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O Sonho do Planeta

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Valdenir Benedetti

 

DOMESTICAÇÃO E SONHO DO PLANETA

Don Miguel Ruiz

O que você está vendo e ouvindo neste momento não passa de um sonho. Você está sonhando neste momento. Está sonhando com o cérebro acordado.

Sonhar é a principal função da mente, e os sonhos da mente duram vinte e quatro horas por dia. Sonhamos quando o cérebro está acordado e também sonhamos quando o cérebro es tá adormecido. A diferença é que quando o cérebro está acordado, existe uma moldura material que nos faz perceber as coisas de forma linear. Quando vamos dormir, não temos essa moldura, e o sonho possui a tendência de mudar constantemente.

Val:

Esta é uma forma de ver a realidade como uma projeção da mente. Se pensarmos no horóscopo e olharmos esta idéia sob o prisma da astrologia, podemos entender que os símbolos, como nós os interpretamos, são leituras deste sonho coletivo, e que seu verdadeiro significado permanece oculto na “moldura” de nosso sonho da realidade.

Talvez seja momento de, se pretendermos acordar de fato, de começar a perceber que pode haver outra leitura, outra interpretação para os símbolos astrológicos, que transcende este sonho coletivo.

Neste caso, se chegarmos a uma percepção dos significados dos sonhos alem das imposições deste Sonho do Planeta, estaremos a caminho da libertação, estaremos indo em direção ao Acordar do Sonho do Planeta, usando a astrologia!

Os seres humanos não estão sonhando o tempo todo. Antes que nascêssemos, os que existiam anteriormente a nós, criaram um grande sonho externo que denominamos sonho da sociedade ou * sonho do planeta * . O sonho do planeta é um sonho coletivo de bilhões de sonhos pessoais menores, que, juntos, formam o sonho de uma cidade, o sonho de um país, e, finalmente, o sonho de toda a humanidade. O sonho do planeta inclui todas as regras da sociedade, suas crenças, suas leis, suas religiões, suas diferentes culturas e formas de ser, seus governantes, escolas, eventos sociais e feriados.

Val:

É impressionante como a visão que temos da astrologia e suas funções está comprometida e submetida a este Sonho do Planeta. Não conseguimos nos livrar deste sonho, destas regras existenciais, morais, etc, que existiam antes de nascermos. Isto vale para cada palavra dita sobre um horóscopo, isto vale também para as regras de interpretação, para os significados que atribuímos aos planetas, todos atrelados a este Sonho do Planeta.

Nascemos com a capacidade de aprender como sonhar, e os seres humanos que viveram antes de nós nos ensinaram a sonhar da forma que a sociedade sonha. O sonho exterior possui tantas regras que, quando um novo ser humano nasce, captamos a atenção da criança e apresentamos as regras à mente dela. O sonho exterior usa Papai e Mamãe, as escolas e a religião para nos ensinar a sonhar.

Val:

Astrológicamente, mesmo que ainda estejamos usando a astrologia no plano do Sonho do Planeta, cada um dos símbolos planetários tem uma correlação com nossa capacidade de criar significados internos para o que eles representam, e estes significados passam a ser distorcidos pelos que nos ensinaram as regras deste Sonho do Planeta.

Neste caso, Vênus vai representar basicamente o que papai e mamãe (representando nossos formadores em geral) nos apresentaram, um modelo de desejo, um modelo de amor que não é necessariamente o modelo venusiano que corresponde à nossa essência. O mesmo ocorre com o Sol, com a Lua e com os demais planetas e símbolos.

O que nós entendemos por desejo (Vênus), comunicação (mercúrio), expansão (Júpiter), estrutura (Saturno) e assim por diante, é apenas nosso reflexo ao que nos foi imposto a partir de um sonho coletivo, o Sonho do Planeta.

Ai está um caminho para nossa libertação deste sonho: descobrirmos dentro de nós, trabalhando com um processo muito crítico e criativo, as outras possibilidades de expressão destes símbolos, mesmo que elas contrariem os parâmetros do Sonho do Planeta.

Mas afinal, quem se atreve?

A atenção é a capacidade que possuímos de discriminar e nos focalizar apenas no que desejamos perceber. Podemos perceber milhões de coisas ao mesmo tempo, mas, usando nossa atenção, podemos segurar qualquer delas no primeiro plano de nossa mente. Os adultos ao redor de nós capturaram nossa atenção e colocaram informações em nossas mentes mediante a repetição. Essa é a forma pela qual aprendemos tudo que sabemos.

Val:

Esta capacidade de discriminar está correlacionada astrológicamente com Vênus, que rege a ponderação e a discriminação, e é este planeta que precisa ser trabalhado para que a gente possa começar a escolher outras coisas onde focalizar nossa atenção.

Quando a gente muda o foco de nossa atenção, mudamos a dimensão dos acontecimentos, pois “as coisas acontecem no plano onde nos focalizamos”, e portanto, devemos nos focalizar alem do sonho, para que esta realidade sonhada saia de foco e a gente consiga perceber uma realidade alem das regras impostas por este sonhar coletivo.

Mas tem um pequeno problema: para usarmos Vênus em nossas vidas de outra maneira, aprendendo a escolher o que queremos e não o que os é imposto (isto depois da primeira infância, claro), também teremos que mexer em outros atributo de Vênus, especialmente o Desejo e tudo que está relacionado a ele, particularmente nossos padrões afetivos, também submetidos ao Sonho do Planeta. A resistência para aceitar uma transformação em nossa pseudo realidade afetiva tende a ser muito grande.

Para “captar” nossa atenção, os nossos “formadores” utilizam nossa Lua natal, pois a necessidade de sobrevivência e continuidade, qualidades essenciais e biológicas, é um atributo da Lua, e somos neste primeiro momento da vida, na infância, manipulados pela nossa capacidade de sobreviver. Se não prestarmos atenção, não poderemos sobreviver, então, assim capturam nossa atenção, exatamente como faz um cachorrinho quando ouve o barulho de sua tigela de comida sendo arrastada no chão. Usa-se a necessidade básica de sobrevivência para chamar a atenção do cão. Com as crianças é a mesma coisa, apenas a forma é diferente, por isso a Lua nos dá a medida deste mecanismo de prender a atenção delas, de estabelecer um vínculo de controle.

Utilizando nossa atenção, aprendemos uma realidade inteira, um sonho inteiro. Aprendemos como nos comportar em sociedade, em que acreditar e em que não acreditar, o que é bom e o que é mau, o que é bonito e o que é feio, o que é certo e o que é errado. Tudo já estava lá – todo este conhecimento, todas as regras e conceitos sobre como comportar-se no mundo.

Val:

Esta fase de condicionamento, de assimilarmos os modelos de comportamento da sociedade, é uma fase lunar da vida, o canal, o mecanismo é o lunar, e a forma de nossa atenção e o preço que cobramos por ela, nossas chantagens e tudo mais, tem as características do signo e casa que contem a Lua.

Quanto ao que é bom e mau, bonito e feio, certo e errado, já é um atributo eletivo de Vênus, o planeta da escolha e da eleição, e é assim que nossos critérios estéticos e afetivos são contaminados pelo Sonho do Planeta.

Mercúrio cumpre sempre a função de intermediário entre a lua e o que vem depois, entre o Sol e os planetas que vem na seqüência, e nosso mercúrio assimila o discurso e as regras que passaram primeiro pela nossa Lua natal, e passa a ser o canal de expressão das condições existenciais de quem vive submerso no Sonho do Planeta, pois mercúrio incorporará neste momento da vida a capacidade de racionalizar, justificar e tornar a realidade descritível.

Quando você estava na escola, sentava-se numa cadeira pequena e colocava sua atenção no que o professor estava ensinando. Quando você ia à igreja, colocava sua atenção naquilo que o padre ou pastor dizia. É a mesma dinâmica com pais e mães, irmãos e irmãs: todos tentam capturar sua atenção. Aprendemos também a capturar às atenções de outros seres humanos e desenvolvemos certa necessidade de atenção que pode se tornar extremamente competitiva. As crianças competem para Ter a atenção dos pais, dos professores, dos amigos. “Olhe para mim! Veja o que estou fazendo! Ei, estou aqui.” A necessidade de atenção se torna muito forte e continua pela vida adulta.

Val:

Os planetas vão funcionar, a partir desta idéia, em duas direções. Vamos usar o mesmo instrumento que foi usado para nos condicionar, para tentar condicionar os outros, a mesma fórmula, o mesmo discurso, e mais uma vez a essência de nossa lua e demais planetas foi “capturada” e distorcida, e cada vez mais vamos nos comprometendo com este Sonho do Planeta e suas regras e padrões.

A competitividade pela atenção começa a funcionar como um distorcedor de Marte em nosso horóscopo, e por isso, usamos muitas vezes nosso Marte como um agente de agressividade, competição, atitudes distorcidas, tonus inadequado, sexualidade pervertida ou frustrada e tudo mais, porque o Sonho do Planeta muitas vezes não tem a vibração sintonizada com nossa Natureza Essencial.

O sonho exterior captura nossa atenção e nos ensina em que acreditar, começando com a linguagem que utilizamos. A linguagem é o código para entendimento e a comunicação entre os seres humanos. Cada letra, cada palavra em cada linguagem é um acordo. Chamamos a isso de página de um livro; a palavra página é um acordo que entendemos. Uma vez que se compreenda o código, nossa atenção é capturada e a energia é transferida de uma pessoa para outra.

Val:

Bem demonstrado neste parágrafo o condicionamento de nosso Mercúrio. Na verdade, toda a casa III está envolvida na questão, seu regente, os planetas que estão lá, o signo da casa III, etc.

Podemos considerar que, por ser a IX da VII, a casa III corresponde ao “conhecimento do outro”, e por ser a VI da X, corresponde ao método, aos rituais que o mundo externo utiliza para se manifestar, curiosamente, este método do mundo se cristalizar em nossa vida é o discurso, a palavra, o mundo das idéias, os padrões de descrição e elaboração mental da realidade. Isto torna o “mundo exterior em nos” uma idéia, uma descrição.

Essas conotações da casa III mostram bem o mecanismo da imposição do Sonho do Planeta e de como acabamos utilizando nossa inteligência e o discurso, a capacidade de expressão como um mecanismo condicionado para alimentar constantemente através das explicações o Sonho do Planeta, que na verdade é um grande discurso, um imenso blá blá blá.

Os acordos são estabelecidos, ou melhor, são impostos à mente da criança, e só resta a nós entender o mundo através dos códigos que nos foram impingidos.

Não foi sua escolha falar português. Você não escolheu sua religião e valores morais – eles já existiam antes de você nascer. Nunca tivemos a oportunidade de escolher em que acreditar ou não acreditar. Nunca escolhemos nem ao menos o menor desses acordos. Não escolhemos ao menos nosso próprio nome.

Val:

É interessante observar que os valores que se estabelecem em nosso ser Lunar, e se expressam e são absorvidos através de Mercúrio, contém uma série de referências e argumentos para se “auto-alimentarem”.

Podemos perceber isto exatamente agora, quando nos perguntamos: “quem disse que este D. Miguel está certo? De onde ele tirou esta idéia maluca de Sonho do Planeta? Então não existe realidade? Etc, etc…..”

Os contra argumentos mercúrianos, dentro do modelo do Sonho do Planeta são sempre Negar qualquer evidencia deste próprio sonho, dizer que é coisa de maluco, que não é “cientifico”; e nesta contra-argumentação do plano do Sonho do Planeta, percebemos o quanto a função mercúriana é uma expressão, uma extensão da atividade Lunar, pois são os condicionamentos mais profundos e inconscientes que oferecem os argumentos que utilizamos para justificar a manutenção qualquer coisa, até o sofrimento, até a acomodação no estado de não sermos nós mesmos e sim o “desejo”, a ração, o alimento mantenedor do Sonho do Planeta, aquele que foi sonhado há muito tempo antes de nós, e que continua nos possuindo.

Quando crianças, não tivemos oportunidade de escolher nossas crenças, mas ‘concordamos’ com a informação que nos foi passada sobre o sonho do planeta por intermédio de outros seres humanos. A única maneira de armazenar informações é por acordo. O sonho exterior pode captar nossa atenção, mas se não concordarmos, não armazenamos essa informação. Assim que concordamos, ‘acreditamos’, e isso é chamado de fé. Ter fé é acreditar incondicionalmente.

Val:

Somente acreditamos, somente fazemos este acordo porque nossa sobrevivência física depende disto! Só nos é dada a ração, o leite, o pão, o afeto, o reconhecimento se aceitarmos o acordo, e é assim que se subjuga a criança dentro de nós, é assim que se condiciona a função lunar para que ela seja uma expressão de um sonho que não é o nosso.

O “dispositor” da Lua, sua casa e signo, o planeta que rege o signo onde a lua se encontra, representa as condições e o mecanismo de imposição de um modelo formativo da personalidade. São os termos do acordo, as clausulas do contrato que, se não aceitarmos naquele momento, sugerem os primeiros castigos, as primeiras perdas, a primeira dor. Só nos resta concordar então.

Foi assim que aprendemos quando crianças. Crianças acreditam em tudo o que os adultos dizem. Concordamos com eles, e nossa fé é tão forte que o sistema de fé controla todo o nosso sonho de vida. Não escolhemos essas crenças, e poderíamos nos Ter rebelado contra elas, mas não tivemos força suficiente para realizar essa rebelião. O resultado ceder às crenças com nosso ‘consentimento’.

Val:

As crianças acreditam, ou seja, dão um crédito, porque elas não tem ainda conhecimento da mentira. A gente dá um crédito quando não tem convicção de nada, e a convicção é um estado de quem tem conhecimento. Apenas quando temos “conhecimento” real de algo, podemos agir com convicção em vez de agir com fé.

Por isso a maioria das religiões institucionalizadas, aliás, a maioria das instituições, sejam econômicas, políticas, familiares, sociais, religiosas, tem interesse em que as pessoas acreditem em seus dogmas e suas verdades, pois só com fé a gente pode aceitar certas mentiras que por exemplo os políticos e economistas contam para manter seu Sonho de Poder, uma das maiores características do Sonho do Planeta. A mesma fórmula é usada com as crianças por pais que acreditam neste sonho, que tem fé nele, pois quem tem sabedoria, tem também convicção, e raramente seria conivente com o sonho dos outros, com a ilusão.

Para se rebelar é necessário o Conhecimento das Leis Naturais, é necessário sair da ilusão do Sonho do Planeta, do Maya, e agir com Convicção.

Para isto a astrologia pode ser muito boa. Mas infelizmente nós (astrólogos) também fomos convencidos em nossa infância de que o bom, o certo é o Sonho do Planeta, e nossos conseqüentes Sonhos Pessoais.

Por isso a astrologia acadêmica, a astrologia “tradicional” é apenas um instrumento para alimentar a grande ilusão, o grande sonho e nos manter atrelados a ele, talvez até felizes dentro dele.

Todo nosso discurso astrológico é sustentado pelas nossas crenças, pela idéia de que o que vemos e sentimos é a realidade verdadeira. Aprendemos a acreditar que o mundo é o que nos descreveram na primeira infância, e não concebemos outra possibilidade para ele. Intuímos que existem outras dimensões, que existe uma “realidade” possível alem de Saturno, alem da estrutura visível e palpável, mas insistimos em reduzir esta “realidade” a denominadores comuns atrelados à manutenção do Sonho do Planeta, e acabamos por usar a Astrologia como um recurso adicional para reforçar este Sonho, em nós e nos outros.

 

Chamo este processo de a ‘domesticação de seres humanos’. E por intermédio desta domesticação aprendemos como viver e como sonhar. Na domesticação de seres humanos, a informação do sonho exterior é conduzida para o sonho interior, criando nosso sistema de crenças. Primeiro a criança aprende o nome das pessoas e das coisas: mamãe, papai, leite, garrafa. Dia a dia, em casa, na escola, na igreja e na televisão, nos dizem como viver, que tipo de comportamento é aceitável. O sonho exterior nos ensina a ser um ser humano. Temos um conceito completo sobre o que é uma “mulher” e o que é um “homem”. Também aprendemos a julgar: julgamos a nós mesmos, julgamos as outras pessoas, julgamos os vizinhos.

Val:

Os conceitos que nós humanos desenvolvemos do que é uma “mulher” ou um “homem”, por exemplo, são representados genericamente pelo Sol e pela Lua em nosso horóscopo. Daí que tudo que dizemos sobre o Sol e a Lua em termos de descrição de Pai, Mãe, masculino, feminino, etc, está condicionado ao que o Sonho do Planeta nos ensinou, está vinculado aos conceitos de uma realidade que não é real, que é uma ilusão, daí que de pouco ou nada servem – ou servem apenas à manutenção do Sonho.

Mas percebam como é complicado nos atrevermos a questionar as definições que damos a Sol e Lua no horóscopo. Estamos tão submersos no Sonho que nos foi imposto, o Sonho é tão lógico e coerente que se torna inconcebível e tremendamente arriscado nos atrevermos a afirmar que talvez o Sol e a Lua possam ter outros significados além daquele aceitável dentro do plano do Sonho.

Quem se arrisca?

O “julgamento” que fazemos na verdade é uma projeção do significado dos símbolos como eles se manifestam em nós, vinculados aos condicionamentos do Sonho do Planeta. Isto serve tanto para a descrição astrológica das configurações, dos signos e símbolos no horóscopo, quanto para a percepção que cada um de nós tem de si mesmo.

O Julgamento na verdade é uma projeção de nossas expectativas, e a manifestação do simbolismo astrológico em nossa vida comum é manifestada , é potencializada pela expressão de expectativas representadas por esses mesmos símbolos, e isto cria o mecanismo chamado “projeção”.

O Sonho do Planeta se mantém mecanicamente através da projeção de nossas expectativas, e daí que, astrológicamente, a casa oposta a qualquer questão, a casa onde se projeta as expectativas, onde está a sombra de uma determinada casa qualquer, passa a ser prevalente na realização do horóscopo da pessoa.

Um bom exemplo disso é a intensidade com que nos projetamos, focalizamos nossas expectativas na casa VII, a casa do “outro”, na verdade, do “outro que está em nós” , mas que no Sonho do Planeta, que precisa da separatividade para subsistir, é um “outro” que está sempre fora de nós, e com o qual temos que nos preocupar, e para o qual temos que sempre dar conta de nossos atos e tudo mais, isto desde a infância, desde nossa infantil necessidade (cobrada, condicionada) de dar conta de cada mínimo movimento ou sorriso ou lágrima à nossos pais e formadores. Isto apenas continua re-criando a ilusão de que a casa VII representa algo ou alguém que está fora de nós, está separado de nós, e precisa ser seduzido e conquistado e mantido para que sejamos, para nos sentirmos um pouco inteiros, quando na verdade, dentro deste Sonho, somos apenas metade de nós, somos apenas uma ilusão de nós mesmos, pois se fossemos por um segundo inteiros, plenos, nos rebelaríamos e acordaríamos deste eterno Sonhar.

