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Dion Fortune (A Doutrina Cósmica)
Tradução: Alberto Feltre
Vejam agora quais são as implicações da morte.
A Primeira Morte. Como foi visto anteriormente, quando duas linhas de movimento se interceptam estabelece-se um vórtice. Essas duas linhas de movimento então se neutralizam uma à outra, de maneira que elas deixam de existir como movimento e se tornam um centro de estabilidade. Essa é a Primeira Morte.
A segunda Morte. A ação e a reação são iguais e opostas no plano de seu encetamento. Elas agem, reagem e continuam a se manifestar de maneira cíclica. Mas, quando são transmutadas de um plano para outro, deixam de se manifestar no primeiro plano e passam a existir numa forma diferente no próximo plano. Se essa translação for considerada do plano do encetamento dessas forças, ela se chama morte. Se for considerada do plano da recepção dessas forças, é chamada nascimento.
Se uma mudança evolutiva for considerada a partir do aspecto mais primitivo, ela é vista como morte. Se for considerada a partir do aspecto mais evoluído é vista como nascimento. Esse nascimento é a Segunda Morte.
Tornemos tudo isso claro com um exemplo. A vida, tendo evoluído para além da capacidade das formas inferiores para lhes dar expressão, constrói para si formas superiores. Os restos fossilizados de formas inferiores abandonadas encontram-se entre os escombros da vida. Eles morreram; sua raça foi extinta; eles não existem mais; mas a vida renasceu num tipo superior de veículo. E só com o abandono da forma mais simples que a vida pode passar à mais complexa, embora a consciência que está no plano da forma mais simples veja nisso uma tragédia porque ela não pode conceber a vida superior e vê a sua própria vida passando prenunciada; mas a consciência da vida superior vê o nascimento de uma nova manifestação e se alegra, pois ela vê a expressão mais completa de suas potencialidades.
A Terceira Morte. Cada consciência individualizada vive para morrer e morre para viver, E só com a morte que podemos colher os frutos da vida. Apascentamos nos campos da Terra e dormimos nos campos do Céu para ruminar. Já se disse que “para cada hora de estudo deve-se fazer três horas de meditação“. Na morte está a meditação da alma e na vida o seu estudo.
Se vocês só “vivessem“, todas as experiências passariam pela consciência e deixariam uma impressão muito pequena após todos os primeiros quadros terem preenchido todo o espaço disponível. Tudo poderia ser concreto, não-relacionado, não-sintetizado; na meditação, que é “morte“, a essência abstrata da vida é extraída e, em vez de um milhão de imagens concretas, há o conceito abstrato. Aprendam a confiar na morte. Aprendam a amar a morte. Aprendam a contar com a morte no seu esquema de coisas e pratiquem regularmente o exercício de se visualizarem como mortos e de imaginarem como vocês seriam se estivessem mortos, pois assim vocês aprenderiam a construir uma ponte entre a vida e a morte, de maneira que ela pudesse ser atravessada com facilidade cada vez mais crescente. Vejam-se como mortos trabalhando seus destinos. Vejam-se como mortos e continuem seu trabalho a partir do plano dos mortos. Assim será construída a ponte que leva para além do Véu. Permitam que o abismo entre o que se chama vida e o que se chama morte seja atravessada por este método; e que o homem deixe de temer a morte.
A Quarta Morte. Quatro é o número “de ligação“. O quarto corpo, sendo ele o aspecto mais superior da Personalidade, liga-a à Individualidade e a Quarta Morte é chamada morte “de ligação” — morte “educadora“, ou, de outra maneira, chamada de “sono“. O sono é uma morte em miniatura, exatamente como a morte é o sono maior, e um conhecimento da natureza do sono ajuda a explicar a morte. A natureza do sono ainda não foi suficientemente compreendida. As impressões do sono recebidas pela consciência desperta são enganadoras. No sono o plano físico está dissociado de outros planos e a alma assim liberta não mais recebe as impressões que chegam pelos cinco portões dos sentidos e dizemos que ele dorme e é passivo; mas a Individualidade desperta e é ativa. Na vida desperta, a Individualidade dorme, e na vida adormecida a Individualidade desperta. Essa é a regra para a maioria; mas chega um tempo na evolução de alguns em que a Personalidade é capaz de ser usada pela Individualidade para se expressar. Isso exige uma Personalidade altamente desenvolvida e uma Individualidade altamente evoluída. A Individualidade está indicada nas escrituras sagradas como o “Anjo que sempre vê a face de Deus“.
