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A Árvore da Morte das Seitas e Charlatões Esotéricos

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“Mantenha a companhia daqueles que buscam a verdade
e fuja daqueles que a encontraram.”

– Vaclav Havel

Quem começa nos caminhos do ocultismo, da magia ou de qualquer via espiritual certamente é alguém que precisa de ajuda. Muitos livros e sites como o MorteSubita.net tem feito um trabalho importante de divulgar muitos conhecimentos que antes só estavam a disposição de uma elite, mas a orientação personalizada de alguém em quem podemos confiar é algo que tem seus próprios méritos.
Embora eu não acredite que os pilantras, os charlatões e os falsos gurus sejam a maioria, é inegável que eles são os que mais se dedicam a atrair e cooptar os iniciantes para seus próprios interesses. O objetivo deste artigo é mostrar como a Árvore da Morte, ou seja, o lado sombrio da Árvore da Vida cabalística, pode servir como uma série de bandeiras de alertas para não cair nas armadilhas de indivíduos desonestos que buscam explorar as pessoas.

Para descrever as qliphot, evitarei termos clássicos como “obscuro”, “tenebroso” ou “sombrio”, que usei acima. Ocorre que em algumas tradições esses termos têm sido usados para falar das qliphoth como algo integrador, empoderador e positivo. Respeito a liberdade de tais autores e suas opiniões, mas não é essa a abordagem que usamos aqui. Ora, uma qlipha integrada, empoderadora e positiva é uma sephira. Darei, portanto, preferência a adjetivos como “degenerado”, “disfuncional”, “viciado” e semelhantes.

10º Qlipha: Nahema

Nahema é a sujeira acumulada em Malkuth e, portanto, associada ao reino material e ao mundo físico. Já disse a videira verdadeira que pelos frutos podemos reconhecer as árvores e o ponto aqui é que esses mestres não têm nenhum bom fruto para mostrar. Eles não podem mostrar nem em si mesmos nem em seus orientados os verdadeiros resultados do caminho iniciático, como uma expansão da consciência, uma compreensão e realização da verdadeira vontade ou simplesmente a capacidade de melhorar a si mesmo.

O que eles têm são promessas. Incapazes até de compreender o que o despertar pode oferecer, suas promessas se limitam aos domínios de Nahema, uma obsessão com o materialismo, prazeres físicos e bens materiais. Note que não há nada errado com o mundo material, mas estes picaretas dão uma ênfase desproporcional à ostentação, como se o objetivo da iniciação fosse a prosperidade financeira e uma vida luxuosa. Mais do que isso, as promessas paradisíacas das seitas e charlatões nunca se cumprem, mantendo os membros em um ciclo constante de esperança e desapontamento. O guru faz promessas grandiosas que só se concretizam para ele, mantendo os seguidores em um estado perpétuo de espera e dependência.

9º Qlipha: Gamaliel

Gamaliel é a degeneração de Yesod. Se por um lado Yesod está ligada ao processo de gestação e manifestação da realidade, Gamaliel é o aborto ininterrupto de ilusões. Seus filhos não são vivos e saudáveis, mas cascas natimortas. É a aparência acima da essência, o espetáculo acima da simplicidade, a estética acima do conteúdo. Enfim, o que há de pior no show business e na propaganda.

Seu vício é a preguiça, porque embora o espetáculo pareça bastante trabalhoso, ele no fundo dá muito menos trabalho que o trabalho real de conhecer e moldar a si mesmo, pois a obra interior é muito mais exigente e custosa do que qualquer estética. Mas não confunda as coisas, estética pode ser importante para algumas pessoas, mas quando ela é tudo o que há para se mostrar, é ai que temos um problema. Além disso, é fundamental questionar e entender claramente os métodos ou técnicas que lhe são oferecidos. Se o mentor ou guia espiritual faz promessas que parecem boas demais para ser verdade, provavelmente são. Essas promessas incluem soluções que dispensam esforço pessoal ou que prometem alívio de desafios internos em troca de submissão.

Um dos sinais mais evidentes de uma fraude espiritual é a promessa de soluções instantâneas e absolutas. Desconfie de qualquer um que sugira que você está deficitário de algo e que somente eles têm a cura para seus problemas. Essas pessoas geralmente afirmam possuir respostas exclusivas que podem facilitar seu crescimento espiritual ou pessoal de maneira fácil, o que é um grande indicativo de charlatanismo. A verdadeira transformação espiritual não se preocupa em ser bonita e fácil, pelo contrário requer muitas vezes um trabalho interno contínuo, difícil e desconfortável. A iniciação não pode ser comprada, mas aparentemente pode ser vendida.