Ah, e não precisaríamos do “outro” como nos é proposto pelo Sonho do Planeta, pois o “outro” está dentro de nós mesmos, e só percebemos e reconhecemos nele o que está dentro de nós mesmos, e como toda ilusão o que está dentro de nós, se estamos vivendo na dimensão de um sonho, o outro torna-se uma ilusão em vez de algo real, uma ilusão que com a primeira brisa da consciência, o primeiro vislumbre de nossa verdade interior, se desfaz….

E ai a casa VII passa a ser uma imensa fonte de problemas, talvez a mais significativa deste planeta, pois nas condições impostas pelo Sonho do Planeta, o “outro” é sempre a referencia da minha realidade, ou melhor, da minha ilusão de que existo, pois dentro do Sonho, tudo é ilusão, até mesmo minha existência.

Quem de nós quer transgredir esta regra do Sonho do Planeta? Quem de nós ousaria dizer que não precisamos do “outro” para não sofrermos de uma imensa solidão? Quem de nós se atreve a atribuir um outro significado à casa VII, que não seja uma mera projeção de nossa profunda carência (por sermos apenas parte de nossa verdadeira essência, de nossa plenitude natural)?

Não é incomodo? Eu me sinto incomodado pensando isto. Que posso não precisar da pessoa que amo, que posso apenas compartilhar com ela minha plenitude natural, que infelizmente não me é permitida neste plano da existência por não ser conveniente às regras de manutenção e controle do Sonho do Planeta.

Vamos portanto continuar descrevendo e analisando a casa VII ( e todas as outras casas, evidentemente) como algo que temos que conquistar FORA de nós mesmos, como algo que pode ser descrito como uma experiência a ser vivida, e não como algo que já existe em nós, bastando ser acessada pela consciência.

As crianças são domesticadas da mesma forma que domesticamos um cão, um gato ou qualquer outro animal. Para ensinar um cachorro precisamos punir e dar recompensas a ele. Treinamos nossos filhos, aos quais amamos tanto, da mesma forma que treinamos qualquer animal doméstico: com um sistema de castigos e recompensas. Dizem-nos: “Você é um bom menino” ou “Você é uma boa menina” quando fazemos o que mamãe e papai querem que a gente faça. Quando isso não acontece, somos “meninos maus” ou “meninas más”.

Val:

Para o Sonho do Planeta, e para a astrologia que praticamos dentro desta dimensão ilusória, ser “bom” ou “mau” é essencial. Daí que temos também “bons e maus aspectos”, piores ou melhores configurações, tanto na vida quanto na análise da vida, através do horóscopo ou do que for, usamos os mesmos modelos. Esta expressão dos modelos externos e sociais na metodologia particular da astrologia tem a função de nos manter divididos e confusos, submersos na ilusão, atrelados ao Sonho do Planeta.

Na Natureza, se observarmos criticamente, as coisas são o que são, e os atributos de “bondade” ou “maldade” que observamos nas relações entre os animais e as plantas é um problema de nossa mente, de nossa expectativa de como as coisas deveriam ser, do que é certo ou errado.

Daí que nos chocamos quando um animal simplesmente devora outro, quando uma aranha se alimenta do macho após o acasalamento, quando uma orquídea suga a seiva da arvore que a hospeda até extingui-la, quando um corpo morre após cumprir sua função natural, que certamente é imensa, muito maior que nossos desejos, medos, leis e tudo mais que a psique descreve e espera da vida.

Estamos, enquanto isso, projetando e às vezes saturando, — através desta dança da sobrevivência — , neste contexto biológico que não tem definições de “bem e mal”, nossos conceitos pessoais, adquiridos exatamente no processo de domesticação de nossa psique.

É conseqüente que, na nossa decodificação dos símbolos astrológicos, utilizemos estas referencias condicionadas em nosso corpo e mente. É decorrente destes conceitos sustentados pela separatividade que, em nossa tradução humana dos significados das configurações astrológicas, atribuamos aos símbolos significados sustentados pelos conceitos de “bem” e “mal”, “bom” e “mau”, e com este procedimento e uso da linguagem, vamos sustentando e sedimentando cada vez mais em nossa mente e na dos outros o Sonho do Planeta e nosso sentimento de que somos seres separados uns dos outros e da natureza.

Nas oportunidades em que fomos contra as regras, nos puniram; quando agimos de acordo com elas, ganhamos uma recompensa. Fomos castigados muitas vezes por dia e recompensados muitas vezes por dia. Logo ficamos com receio de sofrer o castigo e também com receio de não ganharmos a recompensa . A recompensa é a atenção que conseguimos de nossos pais ,ou de outras pessoas como irmãos, professores e amigos. Logo desenvolvemos necessidade de captar atenção de outras pessoas para conseguir a recompensa.

Val:

Este é o mecanismo que o Sonho do Planeta adota para nos forçar a construir nossos critérios de Valor e de Realidade.

A casa II do horóscopo corresponde ao universo dos valores pessoais, e neste plano do Sonho, os valores são elaborados e mantidos por um mecanismo de punição e recompensa. Isto nos deixa constantemente inseguros e ameaçados, alem de incapazes de perceber que já temos dentro de nós todos os valores que precisamos.

Mas é do mecanismo mantenedor do Sonho do Planeta que projetemos e busquemos a referencia de nossos valores fora de nós, pois nos sentimos separados do “outro” , e por isso, o “outro” tem que reconhecer e endossar meu Valor, pois sem isto eu não tenho como ter consciência de mim mesmo.

A conseqüência é que vivemos inseguros, tabulamos um estado permanente de fragilidade e dependência do julgamento e do critério dos outros para que tenhamos algum valor. Esta fragilidade é necessária à manutenção do Sonho do Planeta, pois uma pessoa que tenha conhecimento de seu valor pessoal, e consequentemente que tenha convicção e aja com base nesta convicção, pode se libertar do Sonho, e isto não convém…

A casa II passa a ser projetada na casa VIII, os “valores do outro”, a II da VII, já que a VII é o outro separado de nós. Só assim este mecanismo de recompensa pode funcionar.

A recompensa provoca uma sensação boa, e continuamos fazendo o que os outros querem que a gente faça para obter a recompensa. Com medo de ser punidos e medo de não ganhar a recompensa , começamos a fingir ser o que não somos apenas para agradar aos outros, só para ser suficientemente bons para outras pessoas. Tentamos agradar a mamãe e papai, tentamos agradar aos professores na escola, tentamos agradar na igreja, e com isto começamos a representar. Fingimos ser o que não somos porque temos medo de ser rejeitados. O medo de sermos rejeitados torna-se o medo de não sermos suficientemente bons. Mais tarde, acabamos por nos tornar alguém que não somos. Tornamo-nos cópias das crenças de mamãe, das crenças de papai, das crenças da sociedade, das crenças religiosas.

Val:

Este mecanismo de elaboração dos valores pessoais (casa II) através da recompensa e da punição, é mais que uma relação meramente material. Tende a ser física, mas não necessariamente financeira. Afeto, compreensão, reconhecimento são também valores que adquirimos muitas vezes como recompensa por nosso “bom comportamento”. Lembremos que os critérios de nossa casa II passam a ser definidos pelo que a casa VIII nos apresenta, ou seja, nossos valores são delimitados pelos valores que re-conhecemos no “outro” e pelo que podemos obter dele, e com isto, negamos nossa própria capacidade de conquistar valores a partir de nosso íntimo, de nossa essência.

Podemos considerar também o fato da casa II ser a V da X, a quinta casa a partir do Meio do Céu. Neste caso ela, a casa II, representaria a “cristalização”, a materialização, a formatação dos princípios que regem nossa presença no mundo social, nosso “status” , e a expectativa que os outros tem de nós, tudo isto representado pela casa X.

A casa X se “fixa”, se condensa, toma forma, materializa-se através da casa II. E como estamos falando de uma condição que vem de fora, que vem do mundo, o Sonho do Planeta, a casa II, nossos valores, passam a ser a expressão e a sedimentação de todo um modelo, de uma série de códigos e regras estabelecidas para que sejamos coniventes com o Sonho do Planeta.

Poderiamos chamar estes códigos de “Critério de Realidade”, que se compõe, se sustenta, se cristaliza através de nossos Valores Pessoais, a casa II.

A “questão” (casa, signo, planetas, regente, etc) dos valores pessoais passa a ser, a partir do mecanismo de recompensa e punição – e a conseqüente insegurança que este mecanismo produz em nós – outra base da sustentação do Sonho do Planeta em nós, e o terreno fértil onde é gerado nosso Sonho Pessoal, infelizmente adubado pela insegurança e separatividade.

Junto a esta imposição de valores que o Sonho do Planeta apresenta, está um mecanismo que, em princípio é sutil, mas vai se tornando cada vez mais presente em nossas vidas, cada vez mais atuante, e poderíamos dizer que é a palavra chave, a senha, a base da manutenção de todo o Sonho:

O Apego.

Nossos critérios de valor passam, em função dos condicionamentos ao Sonho do Planeta, a ser mantidos com a insistência e determinação de quem precisa deles para sobreviver. Possuir algo, seja uma idéia, um conceito, um bem qualquer, é sempre uma questão de vida e morte no plano da grande ilusão coletiva que vivemos. Com o tempo, vamos nos tornando escravos deste apego, de tal forma que a experiência de possuir passa a ser mais importante que o próprio objeto possuído.

O conseqüente medo de perder o “objeto” possuído nos mantém escravizado a um sistema de valores que nos obriga a uma série de condutas e comportamentos coerentes com o Sonho coletivo.

A identificação com o “objeto” possuído, e o apego decorrente, nos dá a ilusão de segurança, nos oferece a ilusão de que temos alguma inteireza, de que estamos materializados, de que temos consistência, de que somos “reais”, de que temos alguma perenidade, pois os objetos maiores de nosso apego, tendem a durar mais que nossas frágeis vidas.

Tem também a ilusão de poder e controle que a posse nos oferece, e isto confere à nossa mente condicionada a idéia de que somos autores de nosso destino, pois podemos possuir mais ou menos coisas, podemos dispor das “coisas” como não podemos dispor de nossa própria vida, e isto é bastante confortável.

Cada vez que analisamos a casa II de um horóscopo em termos do que a pessoa pode ter ou não ter, em termos de sua possibilidade financeira, de seu potencial de materializar e obter mais ou menos segurança, estamos endossando o Sonho do Planeta e a escravidão do indivíduo a ele, estamos reforçando os mecanismos de apego ou de insegurança da pessoa, exatamente por vivermos e estarmos sendo coerentes com o mesmo sonho, exatamente por nossa astrologia ser criada e estabelecida dentro da grande ilusão.

Neste momento, deixamos de ser agentes de transformação, de libertação, auxiliares do despertar do próximo, por estarmos também comprometidos com o grande Sonho do que é certo e errado, por estarmos também sonhando. E para o grande Sonho do Planeta, o certo é possuir o maior numero de coisas possível, a maior quantidade de pessoas, objetos, dinheiro que nossa vida puder conter, pois isto nos dará segurança e nos fará pessoas aceitáveis e normais dentro das regras da grande ilusão, mesmo que para conseguir as coisas, aumentar meu patrimonio, alguem tenha que sair perdendo.

O Sonho do Planeta reconhece como “normal” que alguém sempre perca para alguem ganhar. Isto mantém e alimenta a “separatividade”, a idéia de que somos separados uns dos outros.

Todas as nossas tendências normais são perdidas no processo da domesticação. E quando somos grandes o suficiente para que nossa mente compreenda, aprendemos a palavra ‘não’. Os adultos dizem “Não faça isto, não faça aquilo”. Nós nos rebelamos e dizemos “Não!”. Rebelamo-nos porque estamos defendendo nossa liberdade. Queremos ser nós mesmos, mas somos pouco, e os adultos são grandes e fortes. Depois de um certo tempo, ficamos com medo porque sabemos que todas as vezes em que fizermos algo errado, seremos castigados.

Val:

O que este “Não” provoca em nós, junto a todo o resto do processo de condicionamento de nossas vidas ao Sonho do Planeta é a grande desconecção, a ruptura com o Universo, uma separação dolorosa com o grande organismo cósmico e a conseqüente e permanente sensação de solidão, solidão cósmica!

Esta separação, este aborto que o Sonho do Planeta provoca, para que isolados e fracos nada possamos fazer, nos transforma em uma célula sem organismo, um órgão sem corpo, e parece que a consciência da separação – esta sim permitida pelo Sonho do Planeta – nos deixa perdidos e perplexos, sempre em busca de um “outro” para compor nossa totalidade perdida.

A grande função da Astrologia poderia ser o “re-conectar” com o universo, com o “em cima”, com o “corpo de D’us”, pois é uma linguagem que se baseia justamente nas correlações universais. Mas para que isto acontecesse, seria necessário que a Astrologia se desvinculasse do Sonho do Planeta e parasse de alimenta-lo, parasse de concordar e endossar a separatividade humana, não funcionasse mais como uma explicação reducionista para nossa pequenez e isolamento; não servisse mais para explicar os fracassos e as distorções dentro da dimensão do Sonho do Planeta, justificando e endossando este Sonho como a única e perfeita verdade.

A função de re-conectar da astrologia, análoga ao que entendemos na maioria das religiões como o “religare”, re-estabelecer o contato com o Divino que há em nós, poderia ser muito simples e natural, se a Astrologia que conhecemos não estivesse tão comprometida com o Sonho do Planeta.

A simples compreensão dos ritmos e ciclos naturais, sem o comprometimento de valores morais e culturais, já nos poderia colocar em sintonia com esta totalidade, já poderia ser suficiente para permitir um resgate do “homem natural”, o Homem Desperto, desvinculado e descomprometido com este Sonho do Planeta, sintonizado com sua essência e com a plena capacidade de utilizar o poder de seu espírito para recriar a realidade, como fazem os gatos, os cães e as crianças, antes de serem domesticados.

Bem que poderíamos utilizar a linguagem da Astrologia, que é uma simples observação da linguagem da Natureza – antes de ser reduzida a mínimos denominadores comuns pela nossa necessidade de justificar o Sonho em que vivemos – como uma das grandes ferramentas para nos reconectarmos ao todo, para experimentarmos o “religare” com o sagrado.

Mas para isto temos que ousar abrir mão de uma série de conceitos e regras baseados na idéia de bom e ruim, bem e mal.

A domesticação é tão forte que num ponto determinado de nossa vida não precisamos mais que ninguém nos domestique. Não precisamos da mamãe ou do papai, da escola ou da Igreja para nos domesticar. Somos tão bem treinados que passamos a ser nosso próprio treinador. Somos um animal autodomesticado. Agora podemos domesticar a nós mesmos de acordo com a mesma crença no sistema que nos forneceram, usando as mesmas técnicas de punição e recompensa. Punimos a nós mesmos quando não seguimos as regras de acordo com nosso sistema de crenças; recompensamos a nos mesmos quando somos “bonzinhos” ou “boazinhas”.

Val:

Curiosamente, todas as ferramentas que temos ao alcance de nossa mente, inclusive a Astrologia, mas também o Tarot, a Yoga, a Psicologia e muitas outras linguagens de se obter consciência, de se experimentar a transformação, estão comprometidos com o Sonho do Planeta, com o grande Maya, pois foram criadas dentro e a partir Dele, consequentemente, acabamos entrando em um circulo vicioso no qual toda transformação ocorre de forma a não ser uma transformação verdadeira, e sim uma atualização, uma readaptação ao Sonho.

Cada gesto do ser em direção à transformação tende a ser um gesto ilusório, um argumento retórico para nos fazer sentir confortáveis dentro deste Sonho, para atenuar nossa rebeldia e fazer com que não nos sintamos covardes e apegados,para fazer com que vivamos dentro de outra ilusão: a ilusão de que estamos reagindo e fazendo alguma coisa, de que não somos totalmente covardes e acomodados.

Mas, abandonar a idéia de que precisamos do “outro” para sermos completos, — que é um dos fundamentos do Sonho do Planeta –, isto não conseguimos conceber.

Abandonar a idéia de que somos seres únicos, exclusivos, especiais, individualidades poderosas, totens de vaidade social – em vez de partículas de uma totalidade – também é muito difícil e preferimos não viver o desconforto de experimentar isto, pois a responsabilidade com o “outro” se torna um fato, a necessidade de ser “inteiro” para poder compartilhar esta inteireza com o “outro” em vez de simplesmente ficar esperando aprovação, é muito, muito trabalhosa. O medo de ficar só – mesmo estando sós nesta pseudo individualidade forjada – , outro artificio do Sonho para nos manter atrelados, é muito forte para suportarmos este conflito de sermos plenos e ao mesmo tempo partes fundamentais do corpo de D’us.

O sistema de crenças é como o Livro da Lei que regula nossa mente. Sem questionar, o que estiver escrito no Livro da Lei é nossa verdade. Baseamos todos os nossos julgamentos segundo o Livro da Lei, mesmo que esses julgamentos e opiniões venham contra nossa própria natureza. Mesmo leis morais como os Dez Mandamentos são programadas em nossas mentes no processo de domesticação. Um a um, todos esses compromissos passam a constar no Livro da Lei, e esses compromissos regem nosso sonho.

Val:

O planeta Júpiter, e a questão que o envolve: casa IX, Sagitário, representam a elaboração das Leis de um modo geral. Representam nossa aceitação às Leis, nossa identificação com as Leis, sejam as do Livro da Lei que regula o nosso Sonho coletivo, sejam as Leis da Natureza.

A casa IX do horóscopo simboliza, por ser a terceira casa de Fogo, o Fogo Mutável, e como é próprio do modo Mutável, representa uma passagem, representa um momento de compreensão na dinâmica dos signos, mas enfim, a terceira casa de Fogo, símbolo da Identidade é o aspecto mais sublime de nossa identidade, é o momento em que transcendemos nosso modelo normal e experimentado e experimentamos uma passagem dimensional para outro plano do elemento, da vida, no caso, conquistamos uma nova Identidade. Por isso, a casa IX simboliza o futuro da nossa identidade, aquilo que queremos ser alem de nós mesmos, aquilo que gostaríamos de “ser quando crescermos”.

O modo Mutável é, fazendo uma analogia com os estados da matéria, equivalente ao gazozo, enquanto que o Fixo corresponde ao estado sólido e o cardinal ao líquido. Este “gazozo” do mutável, seja de Sagitário, Peixes, Virgem ou Gemeos, pode significar um meio adequado para a propagação do som, ou das idéias, mas pode representar uma neblina, uma névoa que distorce as imágens e impedem que a gente veja a real realidade.

Ir alem de mim mesmo, como indica o Fogo Mutável de Sagitário e é a função da nona casa, implica em ter acesso às Leis Naturais que permitem isto. Implica em estabelecer uma relação mais profunda com a Totalidade, e por isso o mecanismo de compreensão das Leis que regulamentam todos os movimentos da Natureza.

A redução deste processo evolutivo natural aos mínimos denominadores comuns estabelecidos pelo Sonho do Planeta, faz com que identifiquemos apenas as Leis contidas no Livro da Lei que regulamenta o sonho, e com isto percamos nossa possibilidade de nos vincularmos às Leis Maiores, à Lei da Natureza, a Lei que está contida em nossa essência e em nossa condição de Ser Natural.

