as espécies mais comuns são ali dois tipos distintos, ambos monocromáticos – uma de cor azul-anil com fulgurações metálicas, e a outra de cor amarela com todos os seus matizes – fantásticos, mas admiravelmente reais e atrativos.
Uma notável variedade local é vistosamente adornada com listas alternadas de verde e amarelo, como a camisa de um jogador de futebol. Esse tipo assim enfeitado é, possivelmente, uma raça peculiar àquela parte do mundo, pois eu vi combinação semelhante em vermelho e amarelo na Península Nalaia, e em verde e branco em outros lugares dos Estreitos de Sumatra. Esta grande ilha também exibe uma tribo que tem a cor de um belo heliotrópio pálido, que anteriormente só me fora dado observar nos montes de Ceilão. Na Nova Zelândia, a peculiaridade é um misto de azul intenso e prata, e nas Ilhas dos Mares do Sul se encontra uma variedade de branco prateado que cintila com toda as cores do arco-íris, à semelhança de uma figura de nácar.
Na Índia deparamos com todos os tipos, desde o delicado rosa-e-verde- pálido, ou o azul-pálido-e-primavera da região montanhosa, até a rica mistura de cores com um brilho deslumbrante, quase bárbaras em sua intensidade e profusão, característica das planícies. Em algumas partes daquele maravilhoso país, vi o tipo preto-e-ouro, que é mais frequentemente associado com o deserto africano, e também uma espécie que semelha uma estatueta feita de um metal carmesim brilhante, como o oricalco dos atlantianos.
Algo semelhante a esta última é uma curiosa variedade que se diria fundida em bronze e polida; parece ter como residência a imediata vizinhança das perturbações vulcânicas, pois os únicos lugares em que tem sido até agora vista são as faldas do Vesúvio e do Etna o interior de Java, as Ilhas Sandwich, o Parque Yellowstone na América do Norte e certa região da Ilha Setentrional de Nova Zelândia. Muitas indicações parecem conduzir à conclusão de que se trata de sobrevivência de um tipo primitivo, e que representa como um estágio intermediário entre os gnomos e as fadas.
Em alguns casos, verifica-se que as regiões circunvizinhas são habitadas por classes completamente diferentes de espíritos da natureza; por exemplo, como já se disse, os elfos de verde-esmeralda são comuns na Bélgica, embora a umas cem milhas além na Holanda dificilmente se veja um deles, existindo em seu lugar uma espécie que tem uma cor atenuada de púrpura escura.
SOBRE UMA MONTANHA SAGRADA DA IRLANDA
Fato curioso é que a altitude acima do nível do mar parece influir na distribuição das fadas, pois os tipos que pertencem às montanhas raramente se misturam aos das planícies. Lembro-me bem quando escalei o Slieve-na-Mon, uma das colinas tradicionalmente sagradas da Irlanda, de ter observado linhas bem definidas de demarcação entre os diversos tipos. As rampas inferiores, como as planícies vizinhas, estavam habitadas por uma raça intensamente ativa e travessa, de cor entre vermelho e preto, que enxameava todo o Sul e o Oeste da Irlanda, sendo especialmente atraída para os centros magnéticos estabelecidos há cerca de dois mil anos pela obra mágica dos sacerdotes da antiga raça milesiana com o fim de lhe assegurar e perpetuar o domínio sobre a população, mantendo-a sob a influência da grande ilusão. Entretanto, após a escalada de meia hora não foi visto nenhum desses entezinhos de cor preta-e-vermelha mas ao invés disso, as encostas se achavam povoadas por um tipo azul-pardo mais suave, que desde muito tempo prestava especial obediência ao Tuatha-de-Danaan.
Também esses tinham sua zona e seus limites claramente definidos, e nenhum espírito da natureza de outro tipo se aventurava a atravessar o espaço ao redor do topo, consagrado aos grandes anjos verdes que ali se postaram desde mais de dois mil anos, guardando um dos centros de força vital que unem o passado ao futuro daquela terra mística do Erm. De altura superior à do homem estas formas gigantescas, de cor parecida com a das primeiras folhas novas da primavera, suaves, luminosas, tremulantes, indescritíveis, observam o mundo com olhos admirados, que brilham como as estrelas cheios da paz dos que vivem no eterno, aguardando, com a tranquila certeza dos que sabem, a vinda anunciada dos tempos. Pode-se perfeitamente imaginar a força e a Importância do lado oculto das coisas, ao contemplar-se um espetáculo como esse.
Mas em verdade o oculto não é senão aparente, pois as diferentes influências são tão fortes e tão distintas que alguém com um mínimo de sensibilidade não deixará de percebê-las, e há uma boa razão para a tradição local segundo a qual aquele que passa uma noite no topo da montanha despertará na manhã seguinte como um poeta ou um louco. Um poeta, se se mostrou capaz de responder à exaltação de tudo o que é produzido pelo extraordinário magnetismo sobre ele exercido durante o sono; um louco, se não for suficientemente forte para suportar a tensão.