8º Qlipha: Samael

A qlipha que representa o lado perturbado de Hod é Samael. Se por um lado a sephira lida com o esplendor intelectual e a comunicação clara, temos aqui, na sua versão degenerada, o caldeirão da mentira. Aqui encontramos líderes que mentem abertamente ou distorcem verdades para manter a lealdade e o controle sobre seus seguidores e gurus que frequentemente mudam suas declarações e promessas, adaptando narrativas conforme o que é mais conveniente para manter o controle.

São os famosos Donos da Verdade. Os mestres da mentira alegam que eles, e apenas eles, têm o conhecimento real e necessário para o progresso e a sabedoria. Frequentemente, esses conceitos não têm definições claras e podem ser interpretados de diversas maneiras, o que é realmente feito por eles mesmos sempre que alguém questiona sua falta de resultados. Frequentemente baseiam seus ensinamentos em conceitos nebulosos como “energia quântica” ou “quinta dimensão”. São monotemáticos e têm tanto medo do diálogo que só se colocam em debate quando têm certeza de que estão no controle do que será ou não divulgado depois. A linguagem, uma ferramenta poderosa, molda nossa percepção da realidade, e quando usada de forma irresponsável, pode confundir e enganar.

Outra forma, talvez mais ardilosa de ser o dono da verdade, é exato oposto do discurso monotemático, são aqueles que querem passar a ideia de que sempre sabem sobre tudo. Você nunca vai ver esse tipo de charlatão dizer algo como “essa não é minha praia”, “isso eu não sei” ou principalmente “fulano de tal conhece mais esse assunto do que eu.” Não, a pessoa quer desesperadamente convencer seu público de que, qualquer que seja o assunto, é nela que estão todas as respostas.

Felizmente, não é preciso muito tempo acompanhando alguém que está chafurdando na lama da mentira. Mudanças constantes nas crenças, narrativas e promessas são sempre ajustadas para evitar ser confrontado por falhas ou incoerências.

7º Qlipha: A’arab Zaraq

A’arab Zaraq, conhecido como “Corvos da Dispersão”, é um termo que contrasta diretamente com a sephira de onde se origina, devido ao seu caráter disruptivo e à evidente falta de inteligência emocional que caracteriza esta qlipha. Enquanto Netzach, a sephira correspondente, simboliza as emoções e impulsos que impulsionam ações proativas e construtivas, A’arab Zaraq é marcado pelo domínio do descontrole e por reações exageradas. Esta imaturidade emocional é tão palpável que até mesmo os devotos mais dedicados se olham mutuamente com descrença, especialmente quando, de maneira cíclica e inevitável, o mestre da qlipha se comporta de forma escandalosamente infantil.

O líder desta qlipha frequentemente se coloca em uma posição na qual espera ser constantemente satisfeito, de maneira semelhante a uma criança que nunca foi ensinada a aceitar um “não” como resposta. Em momentos de controle, esses líderes se apresentam como tutores zelosos, transbordando compaixão e amor, prontos para conceder bênçãos. No entanto, quando confrontados com oposição, questionamentos ou críticas aos seus métodos ou dogmas, eles não hesitam em lançar acessos de raiva que, por seu descontrole, podem chegar a ser cômicos.

6º Qlipha: Thagirion

Thagirion é a qlipha de Tiferet. Enquanto Tiferet representa o equilíbrio e a harmonia da Árvore da Vida, Thagirion é o piloto cego de tanto olhar para o próprio umbigo da árvore da morte. O narcisismo, mais do que qualquer outra coisa, é a assinatura do charlatão. O guru se posiciona no centro de tudo, promovendo uma imagem de si mesmo como um ser iluminado e sem falhas, exigindo atenção e adoração constantes. Líderes que se promovem como figuras quase divinas, exigindo adoração e submissão total, não raramente usam tronos, coroas e mantos reais.

Incapazes de controlar a si mesmos, esses falsos profetas tendem a buscar controle sobre os outros para validar seu próprio senso de superioridade. Mantendo todos em rédeas curtas, tentam dominar as discussões, decisões e direções do grupo e, eventualmente, da vida pessoal de seus membros, muitas vezes ignorando ou minimizando as contribuições e necessidades dos outros. Os perdidos nesta qlipha se colocam como figuras centrais e indispensáveis, frequentemente alegando possuir habilidades ou conhecimentos que ninguém mais tem. Tudo passa por eles e sem sua aprovação, nada tem validade. É a qlipha do egoísmo e da total falta de empatia.