Neste caso, em função de nosso compromisso com o Sonho do Planeta, e com nosso Sonho Pessoal, — que foi elaborado a partir de nosso filtro pessoal (identificável pelo horóscopo), mas cujos parâmetros foram fornecidos pelo Sonho coletivo, nossa perspectiva de sermos mais do que somos, de evoluirmos para outro plano da existência, para projetarmos e criarmos a expectativa de uma nova e cada vez mais requintada identidade, torna-se limitada, ou melhor, atrelada a este Sonho. E como podemos observar, de um modo geral, a proposta do Sonho do Planeta é de acumular, ter cada vez mais, possuir, estabilizar, conservar. Tudo bem, não é uma má proposta, afinal, estamos encarnados e somos por enquanto seres físicos, profundamente vínculados e dependentes de uma realidade material. Mas o problema é que é só isto, paramos nisto, nos bastamos com isto.

O peso do compromisso com a realidade material se transforma em um lastro, em um limite difícil de ser superado. Nosso desejo de ser “mais”, de evoluir, de nos tornarmos mais plenos, está sempre circunscrito pela necessidade de estabilidade e conforto, o que cria um conflito entre a possibilidade de transformação e a necessidade de conservação. E o sonho nos impõe a conservação. Esta é a idéia de “normalidade” que nos é imposta, a idéia de “mundo perfeito” e de felicidade que aprendemos desde a infancia.

Fica difícil saber para onde ir, alem destes referenciais materiais e comportamentais. Fica difícil imaginar que poderíamos ser algo mais do que somos, sem abrir mão do conforto material e da segurança.

Tanto a questão II quanto a questão IX (quando as outras casas todas do horóscopo ) se tornam um peso, algo que nos puxa para a estagnação, em vez de serem referencias para uma transformação e evolução.

É tão forte o peso do Sonho do Planeta que, escrevendo estas linhas eu fico imaginando que não sei o que mais poderiam significar estas casas, que experiências elas poderiam representar alem de eu ser uma “pessoa mais importante e com mais dinheiro e estabilidade”, e também imagino que não tem sentido não lutar por isso apenas, e que conquistar isto (segurança, estabilidade, etc.) é o caminho e a base para a evolução. Fui convencido e meus olhos não conseguem atravessar a névoa e ver algo alem. Sinto que existe, mas ainda não reconheço em mim mesmo a capacidade de Ver alem.

Como diz o Osho, “…um tomate não pode analisar outro tomate, ele precisa ser mais que um tomate para isto…”, e em termos de olhar a dimensão da nossa existência dentro do estado do Sonho, somos tomates tentando se entender. Por isso a mesmice e a repetição dos conceitos astrológicos; por isso nossa resistência em aceitar que a astrologia poderia ser diferente do que é. É a mesma resistência em aceitar que nós poderíamos ser diferentes do que somos.

Existe algo em nossa mente que julga a tudo e a todos, incluindo o tempo, o cão, o gato… tudo. O Juiz interno usa o que está escrito no Livro da Lei para julgar o que fazemos e o que não fazemos, o que pensamos e o que deixamos de pensar, mais tudo o que sentimos e deixamos de sentir. Tudo vive sob a tirania deste Juiz. Todas as vezes que fazemos alguma coisa que vai contra o Livro da Lei, o Juiz diz que somos culpados, que precisamos ser punidos e que deveríamos nos envergonhar. Isso acontece muitas vezes por dia, dia após dia, ao longo de todos os anos em que vivermos.

Val:

Este algo que existe dentro de nós e que julga é na verdade o significado reduzido, distorcido e adaptado pelo Sonho do Planeta para a expressão autorizada de cada símbolo planetário em nosso horóscopo pessoal. Cada expectativa representada por um planeta, conduz a um julgamento, pois construímos a realidade a partir desta expectativa, e quando não conseguimos elaborar uma realidade adequada e satisfatória à nossa expectativa, tentamos estabelecer outros critérios para mudar esta realidade, e o mecanismo disso é o julgamento.

Como o julgamento é baseado no Livro da Lei, o significado possível de cada planeta é potencializado pelos códigos e regras contidos neste livro. É isto que passamos a achar certo, é este o significado – o do Livro da Lei – que atribuímos aos planetas no mapa astrológico.

Daí que Vênus passa a corresponder simplesmente aos critérios universais de relacionamento, mas este desejo e estes critérios de relação estão de acordo com o Livro da Lei, são aceitáveis dentro do grande Sonho do Planeta, não representam nenhuma liberdade, nenhuma transgressão. Apenas adaptação aos padrões comuns e aceitáveis pela Ilusão Coletiva de certo e errado.

Evidentemente que Venus utilizado de acordo com a Lei do grande Sonho Coletivo, não representa necessáriamente infelicidade ou desequilíbrio. É necessário sabermos caminhar também neste sonho, pois e nele que nascemos. Mas, olhando em volta de nós, olhando em nossas próprias vidas, percebemos com clareza a quantidade de experiências que deixamos de viver, a intensidade do sofrimento amoroso que as pessoas encontram, a dificuldade que existe para se fazer uma escolha saudável e viver uma relação harmoniosa e plena.

Porque será?

Bem, imaginamos que, para o Sonho do Planeta, para que Ele se mantenha, não seria conveniente que as pessoas experimentassem a plenitude do relacionamento consciente, isento de culpa e de competição e conflitos inúteis, pois assim todos descobririam que estamos juntos, que podemos trocar, compartilhar e confiar uns nos outros, e isto seria extremamente perigoso e revolucionário para a manutenção do Sonho, pois eliminaria nossa maior fragilidade,

Isto foi apenas um exemplo de como a necessidade de julgar tudo segundo os critérios do Livro da Lei, o manual de regras do Sonho do Planeta, distorce e nos faz viver distantes de nós mesmos, alheios à nossa plenitude e aos seres divinos que somos.

Pensemos em outro exemplo.

Saturno.

Este ai, uma das molas mestras da manutenção das leis que nos atrelam ao grande Sonho. O julgamento que o Saturno em nosso mapa, em nosso Ser, faz da realidade é sempre baseado no medo, na fragilidade de nossa estrutura, exatamente porque no Livro da Lei consta que nascemos frágeis (nosso educadores, parentes, etc, insistem obcessivamente em mostrar nossa fraqueza, e que se não formos obedientes à Lei, seremos punidos), consta que o Medo é uma das referências para definirmos a realidade, para julgarmos a realidade.

Será que Saturno em outra dimensão de compreensão é apenas medo? É apenas necessidade de segurança? É apenas rigidez? Ou estes critérios, que funcionam como lentes para que vejamos o mundo apenas de acordo com eles, apenas se prestam para que nos mantenhamos atrelados ao Sonho do Planeta e suas decorrencias?

Existe outra parte de nós que recebe os julgamentos, e essa parte chama-se: a Vítima. A Vítima carrega a culpa, a responsabilidade e a vergonha. É a parte de nós que diz: “Sim, você não é bom o suficiente”. E tudo isso é baseado num sistema de crenças que não chegamos a escolher. Essas crenças são tão fortes que mesmo anos mais tarde, depois que fomos expostos a novos conceitos e tentamos tomar nossas próprias decisões, descobrimos que essas crenças ainda controlam nossas vidas.

Val:

O movimento da vida, seja no Sonho ou fora dele, é sempre um fluir e refluir, a vida vem em ondas como o mar, como diz a canção. Tudo é energia, tudo flui através de ondas, e isto é um fenômeno comprovado fisicamente.

Neste vai-vem, o julgamento e sua contrapartida também estão submetidos ao fenômeno ondulatório. O julgamento é o mundo se oferecendo para a gente e sendo filtrado por nossos canais distorcidos e modulados pelo Sonho, provoca uma resposta à altura, que é a conduta de vítima.

Ser vítima é uma reação e uma conseqüência de nossa expectativa inadequada, ou melhor, adequada apenas ao Sonho e não ao nosso instinto e nossa natureza essencial.

O jogo da vítima é absolutamente institucionalizado e aceito dentro do plano do Sonho. É incomodo, é verdade, mas nossa maneira de construir uma realidade sustentada por julgamentos, implica na reação inevitável de sermos vítimados por estes mesmos julgamentos que fazemos todo tempo, e cujos critérios estão escritos no Livro da Lei, no conjunto de normas que regula o Sonho do Planeta.

Os planetas no horóscopo cumprem a dupla função, de julgar e de ser vítima, que é a mesma coisa que ser julgado como consequencia dos nossos julgamentos.

Jupiter, por exemplo, julga moralmente, e depois se torna vítima moral deste julgamento que faz, como forma de se justificar e suporta-lo. Saturno julga o peso e a medida e a conveniencia das coisas todas, e se torna vítima do medo de sair da medida, perder os limites, perder a estrutura. Marte julga a energia investida, por si mesmo e pelos outros, julga a sexualidade e o vigor das coisas – em vez de vive-las como lhe compete — , sempre com base em regras que nem sempre correspondem ao tonus e à natureza da pessoa; depois se torna vítima de seu desejo, vitima de seu gesto, que isto faz parte do script de manutenção do Sonho. Mercúrio vive do julgamento que cada palavra de seu discurso, cada movimento de sua compreensão produz; e é vítima da incompreensão que isto provoca, é vítima de eternos mal entendidos, ou pior, vítima da interpretação inadequada do que é real e do que é imposto a nós pelo Sonho. Venus, o senhor do desejo, julga acompanhando os critérios impostos pelo Livro da Lei, em vez de simplesmente desejar com o coração; torna-se uma vítima contumaz de suas escolhas inadequadas e de seus desejos sem coração.

Toda expressão destes planetas é acompanhada de culpa e sentimento de inadequação, por não estarmos acompanhando o desejo de nosso íntimo, por estarmos submetendo a expressão destes símbolos planetários a um modelo que muitas vezes não corresponde à nossa real necessidade. Esta culpa, para ser aliviada, precisa de que assumamos a postura de vítima, para não sermos responsabilizados pelo destino, ou sei lá por quem, por não termos respeitado nossa verdadeira natureza, por termos adotados critérios e regras que precisavam de julgamento, em vez de serem expontâneos e naturais, principalmente para amar.

Quem ama sem julgamento? Quem não conhece a condição de ser vítima do amor? Vítima das escolhas amorosas que foram produto de julgarmos entre o certo e o errado, entre o bom e o ruim, baseando-nos em critérios que são culturais em vez de obedecermos nosso coração.

 

O que quer que vá contra o Livro da Lei irá fazer você experimentar uma sensação estranha no plexo solar, que é chamada medo. Quebrar as regras do Livro da Lei abre seus ferimentos emocionais, e sua reação cria veneno emocional. Porque tudo que está no Livro da Lei tem de ser verdade, qualquer coisa que desafie aquilo em que você acredita irá produzir uma sensação de insegurança. Mesmo que o Livro da Lei esteja errado, ele faz com que você se sinta seguro.

Val:

Quebrar as regras é muito difícil. Sempre temos a sensação de que temos algo muito precioso a perder, fomos convencidos disto desde a infância. Mas nunca sabemos o que é este algo que podemos perder. O que será?

Bem, entre outras coisas, perdemos a sensação de “pertencer”, esquecemos que pertencemos naturalmente ao mesmo plano, à mesma espécie, ao mesmo planeta, ao mesmo organismo cósmico, e vivemos a ameaça de, por qualquer transgressão ao Livro da Lei, sermos excluídos da tribo, e este medo constante nos assombra.

Mas é uma impossibilidade natural sermos excluídos da espécie, deixarmos de fazer parte do gênero humano, mas isto não nos avisaram. Acabamos convencidos pelo contexto dos sonhadores que “pertencer” é poder prestar contas continuamente do que somos, de quem somos, do que estamos fazendo, do que fizemos. Somos na verdade uma biografia ambulante, uma descrição de nós mesmos e do que esperam de nós, e é comum esquecermos quem somos na verdade e nos confundirmos com a descrição de nós mesmos, a que fazemos e a que os outros fazem.

Talvez nos primórdios da humanidade, ou em pessoas que sobrevivem em condições muito precárias e selvagens, a presença da tribo realmente representasse proteção, mas curiosamente entre estas pessoas, a ausência de medo e a auto-suficiência é notavelmente maior que entre os homens civilizados.

A idéia de que “não nos bastamos” muda completamente o código de leitura do horóscopo. Toda interpretação passa a ser feita em função da pressão, das cobranças do contexto onde a pessoa vive. Toda interpretação dos símbolos astrológicos passa a ser uma descrição das expectativas que a sociedade tem do indivíduo, e se ele está correspondendo ou não a elas, se está sendo feliz por sentir-se aceito na tribo, ter algum grau de importância na tribo, ter status por ser o que esperam dele. Bem, talvez isto seja o certo, não é? Quem sabe?

Os vínculos pessoais e sociais em geral, que poderiam corresponder a uma troca amorosa, a uma complementação energética e afetiva, acabam funcionando como desafios e questionamentos desnecessários; funcionam como exercedores de pressão, como se cada pessoa fosse uma “quadratura” nos mantendo eternamente vigilantes e atentos às ameaças do julgamento do “outro”, e sempre preparados para assumir o papel de vítima, completando a trama das relações de dependência.

Quando ousamos sermos nós mesmos, seguir nosso instinto, ou nosso coração, a reação que surge não é apenas a angustia existêncial, realmente abrem-se as feridas de nossa desconexão com nossa essência, e temos que nos intoxicar de ilusões, ou de comportamentos típicos de vítima, para suportarmos a dor desta ruptura com a gente mesmo. Como Vítimas, fica mais fácil, a coisa se justifica, se redime de certa forma.

É por isso que precisamos de um bocado de coragem para desafiar nossas próprias crenças. Ainda que saibamos não haver escolhido nenhuma dessas crenças, também é verdade que terminamos por concordar com todas elas. A concordância é tão forte que mesmo que a gente entenda o conceito de que não são nossas verdades, sentimos a culpa e a vergonha que ocorrem se formos contra essas regras.

Val:

A astrologia, esta astrologia que nós praticamos durante tanto tempo, comprometida com o Sonho do Planeta, nos assusta ainda. Percebemos um aroma, uma certa luz que ela pode nos conduzir para além das Leis que regulam e nos mantem neste estado adormecido, mas muitas vezes nos falta a coragem para desafia-la.

Está funcionando, está – teoricamente – dando “consciência” a nós, mas a consciência que uma astrologia comprometida com o grande Sonho nos dá, é limitada e delimitada pelas Leis reguladoras deste Sonho. É uma astrologia engajada e comprometida. A consciência que ela nos dá é a repetição das normas e regras mantenedoras, adormecedoras. Satisfaz nossa vaidade intelectual, nos mantém aparentemente ligados ao universo e com acesso às leis da Natureza. Mas nossa visão empanada pela neblina do sonho, não nos permite ver alem das descrições convencionais, de que Saturno é o medo, Marte o sexo e a Lua a mãe e assim por diante. Intuimos que existe algo alem desta descrição, mas quem de nós ousa ir alem? Romper com a regra, fugir do padrão, se recusar a aceitar a mera descrição comportamental como modelo de consciência, quando não é consciência coisa nenhuma. Descrição não é consciência.

E quando prevemos o futuro, ou “analisamos tendências”, como dizem os mais modernos, ou “avaliamos o potencial” dos acontecimentos, como dizem outros ainda, o que estamos fazendo? Reforçando o sonho do que é certo e errado, projetando a pessoa no futuro do próprio sonho de que o que nos apresentaram como mundo é o mundo mesmo. Talvez até seja, mas é difícil sabermos não é?

Mas podemos todos questionar se, este mundo ao qual estamos atrelados, esta “realidade” na qual estamos submersos e com a qual estamos comprometidos, permite nosso crescimento alem dos limites dela, permite a sensação de integraçao com o universo, permite a constatação da plenitude que, intuímos existe em nós.

E quando a astrologia incorpora uma linguagem mais esotérica, quando os recursos interpretativos e a base filosófica da análise se sustenta sobre dogmas e conceitos religiosos, alguns vindo do oriente e meio forçosamente adaptados à linguagem da astrologia ocidental, enfim, quando isto acontece, o reforço da ilusão é maior ainda, mais enganoso ainda, pois nos afunda em afirmações que não poderemos constatar jamais, nos compromete com a idéia de que não temos responsabilidade sobre nossos atos, e sim algum outro que fomos em outra existência, como se os egos reencarnassem e trouxessem todo seu vínculo ao livro da Lei, todo seu compromisso com a pequenez moralista do ser humano, as experiências vividas, os débitos a serem pagos e outras mediocridades que nos desvinculam da possibilidade de sermos espíritos livres e iluminados, e nos atrelam com a alienação submissa de quem vive adormecido neste plano do grande Sonho coletivo.

Assim como o governo possui o Livro de Leis que regula o sonho da sociedade, o nosso sistema de crenças possui o Livro da Lei, que regulamenta nosso sonho pessoal. Todas essas leis existem em nossa mente, acreditamos nelas, e o Juiz dentro de nós baseia tudo nessas regras. O Juiz decreta e a Vítima sofre a culpa e o castigo. Mas quem disse que existe justiça neste sonho? A verdadeira justiça é pagar uma vez por cada erro. A injustiça verdadeira é pagar mais de uma vez por cada erro.

Val:

O horóscopo pode ser uma reprodução, uma expressão materializada do Livro da Lei, e ser um poderoso instrumento de manutenção da regulamentação do sonho pessoal, depende apenas de como for utilizado, e acreditamos que, até o presente momento, o horóscopo e a astrologia são usados apenas para a manutenção da Lei e do Sonho, raramente para a libertação e transformação.

Como já dissemos anteriormente, a linguagem da astrologia está circunscrita aos limites e aos códigos de nossa mente, que por usa vez está atrelada ao estatuto moral da sociedade, seus princípios e regras. Não há muito como fugir disto. A astrologia, assim como todas as leis que constam no Livro da Lei da realidade estão contidas também em nossa cabeça.

Usamos a interpretação para julgar e manter, alimentar o “status quo”, reforçar os padrões morais e manter a pessoa atrelada a seu nível de exigência. Poderíamos ousar afirmar que toda interpretação que seja coerente com a realidade, como a percebemos dentro dos limites de quem está adormecido, é um julgamento!

Certos padrões que se repetem na análise, procedimentos comuns, como por exemplo afirmações do tipo “você é assim!”, “você tem um grande potencial para a cura”, “tua capacidade de relacionamento está bloqueda pelo aspecto de Saturno com Venus”, “o Urano dominante no teu mapa te torna uma pessoa excentrica e com grande necessidade de ser livre”, “A posição de Pluto confere uma grande necessidade de poder – ou potencial para exercer poder”, são reforços ao estado de inconsciência ao qual somos todos submetidos pelo Livro da Lei, pois todas estas afirmações, citadas como exemplo, só fazem sentido em uma realidade na qual estamos separados dos outros, não estamos de fato vinculados à humanidade, nos achamos especiais e únicos, e estas características são muito eficientes para afastar a gente de si mesmo, para manter a gente dopado e embriagado pelo sonho cultural que vivemos.

Fazer uma pessoa sentir-se feliz e confortável dentro dos problemas dela, mostrar saidas para que ela se conforme e mude sem mudar nada na verdade, não creio que seja mal, aliás é o pouco que podemos fazer com a Astrologia tradicional. Mas esta estratégia e este uso da astrologia é um meio de manter a pessoa adormecida, acreditando que aquela vida, aqueles problemas ou pequenas soluções, é tudo que lhe resta.