VIDA E MORTE DAS FADAS
Os períodos de vida das diferentes subdivisões dos espíritos da natureza variam consideravelmente, alguns sendo extremamente breves e outros mais longos que a média da vida humana. O princípio universal da reencarnação também prevalece em sua existência, embora as condições em que naturalmente opera sejam algo diferentes. Neles não existem os fenômenos correspondentes ao que chamamos nascimento e crescimento. Uma fada surge já adulta em seu mundo, como é o caso do inseto, e vive a sua vida, curta ou longa, sem nenhum sinal de fadiga ou necessidade de repouso, e sem qualquer indício perceptível de idade com o passar dos anos.
Mas afinal chega um tempo em que sua energia parece ter-se exaurido, quando ela se torna como que cansada de viver; e quando tal coisa acontece, seu corpo se faz cada vez mais diáfano, até ficar como uma entidade astral, para viver por algum tempo nesse mundo entre os espíritos do ar que representam o seu estágio seguinte de desenvolvimento. Depois de passar por essa vida astral, a fada é reabsorvida em sua alma-grupo, na qual (se é bastante adiantada) tem um pouco de existência consciente antes que a lei cíclica, atuando novamente sobre a alma- grupo, nela desperte o desejo de separação. Quando tal acontece, a sua corrente de energia é, mais uma vez, pressionada para fora, e o desejo, trabalhando sobre a matéria plástica astral e etérica, materializa um corpo de tipo semelhante, adequado para ser uma expressão do desenvolvimento alcançado na última vida.
Nascimento e morte, para o espírito da natureza, são ocorrências mais simples do que para nós. Para ele, a morte está inteiramente isenta de todo pensamento de tristeza. Toda a sua vida, realmente, parece mais simples – um tipo de existência alegre e despreocupada – tal como havia de transcorrer um divertimento de crianças felizes em ambiente excepcionalmente propício. Não há sexo entre os espíritos da natureza, não há enfermidades, não há conflitos, estando assim imunes às causas mais frequentes do sofrimento humano. São capazes de grandes afeições e de estreitas e permanentes amizades, em que encontram fontes de profundas alegrias, que jamais decepcionam. São suscetíveis de ciúme e ira, mas parece que estes sentimentos se dissipam rapidamente por causa da jovialidade que neles predomina, e que é sua característica principal, diante dos espetáculos da natureza.
SEUS PASSATEMPOS
As fadas exultam com a luz e o calor do sol, mas também com igual prazer dançam ao luar; compartilham com a terra sedenta, com as flores e as árvores, a satisfação que elas sentem ao receber a água da chuva, mas igualmente se regozijam com o cair dos flocos de neve, e experimentam uma sensação de felicidade quando flutuam preguiçosamente na calma de uma tarde de verão, sem embargo de se rejubilarem também com o soprar do vento. Não somente admiram, com uma intensidade que poucos de nós podemos compreender, a beleza de uma flor ou de uma árvore, a delicadeza de sua cor ou a graça de sua forma, mas demonstram ardente interesse e profundo deleite em todos os processos da natureza, no circular da seiva, no entreabrir dos botões, na formação e queda das folhas. Essa característica é naturalmente utilizada pelos Grandes Seres que cuidam da evolução, e os espíritos da natureza são empregados no preparo das cores e na combinação das variedades. Prestam ainda muita atenção à vida dos pássaros e dos insetos, ao chocar do ovo e ao abrir da crisálida, e acompanham alegremente o movimento dos cordeiros e das corças, das lebres e dos esquilos.
Outra inestimável vantagem de uma evolução etérica sobre uma evolução na matéria física densa é que não existe necessidade de comer. O corpo da fada absorve a nutrição, à medida que dela precisa, sem dificuldade e sem restrição, do éter que o circunda; ou melhor, estritamente falando, não se trata de absorver alimento, mas antes de uma troca de partículas, que se está constantemente processando, com a eliminação das que já lhe não servem à vitalidade e a substituição por outras que estão plenamente ativas.
Apesar de não comerem, os espíritos da natureza obtêm da fragrância das flores um prazer análogo ao que sente o homem com o sabor do alimento. O aroma, para eles, é mais uma questão de olfato ou gosto, que os impregna e interpenetra, alcançando simultaneamente todas as partículas.
O que neles toma o lugar de um sistema nervoso é muito mais delicado que o nosso, e sensível a muitas vibrações que passam de todo despercebidas aos nossos sentidos grosseiros, e assim encontram eles em muitas plantas e minerais um perfume que para nós não existe.
Seus corpos não possuem mais estrutura interna que um disco de névoa, e por isso não podem ser despedaçados nem danificados, e nem o calor nem o frio produzem neles qualquer efeito penoso. Em verdade, há um tipo em que as criaturas parecem, sobretudo, deliciar-se no meio do fogo; afluem de todos os lados para um grande incêndio, e borboleteiam repetidamente por entre as chamas com um prazer estranho, como crianças que se divertem escorregando muitas e muitas vezes em um tobogã. São os espíritos do fogo, as salamandras da literatura medieval. A dor corporal somente pode sobrevir ao espírito da natureza por efeito de uma vibração ou emanação desagradável ou desarmoniosa; mas o seu poder de rápida locomoção facilmente lhe permite evitá-la. Tanto quanto foi possível observar, está ele isento da praga do medo, que tão sério papel desempenha na vida animal (que, no curso de nossa linha de evolução, corresponde ao nível das fadas).