Durante a vida desperta do corpo a Individualidade está empenhada em traduzir em seus próprios termos de abstração as impressões concretas que fluem para a alma inferior. Quando ela não mais procede dessa maneira, ela se torna objetiva em seu próprio plano e vê a “face do Pai“. Ela então se mede pelo modelo divino e efetua ajustamentos em seu poder; mas os ajustamentos do espírito são aeônicos e medidos pelo palmo do Céu.
Durante o sono a alma pouco evoluída não pode, todavia, mergulhar no esquecimento, mas, estando comprometida com os desejos insatisfeitos da carne, pode continuar a funcionar em relação aos pensamentos-formas nascidos desses desejos. Ela sonha os sonhos derivados de paixões insatisfeitas e da ânsia dos instintos. A Individualidade não é livre e, em vez de ver a “face do Pai que está no Céu“, vê a imagem invertida da forma humana e se desenvolve à sua semelhança. A
Individualidade, sendo incapaz de funcionar em seu próprio plano, não cresce e permanece sem evolução; e a Personalidade torna-se uma caricatura exagerada de si mesma. Ela só pode se libertar dela com a Terceira Morte, capacitando a Individualidade a fazer valer os seus direitos, mas, se a Terceira Morte for incompleta, a alma inferior continuará a sonhar no plano astral. Isto remete à questão da Quinta Morte.
A Quinta Morte é a morte da Personalidade. A Personalidade, quando separada do corpo pela morte, continua a viver e a funcionar como uma Personalidade e o homem de forma alguma mudou e ainda “responde ao nome que traz na carne“. Nos Infernos Inferiores ele queima com o desejo até que as possibilidades do desejo estejam queimadas. O desejo então continua como uma idéia abstrata e faz parte da Individualidade. O homem então morre para os desejos inferiores mas continua a viver nos desejos superiores.
Ele aprende então que esses desejos superiores são finitos e mortais; compreende que eles constituem barreiras entre ele e seu Pai cuja face ele veria e deseja escapar deles. Ele não mais ama com o amor pessoal que ama uma pessoa, mas com a manifestação superior de amor que é ela mesma Amor e que não ama nenhuma pessoa ou coisa, mas é um estado de consciência em que tudo está abrangido. Ele então procura se libertar do amor menor e este desejo de se libertar daquilo que, embora seja bom, é finito para compreender o bem é que é infinito e que causa a Quinta Morte e ele nasce para a consciência da Individualidade e vive no plano da Individualidade, percebendo a “face do Pai Que está no Céu“.
Mas com o despertar do desejo sobrevêm os sonhos e com os sonhos surge a lembrança da matéria. O Espírito, vendo a face de seu Pai até que a consciência esteja revestida de Seu brilho, fecha seus olhos e dorme; e, dormindo, sonha com seus desejos incumpridos e nasce novamente, pois no plano do desejo um estado de consciência é um lugar e, à medida que desejamos, renascemos, é assim que cada homem faz o seu carma.
Alguém poderia perguntar: como é então que os homens traçam limitações e sofrimentos para si mesmos que eles não poderiam desejar? E porque eles colhem não os frutos da fantasia, mas os frutos da atualidade. São-lhes dados os resultados daquilo que eles se permitiram desejar, não a coisa que eles desejam. Para exemplificar — o homem que desejou o poder poderá obter a vaidade. Para obter o poder ele teria de desejar as qualidades que conferem poder, a saber, força, presciência e sabedoria. 0 homem que deseja poder constrói para si a consciência do egoísta vaidoso. O homem que deseja força, presciência e sabedoria constrói para si a consciência do poder.