Talvez seja mesmo, não é? Quem sabe? Aliás, minhas defesas, meus medos estão aqui me cutucando desesperadamente para que eu não acredite que haja algo alem daquilo que o mundo me convenceu que existe, não haja nada alem da astrologia que eu conheço, a não ser algumas tecnicazinhas e novas posições planetárias e variações sobre o mesmo tema. Será que resisto? Será que me entrego à pressão do sonho que está me assobiando que sou ridículo em querer pensar alem do que me é permitido?

Ai! Que faço eu?

Quantas vezes pagamos por um erro? A resposta é: milhares de vezes. O ser humano é o único animal na Terra que paga milhares de vezes pelo mesmo erro. O resto dos animais paga apenas uma vez pelo erro cometido. Não nós. Temos uma memória poderosa. Cometemos um erro, julgamos a nós mesmos, descobrimos que somos culpados e castigamos a nós mesmos. Se a justiça existe, então foi o suficiente; não precisamos nos castigar outra vez. Mas cada vez que lembramos, julgamos a nós mesmos outra vez, nos declaramos culpados outra vez e punimos a nós mesmos outra vez, e outra, e outra ainda. Se tivermos uma esposa ou marido, ela ou ele também ajudarão a lembrar de nosso erro, de forma que nos julgamos, condenamos e castigamos ainda outras vezes. É justo isso?

Val:

Está ai uma interpretação clássica da Lua: a memória. Esta conjectura, sobre nos punirmos muitas vezes pelo mesmo erro, mostra uma diferença bastante objetiva entre os seres submersos na grande ilusão e os animais, por exemplo.

Os erros que cometemos, excluindo aqueles que são de fato prejudiciais à própria vida , são erros sob o ponto de vista de quem? O que são os erros na verdade, quem ou o que os define?

Um animal que, após horas espreitando sua caça, erra o salto e deixa escapar o alimento, cometeu um erro. Mas será que ele para e se lamenta disto? Será que ele acha que isto é motivo de punição? OU mesmo um cão doméstico, que morde uma criança que lhe puxou o rabo, errou de fato? Merece ser castigado? E a criança, errou?

O que são nossos erros? Investimos no projeto inadequado, escolhemos para nos relacionar uma pessoa que nos traz problemas depois, investimos nossa economia em algo que posteriormente se mostra um fiasco financeiro, enfim, são os erros que cometemos por acreditar que são erros. Mas dentro de uma ótica de que a vida é aprendizado, seriam motivos para sermos punidos? É motivo para sofrermos e nos martirizarmos muitas e muitas vezes lamentando nosso fracasso, nos envergonhando das escolhas erradas, e algumas vezes até mesmo somatizando estes sentimentos e frustrações e adoecendo?

Quem foi que determinou que temos que sofrer por não sermos perfeitos e estarmos neste constante aprendizado?

Ah!! Este simbólico Livro da Lei, que impõe um modelo ilusório de superioridade e perfeição a todos nós.

E a vida se torna insuportável por esta cobrança de perfeição e superioridade, que foi forjada desde a primeira infância, na fase lunar da formação de nosso caráter, e nós estrebuchamos o tempo todo para sermos o que não somos, não podemos ser perfeitos, e nos falta o tempo para refletir e questionar se é bom viver assim, nos punindo, com medo constante da falha, do erro, do fracasso e do julgamento que vão fazer de nós, exatamente como nossos pais e formadores faziam, e que nós mesmos continuamos fazendo o tempo todo.

Quando interpretamos Saturno em um horóscopo, e vemos o possível medo do fracasso, da perda de estrutura, percebemos as restrições potenciais, estamos usando quais critérios para entender o que é fracasso, estrutura. E quais os parâmetros para definirmos o que restringe a pessoa? Ou no que ela mesma se restringe a partir da casa, signo e aspectos envolvendo este planeta? Será que não é hora de analisarmos criticamente estes conceitos de fracasso, restrição, etc. e, em vez de ficar usando Saturno para justifica-los e explica-los simplesmente, possamos excluir estas “coisas” de nossas vidas, pois elas foram impostas e não são realmente necessárias a uma qualidade de vida e felicidade que poderiamos ter. São descrições de condições que não precisavam de fato existir, pois não existem nos outros seres da natureza, pelo menos não se manifestam da mesma forma perversa e limitadora do homem.

E a Lua, dentro deste contexto, passa a representar a função da memória, e passa a conter – por suas correlação com o momento da formação da personalidade, a infância – o script que insistimos em repetir.

 

Quantas vezes fazemos nosso cônjuge, nossos filhos e nossos pais pagar pelo mesmo erro? A cada vez que lembramos um erro, culpamos a eles novamente e enviamos todo o veneno emocional produzido pela injustiça, depois fazemos com que eles paguem outra vez pelo mesmo erro. Isso é justiça? O Juiz na mente está errado porque o sistema de crenças, o Livro da Lei, está errado. Todo o sonho é baseado em leis falsas. Noventa e cinco por cento das crenças que temos armazenadas em nossas mentes não passam de mentiras, e sofremos porque acreditamos nessas mentiras.

Val:

AS casas astrológicas, representando campos de expressão da consciência, ou melhor ainda, campos de projeção psíquica, é o território, o cenário onde se desenrolam estes dramas existenciais.

Todas as casas tem seus personagens, as pessoas nas quais projetamos as respectivas expectativas de sua representação. Tem a casa da família e das pessoas do passado, dos empregados e do ambiente de trabalho, das pessoas que nos dão valor, daquelas a quem atribuímos valor, daquelas que nos confrontam e nos completam, das pessoas que nos traem, etc.

Todo este movimento das pessoas representadas pelas casas são projeções. Nada disto existe na verdade. Os dramas e alegrias são uma descrição que fazemos a partir de nossas expectativas, pois outra pessoa, vendo o mesmo fato acontecer, poderia ter uma interpretação completamente diferente da nossa, a interpretação dela.

A Lua e sua configuração, é o que determina esta diferença na percepção das projeções da consciencia entre eu e outra pessoa. E esta diferença não está exatamente na configuração astrológica da Lua, apesar desta configuração simbolizar o potencial para que administremos de forma pior ou melhor as qualidades lunares, mas esta percepção do mundo, das casas está determinada muito mais pela imposição de muitos modelos que contrariam nossa natureza essencial, modelos impingidos pelo convívio familiar, que vão gerar o sofrimento da vítima e a identificação com o julgamento constante.

No sonho do planeta, é normal que os seres humanos sofram, vivam com medo e criem dramas emocionais. O sonho exterior não é agradável; é um sonho violento, um sonho de medo, um sonho de guerra, um sonho de injustiça. O sonho pessoal dos seres humanos pode variar, mas de forma global, geralmente é um pesadelo. Se observarmos a sociedade humana, encontramos um lugar muito difícil de viver porque é regido pelo medo. Através do mundo, vemos os seres humanos a sofrer, sentir raiva, vingar-se, viciar-se e provocar violência nas ruas, gerando uma tremenda quantidade de injustiça. Pode existir em níveis diferentes em vários países ao redor do mundo, mas o medo controla nosso sonho exterior.

Val:

Saturno, Meio do Céu, Capricórnio, simbolos do nosso compromisso com a “realidade” social, tão temido, tão mal compreendido…

O ultimo planeta visível, o limite entre tudo que acreditamos, ou fomos convencidos a acreditar, e o que está além, o invisível, o transcendente, que tantos de nós buscam ávidamente, como se, ir além do visível fosse a salvação.

A realidade “alem de Saturno” é descrita por nós dentro dos termos da do Livro da Lei que é aceito pelos homens, é configurada através dos padrões aos quais estamos condicionados e que alimentam nosso estado de adormecidos.

É como aqueles filmes que mostram um céu onde todas as vaidades, medos e desejos deste plano funcionam igualzinho, apenas as aparecias são mais luminosas e “clean”, mas projetadas como uma reprodução do Sonho do Planeta.

Será isto mesmo? Será que, conservando os mesmos termos, os mesmos dogmas, as mesmas crenças e a mesma descrição do mundo, conseguiremos nos libertar deste estado de sofrimento e crueldade contra a vida?

Será que continuando a achar que este mundo é certo, que esta percepção que temos de nós mesmos e de nossos limites é certa, que nossa pequenez e mesquinhez é certa, que alguém sempre tem que perder para alguém ganhar – um dos mais poderosos princípios da Lei que mantém o mundo em conflito — , enfim, alguém ainda acredita na mudança, na melhoria dentro deste paradigma que o Sonho do Planeta nos impõe há tantos séculos?.

A “questão” X, e todos os símbolos envolvidos nela, solicitam o eterno testemunho do outro para confirmar nossa existência, nossa realidade, mesmo que aparente e sonhada. A questão VII também tem esta função, “sei que existo porque tu existes”. Este testemunho do “outro” funciona muito mais como uma submissão ao julgamento do que como simples referencia.

É o “outro” que determina e exige que o Eu se mantenha adormecido e comprometido com esta Lei apequenadora. Cada vez que precisamos do “testemunho” de alguém para nossa existência, cada vez que dependemos disso para confirmar o que sentimos, o que estamos vivendo, estamos na verdade procurando o endosse e a confirmação de que estamos cumprindo a Lei, esta mesma Lei que provoca a separação entre os Homens, que provoca a competição, a crueldade social, a arrogância e egoísmo de muitos.

Cada vez que queremos mostrar ao mundo nosso sucesso, nossa conquista, desejamos na verdade ser avalizados e reconhecidos como sintonizados com a Lei, a vaidade é uma ferramenta através da qual somos usados e escravizados a este sistema, é um soporífero que nos afasta de nós mesmos todo tempo.

Cada vez que estamos amando, e queremos gritar ao mundo nosso amor, nosso encanto, estamos na verdade inseguros, não acreditando que o amor possa acontecer, e queremos a aprovação do mundo, o testemunho, a confirmação de que o amor possa existir e acontecer em nosso coração, e neste momento, submetemos nosso amor ao paradigma da vaidade e das regras que determinam que eu não posso ser senhor de minha vida e meu destino.

E continuo adormecido, e o amor que sinto se funde e se dilui no meu sonho, no sonho de todos nós, que não parece estar sendo um sonho de liberdade e felicidade…

 

Se compararmos o sonho da sociedade humana com a descrição do inferno fornecida por quase todas as religiões do mundo, descobrimos que são a mesma coisa. As religiões dizem que o inferno é um local de punição, de medo, dor e sofrimento, um lugar onde o fogo queima a gente. O fogo é gerado por emoções que vêm do medo. Sempre que sentimos raiva, ciúme, inveja ou ódio, experimentamos um tipo de fogo queimando em nosso interior. Estamos vivendo um sonho do inferno.

Se você considera o inferno um estado de espírito, então ele se encontra ao nosso redor. Os outros podem nos prevenir de que se não fizermos o que eles dizem que devemos fazer, iremos para o inferno. Más notícias! Já estamos no inferno, incluindo as pessoas que nos disseram isso. Nenhum ser humano pode condenar o outro ao inferno porque já estamos nele. É verdade que outros podem nos colocar num inferno ainda mais profundo. Mas apenas se nós permitirmos que isto aconteça.

Cada ser humano possui o seu sonho pessoal, e assim como o sonho da sociedade, geralmente é regido pelo medo. Aprendemos a sonhar o inferno em nossa própria vida, em nosso sonho pessoal. Os mesmo medos se manifestam de formas diferentes para cada pessoa, claro, mas experimentamos a raiva, o ciúme, o ódio, a inveja e outras emoções negativas. Nosso sonho pessoal também pode se tornar um pesadelo constante, onde sofremos e vivemos em estado de medo. Porém, não temos necessidade de sonhar um pesadelo. É possível fabricar um sonho agradável.

Val:

É interessante a analogia que a Astrologia faz entre o Inferno e o signo, casa e regente de Escorpião, o signo da transformação.

Parece que o Inferno é o processo de transformação propriamente dito, se fizermos um raciocínio bem básico, e todos os sentimentos negativos relacionados a este “viver no inferno”, como o ciúme, o ódio, a inveja, são manifestações do medo da transformação, sempre surgem quando é momento de se transformar e sair um pouco do velho Sonho.

Se pensarmos no Livro da Lei, e nos regulamentos que fazem da nossa existência um tipo de inferno, onde em geral, o lado mais feio e pequeno do Homem prevalece, veremos que a mudança é contra todos os princípios que regem a manutenção do Sonho do Planeta, e do Sonho pessoal . É tudo que não convém, a grande ameaça ao sonho, o risco de nos despertar. Aceitar e viver a transformação nos liberta do sonho (ou pesadelo para alguns), nos coloca de frente da verdade, nos conduz a um confronto com a realidade e nos liberta das mentiras que nos contamos para aceitar viver atolados na estagnação da não mudança.

Talvez por isso existe tanto preconceito com o oitavo signo e a oitava casa. São apresentados muitas vezes como sinais do pecado, do sofrimento, da obsessão, da sexualidade inadequada, e principalmente, da Morte, como se a Morte fosse algo a ser evitado e temido com todas as nossas forças.

Claro que biológicamente estamos comprometidos com a vida, mas também estamos envolvidos com a inexorabilidade da morte. Mas quando a Lei mantenedora do sonho nega a idéia da morte, apresenta-a sempre como perda, dor e sofrimento, apenas isto, na verdade a idéia é nos remeter para a casa II, para uma visão distorcida da casa II, transformando este campo de projeção em uma relação absoluta com a forma, com a posse, com a matéria e nossa relação com estas coisas como a única forma de evitar a tão temida morte. Na verdade, o que se pretende evitar com esta negação cultural da morte é que percebamos que morrer é se transformar, e cada pequena transformação que vivemos, é uma pequena morte, e na verdade, acreditamos que são estas que o Livro da Lei pretende evitar.

Associar a morte e o inferno a Escorpião e sua questão é uma forma de nos manter afastados do “bicho papão”; um esquema muito bem elaborado pela cultura do Sonho para que neguemos e vejamos sempre a transformação como o mal, como a dor, como a perda. Assim, nos apegamos cada vez mais à realidade material, como se ter bens e propriedades mantivesse a plenitude da vida, nos desse algum poder de superar a inevitável morte, e nos tirasse do caminho do fim da realidade material, do fim do corpo fisico, do fim do ego e da vaidade.

Sinto muito por todos nós, mas acreditar nisto só traz sofrimento e solidão, porque tudo acaba e tudo se transforma.

Ah! Ainda temos a esperança de continuar depois, com o mesmo Ego. Outra ilusão para nos manter sonhando e nos impedir de agir e nos transformarmos enquanto estamos vivos e encarnados.

Creio que algo em nos se dilui no universo, nossa energia vital se funde com o Todo da Natureza, volta para os lábios de quem soprou a vida em nós, e nosso espírito, talvez vague ou vá mesmo para algum lugar de aprendizado, mas nada disso podemos saber ou controlar.

O Ego, nossos apegos e medos e vaidades e pequenos poderes e bens materiais aos quais nos vinculamos, estes acabam mesmo! Apesar de preferirmos acreditar em algo mais para satisfazer nosso apego ao sonho do planeta, para o qual a função do “apego” e da “conservação” das formas é uma das mais importantes referencias.

Sinto muito, sinto por todos nós, que sair da ilusão significa provar o sabor ácido da des-ilusão. É o preço.

 

Toda a humanidade busca a verdade, a justiça e a beleza. Estamos numa busca eterna pela verdade porque apenas acreditamos nas mentiras que possuímos armazenadas na mente. Estamos procurando justiça porque no sistema de crenças que adotamos não existe justiça. Procuramos pela beleza porque, não importa quão bela é a pessoa, não acreditamos que essa pessoa tenha beleza. Continuamos procurando sem parar, quando tudo já está em nosso interior. Não existe verdade a encontrar. Sempre que voltamos nossas cabeças, o que vemos é a verdade, mas com os compromisso e crenças que temos na mente, não temos olhos para enxergar essa verdade.

Val:

Bem, acreditamos no que queremos acreditar, e também no que fomos convencidos a acreditar. E “acreditamos” que acreditar é um caminho que só serve a alguns senhores, ter fé em coisas e princípios externos a nos mesmos, apenas satisfaz aqueles que algo querem obter de nós.

Basta ver a historia de absolutamente todas as religiões institucionalizadas, por melhor que sejam as intenções de seus divulgadores e sua boa fé. Basta ver algum tipo de astrologia tentando convencer as pessoas que está certa, que através dela se sabe alguma verdade, se descobre algum caminho, desde que se acredite nela, é claro. Tudo no mesmo balaio. Tudo instrumento para manter a pessoa “crente”, e para ser um “crente”, dar nosso crédito ao que nos contam, astrólogos, psicólogos, padres, pastores, pais, mães, é preciso estar dormindo.

SE estivermos acordados, vamos experimentar, testar e ver o que podemos fazer com tudo isto, ou não?

Duvidar é o único instrumento de aprender, de crescer e de se libertar.

E quanto a procurarmos justiça, beleza, verdade, etc., fora de nós, a astrologia nos ensina que sempre buscamos preencher os vazios, os espaços. Os elementos que temos em menor quantidade no horóscopo, são aqueles nos quais mais nos concentramos e mais tentamos viver.

E tanto o que temos “a mais” em termos de presença, quanto o que nos falta em termos de símbolos astrológicos, está realmente dentro de nós, que ninguém nasce imperfeito diante da perfeição e impecabilidade da Natureza.

 

Não enxergamos a verdade porque somo cegos. O que nos cega são as crenças falsas que temos em nossas mentes. Temos a necessidade de estar certos e de tornar os outros errados. Confiamos no que acreditamos, e nossas crenças nos predispõem ao sofrimento. É como se vivêssemos no meio de um nevoeiro que não permite enxergar um palmo além do nariz. Vivemos num nevoeiro que nem ao menos é real. Esse nevoeiro é um sonho, seu sonho pessoal da vida – aquilo que você acredita, todos os conceitos que possui sobre quem você é, todos os compromisso que assumiu com os outros, com você mesmo e até com Deus.

Val:

Bem, creio que temos que ter algum cuidado para que a Astrologia que praticamos não seja também uma crença falsa em nossa mente. Será que é?

Como podemos saber?

Quem de nós, apaixonados pela astrologia, eternos estudantes desta linguagem, acredita que a astrologia que conhece e pratica está certa? É o caminho certo?

Nosso bom senso, nossa lógica, nossos critérios mais razoáveis nos dizem que a astrologia que praticamos, — e estou estendendo esta idéia às várias linhas e estilos de prática astrológica — , é correta e honesta.

Mas e se nosso bom senso, nossa lógica, todos os limites culturais de nossas formulas de entender o mundo não estiverem certos?

Bem, creio que jamais saberemos quem está certo.

Mas a quem importa realmente estar certo ou não?

A quem devemos satisfação de nossa verdade ser a verdade correta?

A formula de que, se um conhecimento é fonte de sofrimento e controle, ou fonte de mais ilusão e acomodação, ele não é um bom conhecimento, creio ser uma boa formula para adotarmos como critério de avaliação de nosso trabalho com a linguagem astrológica.