AS FANTASIAS DO REINO DAS FADAS
A fada possui uma fértil imaginação, digna de inveja, e ocupa grande parte de sua atividade diária em construir, juntamente com suas companheiras, pelos meios de que dispõem, toda espécie de coisas incríveis e situações fantásticas. É como uma criança que conta histórias aos seus colegas de folguedos – mas com esta vantagem sobre a criança: como as companheiras podem ver tanto a matéria etérica quanto a matéria astral inferior, as formas construídas por sua ardente imaginação adquirem plena visibilidade em relação a elas.
Sem dúvida, muitas de suas inventivas nos haviam de parecer infantis e acanhadas para suas finalidades, porque a inteligência das fadas, como a dos elfos, opera em direções tão diferentes da nossa, embora sejam para elas intensamente reais e uma fonte de interminável deleite.
A fada que desenvolve talento incomum em ficção ganha afeição e honraria junto às outras, e reúne ao seu redor um grupo permanente de acompanhantes. Quando um ser humano porventura chega a ter um vislumbre desse grupo, geralmente acrescenta em seu relato os seus próprios preconceitos pessoais, e toma a líder por uma rainha ou um rei das fadas, segundo a forma eventualmente assumida por essa líder. Na realidade, o reino dos espíritos da natureza não precisa de nenhuma espécie de governo, exceto a supervisão geral sobre ele, exercida de modo talvez inconsciente para todos (menos os membros de mais elevada categoria) pelos Devarajas e seus subordinados.
SUA ATITUDE PARA COM O HOMEM
A maioria dos espíritos da natureza não gosta dos homens, e os evita – o que não é de estranhar. Para eles, o homem parece um demônio destruidor, que tudo devasta e espolia, onde quer que vá. Ele mata sem necessidade, muitas vezes com requintes de torturas, todas as lindas criaturas que aqueles se comprazem em contemplar; decepa as árvores, pisa a relva, arranca as flores, e as joga de lado, sem o mínimo cuidado, até morrerem; substitui toda a vida silvestre da natureza, com os seus encantos, por horríveis tijolos e argamassa, e a fragrância das flores pelos vapores mefíticos das fumaças químicas de suas fábricas, que tudo poluem. Podemos nós estranhar que as fadas nos vejam com horror, e de nós fujam do mesmo modo como fugimos de um réptil venenoso?
Não só levamos a devastação a tudo o que elas mais prezam, como ainda a maioria de nossas vestes e de nossas emanações lhes são detestáveis; alguns de nós envenenamos o ar com os vapores repugnantes do álcool e do fumo; nossos desejos e paixões, inquietantes e irregulares, estabelecem um constante fluxo de correntes astrais, que as perturbam e incomodam, produzindo-lhes o mesmo sentimento de mal-estar que experimentamos quando é despejado um balde de água suja sobre nós. Para elas, estar nas proximidades de um homem comum é viver sob um perpétuo furacão – um furacão que soprou sobre uma fossa. Elas não são anjos puros, com o perfeito conhecimento que traz a paciência perfeita; são como crianças felizes e sobretudo de boa índole – e muitas semelham-se a gatinhos excepcionalmente inteligentes. Repito: podemos, pois, estranhar sua atitude, quando por aquela forma ultrajamos habitualmente os seus melhores e mais elevados sentimentos? Podemos admirar-nos de que nos detestem, desconfiem de nós e nos evitem?
Casos houve em que, devido a alguma hostilidade ou intromissão indébita, mais do que habitualmente, por parte do homem, foram elas provocadas até o ponto de uma represália direta, e mostraram então certo rancor. Depõe a favor do reino das fadas – considerado em seu conjunto – a circunstância de, mesmo em face de tão insuportável provocação, serem raros tais casos; seu método para repelir o importuno é preparar-lhe ardis, muitas vezes infantis e travessos, mas não seriamente nocivos. Sentem um endiabrado deleite em desorientá-lo ou iludi-lo, fazendo-o desviar-se para local pantanoso e andar de um para outro lado em círculos, durante toda a noite, quando ele acredita estar seguindo em linha reta, ou levando-o a imaginar que está vendo palácios e castelos onde nada semelhante realmente existe. Muitas histórias ilustrativas dessa curiosa característica das fadas são encontradiças nas conversas dos camponeses, em quase todas as longínquas regiões montanhosas.
ENCANTAMENTO
Para suas artimanhas dispõem as fadas do extraordinário poder de lançar encantamento sobre os que são alvo de sua influência, de tal forma que as vítimas, durante esse tempo, veem e ouvem somente o que lhes sugerem elas, exatamente como o paciente hipnotizado vê, ouve, sente e acredita o que o magnetizador quer. Os espíritos da natureza, contudo, não têm o poder de subjugar a vontade humana, exceto quando se trata de pessoas cuja mente é demasiado fraca, ou das que se deixam dominar por um estado de terror tal que a sua vontade fica temporariamente suspensa.