A Sexta Morte é o transe. No transe o corpo dorme mas a alma está desperta. Ele é ativo em seu próprio plano. Pode funcionar na esfera de seus aspectos inferiores, os instintos, com o corpo como pano de fundo, ou pode os instintos, com o corpo como pano de fundo, ou pode funcionar na esfera de seus aspectos superiores — com a mente concreta e as emoções como pano de fundo. No psiquismo normal, a consciência do quadro retrata os eventos dos mundos interiores como um espelho mágico, sendo que as condições de foco são determinadas pelos estados emocionais.
Quando a consciência psíquica é focalizada nos instintos e nas paixões com a matéria como pano de fundo, a consciência é transferida para a matéria etérica que é separada do veículo denso a fim de que possa agir como o veículo dos desejos apaixonados; então podem ser vistas as manifestações da magia inferior, perigosa e malévola em todas as suas formas, degradantes para a Personalidade porque sua vida é vivida em relação à matéria e não ao espírito. Vivam toda a vida com Deus como pano de fundo e meçam todas as suas façanhas pelo palmo do Céu e as avaliem em relação ao Cosmos, de maneira que seus pecados pareçam dolorosos aos seus olhos e seus erros sejam muito pequenos.
A Sétima Morte é a Iluminação. Na Sétima Morte a consciência está separada da Personalidade e se une à Individualidade e então um homem vê a face de seu Pai Que está no Céu, mesmo que ele próprio habite a Terra. É por essa razão que um Iniciado iluminado não é outro homem. A Iniciação completa é uma morte viva.
Aqueles que desejam as coisas dos sentidos e o orgulho da vida utilizam as palavras “morte viva” para denotar a sorte mais terrível que pode acontecer ao homem; mas aqueles que possuem conhecimento sabem que “morte viva” significa a liberdade do espírito trazida para o plano da matéria. Significa a consciência da “Presença Residente” no meio da consciência dos sentidos.
Significa consciência do Céu enquanto se vive na Terra. Em conseqüência, o Iniciado vai para a morte viva que é liberdade quando ele ainda está no corpo, pois a morte anula a Lei da Limitação, liberta as potencialidades do espírito, dá visão ao cego e poder ao impotente. Aquilo que desejamos vaidosamente em vida, nos o compreendemos na morte, pois morte é vida e vida é morte.
Para a consciência mais ampla, o útero é um túmulo e um o túmulo é um útero. A alma em evolução, entrando na vida, dá adeus aos seus amigos que a pranteiam e, tomando sua coragem em ambas as mãos e enfrentando a grande prova e submetendo-se ao sofrimento, entra para a vida. Sua primeira ação em vida é reter a respiração. Sua segunda ação com essa respiração é emitir um grito de dor, porque passou com dor para a tarefa da vida; e seu objetivo em vida é tornar a vida suportável. Mas, quando ela passa para o túmulo, passa por um portão para a vida mais ampla da consciência; e, quando o Iniciado passa para a vida mais ampla da consciência, ele passa por um portão que simboliza a morte; e por meio de sua morte para as coisas do desejo ele ganha a liberdade e caminha entre os homens como um morto. Na morte em vida, que é a liberdade do espírito nos grilhões da carne, ele transcende a Lei da Limitação; estando morto, ele é livre; estando morto, ele se move com poder entre os que estão enterrados na carne; e eles, vendo a Luz brilhando intensamente através dele, sabem que ele está morto, pois a Luz não pode brilhar através do véu da carne. Enquanto a consciência está encarnada no corpo, a Luz não pode brilhar através dessa consciência; mas, quando a consciência se desencarna, a Luz brilha através dele. Se a consciência desencarnada ainda está manipulando seu corpo, então essa Luz brilha no mundo de matéria e ilumina os homens. Mas lembrem-se e meditem sobre isso – o Iniciado iluminado é um homem morto que manipula seu corpo de maneira a poder servir aqueles que de outro modo não poderiam ser abordados.
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