5º Qlipha: Golachab

O lado doente de Geburah é Golachab. A primeira é a esfera da severidade disciplinadora, enquanto a segunda representa a guerra e a destruição por si só. Golachab é a qlipha da violência, da intimidação e da vontade de poder exercida sem justiça, resultando em tirania e crueldade. Novamente, o líder, incapaz de disciplinar a si mesmo, tenta disciplinar as outras pessoas com uma política de tirania e crueldade. Seitas que usam ameaças e pressão para manter controle entre seus adeptos e gurus que utilizam táticas de intimidação ou castigo sob o nome de “testes espirituais” e ameaças veladas ou explícitas de consequências negativas caso não sejam seguidos.

Golachab também se manifesta na necessidade de estar permanentemente em guerra contra alguém ou alguma coisa. Sempre há um inimigo a ser difamado, combatido ou eliminado. Sempre há alguém “tentando prejudicar o grupo”. Enfim, sempre há um poder de quem se falar mal e desejar o pior. Essa projeção mantém seus seguidores com a sensação de que estão do lado certo da história e oferece a oportunidade de culpar os outros para evitar qualquer responsabilidade pessoal ou institucional. Se não houver um inimigo no momento, um será inventado.

4º Qlipha: Gma’Asheklah

Gma’Asheklah, a qlipha da gula, representa o aspecto disfuncional de Chesed que inverte suas virtudes de generosidade e expansão para decair na ganância e na acumulação excessiva. Como vimos em Nahema, o critério de sucesso dessas pessoas é material; portanto, Gma’Asheklah se reflete nos charlatões por sua prioridade no acúmulo de riqueza ou poder sem considerar as consequências ou a ética de suas ações.

Tais grupos exploram seus membros, seja financeiramente, emocionalmente ou fisicamente, criando um sistema de dependência e submissão. E no exato momento em que ficar evidente que um antigo membro não pode mais “fazer sua parte” ele será descartado. Para aqueles que ficam sempre haverá a exigência de somas de dinheiro por serviços que não possuem um impacto real. Mais uma vez note que o problema não é a contraparte financeira, mas a ausência total de um retorno mensurável ou concreto. Pague por tempo o suficiente e logo surgirão “oportunidades” o para acessar “níveis mais altos” de conhecimento ou para participar de eventos exclusivos, levando a uma exploração financeira crescente.

3º Qlipha: Satariel

Satariel é o equivalente qliphótico de Binah, a sephirah que reduz e seleciona a imensidão do alto da Árvore da Vida para que possa ser compreendida e vivida pelas mentes humanas. Este aspecto virtuoso é degenerado em Satariel para se tornar fonte de censura, medo da verdade e ocultação de informações.

Esses supostos mestres mantêm agendas ocultas contrárias aos seus ensinamentos públicos ou simplesmente se envergonham de quem são e têm tanto medo de uma exposição que escondem informações cruciais dos seguidores ou da sociedade. Ninguém realmente sabe como as coisas funcionam, o que é feito com o dinheiro, nem quais os critérios de decisão. É comum que o próprio nome real dos mestres seja um segredo e é comum que usem não nomes iniciáticos mas sim nomes artísticos. O guru esconde informações essenciais sobre as operações da organização, mantendo os seguidores no escuro sobre aspectos críticos do grupo. Isso inclui proibir seus seguidores de ler este ou aquele livro, de ouvir esta ou aquela pessoa ou de acessar esta ou aquela fonte de informação.

2º Qlipha: Ghagiel

É extremamente comum que indivíduos mal-intencionados usem uma linguagem ao mesmo tempo vaga e complexa para atrair e manipular aqueles que estão passando por crises espirituais. Chokmah é a sephirah da explosão criativa, enquanto Ghagiel é a qlipha da mera confusão, seja ela intelectual, emocional ou mesmo estética, com a mistura de símbolos e o exagero iconográfico.

Eles frequentemente empregam termos ambíguos e abertos a múltiplas interpretações, permitindo-lhes adaptar suas mensagens ao que o ouvinte deseja ouvir. Se um mentor ou conselheiro espiritual não consegue explicar suas ideias claramente, recorrendo a jargões complicados ou estratégias evasivas, isso pode ser um indicativo de que seus motivos não são genuínos. Uma comunicação eficaz não deixa espaço para mal-entendidos: se você se sente perdido ou confuso em relação às orientações recebidas, a responsabilidade também recai sobre o educador, que falhou em transmitir suas ideias de maneira compreensível.