O poder das fadas não vai além de iludir os sentidos, mas nisto são mestras indubitavelmente, e não faltam casos em que lançam encantamento sobre muita gente ao mesmo tempo. Mediante a invocação de sua ajuda no exercício dessa faculdade peculiar é que são conseguidos alguns dos mais admiráveis feitos dos prestidigitadores indianos, como o célebre truque da cesta, ou outro em que uma corda é erguida para o céu e permanece rígida sem apoio algum, enquanto o ilusionista por ela sobe e desaparece. Toda a audiência está efetivamente sugestionada, e as pessoas são induzidas a crer que veem e ouvem toda uma série de acontecimentos que em verdade absolutamente não existem.
O poder de encantar não é mais que o de produzir uma forte e nítida imagem mental, e em seguida projetá-la na mente de outrem. Para a maioria dos homens, tal coisa é quase impossível, porque a existência das fadas sempre lhes passou despercebida, e eles não têm noção de como fazê-lo. A mente das fadas não possui a amplitude ou o alcance da do homem, mas está habituada a esse processo de construir imagens e gravá-las na mente dos outros, pois essa é uma das principais ocupações da vida quotidiana das criaturas.
Não é de admirar que com a prática usual a fada se torna perita nesse particular, e tudo fica mais simplificado para ela quando, como no exemplo do truque indiano, idêntica imagem deve produzir-se e reproduzir-se centenas de vezes, até que todos os pormenores se fixam sem esforço como resultado do hábito inconsciente. Procurando compreender exatamente como isso é feito, devemos atentar em que a imagem mental é uma coisa bem real – uma construção, de contornos definidos, na matéria mental, conforme ficou explicado no livro Thought-Forms*; e também nos devemos lembrar de que a linha de comunicação entre a mente e o cérebro físico denso passa através das correspondentes partes astral e etérica do cérebro, e de que a linha pode ser transpassada para introduzir-se uma impressão em qualquer dos pontos.
*Veja-se tradução portuguesa, Formas de Pensamento, por Joaquim Gervásio de Figueiredo, Editora Pensamento, São Paulo (N. do T.).
Certos espíritos da natureza não raro exercitam o seu talento em travessuras e imitações aparecendo em sessões espíritas destinadas à produção de fenômenos físicos. Todo aquele que já teve a oportunidade de frequentar as sessões terá recolhido exemplos da prática de brincadeiras tolas e algumas até grosseiras, embora sem más intenções, e que denunciam, quase sempre, a presença de criaturas travessas; às vezes são devidas, porém, à presença de homens mortos que, durante a vida terrena, foram bastante insensatos para julgar divertidas essas futilidades, e não se tornaram mais esclarecidos depois da morte.
EXEMPLOS DE CAMARADAGEM
Por outro lado, há casos em que alguns espíritos da natureza fizeram camaradagem com seres humanos individuais e lhes ofereceram a assistência ao seu alcance, como nas bem conhecidas histórias contadas sobre os duendes da Escócia ou sobre as fadas luminosas da literatura espírita; e conta-se que em algumas raras ocasiões foi permitido a certas pessoas escolhidas que assistissem a festividades dos elfos e partilhassem por algum tempo da vida destes. Diz-se que animais ferozes se aproximam confiantes de Iogis indianos, reconhecendo- os como amigos de todas as criaturas vivas; de maneira idêntica, os elfos se aproximam do homem que entrou no Caminho da Santidade, considerando suas emanações menos tempestuosas e mais agradáveis que as daquele cuja mente ainda se acha presa às coisas mundanas.
Sabe-se de fadas que vez por outra se afeiçoaram a criancinhas, e se tomaram de grande apego a elas, especialmente às que são imaginativas e sonhadoras, porque capazes de ver as formas-pensamento que as cercam, deleitando-se com a sua visão. Já houve casos em que tais entidades se apaixonaram por um recém-nascido de atrativos incomuns, e tentaram levá-lo para seu próprio meio – com a intenção de o livrar do que lhes parecia a terrível sina de crescer como um ser humano comum! Tradições vagas de tentativas semelhantes figuram entre as histórias de folclore a respeito de crianças trocadas por ocasião do nascimento, não obstante haver também outra razão para essas lendas, conforme diremos adiante.
Tempo houve – com mais frequência no passado que no presente – em que certa classe de espíritos da natureza, correspondendo aproximadamente à humanidade em estatura e aparência, costumavam materializar-se, construindo corpos físicos transitórios, mas de consistência definida, e por esse meio entravam em relações indesejáveis com homens e mulheres adrede escolhidos. Talvez fosse esse fato que deu origem a algumas das histórias de faunos e sátiros do período clássico; podendo ainda, no entanto, relacionar-se algumas vezes a uma evolução subumana diferente.