 

Toda a sua mente é um nevoeiro que os toltecas chamam de mitote. Sua mente é um sonho em que mil pessoas conversam ao mesmo tempo, e ninguém entende o outro. Essa é a condição da mente humana – um grande mitote, e com esse grande mitote você não consegue enxergar o que realmente é. Na Índia eles chamam o mitote de maya, o que significa “ilusão”. É a noção pessoal do “eu sou”. Tudo em que você acredita sobre si mesmo, sobre o mundo, todos os conceitos e programa que você tem na mente, todos formam o mitote. Não conseguimos ver quem realmente somos; não conseguimos perceber que não somos livres.

Por isso, os seres humanos resistem à vida. Estar vivo é o maior medo que os homens possuem. A morte não é o maior medo que temos; nosso maior medo é assumir o risco de estar vivo – o risco de estar vivo e expressar o que somos na realidade. Simplesmente sermos nós mesmos é o maior medo dos seres humanos. Aprendemos a viver nossa vida tentando satisfazer as exigências de outras pessoas. Aprendemos a viver pelos pontos de vista de outras pessoas, por causa do medo de não sermos aceito e de não sermos bons o suficiente para outras pessoas.

Val:

Creio que este aspecto, o medo de não sermos aceitos ou de não sermos bons o suficiente para outras pessoas sugere um problema fundamental na leitura do horóscopo.

O significado dos planetas, das configurações, pode ser bastante distorcido em função desta expectativa da pessoa, que a motiva a reagir de forma distorcida, contrariando sua natureza , pelo medo de desagradar aqueles que ama.

Claro que, por mais que tentemos trair nossa natureza essencial, mostrada pelo mapa astrológico, não vamos conseguir fugir muito do que os símbolos sugerem como nossos potenciais básicos, e neste caso, vamos expressar estes potenciais de forma bastante inadequada e corrompida para tentar nos adaptar a um contexto exterior, a uma cobrança, que nem sempre vem das pessoas, muitas vezes vem de nossa crença condicionada do que é certo e errado, crença esta importa pelo sonho da humanidade, o Sonho do Planeta.

Por isso muitas vezes nos expressamos certas qualidades de nosso horóscopo de forma tão inconveniente e incompreensível, e outras vezes, traímos nosso próprio destino e ficamos perplexos quando, uma configuração planetária que poderia representar qualidades positivas e interessantes, se expressa através de nossas atitudes como fonte de conflitos e problemas.

O medo de não ser aceito é formado (tradicionalmente) através da questão IV e seus representantes essenciais e acidentais, sedimenta-se na casa II, onde nós não conseguimos estabelecer e definir nosso real valor, expressa-se também pela questão VIII que é onde as referencias da casa IV se cristalizam (a VIII é a V da IV), são “recebidos” do mundo externo através da casa X, o grande complemento da casa IV, a informação estruturadora que vem do mundo exterior e é assimilada pela nossa família e vivida através de nossa historia pessoal.

Vale uma boa analise destas questões, sem preconceito, sem se apegar ao velho e anacrônico e medíocre modelo meramente descritivo. Talvez a idéia de se perguntar o QUE foi imposto e condicionado a mim através destas experiências (casas, questões) , e o que tenho que fazer para me libertar disto, como posso me rebelar contra tudo isto, pode ser algo funcional e interessante para nos despertar.

Mas só de pensar nisto fico arrepiado e desisto imediatamente, afinal, quem é que quer enfrentar o mundo, o Sonho do Planeta, e no fim, ficar só, que esta é a grande ameaça que acaba nos obrigando a ceder ao Livro da Lei.

 

Durante o processo da domesticação, formamos uma imagem do que é a perfeição para tentarmos ser bons o suficiente. Criamos uma imagem de como devemos ser para sermos aceitos por todos. Especialmente tentamos agradar aos que nos amam, como mamãe e papai, irmãos e irmãs maiores, os sacerdotes e os professores. Tentando ser bons para eles, criamos uma imagem de perfeição, mas não nos encaixamos nessa imagem. Criamos essa imagem, mas essa imagem não é real. Nunca iremos ser perfeitos sob este ponto de vista. Nunca!

Não sendo perfeitos, rejeitamos a nós mesmos. E o nível de auto-rejeição depende de quão efetivos foram os adultos ao quebrar nossa integridade. Depois da domesticação, não se trata mais de sermos bons o suficiente para as outras pessoas. Não podemos perdoar a nós mesmos por não sermos o que desejamos ser, ou melhor, o que acreditamos que desejamos ser. Não podemos perdoar a nós mesmos por não sermos perfeitos.

REFLEXÕES SOBRE O ESTADO DE SONHADORES

 

Por Valdenir Benedetti

 

 

“Não posso manter acordos dos quais não participei. Eu não estava quando se firmou o acordo de que sou um imbecil. Assim, eu não o aceito”

Don Juan, citado por Carlos Castañeda

 

É tudo uma imensa utopia. Esta teoria do Sonho do Planeta é tão provável quanto qualquer outra teoria. Podemos preferir acreditar na necessidade da forma e da imagem e no poder da posse, e isto ser tão real quanto a tese do Sonho do Planeta. Jamais saberemos.

Mas uma coisa podemos perceber, independentemente de aceitar ou não, acreditar ou não: o processo de domesticação e condicionamento de nossa mente, a imposição de uma cultura, de uma realidade qualquer.

Se isto é bom ou mau, se é certo ou errado, se aceitamos ou não, não é o que estamos nos propondo a discutir aqui, mas simplesmente o fato de que existe uma programação externa, e que esta programação, — fornecida principalmente pela família como interface entre o indivíduo e a sociedade — , é o que determina a maneira como usamos nossos recursos e possibilidades, e não é necessário termos dúvidas deste fato. É palpável, é físico, é observável em cada um de nós e em cada um ao nosso redor.

Poderíamos imaginar o que seria nossa vida sem esta programação imposta. Como seríamos? Não sei se melhores ou piores, mas… quem sabe?

Os animais selvagens não são sujeitos a este tipo de programação cultural, moral, econômica, será que é isto que nos distingue dos selvagens? Um script imposto, um programa do qual não conseguimos fugir?

Todas as técnicas que conhecemos e que são aceitas no ocidente para que o Homem resgate seu equilíbrio, conquiste algum bem estar, como a yoga ocidentalizada ou as psicoterapias em geral, estão comprometidas e são definitivamente vinculadas à manutenção deste script social, ou das Leis do Sonho. De certa forma a pessoa se integra e sente felicidade na medida em que não é agredida pela cultura e pelo ambiente, na medida em que consegue conviver e sobreviver aos fatores externos, na maioria das vezes ignorando ou negando muitos de seus talentos e capacidades naturais, inclusive, mantendo tudo que é instintivo e básico sob o mais rígido controle. Quanto maior o controle de si mesmo, maior a chance de ser aceito e “amado” por seu grupo social.

A aceitação parece ser o ponto de fuga, o foco principal deste painel que compõe o processo de manutenção do Sonho do Planeta. Ser aceito, ou ser amado – de acordo com a interpretação de alguns – é experiência que nos motiva a ser como somos, a obedecer as leis e até mesmo a transgredir nossos desejos mais íntimos e nossos instintos.

O Horóscopo é outra destas técnicas que busca integrar o homem a um determinado contexto, ou melhor, busca reintegrar o ser à sua condição natural.

Mas como os astrólogos estão vinculados e comprometidos com o paradigma do sonho, da manutenção de valores, da transformação apenas dentro do que é permitido pela Lei do Sonho, a astrologia perde pelo uso a sua função reintegradora e de resgate das condições naturais. O problema não é a Astrologia em si, pois suas bases filosóficas são perfeitas para o resgate das condições naturais, para a reintegração do Homem com a Natureza. O problema está com os astrólogos, nós, que infelizmente estamos comprometidos demais com a manutenção do sistema de valores aos quais também fomos condicionados e dentro do qual fomos domesticados. Isso tudo nos leva a fazer um uso distorcido e inadequado da Astrologia, como se ela fosse um simples sistema analítico, um tipo de psicanálise meio mística, meio muzzarela, uma linguagem descritiva que insiste em determinar o Ser, mante-lo dentro do seu próprio nível de exigência e de seu critério de realidade, confortável e talvez até feliz, mas mudar mesmo, ah! Isto jamais!

E como estamos todos de alguma maneira comprometidos com o Sonho do Planeta e com a manutenção deste sonho, uma das características fundamentais para que consigamos sobreviver à ausência de nós mesmos, à perda de contato com nossa essência, é jamais pararmos para pensar no que somos e no que poderíamos ser de verdade, jamais fazer autocrítica, pois o distanciamento crítico pode nos fazer perceber que talvez estejamos vivendo um imenso equivoco. E o tal do Sonho do Planeta e suas leis não permite que se faça isto, pois a ilusão da vida é muito frágil diante da força da Vida, e não sobreviveria a um milímetro de coragem e consciência.

Podemos formar uma imagem curiosa sobre o estado de vida dentro do Sonho. Se considerarmos a Água, elemento que representa o sentimento nos planos mais profundos e reais, e as emoções quando se refere esta energia à expressão do Ego; e se considerarmos o Ar o elemento através do qual se forma a realidade “pensada”, idealizada, onde se formam as ilusões, que sempre são descrições de como percebemos a realidade — , e se entendermos que vivemos normalmente a fusão deste mundo das idéias e deste mundo das emoções, o que cria um Ar molhado, ou uma Água aérea, algo muito semelhante a uma neblina, uma névoa que é talvez o elemento mais ativo e participante na formação de nosso cotidiano, de nossas ilusões.

Teríamos aqui um quinto elemento, a Neblina, que é a fusão do sentimento com o pensamento, da água com o ar, e que carece principalmente do elemento Terra, o elemento das sensações e da forma. Se assim for, onde está neste úmido universo a realidade física? Bem…. de certa forma, é toda ela uma criação da mente e dos sentimentos, ou dos desejos… figuras criadas da neblina, com a mesma substâncialização dela, efêmera como ela, pois qualquer golpe de ar, o que dentro desta simbologia representaria um pensar vigoroso e realista, ou uma onda mais forte na água das emoções, espalha a neblina, deixa entrar a Luz e apaga todos os fantasmas, as expectativas, a realidade criada com esta substância da qual se formam os sonhos.

FALANDO DO HORÓSCOPO

O horóscopo mostra, em princípio, duas possibilidades:

A primeira é um ser natural, o “Homem Natural”, uma entidade plena, absoluta e integralmente comprometida com o organismo planetário que ele habita, como uma célula, como uma bactéria integrada a seu hospedeiro. Acreditamos que o horóscopo originalmente nos apresenta este Homem, esta entidade natural.

Este “Homem Natural” na verdade é uma entidade imaterial, uma pura expressão energética, uma “emanação da Águia”, como diria Don Juan. Ele é composto de energia caótica e, quando em sua organização energética natural, ou seja, quando esta energia pura começa a se organizar, em sentimentos e intenções.

Estes Sentimentos e Intenções são expressões naturais da energia cósmica, correspondem à expressão da vida em si mesma e é a matéria prima da qual se faz a realidade, da qual se compõe a real realidade, que é a realidade do encanto, e não da ilusão.

O acesso a esta realidade primeira, composta de Sentimentos e Intenções é a obtenção do estado de Graça, um estado que corresponde a ter consciência e contato com a energia fundamental dos sentimentos e intenções.

O Sentimento, no caso, não deve ser confundido com Emoção, que é uma expressão do Ego e da Psique. Sentimento existe em todos os seres, independente do uso ou não da razão. É uma forma pura de expressão da energia essencial, seja a alegria, seja o medo.

A Intenção é a força natural que move os átomos, que dirige e movimenta a energia, conduzindo-a para um estado de aglutinação, orientando-a para a forma e dando a ela consistência. A intenção conduz a energia do sentimento para o mundo da forma e das sensações, o mundo do “Tonal”.

Poderíamos dizer que o Horóscopo mostra o plano energético do homem, onde o sentimento e a energia vital em estado puro se direcionam para este ou aquele módulo, e mostra também em uma Segunda etapa a aglutinação desta energia caótica, onde ela toma forma e se transforma em realidade, em gesto, em objeto, em personalidade ou qualquer outro tipo de forma que a energia aglutinada possa assumir.

Tudo que existe, o som, a cor, o gesto é materialização da energia vital e caótica da qual se compõe o universo. A física moderna prova e comprova isto.

Quando unimos – através da intenção – a energia essencial, vital e caótica, que nomeamos aqui como “sentimento”, com a energia aglutinada e formatizada que chamamos matéria ou realidade, construímos e permeamos o mundo, atravessamos os espaços vazios entre as formas e os gestos e expressamos e experimentamos o que chamamos Vida.

A segunda coisa que o horóscopo mostra, é onde este Homem Natural é mais frágil, onde ele pode ser manipulado e receber programas e condicionamentos que distorçam sua natureza, quais seus pontos fracos, por onde uma realidade externa pode ser implantada em sua psique. Mas o horóscopo não mostra que isto vai acontecer, apenas nos sugere por onde pode acontecer, ou que simplesmente pode acontecer.

Somos apegados ao sonho do planeta, e este é talvez, o paradigma mais fundamental da existência do Homem contemporâneo. Don Juan dizia que o homem é um macaco agarrado à sementes dentro de uma cabaça. Ele sabe que para ser livre basta abrir a mão e largar as sementes, mas não faz isto, não consegue fazer. As sementes são o Sonho do Planeta, são nossas expectativas sociais que nos aprisionam, são a imagem que construímos para sermos aceitos e coerentes com o Sonho do Planeta.

A visão que temos do horóscopo tende a ser a visão de seres agarrados à sementes dentro da cabaça, nos recusamos a largar as sementes, nos recusamos a abrir mão de um modo de ver as coisas e de nossa mania de alimentar a auto-imagem que nos foi proporcionada por nossos pais e pela sociedade. Esta é a Segunda visão do horóscopo, aquela que mostra nossas fragilidades e mostra nosso comprometimento com o que esperam da gente.

Neste caso, o mapa astrológico passa a ser um excelente referencial de expectativas. Cada configuração, cada aspecto vai representar um tipo de expectativa, algum espaço a ser preenchido, algum tempo a ser vivido, mas sempre dentro de um padrão que não é necessariamente o nosso. O mapa passa a ser um mapa da expectativa que o mundo tem de nós, e nossas expectativas passam a ser reações ao que o mundo externo espera de nós, num tipo de ciclo, e assim é visto e interpretado.

De alguma forma, existe algo como uma “expectativa coletiva”, que cria a realidade como nos a concebemos, o Sonho do Planeta, o “mitote” dos xamans, e esta expectativa é maior e mais poderosa que nossa capacidade pessoal de idealizar e criar nosso próprio sonho, nossa própria realidade, e de alguma maneira nos constrange ou nos corrompe ou nos seduz e nos obriga a nos submetermos a ela, a submetermos nossas qualidades pessoais e nossos talentos a ela.

Estamos nos perguntando neste momento: “… mas o que vamos olhar no horóscopo então? Este cara é maluco! A vida é o que é, e temos que usar a astrologia para melhora-la, o que já é uma grande coisa….”

Isto está certo, é assim mesmo que fazemos, estamos agarrados demais às sementes dentro da cabaça para imaginarmos que poderia ser diferente. Coisa de sonhador que acredita que podemos sair deste sonho….

Mas existem pequenas coisas que podemos fazer. Tentativas frágeis, delicadas, suaves diante da imponência do sonho que nos consome e absorve tanto, diante da nossa necessidade de preservar nossa imagem construídas, nossa crença em um mundo e em um tipo de mundo que aprendemos a amar.

A primeira coisa a fazer, é entender o mapa dentro do conceito de Energia Pura, energia vital, energia do Caos, e a partir disto, fazer uma fusão entre este conceito e os conceitos de forma, de materialização desta energia, pois que tudo é energia, apenas olhamos de um lado físico formatado ou de um lado energético sem forma.

Precisamos considerar que, o Ser está submetido a um contexto maior que ele, o ambiente planetário, as condições sociais ao nosso redor são muito poderosas, e qualquer análise que fizermos de um indivíduo, através do horóscopo ou outro instrumento, tem que levar em consideração esta pressão do ambiente. A analise pode ser feita não a partir dos potenciais do indivíduo, simplesmente, mas da correlação entre suas qualidades naturais e a possibilidade destas qualidades se manifestarem em um contexto que, pode ser hostil a algumas qualidades e bastante favorável para outras.

Por exemplo, se analisarmos o potencial de relacionamento de alguém, através da observação da sua Questão VII, seu regente, os planetas que estão nesta casa, a casa onde se encontra o regente acidental desta área, a situação de Vênus como indicador universal da questão, e também a Lua como referencia dos nossos filtros e defesas inconscientes. Se considerarmos os campos de projeção psíquica envolvidos com esta área, como a casa XI e a casa III, respectivamente a casa V da VII e a casa IX da VII, onde se cristalizam os relacionamentos, e onde eles se tornam ideais ou idealizados, enfim…. toda avaliação dos potenciais de relação desta pessoa tem que levar em conta o mundo físico no qual ela vive, a realidade social, o que o Sonho do Planeta espera dela em termos de relacionamento, não é possível analisar estes potenciais sem levar em conta toda a pressão e todos os condicionamentos aos quais esta pessoa é submetida desde a infância.

Toda questão amorosa, ou melhor, tudo que envolve os relacionamentos e associações da pessoa, representados pelo sétimo acorde e suas configurações, como exemplifiquei acima, depende dos critérios coletivos de amor e relacionamento, depende das leis e regras estabelecidas pelo Sonho do Planeta e reconhecidas pela sociedade como o que é certo ou não é certo.

Mas dentro de nós, muitas vezes aparece um ser selvagem, aparece a necessidade de viver o amor e a relação em outra dimensão, talvez mais instintiva, talvez mais biológica, menos formal, e ai, ai vem a cobrança, a culpa, o sentimento de estarmos transgredindo as regras.

Que regras são estas? Algumas são determinadas pelo bom senso, outras pelo respeito aos limites e contingências biológicas do ser humano, mas estas, nosso instinto, se não estiver detonado, nunca quer transgredir, pois não há força que nos afaste da vida em si mesma, a não ser a loucura e o excesso de pressão, esta transgressão biológica e agressão à própria vida não está no horóscopo.

Outras regras, aquelas estabelecidas pela necessidade do Sonho se autoalimentar e se preservar, aquelas que tem conotação meramente moral e apenas servem para conservar a forma e o padrão sócio/cultural aceito pelas leis do Sonho do Planeta, muitas vezes distorcem ou bloqueiam a livre expressão dos potenciais do horóscopo, e a partir disso, dizermos que Vênus ou o planeta que está presente na casa VII representam um potencial de relacionamentos A ou B pode ser um grande equivoco, tanto de quem está interpretando, quanto de quem está ouvindo.

