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Por Dion Fortune,
tradução por Ícaro Aron Soares.
Quando da Reforma, os homens que criaram o ritual Anglicano não compreenderam a significação psicológica do cerimonial romano. Eles o viram na sua degradação, como um canal vazio, e quebraram o encanamento porque ele estava seco. Na nossa geração, tratemos de ser mais prudentes e em vez de quebrar o encanamento vamos ligá-lo à fonte. Há uma realidade espiritual por trás das formas das religiões organizadas, e é unicamente esta realidade que lhes dá o seu valor. Elas não foram criadas com a intenção de que funcionassem como uma disciplina para treinar a alma, ou nem mesmo para que servissem como um meio para agradar a Deus, mas sim para possibilitar que a Luz do Espírito possa ser colocada em foco na consciência. Se compreendermos a psicologia do ritual, jamais seremos prisioneiros da superstição e nunca estaremos em luta contra formas vazias. Compreenderemos que uma forma é um canal para uma força, e que o canal físico para uma força não é apenas o material usado num sacramento, mas também a vívida imagem pictórica criada, por seu uso ritual, na mente dos adoradores. Quando estamos procurando a validade das formas da Igreja, é para a força que está por trás do símbolo que devemos olhar. O signo exterior e visível, seja ele uma taça ou uma cruz, é apenas o ponto focal da atenção, o ponto que capacita o adorador a entrar em contato psíquico com a forma de força espiritual que é a vida que anima aquele símbolo. Quando queremos encontrar uma explicação sobre o significado dos símbolos e rituais da Igreja, devemos olhar para a psicologia, não para a história. Aquilo que é comemorado não é um ato mundano, mas sim uma reação espiritual, e somente quando nós mesmos criamos essa reação interior é que podemos partilhar da eficácia do ato que foi o seu protótipo. A crucificação de Nosso Senhor, nas mãos da autoridade romana, foi apenas a sombra projetada, sobre o plano material, pela luta que estava sendo travada no mundo espiritual. Não foi o derramamento do sangue de Jesus de Nazaré que redimiu a humanidade, mas o derramamento da força espiritual emanada da mente de Jesus, o Cristo.
O simbolismo que comemora a Sua morte faz com que concentremos a nossa atenção no Sacrifício da Cruz e no trabalho que esse sacrifício tem feito pela humanidade. A subconsciência racial dos povos cristãos está profundamente impregnada com este ideal, e quando contemplamos o símbolo universalmente associado a ele ativamos um trem subconsciente de ideias que desperta profundas memórias raciais. O ritual que faz com que uma congregação concentre a sua atenção está utilizando a mente-grupo. Ë bastante sabido que a mente-grupo, sob a influência do medo ou da raiva, é capaz de pânicos e linchamentos dos quais os membros individuais que compõem essa multidão são absolutamente incapazes; o mesmo acontece com os impulsos da vida espiritual. Uma congregação é uma multidão organizada, cuja atenção é canalizada, por apelos aos cinco sentidos físicos, para um único foco o sacrifício da Missa – e a emoção-grupo desse modo engendrada é capaz de elevar a mente-grupo a alturas que os indivíduos que compõem essa congregação são incapazes de alcançar sem ajuda.
Não se deve pensar que uma explicação deste tipo, do aspecto psicológico do poder da Eucaristia, possa ter qualquer intenção de diminuir o reconhecimento do seu aspecto Divino; sua única atenção é mostrar a maneira pela qual as forças espirituais operam no nível da mente. Se desejamos compreender o modus operandi das forças espirituais, devemos distinguir entre o espiritual e o mental. A confusão entre estes dois tipos de psicologia é que leva a tantos mal-entendidos.
Para ser apreendido pela mente humana não treinada, o poder de Deus tem de ser corporificado numa ideia concreta. Daí a necessidade da Encarnação, que apresentou Deus ao homem que ele pode compreender.
Portanto, os sacramentos da Igreja são encarnações, ou corporificações na forma, de verdades espirituais primárias, por demais abstratas para poderem ser apreendidas pela mente não instruída. Por meio do seu simbolismo pictórico, a mente é capaz de contemplar aquilo que jamais poderia conceber sem ajuda. Esta contemplação possibilita que ela estabeleça uma ligação com a potência espiritual que realiza o trabalho projetado pelo sacerdote que está no plano físico. Desse modo, ligada em pensamento, a força espiritual se derrama na alma e realiza o seu trabalho divino.
Há, portanto, três aspectos para um sacramento o poder sem forma de Deus, transportado do abstrato para o concreto por Nosso Senhor; segundo, o ritual simbólico que nos faz lembrar da função particular do trabalho de Nosso Senhor; e, terceiro, a imagem formada na nossa imaginação. Quando esta última se firma na consciência, o circuito foi completado e Nosso Senhor nos colocou em contato com Deus.
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