ESPÍRITOS DA ÁGUA
São abundantes as fadas da superfície da terra em regiões quase sempre afastadas dos centros habitados pelo homem; são, porém, mais numerosos os espíritos da água – as fadas da superfície do mar. E lá, como na terra, há uma enorme variedade. Os espíritos da natureza do Oceano Pacífico diferem dos do Oceano Atlântico, e os do Mar Mediterrâneo são ainda mais diferentes. Os tipos que se divertem no azul glorioso dos oceanos tropicais muito se distanciam daqueles que se projetam através da espuma dos nossos mares frios e cinzentos do Nordeste. Dessemelhantes são também os espíritos do lago, do rio e da queda d’água, pois têm muito mais pontos em comum com as fadas da terra do que com as nereidas do mar aberto.
Estas, como suas irmãs da terra, são de todos os formatos; mas, talvez mais frequentemente, imitam a forma humana. Falando de modo geral, tendem a tomar formas maiores que as dos elfos dos bosques e das colinas; a maioria destes últimos são pequenos, enquanto que o espírito do mar, que copia o homem, adota comumente o seu tamanho e a sua forma. Com o fim de evitar mal-entendidos. Convém insistir sempre no caráter proteico de todas essas formas; qualquer das criaturas, seja da terra, do mar ou do ar, pode tornar-se temporariamente maior ou menor à vontade, ou pode assumir outro formato que lhe aprouver.
Teoricamente, não existe restrição quanto a essa faculdade; mas na prática tem ela seus limites, sem embargo de sua amplitude. Uma fada que tenha naturalmente doze polegadas de altura pode expandir-se até às proporções de um homem de seis pés; mas o esforço lhe ocasionaria considerável tensão, e não poderia manter-se assim mais que alguns minutos. Para tomar outra forma que não a própria, deve ela ser capaz de fixá-la na mente com a máxima nitidez; e não pode conservar a forma senão enquanto sua mente estiver concentrada sobre esta. Se o seu pensamento se desviar, a fada imediatamente principia a recobrar seu aspecto natural.
Embora possa a matéria etérica ser facilmente modelada pelo poder do pensamento, tal coisa decerto não obedece à instantaneidade com que o permite a matéria astral; podemos dizer que a matéria mental se modifica realmente com o pensamento, de sorte que o observador ordinário dificilmente nota qualquer diferença; mas com a matéria etérica a vista do observador pode acompanhar sem dificuldade o aumento ou a diminuição. Um silfo, cujo corpo é de matéria astral, muda instantaneamente de uma forma em outra: uma fada, que é etérica, dilata-se ou contraí-se com rapidez, mas não instantaneamente.
Alguns dos espíritos terrestres são de estatura gigantesca, ao passo que os do mar têm estatura comum. As criaturas da terra frequentemente aparecem com peças de vestuário humano preparadas segundo suas fantasias, e se apresentam com gorros esquisitos, cinturões ou coletes; mas eu nunca vi estas coisas nos habitantes do mar. Quase todos os espíritos de superfície da água parecem possuir o poder de elevar-se acima do seu próprio elemento e flutuar ou voar pelo ar até curta distância; eles se comprazem em brincar no meio da espuma brilhante ou vogar nas ondas que se quebram. Evitam menos os homens do que os seus irmãos da terra – talvez porque tem o homem muito menos oportunidade de interferir com eles. Não descem a grandes profundidades abaixo da superfície do mar – nunca, em qualquer caso, além do alcance da luz; de modo que sempre há um espaço considerável entre o seu reino e o domínio pertencente às criaturas muito menos evolucionadas da profundidade média.
FADAS DA AGUA DOCE
Algumas lindas espécies habitam as águas interiores, onde o homem para elas ainda não tornou impossíveis as condições. Naturalmente que lhes são desagradáveis os resíduos químicos e o lixo que poluem as águas nas proximidades de uma grande cidade; mas, aparentemente não se sentem elas incomodadas com os moinhos de água em um recanto sossegado do campo, pois são às vezes vistas divertindo-se em um canal que transporta a água. Parecem especialmente deleitar- se na queda da água, tal como o fazem suas irmãs do mar no meio das espumas produzidas pelo rebentar das ondas; devido ao prazer que isso lhes causa, ousam às vezes uma aproximação maior do que a usual à detestada presença do homem. No Niágara, por exemplo, há algumas que se veem quase sempre no verão, embora geralmente se conservem afastadas do centro da catarata e dos rápidos. Como aves de arribação, elas no inverno abandonam as águas do Norte, que se congelam durante muitos meses, e procuram um refúgio temporário em climas mais agradáveis. Uma geada curta carece de importância para elas; o frio simples aparentemente pouco ou nenhum efeito lhes faz, mas sentem-se mal quando são perturbadas suas condições habituais. Algumas das que ordinariamente moram nos rios transferem-se para o mar quando eles se congelam; para outras, a água salgada é desagradável, e preferem emigrar até distâncias consideráveis a refugiar- se no oceano.
