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As cerimônias, as vestimentas, os perfumes, os caracteres e as figuras, sendo, como dissemos, necessários para empregar a imaginação na educação da vontade, o sucesso das obras mágicas depende da fiel observação de todos os ritos. Estes ritos, como dissemos, nada têm de fantástico ou arbitrário; eles nos foram transmitidos pela antigüidade e subsistem sempre pelas leis essenciais da realização analógica e da relação que existe necessariamente entre as idéias e as formas. Depois de ter passo vários anos a consultar e comparar todos os engrimanços e todos os rituais mágicos mais autênticos, chegamos, não sem trabalho, a reconstituir o cerimonial da magia universal e primitiva. Os únicos livros sérios que vimos sobre esse assunto são manuscritos e traçados em caracteres de convenção, que deciframos com o auxílio da poligrafia de Trithemo; outros estão inteiramente nos hieróglifos e símbolos de que são ornados e disfarçam a verdade das suas imagens sob as ficções supersticiosas de um texto mistificador. Tal é, por exemplo, o Enchiridion do Papa Leão III, que nunca foi impresso com suas gravuras e que refizemos para nosso uso particular conforme um antigo manuscrito.
Os rituais conhecidos sob o nome de Clavículas de Salomão existem em grande número. Vários foram impressos, outros foram copiados com grande cuidado. Existe um belo exemplar, muito elegantemente caligrafado, na Biblioteca Imperial; é ornado com pantáculos e caracteres que, na maior parte, se acham nos calendários mágicos de Tycho – Brahe e de Duchenteaux.
Existem, enfim, clavículas e engrimanços impressos que são mistificações e especulações vergonhosas de baixa livraria. O livro tão conhecido e tão proibido pelos nossos pais, sob o nome de Pequeno Alberto , pertence, por um lado inteiro da sua redação, a esta última categoria e só tem de sério alguns cálculos tirados de Paracelso e algumas figuras de talismãs.
Quando se trata de realização e de ritual, Paracelso é, em magia, uma imponente autoridade. Ninguém realizou maiores obras do que as suas, e, por isso mesmo, ele esconde o poder das cerimônias, e ensina, somente na filosofia oculta, a existência do agente magnético da onipotência da vontade; resume também, toda a ciência dos caracteres em dois signos, que são as estrelas macro e microcósmicas . Era dizer bastante para os adeptos e importava não iniciar o vulgo. Paracelso não ensinava, pois, o ritual, mas o praticava e sua prática era uma sucessão de milagres.
Dissemos que importância tem, em magia, o ternário e o quaternário. Da sua reunião se compõe o grande número religioso e cabalístico que representa a síntese universal e que constitui o setenário sagrado.
O mundo, conforme a crença dos antigos, é governado por sete causas segundas, como as chama Trithemo: secundae , e são as forças universais designadas por Moisés são o nome plural de Elohim, os deuses. Estas forças, análogas e contrárias umas às outras, produzem o equilíbrio pelos seus contrastes e regulam o movimento das esferas. Os hebreus as chamam os sete grandes arcanjos e lhes dão os nomes de Mikael, Gabriel, Rafael, Anael, Samael, Zadkiel e Oriphiel. Os gnósticos cristãos chamam os quatro últimos: Uriel, Baraquiel, Sealtiel e Jehudiel. Os outros povos atribuíram a estes espíritos o governo dos sete planetas principais, e lhes deram os nomes das suas grandes divindades. Todos acreditaram na sua influência relativa, e a astronomia lhes dividiu o céu e lhes atribuiu sucessivamente o governo dos sete dias da semana.
Tal é a razão das diversas cerimônias da semana mágica e do culto setenário dos planetas.
Já observamos, aqui, que os planetas são signos, e não outra coisa; eles têm a influência que a fé universal lhes atribui, porque são mais realmente astros do espírito humano do que estrelas do céu.
O sol, que a magia antiga sempre considerou como fixo, só podia ser um planeta para o vulgo; por isso, representa, na semana, o dia do descanso, que chamamos, não sei por que, Domingo, e que os antigos chamavam dia do sol.
Os sete planetas mágicos correspondem às sete cores do prisma e às sete notas da oitava musical; representam também as sete virtudes e, por oposição, os sete vícios, da moral cristã.
