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Sar Naquista
“Não entre aqui aquele que não souber geometria””
– Epígrafe do pórtico da Academia de Platão
Veremos neste ensaio uma apresentação sistemática dos principais símbolos e correspondências numéricas usadas dentro da geometria sagrada e do simbolismo esotérico. Comecemos nossa explicação do mais simples dos elementos euclidianos: o ponto.
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O ponto é o início de nossa jornada simbólica. É pelo ponto, um elemento que Euclides definiu como sem dimensão ou forma é o centro pelo qual tudo aquilo que se manifesta pode passar a existir. Assim como na geometria o ponto é o início de tudo que pode ser traçado, na simbologia ele representa a potencialidade de toda criação, em outras palavras, a Divindade. Podemos ler esta associação no Zohar na passagem que diz: “Quando o incógnito dos incógnitos quis se manifestar, Ele começou produzindo um ponto. Enquanto esse ponto luminoso não saiu de Seu seio, o infinito permaneceu totalmente ignorado” Possuindo apenas coordenadas mas não altura, largura nem profundidade o ponto é ele mesmo nosso limiar de abstração.
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Tendo este “ponto de partida” é possível contemplarmos a criação divina que se manifesta primeiramente pela linha reta. Como é preciso dois pontos para traçar um segmento de reta associamos a linha ao número 2. Uma reta nada mais é do que uma infinidade de pontos dispostos em sequência. Louis-Claude de Saint-Martin expressa isso em “Dos Erros e da Verdade” ao dizer que “A linha perpetua para o infinito as reproduções do ponto do qual ela emana.” Assim, dentro do martinismo entendemos que a linha reta simboliza a ação divina, deus em movimento, e consequentemente a origem da vida, a perfeição. É linha reta liga Deus e o ser humano e portanto permite um caminho do primeiro ao segundo, mas também do segundo ao primeiro no sentido de ser um símbolo de “retidão” ou seja, de harmonia com a fonte e centro de tudo que existe.
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O triângulo, o mais simples de todos os planos, é formado por três retas que limitam o espaço de uma superfície. Aqui entendemos porque esta forma tem uma posição especial dentro do martinismo ao ser o representante do ternário ou da trindade. Neste tocante, Saint-Martin nos ensina que “O triângulo é o símbolo universal das leis particulares que produzem todas as substâncias.” e isso se registra tradiconalmente pelo símbolo do compasso, um triângulo usado para traçar um círculo perfeito, ou seja um símbolo de que o Universo nasce pela expressão trina da Divindade, mais especificamente por suas faculdades de “Pensamento, Vontade e Ação”. Como colocou Jean-Baptiste Willermoz: “O Pensamento está na origem de todo ato. Ele gera a Vontade, sem a qual todo pensamento seria nulo e não produziria nada; mas Pensamento e Vontade ficariam sem objetivo se não fossem transformados em ato. E esta faculdade a produtora do efeito que chamamos de “razão”.
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Uma curva é uma reta que encontrou um “centro de gravidade”. Este centro é inescapável na geometria uma vez que só com ele é possível traçar espaços equidistantes que formam um Círculo, símbolo do universo manifesto. Assim como Plotino dizia que “o centro é o pai do círculo” e Angelus Silesius dizia que “o ponto contém o círculo”, também nós em nosso simbolismo podemos dizer que a “Unidade Divina contêm é a origem do Universo.”
Em outras palavras, o círculo é o símbolo de Criação que surge dentro dos limites do espaço e do tempo. Mas o Círculo não representa apenas nosso Universo Material – o chamado “Círculo Artificial” – mas também todo Universo Espiritual – que chamamos “Círculo Natural”. Para uma compreensão melhor basta entender o “Círculo Natural” como toda expansão natural do ponto central que cresce em todas as direções, em termos geométricos, a área do círculo. Já o “Círculo Artificial” é definido pelo “Círculo Natural” e surge no perímetro desse círculo e em termos geométricos é chamado de perímetro ou circunferência.
O Círculo Artificial é representado pelo número 9, o número do ego. Isso se explica facilmente porque qualquer número multiplicado por 9 e cujos digitos sejam somados, retornam novamente ao 9. Por exemplo 9 *12 = 108 e 1 + 0 +8 =9. Da mesma forma como o mundo material e o ego estão sempre voltados para si mesmo. Importante dizer que a soma de todos os dígitos de um algarismo recebe o nome de Redução Teosófica, e possui diversas outras aplicações na geometria sagrada.