Os espíritos das nuvens compreendem uma interessante variedade das fadas da água; são entidades cuja vida decorre quase inteiramente entre “aquelas águas que pairam no firmamento”. Podem talvez classificar-se como intermediários entre os espíritos da água e os do ar; seus corpos são de matéria etérica, como os destes últimos; sendo porém, capazes de permanecer fora da água por períodos relativamente longos. Suas formas são muitas vezes colossais e de contornos imprecisos; parecem ter certa afinidade ou parentesco com os tipos de água doce, sem embargo de preferirem mergulhar por algum tempo no mar quando desaparecem as nuvens que são o seu habitat favorito. Residem no luminoso silêncio da região das nuvens, e seu passatempo predileto é modelar suas nuvens em formas estranhas e fantásticas, ou dispô-las naquelas filas compactas que nós chamamos – um céu carregado de cúmulos e cirros.
SILFOS
Chegamos agora ao mais elevado tipo do reino dos espíritos da natureza – o estágio em que as linhas de desenvolvimento das criaturas, tanto do mar como da terra, convergem: os silfos ou espíritos do ar. Estas entidades situam-se por sem dúvida acima de todas as outras variedades a que nos vimos referindo, por se haverem desembaraçado do obstáculo da matéria física, sendo o corpo astral o seu veículo inferior. Sua inteligência é bem mais elevada que a das espécies etéricas, e perfeitamente igual à do homem médio; mas não alcançaram ainda uma individualidade permanente e reencarnante. Justamente porque são muito mais adiantados, podem, antes de se destacarem da alma-grupo, compreender melhor do que um animal o que seja a vida, e assim acontece muitas vezes saberem que lhes falta individualidade, desejando intensamente adquiri-la. Esta é uma verdade que jaz no fundo de todas as tradições, tão largamente espalhadas, sobre o desejo do espírito da natureza de ganhar uma alma imortal.
O método normal para o alcançar está na associação – e no amor – com os membros do estágio imediatamente acima deles: os anjos astrais. Um animal doméstico, como o cão ou o gato, progride mediante o desenvolvimento de sua inteligência e de sua afeição, resultado de seu íntimo contato com o dono. Não só o amor para com o dono o leva a esforçar-se por compreendê-lo, mas também as vibrações do corpo mental do homem, constantemente atuando sobre a mente rudimentar do animal, pouco a pouco vão despertando nele uma atividade crescente; e ao mesmo tempo a afeição pelo homem provoca da parte deste um profundo sentimento de retribuição. O homem pode ou não pode decidir-se a ensinar algo ao animal; em todo o caso, mesmo sem esforço deliberado, a estreita ligação entre os dois ajuda a evolução do animal. Eventualmente o desenvolvimento deste se eleva até o nível que lhe permite receber a Terceira Emanação, e assim ele se torna um indivíduo, separando-se de sua alma-grupo.
Ora, tudo isso é o que exatamente acontece entre o anjo astral e o espírito do ar, com a diferença de que nestes o esquema habitualmente se processa de maneira muito mais efetiva e inteligente. Não há um homem entre mil que pense ou conheça alguma coisa sobre a evolução real do seu cão ou do seu gato; e o animal muito menos ainda compreende a possibilidade que se oferece diante dele. O anjo, porém, compreende perfeitamente o plano da natureza, e em muitos casos o espírito da natureza sabe também o que lhe é necessário, e se esforça de modo inteligente para o conseguir. Assim, cada um desses anjos astrais reúne à sua volta, frequentemente, vários silfos que desejam aprender com eles e ser por eles treinados, beneficiando-se de seu intelecto e retribuindo-lhes o afeto. Muitos desses anjos empregam-nos os Devarajas para ajudá-los no cumprimento da sua tarefa de distribuição do carma; e deste modo acontece que os espíritos do ar representam muitas vezes de subagentes na execução daquele trabalho, e sem dúvida com isso ganham conhecimento e uma valiosa experiência.
O Adepto sabe como utilizar os serviços dos espíritos da natureza, quando se faz necessário, e há muitas pequenas tarefas que lhes podem ser confiadas. Em Broad Views, número de fevereiro de 1907 apareceu uma admirável resenha do sistema engenhoso de que se serve um espírito da natureza para executar um encargo que lhe foi assim cometido.
O espírito da natureza fora instruído para distrair um enfermo que estava sofrendo de um ataque de gripe, e durante cinco dias lhe proporcionou um entretenimento quase ininterrupto, que consistia em estranhas e interessantes visões, sendo os seus esforços coroados de completo êxito, pois o doente escreveu que essa ajuda “teve o feliz resultado de converter em uma das mais admiráveis e interessantes experiências o que em circunstâncias ordinárias teria significado dias de incalculável tédio e desconforto”.
Mostrou-lhe o espírito uma variedade desnorteante de cenas em que se moviam grandes quantidades de rochas, que eram vistas não no exterior, mas internamente, de modo que nelas apareciam faces de criaturas de diversas espécies. Exibiu-lhe também montanhas florestas e avenidas, e algumas vezes muitas massas arquitetônicas: pedaços de colunas coríntias, fragmentos de estátuas e grandes abóbadas em arco, e ainda muitas flores e palmeiras belíssimas, ondulando de um lado para outro, como sopradas por uma brisa suave. Parecia às vezes que eram tomados objetos físicos do quarto, formando- se com eles como que um cenário de mágica transformação. Podia-se em verdade suspeitar, dada a curiosa natureza do entretenimento, o tipo especial a que pertencia o espírito da natureza empregado nessa caridosa tarefa.