Se nós pensarmos no relacionamento – ainda dentro deste exemplo – em um plano natural e instintivo, estaremos abordando questões que talvez nunca possam ser devidamente expressas pelos bloqueios e impedimentos determinados pelas Leis morais do grande Sonho. E se nós – interpretes – por estarmos também submersos e comprometidos com o Sonho, fizermos uma leitura dentro de nossa percepção e decodificação “autorizada” dos símbolos, sempre dentro da Lei que nos foi imposta e por nós assimilada, certamente nossa interpretação vai “bater”, ficaremos orgulhosos de sermos “bons astrólogos” e vamos endossar os padrões sociais de relacionamento permitidos e estabelecidos pelo Sonho.

E nada vai mudar, e nada vai acontecer simplesmente.

Bem, talvez isto seja o certo e eu esteja especulando sobre uma utopia, uma impossibilidade não é?

Mas vou continuar nesta especulação, pois algo dentro de mim está insatisfeito e pede que eu continue esta escavação dentro dos critérios que nortearam minha própria vida. Pressinto, sinto como que um certo brilho, uma chave, uma passagem que não consigo ainda atingir, mas que está lá me esperando, e se eu insistir e continuar, em algum momento a porta se abre, e ai posso escolher entrar ou ficar, mergulhar ou ficar. A escolha ainda é minha.

Acredito que os arqueólogos e outros exploradores de mistérios, diante de uma caverna, diante de seu sentimento de busca e questionamento, sentiam que haviam portas, recantos, mistérios para ser descoberto atrás de cada sombra, dentro de cada obscuro espaço a ser penetrado. É o que sinto neste momento. Mas também tenho a sensação de que, se continuar, tudo que eu sempre soube, ou achei que sabia, perderá o sentido, e que talvez, se descobrir novas verdades, novas versões para a verdade, se conseguir por uma fração de segundo ficar independente do sonho, saltar do aquário onde estou submerso, ficarei só.

E este é nosso maior medo. Nos agarramos às informações assimiladas, às regras que nos deixam seguros e coerentes, aos comportamentos, aos estilos, às técnicas que permitem uma aceitação de nosso trabalho, de nossa vida pelas pessoas, e sabemos que, se nos atrevermos a questionar e contestar tudo isto que praticamos, o preço pode ser o isolamento, o deboche, a ironia dos que permanecem. Por isso é mais fácil, é mais cômodo não questionar, não colocar em dúvida nosso conhecimento, nosso trabalho. Por isso é tão incomodo questionar a Astrologia e a pratica da astrologia que tem sido tão “eficiente” durante estes séculos, ou décadas. Eficiente para manter o mundo como ele é, apenas isto.

Não estamos tolamente pretendendo mudar o mundo, ou simplesmente quebrar as regras, mas temos a lucidez de perceber que tem alguma coisa que não encaixa nisto tudo, alguma coisa que, apesar de toda informação maravilhosa que a Astrologia e a análise do horóscopo proporcionam, continua igual, sempre a mesma, como um som contínuo, tão perene que já não o ouvimos mais. Tantos anos de trabalho e na verdade, nada mudou, pelo menos nada que não mudaria naturalmente, dentro dos limites permitidos à nós, seres domesticados, de mudar. A corrente do cachorro vai até um certo ponto, e ele se acostuma tanto a isto, que raramente sente que está acorrentado, e acaba entendendo a corrente como uma parte do seu próprio corpo.

Quem se olhar um pouco, com algum distanciamento crítico, certamente sentirá. E o que estou dizendo não é uma insatisfação pessoal apenas, não é uma mera visão egóica do mundo sustentada por meus próprios problemas, que estes eu administro. É uma percepção maior, como uma voz, como um ruído incomodo, como o sentimento de que estamos sendo sonhados por um imenso sonhador, e que nos esquecemos há muito tempo de quem realmente somos e podemos ser, e tudo que fazemos é com a finalidade de endossar e reforçar este esquecimento, inclusive a Astrologia.

Nossa tendência normal é negar, ironizar, sermos sarcásticos com tudo aquilo que nos incomoda. Temos este tipo de procedimento como atitude pessoal muitas vezes, mas temos também como atitude coletiva quando algo, uma nova informação, um novo questionamento, vem mexer com os padrões de ilusão aos quais estamos acostumados e condicionados. A gente para de ler, a gente para de pensar, a gente diz que é uma babaquice qualquer coisa que atinja o ponto de ruptura, que passe perto da tênue membrana que divide o plano do sonho do plano da realidade. Negamos e ironizamos tudo que nos possa conduzir ao ponto de ruptura porque precisamos de defesas contra o desconhecido, e precisamos de estratégias para nos sentirmos alguma coisa dentro de uma realidade sonhada, e nem sempre sonhada por nós mesmos, e estas estratégias, como a ironia e o deboche, por exemplo, invalida e ridiculariza toda alternativa que não seja aquela à qual estamos passivamente condicionados.

Existem práticas, procedimentos, atitudes mágicas e rituais que permitem que a gente vá despertando e se recordando de nosso estado Natural, lembrando que somos anjos que se esqueceram de sua condição divina e se comprometeram e se corromperam com o plano da forma. Vamos ousar falar disso, e ousar tentar chegar a algum lugar, que na verdade é lugar nenhum….

Estas indagações todas talvez não levem a nada, talvez levem à tudo, não importa. Fazendo se faz, caminhando se faz o caminho, e isto importa.

CARREGANDO A CRUZ

A cruz, os quatro grandes ângulos do horóscopo determinam os vértices da estrutura, os pontos de partida do modelo, da estrutura existencial simbolizada pelo mapa. Por isso a cruz é tão importante em tantas cosmogonias, tão importante como símbolo em tantas magias, em tantas alquimias. Representa a estrutura, todas as estruturas, e através dela, desta misteriosa chave “tetra” podemos abrir muitas portas e termos acesso a muitas dimensões.

Quatro estilos, quatro formas, quatro caminhos distintos de manutenção e incorporação do Sonho do Planeta e suas leis são perceptíveis através da Cruz.

O primeiro, correspondente, tem analogia com o ascendente, é o CAMINHO DO GUERREIRO, que é o caminho do Ser que sabe permear e caminhar através da realidade, é a marca da impecabilidade no agir, que permite que a pessoa se desenvolva e realize seu projeto.

Mas no plano do Sonho, o Guerreiro é domesticado e treinado para ser um Herói, apenas um Herói, e viver passa a ser um ato de heroísmo, enquanto que para o Guerreiro, a vida é uma luta para ser lutada, um caminho para ser percorrido, uma aventura para ser vivida.

O Herói é um cretino. Todo seu movimento é sustentado pelo Medo, pela covardia, pelo sentimento de que se não fizer o que lhe mandam fazer será abandonado à sua própria sorte, ficará só, como todos heróis acabam ficando.

A fenomenologia motivadora da performance do Herói inclui sempre o Medo, a Vaidade e a Moral, respectivamente as anti-virtudes dos signos do elemento fogo, Aries, Leão e Sagitário.

O Guerreiro assimila as virtudes, as qualidades positivas destes signos, respectivamente, a Ação, a capacidade de Centralizar e a capacidade de Idealizar.

Mas o que o Sonho do Planeta e sua interface, nossos pais e educadores nos cobram, é ser Herói, que é muito mais cômodo e pertinente à manutenção de um sistema neurótico de valores. Todas as cobranças sociais implicam em Medo de fracassar, de não ser o melhor, ou em sentimentos dolorosos quando nossa Vaidade é atingida, e muitas vezes por Vaidade alimentamos situações e relações impertinentes e infelizes, só para não “parecer” que fracassamos aos olhos dos outros. Finalmente, a cobrança Moral é uma das mais limitadoras e dolorosas e castradoras que vivemos, e não estou me referindo à moral biológica e natural que todos o seres tem que viver, mas sim à moral tacanha e limitadora que sempre implica no Julgamento que as outras pessoas, também escravas desta moral limitadora, podem fazer de nós.

O Guerreiro, que é uma entidade ideal e liberta do Sonho do Planeta, não tem Medo de fazer o que tem de fazer, apenas tem os cuidados naturais de auto-preservação, os medos biológicos; não se rende à Vaidade, porque não olha para traz para saber se agiu certo ou errado, exatamente porque age com o coração, e não com as instruções e regras que sua mente assimilou durante a fase de domesticação da psique. Por não se entregar à vaidade, a anti-virtude de Leão, o Guerreiro não tem que ficar provando que está certo, que fez a escolha certa, e por isso, pode tranqüilamente desistir de suas escolhas inadequadas, pode aprender com elas e simplesmente cair fora sem preocupação com o julgamento dos demais, ou com a idéia de ter fracassado ou feito sucesso. Por ser assim, o Guerreiro permite que flua através dele a grande virtude de Leão, que é a capacidade de centralizar e liderar. Mas poucos podem reconhecer isto, que seu medo, vaidade e moral os fazem seguir sempre lideres que endossem justamente estas características escravizantes, e jamais as qualidades que promovam liberdade.

Estes três signos de fogo são projeções e emanações do Ascendente, o ponto de partida da existência, onde tudo começa, onde se define o Projeto de Vida de uma pessoa.

Neste ponto inicial, e principal – no sentido de principiar – , se concentra nossa possibilidade de escolhemos ser Guerreiros ou Heróis, e isto definirá toda a nossa caminhada através da existência.

É interessante fazermos uma avaliação histórica de nosso comportamento e tentarmos perceber o quanto somos Heróis em nosso cotidiano, o quanto a vida é dura com a gente, o quanto vivemos encurralados e sob ameaça constante do fracasso e da dor. Se prestarmos atenção em nossa própria história, perceberemos como quase sempre escolhemos os caminhos mais difíceis, seja nos relacionamentos, ou na profissão, e depois não conseguimos mais sair deles, pois a Vaidade não permite que sejamos vistos como “desistentes” ou fracassados, e por suportarmos todas as pressões, por nos sentirmos responsáveis todo tempo por tudo e todos que nos cercam, mesmo que este “tudo que nos cerca” seja muito parcamente prazeroso, muito pouco satisfatório e quase nunca nos fazendo felizes de verdade, por tudo isto, podemos nos considerar verdadeiros Heróis.

Mesmo as pessoas que escolhem caminhos de acomodação, como um casamento de conveniência, ou um emprego público daqueles aparentemente perpétuos, são certamente heróis, pois tem que suportar um ambiente medíocre, tem que suportar insatisfação sexual e afetiva muitas vezes, tem que aceitar o fato de não serem livres, de serem escravos estilizados da vontade e dos recursos de outras pessoas. São verdadeiros Heróis por tolerarem por décadas, e as vezes não saberem, não terem a menor idéia de quem são na verdade. São Heróis por terem tantas vezes que mentir para si mesmos de que são felizes e são aceitos pelos demais. Aceitos pelo que não são, é verdade, mas “ser aceito” é uma necessidade e uma condição fundamental do Herói e uma das principais imposições do Sonho do Planeta.

A grande qualidade do Guerreiro, fora a utilização dos melhores recursos da trilogia do Fogo – ação, centralização, idealização – é sua capacidade de “estar presente”, estar aqui e agora, e isto significa não se comprometer com o passado, não ser vítima de sua própria história, não se sentir obrigado a manter a tradição que lhe foi imposta, e isto vale desde o compromisso com o nome de família ou com a característica racial com que nasceu, até a necessidade de obediência passiva aos ancestrais, ou dependência financeira, moral ou psicológica deles. E isto não significa que o Guerreiro não ame ou respeite seus ancestrais. Pelo contrário. Seu amor é mais verdadeiro e autentico do que o daqueles que apenas se conformam e fazem porque foram “treinados” a acreditar que aquilo é o certo, não importando se estão felizes ou não com sua postura.

O “Estar Presente” é uma senha, uma formula poderosa para ingressarmos no caminho do Guerreiro e obtermos força e consciência para nos desvincularmos um pouco mais do Sonho do Planeta. Estar Presente implica em utilizar as quadraturas entre o Ascendente e as casa IV e X como a corda de um arco, como uma tensão positiva que nos impulsiona e nos atira em direção ao nosso futuro e a nossa liberdade. Isto significa se desvincular do peso e do compromisso passivo com o passado (casa IV) e da escravidão do Status (casa X), que é um tipo de compromisso com o futuro idealizado e esperado de nós pelas leis do Sonho. Esta relação com o passado e o futuro pode ser uma mola propulsora positiva para Agirmos, Centralizarmos e Idealizarmos, ou pode ser uma resistência negativa para vivermos com Medo, escravizados à Vaidade e a Moral que se originam e são representadas por estas áreas da vida e do horóscopo.

Para Estar Presente, alem do questionamento que devemos fazer em relação ao nosso vínculo com o passado e com o futuro impostos, existe uma atitude essencial que deve estar sempre em pauta, uma atitude que deve ser o centro e a essência de nossa conduta cotidiana, e que deve permear todos os nossos gestos e atitudes e palavras: a Verdade.

Para assumirmos a condição de liberdade do Guerreiro e nos libertarmos da escravidão e do compromisso desgastante de sermos Heróis, precisamos ser verdadeiros em tudo que fazemos, temos que dizer a verdade em cada palavra, mesmo que doa, mesmo que isto nos traga transtornos e nos faça ser “mal vistos”, pois a preocupação de ser ou não “mal visto” é um problema de quem está comprometido com o passado e com o futuro, é um problema de quem não está aqui, não está presente, é um problema do Herói.

A impecabilidade do Guerreiro portanto implica em ser absolutamente verdadeiro em tudo que faz ou diz. Apenas isto. É simples. Basta fazer.

Dizer a verdade é uma atitude que nos conduz diretamente ao outro vértice da cruz, ao ponto oposto ao que simboliza o Guerreiro, aquele que chamamos de Casa dos Relacionamentos, ou campo de projeção psiquica onde nos projetamos no “outro”.

 

VIVER O OUTRO, OU A SI MESMO

O braço da cruz que representa o “outro”, ou o “Tú”, é o espaço oposto ao ponto que simboliza o Guerreiro, é seu complemento, é o campo onde projetamos nossas expectativas, onde se configura a ilusão da existência, a ilusão do que pretendemos ser. É onde encontramos o “outro”, e é onde buscamos o “outro”, onde tecemos e criamos um ambiente onde expressar nossa identidade.

Chamamos a este espaço, à experiência descrita por ele e ao modelo arquetípico que ai se forma de “Amante”, que é quem ama, quem se relaciona, quem estabelece contatos energéticos e mentais com a realidade. É o movimento de nos confrontarmos com nosso reflexo no mundo, de nos vermos através dos olhos das outras pessoas, de praticarmos aquilo que se chama relacionamento, enfim, é a atitude que cria o ambiente e a realidade como nos podemos percebe-la.

Neste caso, este campo de projeção psíquica será correspondente ao território onde o Sonho do Planeta toma forma, se materializa, a partir de nossas expectativas, das expectativas do Guerreiro ou do Herói, conforme for nosso grau e nossa experiência.

É por isso que a questão do Relacionamento é tão importante, talvez a que demanda maior energia e desprendimento em nossas vidas, pois é através desta experiência que a realidade se forma, e o Sonho passa a ser parte de nossas vidas, o Sonho do Planeta se torna realidade. É por isso também que, dentro de um modelo que não é o de nossa essência, não é o que verdadeiramente o Guerreiro livre do Sonho procura, existem tantos problemas, frustrações, angustias relativas ao relacionamento. É através da imposição de um padrão de relacionamento pertinente ao grande Sonho que nos vivemos em um estado de carência e solidão, porque para as Leis do Sonho, Eu sempre preciso de alguém para me completar, Eu nunca estou completo em mim mesmo, Eu jamais me basto, nunca sou pleno. O “outro”, dentro deste modelo de pensamento, é a confirmação e praticamente a razão da minha existência, e ai começam os problemas todos.

Quem procura por precisar, encontra seu semelhante, aquele que também precisa, e daí são dois precisando, o que multiplica as carências e debilidades energéticas de cada um. Quem não procura, por estar completo e pleno, encontra – sem procurar – aquele que também está completo e pleno, e a relação acontece em um plano de completamento e plenitude. Mas isto não é o que nos é ensinado pelos nossos formadores e mestres. É ensinado que temos que procurar no “outro” nosso complemento e totalidade, e que sozinhos pouco valemos e sofreremos de solidão. É uma informação e um condicionamento muito forte este, e nos condena a viver um medo constante e angustiante da solidão, e nos obriga a viver em busca do outro para apaziguar este medo ensinado.

É tão incomoda esta informação, que me sinto constrangido de escrever isto. Penso enquanto escrevo que, a necessidade de encontrar alguém é absolutamente natural e instintiva, a necessidade de me sentir completo compartilhando meus sentimentos com alguém é correta, e não uma fonte de sofrimento. Penso também que sempre existe alguém que nos completa e nos faz feliz. Lembro meus amores e os momentos de felicidade que já vivi nesta existência através de relacionamentos intensos e enriquecedores, e algo em mim quer afastar esta idéia de que já sou completo, sempre fui completo, e que na verdade não preciso de ninguém para me completar.

É impressionante o condicionamento, e como ele nos possui e modula nosso pensamento, criando constrangimento e culpa quando nos atrevemos a questiona-lo. Neste momento preciso fazer uma revisão e tentar perceber se é mesmo uma verdade que sou completo, e que não preciso de ninguém, e que quem andar ao meu lado, também é uma pessoa completa que também não precisa de ninguém. Se for mesmo assim, o que nós temos para trocar na experiência amorosa, no relacionamento?

Será nossa plenitude?

Me aprofundando em um tipo de revisão dos relacionamentos mais marcantes e importantes que tive em minha vida, e também na vida de pessoas próximas, percebo que realmente houve uma troca em todos eles, houve um crescimento, uma descoberta. Nada do que se arrepender. Mas percebo também que os relacionamentos, dentro do molde em que foram adaptados, sustentados pelo preenchimento das carências e ausências, jamais trouxeram a consciência de nossa totalidade. Sempre nos “noves fora” restou a sensação de ausência, abandono, fracasso e solidão, mesmo considerando o lado bom da experiência amorosa.

Nunca saímos mais completos do que entramos em um relacionamento. Saímos mais experientes, mais sábios, mais duros e espertos talvez, mas nunca com o sentimento de estarmos mais completos, mais inteiros. Porque é assim? Sempre o abandono e a solidão, nos conduzindo a acreditar que não nos bastamos, que sem o “outro” não somos nada, ou quase nada.

Concordo que é difícil, diante das experiências permitidas, diante da percepção permitida dentro das Leis do Sonho do Planeta, a gente sentir que pode ser uma pessoa inteira e completa. Tudo, toda a realidade e circunstâncias e referencias que podemos ter ao nosso redor, depõe contra a idéia de que somos auto-suficientes. Isto e um dos fatores mais importantes para nos manter atrelados à ilusão, ao Sonho do Planeta, pois, uma pessoa que tenha consciência de sua plenitude, de tua totalidade, é uma ameaça ao estado geral das coisas, é um elemento subversivo e perigoso.

E toda sociedade, e todos aqueles que estão em busca de um amor fora de si, de um completamento fora de si, ou ate de tolices como “alma gêmea”, sentem como uma agressão à sua crença neste princípio ilusório do Sonho, que afirma que não somos completos e precisamos do “outro” sempre, enfim, a grande maioria das pessoas, vai condenar e criticar e isolar aquele que luta para ser um Guerreiro auto-suficiente, aquele que acredita que pode compartilhar sua totalidade e viver amorosamente, mas não porque precisa, porque é da “lei”, e apenas porque assim o quer.