Um verdadeiro guia espiritual deve comunicar-se de maneira transparente e direta, sendo franco sobre suas intenções e os resultados que espera. Relações saudáveis entre mestre e discípulo são isentas de medo, coerção ou culpa. Se você se sentir inseguro, confuso sobre as intenções de seu guia, ou se questionar seu caráter, é vital levar essas preocupações a sério. Confie no seu coração.

1º Qlipha: Thaumiel

A Qlipha Thaumiel, frequentemente referido como “O Gêmeo de Deus”, está na parte mais profunda da Árvore da Vida e é a fossa de suas consequências. Ela representa a antítese da unidade e unicidade encontradas na sefirah Kether e simboliza a divisão e a dualidade, a distorção da verdadeira essência divina em duas forças opostas que, embora interligadas, perpetuam conflitos e contradições.

A necessidade de viver um personagem obriga a pessoa a aparentar uma espécie de dupla personalidade, que por mais que tente omitir se torna óbvia. Esta qlipha é particularmente fascinante porque ilustra a complexidade do mal como uma força não apenas destrutiva, mas também como uma presença que mimetiza e inverte as qualidades do divino. A dualidade de Thaumiel se manifesta na vida cotidiana de líderes e figuras de autoridade que, embora apareçam como unificadores ou salvadores, internamente lutam com miríades de conflitos e desequilíbrios significativos.

Pessoas influenciadas por Thaumiel frequentemente exibem uma dicotomia clara entre suas personas públicas e privadas. Publicamente, podem ser carismáticas, poderosas e até visionárias, capazes de atrair seguidores e inspirar movimentos. Privadamente, no entanto, essas mesmas figuras podem ser medíocres, inseguras e manipuladoras. Este descompasso não apenas cria uma tensão interna, mas também pode levar a comportamentos hipócritas, onde o que é pregado em público é flagrantemente violado em privado. São líderes que apresentam uma dualidade clara entre o que pregam e como realmente agem nos bastidores. São pessoas que têm uma vida debaixo dos holofotes e outra no mundo real.

Um checklist preventivo

A boa notícia é que mentores reais, sólidos e confiáveis estão em todo lugar, o que ocorre é que os charlatães espirituais fazem mais barulho, aparecem mais e se empenham em turvar as águas para tornar os verdadaeiros mentores mais difíceis de encontrar. A razão é simples: os vigaristas precisam desesperadamente renovar seus discípulos pois nenhuma mentira se sustenta indefinidamente. Para encerrar considere as 10 perguntas abaixo antes de abraçar qualquer mestre ou grupo iniciático:

10º Qlipha (Nahema): “As promessas feitas vão além do sucesso material e seus resultados são verificáveis?”

9º Qlipha (Gamaliel): “Consigo entender os métodos e objetivos e explicar claramente a visão proposta?

8º Qlipha (Samael): “As propostas do grupo ou do mestre são coerentes ao longo do tempo?”

7º Qlipha (A’arab Zaraq): “Como os lideranças reagem a críticas ou questionamentos sobre seus métodos ou ensinamentos?”

6º Qlipha (Thagirion): ” Há algum tipo de culto à personalidade? Os membros tem autonomia para tomar suas decisões particulares ou tudo é centralizado?”

5º Qlipha (Golachab): “O grupo ou líder parece estar sempre em conflito com alguém?”

4º Qlipha (Gma’Asheklah):  “Parece haver um objetivo meramente lucrativo? Em ordens e grupos há transparência sobre o que é feito com o dinheiro ?”

3º Qlipha (Satariel): “O grupo ou guru limita as informações que você pode acessar seja interna ou externamente?”

2º Qlipha (Ghagiel): “Você consegue explicar claramente as crenças e explicações dadas sem recorrer a jargões complicados ou conceitos ambíguos?”

1º Qlipha (Thaumiel): “O líder do grupo carece de humanidade e parece com um personagem?”

Seja como for, lembre-se: não delegue à nenhum “mestre” a responsabilidade pelo seu próprio progresso e desenvolvimento. Ninguém é perfeito. E se o seu grupo espiritual ou mestre for humano, é muito provável que eventualmente uma ou outra qlipha se manifeste. Não tenha medo de abrir o diálogo e sugerir melhorias ou um caminho mais sensato quando observar essas falhas. A reação negativa que pode surgir é o melhor indicativo de que realmente é hora de pular fora.

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