Os mágicos do Oriente tentam por vezes obter a cooperação dos espíritos da natureza elevados para a realização dos seus prodígios, mas o empreendimento não é isento de perigos. Recorrem à invocação ou à evocação
– isto é, ou lhes atraem a atenção, como negociantes que desejam fazer alguma barganha, ou experimentam pôr em ação influências que os induzirão à obediência – tentativa que, se falhar, despertará uma determinada hostilidade, da qual mui provavelmente há de resultar o desaparecimento prematuro dos mágicos, ou pelo menos os colocará em posição extremamente ridícula e desagradável.
Existem muitas variedades desses espíritos do ar, bem como das fadas inferiores, diferindo em poder, em inteligência e em hábitos e ainda em aparência. Estão naturalmente menos restritos quanto à localização do que as outras espécies já descritas, embora pareçam também reconhecer os limites de certas zonas de elevação, pairando alguns sempre por perto da superfície da terra, enquanto outros dela raramente se aproximam. Em regra, partilham da comum aversão à vizinhança do homem e de seus insaciáveis desejos. Mas há ocasiões em que se dispõem a suportá-lo, já para se divertirem já para lisonjeá- lo.
SEUS DIVERTIMENTOS
Os espíritos da natureza sentem, por vezes, imenso prazer em divertir-se animando formas-pensamento de várias espécies.
Um autor, por exemplo, escrevendo uma novela, cria naturalmente formas- pensamento definidas de todos os seus personagens, e as movimenta no seu palco-miniatura, quais marionetes; algumas vezes, porém, um bando de travessos espíritos da natureza se apodera daquelas formas, e representam o drama consoante um esquema improvisado sob a excitação do momento, de tal modo que o novelista, atônito, sente que os seus fantoches como que lhe escaparam das mãos e desenvolveram uma vontade própria.
O amor da travessura, que é uma nota bem marcante de algumas fadas, persiste em certa extensão entre, pelo menos, os tipos inferiores de espíritos do ar, e por isso suas personificações não raro assumem um aspecto menos inocente. As pessoas cujo mau carma os pôs sob o domínio da teologia calvinista, mas que ainda não têm inteligência nem fé suficientes para libertar-se das doutrinas blasfemas constroem às vezes, com o seu medo, terríveis formas- pensamento do imaginário demônio, a quem a superstição faz desempenhar tão importante papel no universo; e lamento dizer que certos espíritos da natureza malévolos são de todo incapazes de resistir à tentação de mascarar-se naquelas terrificantes formas, e julgam ser um grande gracejo ornar-se de chifres, sacudir uma cauda bifurcada e soprar chamas. A quem conhece a natureza desses demônios de pantomima, nenhum dano acontece; mas de quando em quando veem-se crianças nervosas impressionadas com visões dessa espécie, o que lhes poderá causar enorme pavor se não forem convenientemente esclarecidas.
Estaremos fazendo justiça ao espírito da natureza se lembrarmos que, sendo ele imune ao medo, não tem a mínima consciência da gravidade daquele resultado, e provavelmente julga que o terror infantil é simulado e faz parte do jogo. Não há razão para censurarmos o espírito da natureza por consentirmos que os nossos filhos caiam nas malhas de uma vil superstição, e negligenciarmos incutir neles a grande e fundamental verdade de que Deus é amor e de que o perfeito amor dissipa todo o medo. Se o nosso espírito do ar ocasionalmente aterroriza a criança que não recebeu a educação conveniente, há que levar a seu crédito, por outro lado, que ele proporciona o máximo de contentamento a milhares de crianças que chamamos “mortas”, pois que distrair-se com elas e entretê-las por muitas e diferentes maneiras é uma de suas mais felizes ocupações.
Os espíritos do ar descobriram a oportunidade que lhes dão as sessões espíritas, e alguns as frequentam assiduamente, servindo-se de nomes como Margarida ou Girassol. Estão eles aptos a propiciar sessões interessantes, porque dispõem de bons conhecimentos a respeito da vida astral e suas possibilidades. Respondem sem dificuldade a perguntas que se situam nos limites de seus conhecimentos, e até mesmo com uma aparente profundeza quando o tema vai um pouco além do que eles sabem. Podem facilmente produzir pancadas, balanços e luzes, e estão sempre dispostos a transmitir mensagens que percebam desejadas – não significando isso de modo algum a intenção de fazer mal ou praticar fraude, senão a alegria inocente de obterem êxito no desempenho do papel, e de serem alvo do afeto e da devoção, cheios de respeitoso temor, a eles dispensados como “espíritos amados” e “anjos da guarda”. Compartilham a satisfação dos assistentes, e sentem que estão fazendo um bom trabalho por trazerem, assim, consolo aos aflitos.