Bem, quem está neste estado de consciência, quem se propõe a ser um Guerreiro, realmente não vai se incomodar de ser criticado e isolado e visto como um “alienígena” ou um maluco pelas pessoas ao seu redor. Mas certamente vai ter que pagar um alto preço pelo isolamento que a solidariedade das pessoas ao Sonho, sua submissão às Leis do Sonho, vão desencadear. E na maioria das vezes a pressão é tanta, que é melhor voltar atras, se tornar “normal”, se tornar “aceitável” para que parem de Julga-lo e condena-lo utilizando a convenção estabelecida pelo Sonho do que é certo e errado. E ser auto-suficiente como Ser Humano é errado para o Sonho.

Quando nós analisamos a sétima questão do horóscopo sob este prisma, dentro do enquadramento destas Leis, que alternativa temos? O que podemos perceber e decodificar dos símbolos planetários, senão a possibilidade permitida de completamento através do “outro”, quais as possibilidades, as dificuldades, os obstáculos, as facilidades disso acontecer para aquela pessoa; que tipo de perfil ela precisa para se “completar”, e assim por diante. Saímos satisfeitos por ter feito uma análise precisa e adequada, e a pessoa sai satisfeita por agora ter alguma resposta, alguma perspectiva ou esperança de melhorar sua vida afetiva.

Nunca interpretamos a casa VII em termos do que a pessoa pode ou deve buscar dentro de si mesma para se tornar inteira. Sempre traduzimos esta questão como a casa das “associações” ou dos “inimigos declarados”, e isto é certo, mas é certo apenas dentro da ilusão na qual vivemos submersos, da ilusão de que a realidade depende do “outro” e não de nós mesmos, apesar da dificuldade de reconhecermos isto, que nossa psique não foi treinada para ver alem do que nos é permitido pelo Sonho.

O Amante, a figura arquetípica que representa a sétima questão, o complemento do Guerreiro. Como já dissemos, o Guerreiro é uma condição de independência e serenidade, de certeza e precisão, de impecabilidade acima de tudo, e principalmente, é a possibilidade de sermos Verdadeiros, de possuirmos a Verdade como arma, como instrumento, mesmo que doa, mesmo que arranhe, e isto nos liberta do Sonho, pois as condições em viver no estado de ilusão implicam em mentir, para si mesmo e para os outros, e se conseguirmos ser verdadeiros conosco, ser verdadeiros em nosso contato com os outros, estaremos nos libertando da condição de falsidade, estaremos nos despojando das mascaras com que nos vestiram para sermos aceitos neste mundo.

É interessante que, ao ter como modo de vida a Verdade, o Guerreiro encontra condições para descobrir dentro de si mesmo a figura do Amante, ou seja, descobre a habilidade de se relacionar de uma forma madura e independente, pois a dependência passiva e a necessidade compulsiva do outro, implica em não sermos Verdadeiros com nossas possibilidades reais, e muito menos com o “outro”, pois apenas o estamos usando para suprir nossas carências e obedecer ao modelo de que “temos que ter alguém” por não nos bastarmos.

Quando o Guerreiro incorpora dentro de si o Amante, ele se torna uma totalidade, ele se basta, ele está completo por si mesmo, e neste caso, o “outro”, a pessoa fora dele, é um espelho de suas qualidades e de sua liberdade, portanto, um complemento saudável que conduz sempre ao crescimento e à independência pessoal.

Quando o Guerreiro, antes de conquistar esta condição e se ver livre da ilusão, é ainda um Herói, ele encontra aquilo que o Amante é antes de conquistar este estado superior: uma criança Mimada, um ser que existe para ter seus desejos e carências satisfeitos pelos outros, uma pessoa que precisa ser paparicada e cortejada todo tempo para acreditar em si mesma. O Herói e o Mimado se complementam, tanto quanto o Guerreiro e o Amante.

O Herói e o Mimado são a expressão mais autentica de um relacionamento dentro das Leis do Sonho do Planeta. Basta olharmos ao nosso redor e em nossas próprias vidas e fazermos uma avaliação crítica das condições gerais dos relacionamentos que vivemos e conhecemos. Um é sempre Herói, sempre lutando para manter o padrão, sempre sofrendo e reclamando que tem que fazer tudo. O Herói dispensa seus sonhos pessoais, abre mão de sua liberdade e comete o sacrifício de sua própria alma em nome do relacionamento, um imenso gesto de heroísmo, um grande sacrifício sempre, aliás, não é difícil percebermos nos relacionamentos “normóticos” esse tipo de condição de sacrifício de ambas as partes, inclusive temperado e endossado com frases do tipo “é necessário abrir mão e fazer concessões de ambas as partes para que o relacionamento funcione”, e isto, esta frase por exemplo, é aceita por todos nós como uma coisa absolutamente normal. Desde quando fazer sacrifícios para poder amar é normal? Desde quando, ou quem disse que o Amor exige sacrifícios? Porque o sacrifício?

Estar nesta condição “sacrificada” para poder se relacionar é uma condição para que nos mantenhamos pequenos e atrelados à grande ilusão. O sofrimento é uma ilusão que nos une enquanto somos pequenos e não temos consciência de nossa plenitude. Podemos observar também uma imensa quantidade de casais, independente da opção sexual, que se empenha em sabotar um ao outro, em manter o outro em uma condição de dependência e fragilidade, muitas vezes agindo até de uma forma inconsciente para isto, para desta forma manter a relação dentro deste padrão de sacrifício, e às vezes de miséria material ou emocional, tudo isto porque estão comprometidos com uma das muitas Leis constatáveis do Sonho do Planeta que diz que a relação tem que ser Eterna, tem que durar para sempre, e se não durar, é porque Você fracassou, não deu conta, não teve competência para “segurar” o outro a seu lado, não teve “controle” da situação (a necessidade de controlar as coisas, inclusive o sentimento, é outra das grandes ilusões que aprendemos ser necessárias à sobrevivência dentro do grande Sonho).

O Guerreiro e o Amante sabem que Eterno quer dizer “É Terno”, ou seja, Com Ternura, o que cria outra dinâmica para qualquer relacionar-se, sugere uma condição de troca e de afeto, e não de perenidade, que é uma tolice, aliás, a perenidade da relação nos remete a outra questão muito importante dos modelos ilusórios que nos são impostos pelo Sonho do Planeta: a de que a Morte não existe, ou não é para nós, ou é para algum momento muito distante perdido no tempo. Aqueles que se aproximam dos arquétipos da liberdade sabem, e sabem muito bem que a Morte é a única certeza, o único poder verdadeiro, e está ao nosso lado, como uma aliada que nos induz a viver intensamente e plenamente e principalmente, ela, a Morte nos ensina a “ficar presentes”, assumir e usufruir do momento, do agora, já!

O horóscopo pode ser um referencial muito útil para entendermos os mecanismos que nos conduzem a nos identificarmos com o modelo do Mimado, e nos distanciam do amadurecimento e do crescimento que nos transformará em Amantes.

Quando observamos a sétima questão e todos os seus indicadores, os planetas nesta casa, o regente, Venus, e todas as configurações envolvidas, podemos interpreta-las, como já disse antes, dentro de um modelo que insiste na carencia e na necessidade do “outro” como base para que “Eu Seja”. Mas podemos olhar sob outro prisma, entendendo cada indicador e cada configuração como um caminho para mim mesmo, para o Self. Cada indicador um instrumento de expressão de minha capacidade e totalidade, e não uma referencia do que eu busco ou preciso no outro. Sempre o que eu busco e preciso em Mim mesmo, pois só “aqui” posso encontrar o que busco.

Mas para conseguirmos olhar o mapa assim, temos primeiro que acreditar que somos livres da imposição de um padrão sócio cultural de relacionamento que é marcado pela dependência e pela carência. Será que estamos preparados para abrir mão assim de séculos de condicionamento? Será que estamos preparados para assumir nosso instinto, deixar que nossos animais de poder tomem conta de nosso destino? Deixar que o conceito de humanidade que há tantos anos adotamos seja simplesmente jogado no lixo?

Os tres signos ligados à sétima questão, Libra, Aquario e Gemeos, simbolizam tres direções básicas do comportamento cujas chaves são respectivamente a capacidade de harmonizar , o dom de descentralizar e o talento para informar, representando os recursos básicos para que ocorra o relacionamento humano. Quando estas condições não são atendidas pelo fato da pessoa não ter amadurecido psicologicamente e assumir um comportamento inadequado e mimado, o que afloram são as anti-virtudes, as qualidades negativas destes signos, ou seja, a harmonia de libra se transforma em necessidade de justificativa, e justificar um erro ou uma falta é tornar este erro justo; a natureza descentralizadora de Aquário, condição básica para a liberdade, que por sua vez é necessária para que ocorra um relacionamento saudável, se transforma em necessidade de poder, em função da própria fragilidade daquele que não se sente, segundo os condicionamentos do Sonho, o centro de um universo pessoal, e finalmente, o potencial de informar e comunicar próprio do signo de Gemeos, quando distorcido pela carência e sentimento de inferioridade daquele que não aprendeu a contar consigo mesmo se transforma em fofoca, a popular e vulgar fofoca, que é a mais distorcida e perversa das formas de comunicação pessoal, e é típica dos que não conseguem também estabelecer um vínculo harmonioso com os outros por não serem capazes de se relacionar consigo mesmos.

Para sermos “um” conosco e com o “outro”, é necessário que sigamos uma regra muito simples e essencial: Dizer sempre a verdade e não julgar.

Com a simples aplicação deste procedimento, nós nos libertamos da imposição do Sonho sobre nossas vidas, saímos da grande ilusão, esta é a Lei, o procedimento básico do Guerreiro em seu caminhar de encontro ao “outro”, e ao si próprio que é o outro.

Sempre que julgamos, estamos certamente projetando aquilo do outro que está em nós, mas como quem julga é o Ego, e jamais o Espírito, nós nos comprometemos cada vez mais com o plano do Sonho, cuja grande interface com a realidade é o Ego, e alem do mais, os parâmetros e códigos de julgamento sempre são oferecidos pela estrutura do Sonho, jamais partem de nosso próprio Espírito, não são conteúdos de nossa essência, simplesmente porque o Espírito sabe que somos todos expressões da mesma realidade divina, somos todos Anjos ou partículas de Deus, e não há o que julgar, a não ser que pretendamos nos igualar e sermos coniventes com uma estrutura subjetiva que nos afaste de nossa realidade espiritual, e ai então, ai sim seremos seres incompletos que sempre precisam, sempre estão em busca de algo fora de si para se tornar inteiro. Artificialmente inteiros.

Para sermos nós mesmos, Guerreiros que se bastam, para nos integrarmos ao “outro” e vivermos uma relação plena, uma relação que vivemos pelo prazer, e não por obrigação, e para sermos verdadeiros e aceitarmos a verdade como uma condição para viver amorosamente a vida, o mergulho no passado e a libertação dele é uma condição das mais fundamentais, pois o lastro e as correntes que prendem nossos sentimentos estão sob as pedras da história pessoal, muitas que precisam ser dissolvidas, outras confrontadas, e outras resgatadas.

VIVENDO O PASSADO

A casa IV e tudo que ela representa, família, passado, lar, é um instrumento poderoso na manutenção do sonho, talvez seja o mais poderoso, pois simboliza as bases que mantém o ser atrelado ao Sonho, aos padrões todos que reconhecemos como referencias e pontos de sustentação de nossa realidade.

No caminho do Guerreiro em direção ao ambiente, ao “outro”, na busca do Guerreiro por concretizar seu projeto de vida e caminhar sua caminhada, é inevitável a passagem pelo próprio passado, pela própria historia, ela, a historia – pessoal e coletiva – , estará sempre presente em cada um de nossos gestos, em cada uma de nossas intenções, e isto pode significar uma força, uma matéria prima para nosso crescimento, mas pode também representar um lastro, um peso, uma substância ou um tipo de goma que nos mantém presos e atrelados a nossa educação e condicionamentos.

É na casa IV que se processa a primeira fase da formação do caráter do indivíduo. Os condicionamentos, o treinamento, os elementos impostos à nossa personalidade são representados pelos indicadores desta questão, especialmente a Lua, seu indicador universal.

Tradicionalmente a Lua simboliza o Inconsciente, em contraposição ao Sol, o doador da luz, que simboliza a consciência. Quer dizer que todas estas informações que vem através da família e da história pessoal, passam a fazer parte do inconsciente, ou seja, nos as possuímos, nos reagimos em função delas, mas perdemos o acesso, deixamos de ter controle sobre todas estas informações por terem sido absorvidas pelo inconsciente.

Nada disto é um problema, tudo o que estamos falando é absolutamente natural. Os problemas começam a surgir a partir do momento em que nos apegamos a estas informações, muitas delas nem um pouco relacionadas com nossa verdadeira natureza, muitas delas marteladas no cérebro de uma criança, muitas delas afirmações sobre o certo e o errado em termos de um código cuja única finalidade é a manutenção de uma certa realidade forjada.

A imposição desta realidade, das regras e leis do Sonho do Planeta precisa encontrar um solo fértil para fecundar, e este território é um território que precisa não ter coração, e isto é muito, muito grave….

Em algum momento de nossas vidas, provavelmente na primeira infância, nosso coração nos foi usurpado sem que soubéssemos, e isto foi necessário para nos tornar pessoas educadas em sintonia com o Sonho do Planeta, o sonho de realidade no qual todos acreditam, e que contem a substancia que forma a expectativa de realidade à qual estamos condicionados.

O arquétipo que pode representar este vértice da cruz é o Mago, o Senhor dos Sentimentos, e de alguma forma, isto não parece ter nada a ver com o passado em si, mas tem a ver com o inconsciente, com os conteúdos mais profundos da psique e do Ser em si mesmo.

Mas para sermos Magos, sermos senhores e canais do sentimento universal, é necessário que tenhamos Coração, é fundamental que tenhamos e atuemos sempre pelo Coração, e isto não é fácil para quem teve seu Coração arrancado ainda criança.

A forma que a sociedade, o mundo, através daqueles que serviram de instrumento para a formação do nosso caráter, nos roubou o Coração e a capacidade de agir através dos caminhos dele foi através da imposição de uma realidade baseada em emoções e sensações, ou seja, nos é permitido e exigido viver emocionalmente e usufruir das sensações pertinentes a estas emoções, estas funções psíquicas andam de mãos dadas, e nestas condições, todos os Sentimentos são transformados em expressões emocionais, perdem sua natureza de “voz do Espírito” e passam a ser manifestações do Ego.

Nossa percepção em relação ao passado e à nossa historia pessoal é, normalmente a de que temos um compromisso com o mundo, temos uma tarefa – alguns a chamam de “destino” – , e acho mesmo que isso é uma das verdades que restaram do Mundo Real, cada um de nós nasce com capacidades e conteúdos para cumprir um papel no grande plano de Deus, no conjunto global de forças e energias que compõe o universo e a Natureza à qual temos algum acesso. Mas a nossa percepção pode ser distorcida pelo sonho do Planeta, pela realidade que foi criada pelas expectativas de todos que vieram antes de nós, e nosso destino, nosso projeto de existência neste plano da realidade passa a ser aquilo que o Ego consegue descrever, aquilo que nos torna “aceitáveis” junto a determinado grupo durante o processo de domesticação de nossa mente, e nesta dimensão, o que conta é nossa capacidade de suprir emocionalmente aos outros, de tapar os buracos, colar as rachaduras do vazio emocional e da angustia em que vivem os que “deveríamos” amar.

E assim, curando feridas emocionais, nos tornamos seres fortes e racionais, nos livramos de nossos sentimentos mais profundos, pois temos que ser duros ao lidar com emoções constantemente distorcidas e em desequilíbrio, que é o que a criança encontra quando começa a entender o mundo que a recebeu. Pais que vivem um teatro de relacionamento “em nome dos filhos” ou pior ainda, em nome da aparência, do “que vão pensar de nós”; irmãos que negam o sangue e a cumplicidade quando surge um problema financeiro ou um conflito de herança, enfim, depois que “vê” a luz, a criança, a mesma que vai nos habitar até o fim de nossos dias, descobre que tem o dever e a tarefa de conviver com conflitos emocionais permanentes, se não for na família é na escola, ou no trabalho, e ela aprende que, se ouvir a voz do coração, se seguir o caminho do espírito, não será compreendida, entrará em conflito com uma realidade totalmente administrada pelo Ego vaidoso e administrador das emoções em geral, que os sentimentos pertencem à esfera do Espírito, e destes o Ego não trata e não controla, e portanto, são em geral, quando intensos e verdadeiros, descartados, e junto com eles, as propriedades do Coração são também esquecidas.

Para que nos tornemos senhores das emoções em vez de instrumentos do Coração e dos Sentimentos, é necessário que tenhamos controle da situação. O controle é essencial como ferramenta de manutenção do mundo como ele é, do Sonho como ele nos foi imposto. Melhor que “controle”, a capacidade de controlar, e esta capacidade implica no uso constante da razão, no domínio total do objeto de nosso controle e em sua submissão a nossos desejos e regras, que na verdade são as regras do Sonho do Planeta.

Quando controlamos, matamos o objeto de nosso controle, o imobilizamos e o submetemos a nossos desejos e emoções, e ele deixa de ser ele mesmo, perde sua identidade, perde sua luz, perde seu poder e se aliena de seus sentimentos. Precisamos não ter Coração para podermos controlar algo ou alguém, ou mesmo a si próprios. Todo controlador é alguem que perdeu o contato com o próprio coração, alguem que vive com medo, se alimenta do medo. Todo controlador é um Herói, torna sua vida difícil e vive separado de tudo e de todos. É um solitário.

Claro que todo controlador afirma estar fazendo o bem, afirma estar preocupado com os outros, afirma que age de coração, mas o Coração não controla, como não é possível haver controle no Amor verdadeiro, apenas troca de afeto, apenas doação.

Quando controlamos, precisamos nos ver como entidades separadas do objeto de nosso controle, seja ele outra pessoa, seja ele um sentimento ou um impulso de nosso Coração, e a necessidade de controle passa a ser um bisturi, uma lamina cortante que nos separa de nós mesmos e dos outros, e a forma mais comum que a mente usa para promover esta separação necessária ao controle é a Descrição e o Julgamento do que queremos controlar.

Quando Julgamos e Descrevemos alguma coisa, precisamos estar separados desta coisa, precisamos “entender” esta coisa, e também devemos evitar compreender este objeto, pois a compreensão, palavra mal usada muitas vezes, implica no uso do Coração, pois Com-Prender é prender algo em nós, unir essências, e isto não depende do uso da descrição ou da razão.