Os sete sacramentos referem – se, igualmente, a este grande setenário. O batismo, que consagra o elemento da água, refere – se à Lua; a penitência rigorosa está sob os auspícios de Samael, o anjo de Marte; a confirmação, que dá o espírito de inteligência e comunica ao verdadeiro crente o Dom das línguas, está sob os auspícios de Rafael, o anjo de Mercúrio; a eucaristia substitui a realização sacramental de Deus feito homem, ao império de Júpiter; o casamento é consagrado pelo anjo Anael, o gênio purificador de Vênus; a extrema -unção é a salvaguarda dos doentes próximos a cair sob a foice de Saturno, e a ordem, que consagra o sacerdócio de luz, está mais especialmente marcada por caracteres do sol. Quase todas estas analogias foram notadas pelo sábio Dupuis, que concluiu, daí, a falsidade de todas as religiões, em vez de reconhecer a santidade e perpetuidade de um dogma único, sempre reproduzido no simbolismo das sucessivas formas religiosas. Não entendeu a revelação permanente transmitida ao gênio do homem pelas harmonias da natureza, e só viu uma série de erros nesta cadeia de imagens engenhosas e eternas verdades.
As obras mágicas são também em número de sete:
1 ª) obras de luz e riqueza, sob os auspícios do Sol;
2ª) obras de adivinhação e mistérios, sob a invocação da Lua;
3 ª) obras de habilidade, ciência e eloqüência, sob a proteção de Mercúrio;
4ª) obras de cólera e castigo, consagradas a Marte;
5 ª) obras de amor, favorecidas por Vênus;
6ª) obras de ambição e política, sob os auspícios de Júpiter;
7ª) obras de maldição e morte, sob o patrimônio de Saturno.
No simbolismo teológico, o Sol representa o Verbo de Verdade; a Lua representa a própria religião; Mercúrio, a interpretação e a ciência dos mistérios; Marte, a justiça; Vênus, a misericórdia e o amor; Júpiter, o Salvador ressuscitado e glorioso; Saturno, Deus Pai, ou o Jeová de Moisés. No corpo humano, o Sol é análogo ao coração, o Lua ao cérebro, Júpiter, à mão direita, Saturno, a mão esquerda, Marte, ao pé esquerdo, Vênus, ao pé direito, Mercúrio, às partes sexuais, o que faz representar, às vezes, o gênio deste planeta sob uma figura andrógina. Na face humana, o Sol domina a fronte; Júpiter, no olho direito; Saturno no olho esquerdo; a Lua reina entre os dois olhos, à raiz do nariz, de que Marte e Vênus governam as duas asas; Mercúrio, enfim, exerce sua influência sobre a boca e o queixo.
Estas noções formavam, entre os antigos, a ciência oculta da fisionomia, descoberta, depois, imperfeitamente por Lavater.
O mago que quer proceder às obras de luz, deve operar no Domingo, de meia – noite até oito horas da manhã, ou das três horas da tarde até dez horas da noite. Estará vestido com uma roupa de púrpura, com uma tiara e braceletes de ouro. O altar dos perfumes e a trípode do fogo sagrado serão rodeados de grinaldas de loureiro, heliotrópios e girassóis: os perfumes serão o cinamomo, o incenso macho, o açafrão e o sândalo vermelho; o anel será de ouro com um crisólito ou rubi; os tapetes serão de peles de leões; os leques serão de penas de gavião.
Na segunda- feira, vestirá uma roupa branca ornada de fios de prata, com um tríplice colar de pérolas, cristais e selenitas; a tiara será coberta de sede amarela, com caracteres de prata, formando, em hebraico, o monograma de Gabriel, tal como o encontramos na filosofia oculta de Agrippa: os perfumes serão sândalo branco, cânfora, âmbar, aloés e semente de pepino pulverizada; as grinaldas serão de artemísia, selenotrópio e ranúnculo amarelo. Evitará as armações, os vestuários ou os objetos de cor preta, e não poderá ter consigo outro metal a não ser a prata.
Na terça -feira, dia das operações de cólera, a roupa será cor de fogo, ferrugem ou sangue, com uma cintura e braceletes de aço; a tiara será circundada de ferro,e a pessoa não se servirá da baqueta, mas somente do estilete mágico e da espada; as grinaldas serão de absinto e arruda, e terá no dedo um anel de aço, com uma ametista por pedra preciosa.
Na quarta- feira, dia favorável à alta ciência, a roupa será verde, ou de um pano de reflexos de diferentes cores; o colar será de pérolas de vidro oco, contendo mercúrio; os perfumes serão o benjoim, a noz – moscada e o estoraque; as flores, o narciso, o lírio, a mercurial, a fumária e a mangerona; a pedra preciosa será a ágata.