Vivendo no astral, como vivem, a quarta dimensão é um fato comum em sua existência, o que torna muito mais simples realizarem pequenos truques, que nos parecem espantosos, tais como a remoção de objetos de uma caixa selada e o transporte de flores para um aposento fechado. Os desejos e as emoções dos assistentes lhes estão expostos; com facilidade e rapidez podem ler quaisquer pensamentos, ainda que abstratos, e produzir materializações é coisa que se inclui entre os seus poderes, quando há material adequado para isso. Pode-se ver, portanto, que, sem qualquer ajuda externa, dispõem eles de habilidade para proporcionar uma variada e satisfatória diversão noturna, e sem dúvida que o têm feito muitas vezes. Não estou absolutamente sugerindo que os espíritos da natureza são as únicas entidades que operam nas sessões; o “espírito” que se manifesta é por vezes o que declara ser; mas também é verdade que em muitos casos não o é, e o frequentador comum não dispõe de meio algum para distinguir entre o artigo genuíno e as imitações.
UM DESENVOLVIMENTO ANORMAL
Como já foi dito, a linha normal de progresso do espírito da natureza visa a atingir a individualização por meio da associação com um anjo, mas têm ocorrido casos de indivíduos que escaparam a esta regra. A intensidade da afeição sentida pelo silfo para com o anjo é fator principal da grande transformação, e as ocorrências anormais são aquelas em que essa afeição passou a ter como objeto um ser humano. Implica isso tão radical inversão da atitude comum daquelas entidades em relação ao homem, que a hipótese raramente se verifica; mas, quando há e quando o sentimento é forte bastante para levar à individualização, o espírito da natureza se separa de sua linha peculiar de evolução e passa à nossa, de maneira que o novo ego surgente se encarnará, não como um anjo, mas como um homem,
Encontramos uma tradição dessa possibilidade no fundo de todas as histórias em que um espírito não-humano se apaixona por um homem e anseia ardentemente por obter uma alma imortal a fim de poder passar com ele a eternidade. Alcançando sua encarnação, tal espírito se torna um homem de tipo assaz curioso, afetivo e emotivo, mas travesso, estranhamente primitivo em determinados aspectos e totalmente desprovido de senso de responsabilidade.
Já sucedeu algumas vezes que um silfo assim fortemente vinculado a um homem ou a uma mulher, mas sem o necessário e suficiente afeto para assegurar-se a individualização, envidou esforços no sentido de forçar a entrada na evolução humana apoderando-se do corpo de uma criancinha moribunda, assim que o seu dono original o abandonou. A criança pareceu restabelecer-se, escapando das garras da morte, mas provavelmente apresentando grande mudança de temperamento e mostrando-se mal-humorada e irritável por haver sido obrigada a permanecer no corpo físico denso.
Se o silfo fosse capaz de adaptar-se ao corpo, nada haveria que o impedisse de retê-lo durante o tempo normal de uma existência. Se, durante essa vida, lhe sucedesse criar afeição bastante forte para romper o liame com a alma-grupo, depois ele reencarnaria como ser humano pelo processo ordinário; se não, retrocederia no fim à sua própria linha de evolução. Ver-se-á que tais ocorrências correspondem à verdade que jaz no fundo das tradições tão disseminadas sobre substituições de crianças, que existem em todos os países da Europa, na China e também (ao que sabemos) entre os aborígines da costa do Pacífico na América do- Norte.
AS VANTAGENS DO SEU ESTUDO
O reino dos espíritos da natureza é um campo de estudo sobremodo interessante, a que se não tem prestado a atenção devida. Mencionados frequentemente na literatura oculta, não estou certo, porém, de que já se houvesse cogitado de classificá-los sob critério científico. Esse imenso reino da natureza ainda está à espera do seu Cuvier ou do seu Linneu; mas – talvez quando dispusermos de bastantes investigadores experimentados – podemos esperar que um deles chame a si a tarefa, e nos proporcione, como contribuição de sua existência, uma completa e minuciosa história natural de tão notáveis criaturas.
Não será perda de tempo, não será um estudo inútil. Há de ser-nos interessante compreender o que são esses seres, não unicamente, nem mesmo principalmente, devido à influência que exercem sobre nós, mas porque a compreensão de uma linha de evolução assim diferente das nossas alarga o horizonte de nossas mentes e nos ajuda a reconhecer que o mundo não existe só para nós, e que o nosso ponto de vista nem é o único nem é o mais importante. A viagem pelo exterior tem o mesmo efeito, em escala menor, pois demonstra a todo homem de preconceitos que as outras raças, tão boas quanto a dele em todos os sentidos, podem, no entanto, diferir amplamente dela em muitos aspectos. No estudo dos espíritos da natureza, vemos a mesma ideia com maior amplitude; aqui temos um reino que é completamente dessemelhante: sem sexo, isento de medo, ignorante do que significa a luta pela vida: embora o resultado eventual de seu desenvolvimento seja, a muitos respeitos, igual ao que se alcança em nossa linha evolutiva. Aprender isso pode ajudar-nos a ver um pouco mais das múltiplas facetas da Divindade Solar, e, portanto, ensinar-nos a lição de modéstia e de caridade, assim como a liberdade de pensamento.
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