É interessante observarmos como a necessidade de ser controlador surge no seio da família, surge da percepção que a pessoa faz de seus próprios pais e educadores em geral. Não quer dizer necessariamente que os pais da pessoa tenham sido controladores, mas é assim que ela os vê, é assim que ela percebe o mundo, é assim que ela se percebe, sempre sendo cobrada e controlada, sempre sendo solicitada pelas pessoas, particularmente pela mãe, para suprir o afeto que os “perversos” negam a ela, e o resultado curiosamente não é uma pessoa que supre as demais de afeto, mas sim alguém que quer controlar, e para isto procura sempre no outro a fragilidade, a fraqueza, o vazio, a debilidade. Assim ela se sente forte e capaz, assim ela acha que merece ser amada por suprir as eventuais carências e debilidades que, se ela não encontra no outro, ela provoca, produz, pelo controle e autoritarismo, ou as vezes, pela chantagem emocional.

Vejam como o controlador é conivente, é um cúmplice, um legitimo representante do Sonho do Planeta, pois a separatividade e o poder de controlar são referencias de status e prestígio neste sistema de valores ilusórios.

O controlador nasce na casa IV, ele nasce na família, ele é formado ainda quando criança, ele surge quando suas fragilidades são contínuamente acentuadas pela família ao ponto de faze-lo reagir desta forma para não ser massacrado e humilhado o resto da vida. O controlador nasce quando é arrancado o coração da criança com a ilusão de que, neste mundo é preciso ser duro, é preciso ser forte, é preciso não ser um perdedor, é preciso ter medo do fracasso, o tempo todo, a vida inteira.

Nós aprendemos um dos fundamentos do viver nesta fase da vida, na primeira infância, no período em que convivemos mais intensamente com os familiares: aprendemos a “Olhar o Mundo”.

É o olhar que constrói o mundo que ilusoriamente vivemos. William Blake disse que uma arvore é uma coisa aos olhos de um tolo, e outra aos olhos de um sábio. É o olhar que determina a qualidade do mundo, e consequentemente nossa reação a ele.

Se vemos o mundo como algo hostil, algo opressivo, alguma coisa que está sempre desmoronando sobre nossas cabeças, algo do que temos que nos defender o tempo todo, alguma coisa que nos obriga a mentir para não sermos oprimidos e castigados, então é nisto que o mundo vai se transformar, apenas e exatamente nesta coisa terrível. Mas quem está construindo esta “coisa” é nosso olhar, pois se pudéssemos mudar o modo de ver e perceber o mundo, talvez ele fosse diferente, talvez ele se transformasse e ficasse melhor.

A casa III corresponde ao sistema pessoal de descrição e conseqüente criação mental da realidade. É onde somos mais coniventes ao expressar o sonho do Planeta. A casa IV é a II da III, ou seja, é onde esta descrição se transforma em fato, onde ela se materializa e toma forma, e a forma, o elemento principal da materialização de nossa descrição da realidade é na verdade o Olhar, o modo de ver esta realidade é o que dá forma e consistência à realidade. A forma e conteúdo da realidade, seja ela ilusória ou não, está na verdade dentro de nós. É muito mais uma experiência que um fato, é muito mais um modo de ver a vida, de ver o mundo, que o fato. A realidade passa a ser nossa visão pessoal da realidade.

Se mudarmos o modo de ver a realidade, mudaremos a realidade?

O grande truque para nos tornarmos Magos, senhores do Sentimento em vez de escravos da emoção é, prestarmos atenção ao que tem coração, procurar Ver e se identificar com o mundo através do Coração, mas para que isto aconteça, é necessário uma revisão completa do nosso passado, é necessário procedermos a uma recapitulação e a um confronto com cada experiência já vivida em nossa vida, com cada pessoa que conhecemos em nossa historia pessoal, de tal forma que possamos nos libertar do peso deste passado, dos condicionamentos e dos juramentos e promessas que inconsciente ou conscientemente fizemos em algum momento de nossas vidas.

Rever e se confrontar com o passado também nos permitirá descartarmos velhas mágoas, perdoarmos antigos desafetos, alguns já perdidos no fundo da memória, mas que não deixam de ser nós, pontos cegos na composição de nossa personalidade.

Mas isto dói, dói muito, pois quem é que quer realmente se livrar de hábitos e crenças que tem sustentado toda a realidade que vivemos? Que tem segurado nossa barra e dado confiança de que o que estamos vivendo é o certo, de que nossas escolhas são as mais adequadas para o mundo em que vivemos?

Don Juan, através de seu discípulo, Carlos Castañeda, diz que a realidade é formada pelo habito e pela memória, e isto pode significar que , se entendermos, através da aplicação da memória, os caminhos de nossa historia pessoal, e como esta historia compôs e estruturou nossos hábitos, entenderemos o mundo em que vivemos, entenderemos nossa representação dentro do Sonho do Planeta. E se mudarmos nosso hábitos, mudaremos também nossa realidade estruturada sobre eles, sairemos do Sonho, seremos senhores de nosso sentimento, finalmente, em vez de escravo de nossos desejos criados e emoções condicionadas.

Os desejos e emoções, bem como o Sentimento e a capacidade de escolher com o Coração, são faculdades ligadas ao elemento Água e seus três signos representantes, Câncer, Escorpião e Peixes, e o uso adequado dos dons representados por estes signos, respectivamente: a capacidade de Gerar, de Transformar e de Transcender é o que nos possibilitará sair dos hábitos formadores de realidade, mantenedores do Sonho e abrirá as portas para uma nova dimensão, dentro da qual podemos ser nós mesmos, livre das amarras e imposições das Leis do Sonho.

Acontece que, dentro do padrão no qual vivemos, e se formos obedecer as leis e tentarmos ser pessoas vistas e aceitas como “normais”, acabaremos por usar justamente as grandes deficiências destes três signos, suas “anti-virtudes”, os significados que nos conduzem para a estagnação e estratificação de comportamento e valores: a birra, a culpa e a razão.

A birra é o caminho que o símbolo de Câncer tem para nos conduzir à manutenção de velhos hábitos, é o recurso do Sonho para nos impedir de Gerar, de criar novas possibilidades e uma nova realidade. A culpa é o mecanismo estratificador de Escorpião, é aquilo que impede a transformação, a morte do velho e o nascimento do novo, e finalmente a razão é o caminho escolhido por quem não quer viver a transcendência possível ao símbolo de Peixes, é o eterno buscar da razão das coisas, seja do sentimento, seja das percepções que o Coração tem da vida e do mundo. Esta busca de razões sempre vai encontrar respaldo nas ilusões que nos são impostas pelo Sonho do Planeta.

Para nos libertarmos da rigidez do Sonho do Planeta, para vivermos nossa própria realidade, sintonizada com nossa essência, menos distorcida pela imposição de critérios e valores que nem sempre coadunam com nosso destino, e que podem distorcer nosso caminho, enfim, para nos libertarmos da birra infantil, das culpas inúteis e da necessidade de ter e encontrar razão para tudo, existe um caminho simples e extraordinário, é o caminho do da Verdade e do Coração, que é por onde podemos expressar nossos Sentimentos e dar significado à nossa vida sem medo.

 

DE OLHO NO FUTURO

O Arquétipo, dentro do modelo de pensamento que estamos apresentando neste texto, que tem correlação com a questão X, o Meio do Céu do horóscopo, o vértice da cruz que representa o Futuro, em contraposição à casa IV, o passado, é o do Rei, o Senhor da Realidade, o criador daquilo que é real.

Acontece que, dentro da estrutura do Sonho do Planeta, a única coisa que nos é permitido reconhecer como Realidade é apenas o que o próprio sonho permite, ou seja, as informações que foram decodificadas pelos nossos educadores e implantadas em nossa psique durante a formação da personalidade. O mundo é o que acreditamos que ele seja, e acreditamos que ele seja o que nos ensinaram que ele é.

É claro que, durante nosso crescimento, através das experiências que vivemos, dos confrontos, dos desafios que enfrentamos, vamos elaborando um critério muito pessoal de realidade, nossa própria forma de ver e recriar o mundo. Mas mesmo este critério é elaborado através dos filtros e critérios estabelecidos e implantados como “scripts” em nossa primeira infância. Pouco podemos fugir disto, pequena é a distancia que podemos ter do sonho coletivo, da grande ilusão.

A experiência ligada à casa X é talvez a mais pertinente ao conceito de Sonho do Planeta, é a mais vinculada à grande ilusão coletiva, pois nesta área de experiência projetamos todas as nossas expectativas do que queremos e podemos ser no mundo, como entidades atuantes e participantes. É a grande indicadora dos papéis que temos e que podemos desempenhar com nossos recursos interiores, e por isso, é nesta casa que encontramos os elementos através dos quais mais nos identificamos com a coletividade, com o grupo, com a sociedade como um todo. Por isso é a casa do “status”, que é uma das maiores preocupações que nos são impostas, e que determina muito de nossa conduta.

A expressão “o que vão pensar de mim?” ( ou de você ) é uma das mais poderosas formas de manutenção e redução de nosso comportamento a denominadores comuns determinados pelo Sonho e pelas expectativas da coletividade. Nossa realidade pessoal passa a ser identificada pelo que as pessoas podem pensar de nós. Nossas ações são delimitadas pela expectativa dos outros, e nossa capacidade de criar realidades é modulada pelo desejo e possibilidades de sermos aceitos ou não pela coletividade mais proxima. É assim mesmo que o Sonho do Planeta se impõe em nossas vidas e torna-se a base de nossa conduta e de nossas realizações.

O Rei deveria ser uma entidade, um indivíduo capaz de criar novas realidades, tornar seu desejo e suas intenções Reais, mas para chegar a este estágio, de poder criar realidades, na fase da formação de sua personalidade, o Rei é uma criança solicitada, uma criança que nasceu para preencher os vazios da existência da seus educadores, especialmente da mãe e das personagens femininas. Ela, a criança, ou o indivíduo na fase da formação de sua personalidade, sente que precisa preencher os espaços existenciais deixados pela “mãe”, precisa redimir e compensar suas frustrações e fracassos sociais, e com este sentimento, identifica qualquer gesto, qualquer estímulo como uma cobrança de performance, de impecabilidade, de maturidade, como se tivesse que ser adulto antes do tempo, como se não lhe fosse dado o direito de falhar jamais. Por isso a “criança solicitada”, continua durante a vida adulta a existir dentro de nós, pois não nos é permitido pelas leis do Sonho sermos senhores e criadores de nossa própria realidade, não nos é permitido nunca transgredir ou transformar a realidade exatamente como ela nos é apresentada, com seus critérios e padrões, não nos é permitido enfim, amadurecermos de verdade e sermos Reis, senhores da própria realidade.

Os signos que representam esta questão, a de nossa imagem social e da grande cobrança de postura e sucesso que pesa sobre nós, são os signos de terra, Capricórnio, responsável pelos processos de estruturação, Touro, significador da formatação da realidade e Virgem, que simboliza os processos de purificação.

Quando, antes de dominarmos nosso desejo e capacidade de agir, e consequentemente sermos Reis e senhores de nossa própria realidade, somos ainda “crianças solicitadas”, percebemos o mundo como um grande cobrador de comportamento e de postura dentro de seus parâmetros, em vez de usarmos estes símbolos astrológicos como caminhos para a estruturação, formatação e purificação deste mundo, somos vitimas das projeções negativas destes signos, somos escravos de um estado constante de tensão e insatisfação, e em vez de sermos estruturadores somos escravos de uma necessidade de sermos responsáveis por tudo e por todos; em vez de reformadores e formatadores da realidade, somos motivados e mobilizados o tempo todo pelo apego, e em vez de depurarmos e purificarmos o mundo, nossa ação é toda distorcida pelo perfeccionismo patológico, tão valorizado em nossa cultura.

Este vértice da cruz, o ponto mais elevado dela, funcionalmente análogo à casa X, é talvez o mais difícil de ser trabalhado em nosso processo de despertarmos e nos libertarmos do Sonho do Planeta, pois ai, na casa X, está o filtro de toda realidade social, de todas as condições de sobrevivência e de dar significado à nossa existência no contexto em que nascemos. A cobrança é muito grande, as exigências imensas, o esforço para atender a demanda de posturas e comportamentos é extraordinário, e profundamente desgastante, e na maioria das vezes nos afasta cada vez mais de nossa essência. Quanto mais eu sou “aceito”, torno-me importante no mundo em que vivo, tanto mais estou comprometido com uma exigência e uma realidade que existe principalmente fora de mim, e cada vez estou mais distante de meu próprio centro, do núcleo da minha consciência.

Acreditamos que o Ego, dentro de uma conceituação aceitável pelo Sonho do Planeta e com a conivência das pessoas com este sonho, é uma referencia pessoal que se aproxima, se identifica muito com a decima questão e seus significadores, particularmente Saturno. Romper, se libertar da escravidão do Ego é ultrapassar os limites de Saturno, e isto não significa nega o Ego e sua validade como interface entre o Self e a realidade. Apenas o que acontece é que nossa consciencia é que vai determinar a cor da realidade, e não contrário.

Se pensarmos que as duas questões que envolvem a décima questão e se complementam analógicamente com ela, a II e a VI, são as principais experiências na qual se investe energia pessoal para se manter atrelado e coerente ao Sonho do Planeta, os Valores e a Analiticidade, a Segurança e o Cotidiano, encontraremos nestas casas ou campos de projeção portas por onde sair do Sonho e conquistar um pouco mais a consciência de si mesmo.

A casa II é talvez, como V da X, a cristalização do meu Status, a experiência mais fundamental na manutenção e cristalização do estado de ilusão em que vivemos, pois nos foi ensinado desde a mais tenra infância, e é afirmado o tempo todo pela mídia e pelas pessoas, que possuir e acumular são as principais condições para ser alguém neste mundo, dar significado à nossa existência social, conquistar nosso espaço, nos realizarmos, etc. Vejam como a idéia do que cobram da gente em termos de imagem se cristaliza através da posse e dos bens que possuímos. Mas como o Espírito não se satisfaz com esta ilusão –apesar da necessidade física, biológica de sobrevivência e manutenção da vida— , nós estamos sempre insatisfeitos com o que temos.

A insatisfação é uma qualidade feminina, yin, e se contrapõe ao desejo, também uma qualidade feminina. A insatisfação é o desejo mal elaborado, não preenchido, inadequado, e como o desejo só pode se referir a algo que está fora de nós, pois não é possível desejar o que já temos, acabamos por acreditar que o que pode preencher nossa insatisfação é algo exterior a nós mesmos, e com isto, nos afastamos cada vez mais do núcleo de nossa personalidade, nos afastamos do próprio espírito, que é algo que já temos (ou que nos tem) e que nos informa, se tivermos acesso a Ele através da consciência, de que não há nada a desejar, e portanto, não há porque viver insatisfeito.

Parece que, sob a ótica do Sonho, aplicada a um corpo fisico, a um espírito encarnado, o desejo deve ser preenchido no plano fisico, e a insatisfação é sempre relativa a algo material, e por isso o eterno querer mais, o acumular desnecessário e angustiante, a obsessão em preservar nossos bens como se neles residisse a única possibilidade de plenitude e felicidade, e finalmente, a conseqüente escravidão a este significado da casa II que nos é permitido.

Acredito que, alguém que atingiu um certo grau de consciência e liberdade, saberá que a segurança de um homem, sua fortuna, seus bens, suas posses serão medidas muito mais pela sua capacidade de Dar do que de acumular. Esta é uma mudança de paradigma. No plano do Sonho, a plenitude é medida em quantidade de bens que possuímos, no plano da consciência, a plenitude e inteireza é medida pela nossa capacidade de dar.

Basta começar a “dar” para se libertar deste modelo das Leis do Sonho, basta parar de dar importância exagerada as coisas, aos objetos, se livrar deles. Isto não significa uma opção pela miséria, mas apenas deixar de ser escravo do que possui, deixar de ser “possuído pelo que possui”, apenas isto.

Quanto a sexta questão, pode significar uma escravidão ao método, uma exagerada importância dos hábitos e manias, e com isto, um afastamento da consciência oferecida pelos pequenos rituais, que nos aproximam do sagrado. Cada pequeno gesto que temos que repetir, como escovar os dentes ou tomar café da manhã, pode ser uma pequena liturgia, um procedimento sagrado que nos aproxima de nós mesmos e do aspecto divino que em nós habita. Mas de acordo com o Sonho do Planeta, tudo se transforma em habito justamente para que não tenhamos esta percepção da importância de nosso cotidiano como um instrumento de libertação e consciência.

Prestar atenção no que faz, todo tempo, é uma poderosa chave para entendermos nosso papel de nosso papel no mundo, e cada experiência vivida relativa a esta questão no universo, para entrarmos em sintonia com significados básicos de nossa vida presente. A casa VI é a IX da X, portanto, a casa da compreensão e do entendimento, é uma palavra que vai compor a equação que explica nossa realidade e nosso Status e nosso compromisso com a coletividade.

EPILOGO

Don Miguel diz que existem tres domínios que levam as pessoas a se tornar Toltecas (homens de conhecimento). O primeiro é o Domínio da Consciência, e significa tornar-se consciente de quem nós somos, com todas as possibilidades. O segundo é o Domínio da Transformação, e significa aprender como mudar, como ficar livre da domesticação à qual fomos submetidos, significa aprender a dizer Não. O terceiro é o Domínio da Intenção, e intenção sob o ponto de vista Tolteca “…é aquela parte da vida que torna a transformação de energia possível…Intenção é a própria vida; é amor incondicional. O Domínio da Intenção, portanto, é o Domínio do Amor”.

Percorrer o caminho entre Eu e o Outro, entre as casas I e VII, é aprender a lidar com o Espaço, conhecer as Leis que regem o Espaço, tornar-se senhor do movimento, do fluir e refluir da energia. Podemos percorrer este caminho dentro das regras do Sonho do Planeta, e ai, seremos escravos destas regras. Caminharemos em direção ao “outro” por acharmos que precisamos dele, e isto nos coloca numa eterna posição de dependência passiva, de necessidade, e nunca de completamento. O ato de “necessitar” do “outro” passa a ser mais importante que o próprio completamento que poderíamos conquistar.

Percorrer o caminho entre o Passado e o Futuro, entre as casas IV e X, é aprender a lidar com o Tempo, aprender a caminhar com desenvoltura na Roda do Tempo, e com isto, se libertar de toda imposição que vem de nosso passado e de todas as regras que nos são impostas pela cultura exterior a nós mesmos.

Quando o Guerreiro segue este caminho com o Coração, e não com as razões da necessidade do ser domesticado e submisso ao sonho, ele se transforma, se transmuta, vira o que a xaman Antonia chamou de “Pacificador” , que é o estado superior do Guerreiro, sua grande conquista.

O Pacificador é alguem que está livre do constante estado de angustia que o Sonho do Planeta nos impõe para roubar nossa energia vital, enfraquecer nossa vontade, nos submeter.

O Pacificador é um agente da paz. Alguém que conhece o Cristo que existe como símbolo no coração de todos os homens. É um guerreiro, mas é um multiplicador da consciência e da paz que ela traz.

Seguir o caminho do Coração implica em, primeiro estar livre da imposição das Leis que não tem coração, ser imune a elas, ao medo que provoca transgredi-las, seguir apenas as leis do Espírito, que são na verdade as Leis do Coração, e para isto, temos que ser capazes de nos livrarmos de todas as amarras que o passado nos impôs…

Enfim, seguir o caminho do Coração e ser um Pacificador é fazer o que tem que fazer e, jamais olhar para traz.

Valdenir Benedetti

Abril/99

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