Na quinta – feira, dia das grandes obras religiosas e políticas, a roupa será escarlate, e a pessoa terá na fronte uma lâmina de estanho com o caráter do espírito de Júpiter e estas três palavras: Giarar, Bethor, Samgabiel ; os perfumes serão o incenso, o âmbar pardo, o bálsamo, o grão de paraíso, a noz -moscada e o açafrão; o anel será ornado de uma esmeralda ou safira; as grinaldas e coroas serão de carvalho, álamo, figueira e romeira.
Na sexta – feira, dia das operações morosas, a roupa será de azul- marinho, as armações serão verdes e cor- de -rosa; os ornamentos, de cobre polido; as coroas serão de violetas; as grinaldas, de rosas, mirtos e oliveiras; o anel será ornado de uma turquesa; o lápis – lazúli e o berilo servirão para a tiara e os ornatos; os leques serão de penas de cisne, e o operador terá sobre o peito um talismã de cobre com o caráter de Anael e estas palavras: Aveeva Vadelilith .
No sábado, dia das obras fúnebres, a roupa será preta ou escura, com caracteres bordados à seda de cor alaranjada; a pessoa trará ao pescoço uma medalha de chumbo com o caráter de Saturno e estas palavras: Almalec, Aphiel, Zarahiel ; os perfumes serão o diagrídio, a escamônea, o alúmen, o enxofre e a assa – fétida; o anel terá uma pedra de ônix; as grinaldas serão de freixo, cipreste e heléboro preto; no ônix do anel será gravado, com a pinça consagrada e nas horas de Saturno, uma dupla cabeça de Jano.
Tais são as antigas magnificências do culto secreto dos magos.
É com um semelhante aparelho que os grandes magos da Idade Média procediam à consagração cotidiana dos pantáculos e talismãs relativos aos sete gênios. Já dissemos que um pantáculo é um caráter sintético que resume todo o dogma mágico numa destas concepções especiais. É, pois, a verdadeira expressão de um pensamento e de uma vontade completa; é a assinatura de um espírito. A consagração cerimonial deste signo une a ele, mais fortemente ainda, a intenção do operador, e estabelece entre ele e o pantáculo uma verdadeira cadeia magnética. Os pantáculos podem ser indiferentemente traçados no pergaminho virgem, no papel ou nos metais.
É chamado talismã uma peça de metal, contendo quer pantáculos, quer caracteres, e tendo recebido uma consagração especial para uma intenção determinada. Gaffarel, numa sábia obra sobre as antiguidades mágicas, demonstrou, pela ciência, o poder real dos talismãs e a confiança na sua virtude está, aliás, de tal modo na natureza, que de boa vontade conservamos a lembrança dos que amamos, com a persuasão de que estas relíquias nos preservarão do perigo e deverão fazer- nos mais felizes. Fazemos os talismãs com os sete metais cabalísticos, e gravamos neles, nos dias e horas favoráveis, os sinais desejados e determinados. As figuras dos sete planetas, com seus quadrados mágicos, se acham no Pequeno Alberto , conforme Paracelso, e é um dos raros lugares sérios deste livro de magia vulgar. É preciso notar que Paracelso substitui a figura de Júpiter pela de um sacerdote, substituição que não é sem uma intenção misteriosa bem determinada. Mas as figuras alegóricas e mitológicas dos sete espíritos tornaram – se muito clássicas e vulgares nos nossos dias para que possamos gravá – las com êxito nos talismãs; é preciso recorrer a signos mais sábios e mais expressivos. O pentagrama deve ser sempre gravado num dos lados do talismã com um círculo para o Sol, um crescente para a Lua, um caduceu alado para Mercúrio, uma espada para Marte, uma letra G para Vênus, uma coroa para Júpiter e uma foicinha para Saturno. O outro lado do talismã deve trazer i signo de Salomão, isto é, a estrela de seus raios feita de dois triângulos superpostos; e, no centro, deve ser posta uma figura humana para os talismãs do Sol, um copo para os da Lua, uma cabeça de cão para os de Mercúrio, uma cabeça de águia para os de Júpiter, uma cabeça de leão para os de Marte, uma pomba para os de Vênus, uma cabeça de touro ou de bode para Saturno. A pessoa ajuntar – lhes -á os nomes dos sete anjos, quer em hebraico em árabe ou em caracteres mágicos semelhantes aos dos alfabetos de Trithemo.
