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A Missa do Espírito Santo – A Árvore da Vida (18 de 19)

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Ao começar esboçar e escrever este livro acerca de magia era a firme intenção do autor elucidar todos os processos mágicos tão simples e inteligivelmente quanto fosse humanamente possível e coerente com o tratamento exegético de um assunto sumamente difícil e complexa .

Pelo fato de ter havido no passado tanta obscuridade deliberada e matéria propositadamente enganosa, pareceu a hora exata de produzir uma declaração que pudesse ser utilizada de uma vez por todas como uma exposição clara e definida. O autor espera ter sido fiel a essa intenção ao longo do texto, embora quanto a este ponto o leitor deva ser o único juiz. Ambigüidade e por vezes deliberada tentativa de ludibriar mediante o emprego de simbolismo difícil e a citação de extensas séries de nomes de autoridades têm caracterizado muitos livros de magia, pondo a perder qualquer valor que eles pudessem ter. Resta delinear neste livro uma fórmula secreta de magia prática de uma natureza tão tremenda – encoberta como sempre esteve no passado pelo deslumbramento de símbolos recônditos e oculta por pesados véus – que este autor está em dúvida se seria sábio ou político se ater a sua decisão original. Poderia, é claro, ter sido omitida do conteúdo geral, mas foi necessário incluí-la sob alguma forma a fim de tornar este tratado moderadamente completo na medida do que concerne aos principais, embora elementares aspectos da alta magia. O método do qual nos propomos a falar aqui constitui uma fórmula tão poderosa da magia da luz e tão passível do abuso e uso indiscriminados na magia negra que se uma concepção de sua técnica e teoria é realmente para ser apresentada, a intenção original deste autor tem que ser descartada. Será preciso valer-se do meio de um simbolismo eloqüente que foi utilizado durante séculos para transmitir estas e idéias similares. E ao leitor deve se assegurar que o simbolismo não foi propositadamente desorganizado, nem foi tampouco tornado ambíguo, obscuro e destituído de sentido. Se meticulosamente estudados, os termos empregados revelarão uma coerência e uma continuidade que desvendarão às pessoas certas de um modo absolutamente preciso os processos de sua técnica .

A Missa do Espírito Santo! Assim é chamada esta técnica específica. É única em toda a magia pois nela está compreendida quase toda forma conhecida de procedimento teúrgico .

Ao mesmo tempo, é a quintessência e a síntese de todas elas. Entre outras coisas diz respeito à magia dos talismãs. Por meio desse método uma força espiritual viva é confinada numa substância telesmática específica. Não se trata de telesmata morto ou inerte como acontece na costumeira evocação talismânica cerimonial, mas sim de imediato vibrante, dinâmico e contendo em germe e potencial a possibilidade de todo crescimento e desenvolvimento. De uma maneira muito especial, se refere, ademais, à fórmula do Cálice Sagrado. Um cálice dourado de graça espiritual é utilizado no qual a própria essência e sangue vital do teurgo têm que ser derramados para a redenção não de sua própria alma, mas que por intermédio disso toda a espécie humana possa ser salva. A euraristia também está implícita e o cálice é usado como a taça da comunhão, cujo conteúdo santificado – taumatúrgico e iridescente, em suma o vinho sacramental – tem que ser dedicado e consagrado ao serviço do Altíssimo. A oblação a ser consumida com o vinho eucarístico é, em função dessa interpretação, a essência secreta tanto do mago intoxicado quanto do supremo deus que ele invocou. Neste método está presente também em larga escala a técnica alquímica, visto que concerne majoritariamente à produção do ouro potável, a pedra filosofal e o elixir da vida que é Amrita, o rocio da imortalidade .

O leitor deve, acima de tudo, ter em mente a fórmula filosófica do Tetragrammaton, que é o método desta missa. Isto demonstra a necessidade de uma familiarização prática com os princípios numéricos da Santa Cabala, pois quanto mais conhecimento se possui, sistematicamente classificado no sistema indicador da Árvore da Vida, mais sentido e significação se vinculam à fórmula de Tetragrammaton. No capítulo em que se esboça a teoria mágica do universo as implicações gerais do Nome sagrado foram resumidamente explicadas relativamente a essas conexões. Estas idéias devem ser inteiramente assimiladas em relação à Árvore. Munido deste entendimento, o leitor deverá aplicar seus poderes ao esquema simbólico que se segue .