Já o Círculo Natural é representado pelo número 10. Quem nos explica este simbolismo é novamente Louis-Claude de Saint-Martin em “Dos Erros e da Verdade”: “Sem dúvida, ninguém será contra a que se considere uma circunferência como um zero, pois que figura se assemelha mais a circunferência do que o zero? Menos ainda que se olhe o centro dela como uma unidade, pois é impossível que uma circunferência tenha mais de um centro; todos sabem também que uma unidade juntada a um zero forma dez.”
Note que aqui podemos compreender ainda mais o centro como origem e constituinte do círculo e portanto a Unidade Divina como centro e origem do Círculo. Se tirarmos o 1 do 10, voltamos ao nada, ou seja, apenas o perímetro vazio. Mas o próprio perímetro só pode ser traçado graças ao centro e assim voltamos ao nada.
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A cruz, geralmente tida como um monopólio do cristianismo é também um destes símbolos elementares da geometria sagrada. O significado deste símbolo é ele mesmo muito mais antigo que a Igreja Cristã e esta por sua vez parece ter esquecido seu simbolismo profundo em prol de um simples retrato do objeto de tortura e morte usado pelos romanos, mas especificamente uma lembrança da crucificação de Cristo. Mas a cruz é antes disso o encontro de duas linhas. Uma horizontal e outra vertical. A horizontal, que pode ser compreendida como um segmento da Círculo Artificial simboliza o plano material enquanto o vertical, vinda do ponto inicial divino e prosseguindo em direção da eternidade simboliza o plano espiritual. O cruzamento dessas linhas representa portanto a união entre o mundo material e espiritual, ou seja, o ser humano.
Mais especificamente, um ser humano que não reconhece seu lado espiritual está deitado como um morto deitado na horizontal, tal como lemos no Evangelho: “Deixa que os mortos enterrem os seus mortos”. Mas um ser humano que despertou tanto no mundo material como no espiritual de fato “nasceu duas vezes”. No centro da cruz, onde às duas retas se encontram ocorre a reconciliação e harmonização a dualidade dos contrários. Este ponto é também chamado de “equilíbrio perfeito” ou ainda “eixo da roda cósmica”. Neste “ponto crucial” a superfície da circunferência se identifica com o centro do círculo e permanece indissociável da Unidade Divina. Como são preciso quatro pontos para formar os dois segmentos de reta que formam a cruz, este símbolo é associado pela tradição martinista ao número 4, e portanto a figura do quadrado. De fato, como mostra a ilustração abaixo não é difícil derivar uma cruz de um quadrado:
Como vimos, os elementos básicos da geometria sagrada recebem cada um um número. 1 para o ponto, 2 para a reta, 3 para o triângulo, 4 para o quadrado (ou cruz), 9 para a circunferência e 10 para o Círculo. A estes podemos somar o 5 (um quadrado com um ponto em seu centro), o 6 (dois triângulos formando um hexagrama), o 7 (um hexagrama com um ponto no centro) e o 8 um quadrado com uma cruz (ou um losango) em seu interior. Tudo isso deve dar ao leitor bastante material sobre o qual poderá fazer suas próprias meditações.
Os pitagóricos entendiam que estes dez primeiros números eram sagrados e constituíam o fundamento de tudo o mais que existe. Por isso usavam a Redução Teosófica vista acima como uma forma de revelar a Sabedoria Divina, ou o significado profundo dentro de qualquer outro número. O número 12 por exemplo, ligado ao zodíaco passando pela Redução Teosófica se revela como 3 (o plano no qual a divindade se manifesta)
Os pitagóricos usavam também a Adição Teosófica, que consiste em somar todos os algarismos partindo de 0 até um dado número. A adição Teosófica de 4 portanto seria 1+2+3+4=10 e dela concluímos que o ser humano tem uma forte associação com a existência e natureza do Círculo Natural da Criação. 10 por sua vez resulta na Adição Teosófica 1+0 =1, revelando sua afinidade com o princípio da Unidade.
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