Os dois triângulos de Salomão podem ser substituídos pela dupla cruz das rodas de Ezequiel, que encontramos num grande número de pantáculos antigos, e que é, como fizemos observar no nosso Dogma , a chave dos trigramas de Fo – Hi.
Podemos também empregar as pedras preciosas para os amuletos e talismãs; mas todos os objetos deste gênero, quer sejam de metal, quer de pedras, devem ser envolvidos com cuidado em saquinhos de seda da cor análoga ao espírito do planeta, perfumados com os perfumes do dia correspondente e preservados de todos os olhares e contatos impuros.
Assim, os pantáculos e talismãs do Sol não devem ser vistos nem tocados pelas pessoas disformes ou pelas mulheres de maus costumes; os da Lua são profanados pelos olhares e pelas mãos dos homens depravados e das mulheres que estão com regras; os de Mercúrio perdem a sua virtude se forem vistos por padres assalariados; os de Marte devem ser ocultos aos poltrões; os de Vênus, aos homens depravados e aos que fizeram votos de celibato; os de Júpiter, aos ímpios; e os de Saturno, às virgens e crianças, não porque os olhares ou contatos destes últimos possam ser impuros, mas porque o talismã lhes traria infelicidade e perderia, assim, toda a sua força.
As cruzes de honra e outras decorações deste gênero são verdadeiros talismãs, que aumentam o valor ou o mérito pessoal. As distribuições solenes que se fazem delas são as suas consagrações. A opinião pública pode dar- lhes uma prodigiosa força. Não notaram muito a influência recíproca dos sinais sobre as idéias e das idéias sobre os sinais; não é menos verdade que a obra revolucionária inteira dos tempos modernos, por exemplo, foi resumida simbolicamente pela substituição napoleônica da estrela de honra à cruz de São Luis. É o pentagrama substituído ao lábaro, é a reabilitação do símbolo da luz, é a ressurreição maçônica de Adonhiram. Dizem que Napoleão acreditava na sua estrela, e, se pudessem fazer- lhe dizer o que entendia por esta estrela, teriam sabido que era o seu gênio: devia, pois, adotar por sinal o pentagrama, símbolo da soberania humana pela iniciativa inteligente. O grande soldado de revolução sabia pouco: mas adivinhava quase tudo; por isso, foi o maior mago instintivo e prático dos tempos modernos. O mundo ainda está cheio dos seus milagres e o povo dos sertões nunca acreditará que ele tenha morrido.
Os objetos bentos e indulgenciados, tocados por santas imagens ou por pessoas veneráveis, os rosários vindos da Palestina, os agnus Dei feitos de cera da vela de Páscoa, e os restos anuais do santo crisma, os escapulários, as medalhas, são verdadeiros talismãs. Uma destas medalhas tornou- se popular atualmente e até os que não têm religião alguma colocam – na no peito dos filhos. Também suas figuras são tão perfeitamente cabalísticas que esta medalha é verdadeiramente um duplo e maravilhoso pantáculo. De um lado, vemos a grande iniciadora, a mãe celeste do Zohar, a Ísis do Egito, a Vênus Urânia dos platônicos, sobre a Maria do cristianismo, de pé sobre o mundo e pondo um pé sobre a cabeça da serpente mágica. Estende ambas as mãos de modo a fazerem um triângulo cujo cimo é a cabeça da mulher; suas mãos estão abertas e irradiantes, o que faz delas um duplo pentagrama, cujos raios se dirigem todos para a terra, o que representa, evidentemente, a libertação da inteligência pelo trabalho. Do outro lado, vemos o duplo Tau dos hierofantes, o Lingham de duplo Cteis ou de tríplice Phallus, suportado, com entrelaçamento e dupla inserção, pelo M cabalístico e maçônico, que representa o esquadro entre as duas colunas Jakin e Bohas; em cima, estão colocados, num mesmo nível, dois corações amantes e sofredores e, ao redor, doze pentagramas. Todos vos dirão que os que trazem esta medalha não lhe atribuem esta significação; ela, porém, não deixa de ser, por isso mesmo, mais perfeitamente mágica, tendo um duplo sentido, e, por conseguinte, uma dupla virtude. A extática sobre cujas revelações este talismã foi gravado, o tinha visto já existente e perfeito na luz astral, o que demonstra, mais uma vez, a íntima conexão das idéias e dos sinais, e dá uma nova sanção ao simbolismo da magia universal.
Quanto mais pusermos importância e solenidade na confecção dos talismãs e pantáculos, tanto mais adquirem virtude, como deve ser entendido conforme a evidência dos princípios que estabelecemos. Esta consagração deve ser feita nos dias especiais que marcamos, como o aparato cujos detalhes demos. A pessoa os consagra pelos quatro elementos exorcizados, depois de ter conjurado os espíritos das trevas pela conjuração dos quatro; depois toma o pantáculo na sua mão e diz, derramando nele algumas gotas de água lustral:
“In nomine Elohim et per spiritum aquárum vivéntium, sis mihi in signum lucis et sacraméntum voluntátis ”.
Aproximando – o da fumaça dos perfumes diz:
“Per serpéntum oenum sub quo serpéntes ignei, sis mihi, etc. ”.
Soprando sete vezes no pantáculo ou no talismã, diz:
“Per firmaméntum et spiritum vocis, sis mihi, etc. ”.
Enfim, colocando nele triangularmente alguns grãos de terra purificada ou de sal, é preciso dizer:
“In sale térrae et per virtútem vitae aeternae, sis mihi, etc. ”.
Depois, deve fazer a conjuração dos sete, do seguinte modo: lança – se alternativamente o fogo sagrado uma pastilha dos sete perfumes e se diz:
“Em nome de Mikael, que Jeová te mande e te afaste daqui, Chavajoth! ”.
“Em nome de Gabriel, que Adonai te mande e te afaste daqui, Belial! ”.
“Em nome de Rafael, desaparece diante de Elchim, Sachabiel! ”.
“Por Samael Zebaoth, e em nome de Elohim Ghibor, afasta -te Adrameleck! ”.
“Por Zacariel e Sachiel Melek, obedece a Elvah, Samgabiel! ”.
“Pelo nome divino e humano de Schaddai, e pelo signo do pentagrama que tenho em minha mão direita, em nome do anjo Anael, pelo poder de Adão e Eva, que são Jotchavah, retira -te, Lilith; deixa – nos em paz, Nahemah! ”. “Pelos santos Elohim e os nomes dos gênios Cassiel, Sehaltiel, Aphiel e Zarahiel, sob o mando, de Oriphiel, afasta -te de nós, Moloch! Não te daremos nossos filhos devorares ”.
No que diz respeito aos instrumentos mágicos, os principais são: a baqueta, a espada, a lâmpada, o copo, o altar e a trípode. Nas operações da alta e divina magia, a pessoa serve – se da lâmpada, da baqueta e do copo; nas obras de mais negra, substitui a baqueta pela espada e a lâmpada pela candeia de Cardan. Explicaremos esta diferença no artigo especial da magia negra.
Voltemos à descrição e a consagração dos instrumentos.
A baqueta mágica, que não devemos confundir com a simples baqueta adivinhatória, nem com a forquilha dos necromantes ou o tridente de Paracelso; a verdadeira e absoluta baqueta mágica deve ser de um único galho, perfeitamente direito, de amendoeira ou aveleira, cortado num só golpe com a serpe mágica ou a foicinha de ouro, antes do levantar do sol e no momento em que a árvore está próximo a florescer. É preciso perfurá- la em toda sua extensão, sem rachá- la ou quebrá – la, e introduzir nela uma vara de ferro imantada que ocupe todo o seu comprimento; depois adaptar- se a uma das suas extremidades um prisma poliedro, cortado triangularmente, e à outra ponta uma figura semelhante de resina preta. No meio da baqueta, a pessoa colocará dois anéis, um de cobre vermelho, e o outro de zinco; depois a baqueta será dourada do lado da resina e prateada do lado do prisma até os anéis do meio, devendo ser coberta de seda, exclusivamente, até as extremidades. No anel de cobre é preciso gravar estes caracteres:
A consagração da baqueta deve durar sete dias, começando na lua nova, e deve ser feita por um iniciado que possua os grandes arcanos e que tenha também uma baqueta consagrada. É a transmissão do sacerdócio mágico, e esta transmissão nunca cessou, desde as tenebrosas origens da alta ciência. A baqueta e os outros instrumentos, mas principalmente a baqueta, devem ser guardados com cuidado, e sob pretexto algum o magista deve deixar os profanos verem – nos ou tocá- los; aliás, perderiam toda a sua virtude.
O modo de transmitindo da baqueta é um dos arcanos da ciência que nunca é permitido revelar.
O comprimento da baqueta mágica não deve exceder o do braço do operador. O mago só deve servir – se dela quando está só e até nem deve tocá – la sem necessidade. Diversos magos antigos faziam -na somente do comprimento do antebraço e a escondiam dentro de longas mangas, mostrando ao público somente a simples baqueta adivinhatória, ou algum cetro alegórico, feito de marfim ou ébano, conforme a natureza das obras.
O cardeal Richelieu, que ambicionava todos os poderes, procurou durante a sua vida inteira, sem poder encontrar, a transmissão da baqueta. O seu cabalista Gaffarel só lhe pôde dar a espada e os talismãs; este foi, talvez, o motivo secreto do seu ódio contra Urbano Grandier, que sabia alguma coisa das fraquezas do cardeal. As entrevistas secretas e prolongadas de Laubardemont com o infeliz padre, algumas horas antes de seu último suplício, e as palavras de um amigo e confidente deste, quando ia à morte: “Senhor, sois um homem hábil, não vos percais ”, dão muito que pensar a este respeito.
A baqueta mágica é o Verendum do mago; nem mesmo deve falar dela de um modo claro e exato; ninguém deve vangloriar – se de possuí – la, e só deve ser transmitida a sua consagração sob as condições de uma discrição e uma confiança absolutas.
A espada é menos oculta, e eis como é preciso fazê- la:
Deve ser se aço puro, com um punho de cobre, feito em forma de cruz com três gomos, como é representada no Enchiridion de Leão III, ou tendo por guarda dois crescentes, como a nossa figura. No nó central da guarda, que deve ser revestido de uma placa de ouro, é preciso gravar, de um lado, o signo do macrocosmo e, do outro, o do microcosmo. No punho é preciso gravar o monograma hebraico de Mikael, tal como o vemos em Agrippa, e, na lâmina, de um lado, estes caracteres:
, do outro, o monograma do Lábaro de Constantino, seguido destas palavras: Vince in hoc, Deo duce, ferro comite . (Ver, para a autenticidade e exatidão destas figuras, as melhores edições antigas do Enchiridion ) .
A consagração da espada deve ser feita num domingo, às horas do Sol, sob a invocação de Mikael. A pessoa porá a lâmina da espada num fogo de loureiro e cipreste; depois enxugará e polirá a lâmina com as cinzas do fogo sagrado,
molhadas com o sangue de poupa ou de serpente e dirá: Sis mihi gládius Michaelis, in virtute Elohim Sabaoth, fúgiant a te spiritus tenebrárum et reptília terrae ; depois a perfumará com os perfumes do Sol e a guardará na seda com ramos de verbena, que devem ser queimados no sétimo dia.
A lâmpada mágica deve ser feita de quatro metais: o ouro, a prata, o zinco e o ferro. O pé será de ferro, o nó de zinco, o copo de prata, o triângulo do meio de ouro. Ela terá dois braços compostos de três metais torcidos conjuntamente, de modo a deixar, contudo, um tríplice conduto para o óleo. Terá nove mechas, três no meio e três em cada braço (ver a figura). No pé, deve ser gravado o selo de Hermes e, em cima o Andrógino de duas cabeças de Khunrath. A moldura inferior do pé representará uma serpente que morde a cauda.
No copo ou recipiente do óleo deve ser gravado o signo de Salomão. A esta lâmpada se adaptarão dois globos: um, ornado de pinturas transparentes, representando os sete gênios; o outro, maior e duplo, podendo conter em quatro compartimentos, entre dois vidros, a água tingida de diversas cores. Tudo será contido numa coluna de madeira que gire sobre si mesma e possa deixar escapar à vontade os raios da lâmpada, que será dirigida para a fumaça do altar, no momento das invocações. Esta lâmpada é de grande valor para ajudar as operações intuitivas das imaginações lentas e para criar, diante das pessoas magnetizadas, formas de uma realidade espantosa, que, sendo multiplicadas pelos espelhos, aumentarão imediatamente e mudarão numa só sala imensa e cheia de almas visíveis o gabinete do operador; a embriaguez dos perfumes e a exaltação das invocações transformarão logo esta fantasmagoria num sonho real; reconheceremos as pessoas que já nos foram conhecidas; os fantasmas falarão; depois, se fecharmos a coluna da lâmpada, duplicando o fogo dos perfumes, produzir- se-á alguma coisa extraordinária e inesperada.
Eliphas Levi – Dogma e Ritual da Alta Magia
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