Ilustrando o cabeçalho de um capítulo no livro de Franz Hartman Secret Symbols of the Rosicrucians (Símbolos Secretos dos Rosacruzes) vemos um desenho de uma sereia irrompendo do mar. Suas mãos estão junto aos seus seios e dali brotam duas torrentes que retornam ao mar. Explicando esta figura Hartman escreveu que “… a figura representa o fundamento das coisas e sua origem. Trata-se de um princípio duplo da natureza; seus pais são o Sol e a Lua ; produz água e vinho, ouro e prata pela bênção de Deus. Se torturas a águia, o leão se tornará débil. As ‘lágrimas da águia’ e o ‘sangue vermelho do leão’ têm que se encontrar e se misturar. A águia e o leão se banham, comem e se amam. Eles ficarão como a salamandra e ficarão constantes no fogo.” Na elaboração do que foi dito acima os seguintes princípios podem ser postulados. O Y * do nome sagrado neste sistema é chamado de leão vermelho e a primeira H ** é a águia branca. Concebe-se que estas duas letras sejam as representações de dois princípios cósmicos, dois rios de sangue escarlate que brotam dos seios da sereia para dentro do mar, duas torrentes distintas e incessantes de vida, luz e amor que procedem eternamente da própria Vida. Nelas reside o poder de tocar e comungar, fazendo um novo do outro, sem nenhuma ruptura das fronteiras sutis das torrentes ou qualquer confusão de substância. Em sua natureza são mutuamente complementares e opostas, e no entanto nelas está fundada a totalidade da existência. Todas as operações alquímicas de acordo com as autoridades requerem dois instrumentos principais: “um recipiente circular, cristalino, precisamente proporcional à qualidade de seu conteúdo” ou cucúrbita e “ um forno teosófico selado cabalisticamente ou Athanor. *** O Athanor é atribuído ao Y e a cucúrbita é uma atribuição da H .

* A letra Yod. (n .t.) ** A letra Hé. (N. T.) *** Amphitheatrum, H. Khunrath .

Agora apesar do ouro puro que se menciona ser uma substância homogênea, una e indivisível, dinâmica e prenhe de possibilidade infinita, duas substâncias separadas são usadas em sua produção. Estas são denominadas serpente ou o sangue do leão vermelho e as lágrimas ou o glúten da águia branca. A serpente é uma atribuição da V **** do Tetragrammaton e o glúten é alocado à última H deste nome. Estas duas substâncias são a prole, por assim dizer, do leão e da águia. Os instrumentos alquímicos acima mencionados devem ser considerados como os armazéns ou geradores desses dois princípios divinos ou torrentes de rápido fluxo de sangue, fogo e força, o Athanor sendo a fonte ou veículo da serpente, o glúten estando alojado na cucúrbita .

A fabricação do ouro alquímico que é o rocio da imortalidade consiste de uma operação peculiar que apresenta várias fases. Pelo estímulo do calor e do fogo espiritual para o Athanor deve haver uma transferência, umas ascensão da serpente daquele instrumento para dentro da cucúrbita, usada como uma retorta. O casamento alquímico ou a combinação das duas correntes de força na retorta produz de imediato a decomposição química da serpente no mênstruo do glúten, sendo este a parte do solve da fórmula alquímica geral do solve et coagula. Junto à decomposição da serpente e sua morte surge a resplendente Fênix que, como um talismã, deve ser carregada por meio de uma contínua invocação do princípio espiritual compatível com a operação em andamento. A conclusão da missa consiste ou no consumo dos elementos transubstanciados, que é a Amrita, ou no ungir e consagração de um talismã especial .

Antes de prosseguir com a análise dos aspectos desta operação, gostaria de apresentar ao leitor uma citação na qual essa missa é repetida com certos detalhes, empregando a usual nomenclatura da alquimia. “Eu sou uma deusa de beleza e linhagem famosas, nascida do nosso próprio mar que rodeia a terra toda e que está sempre inquieto. Dos meus seios verto leite e sangue, fervendo-os até que se transformem em prata e ouro. Ó objeto o mais excelente, do qual todas as coisas são geradas, embora à primeira vista tu sejas veneno, adornado com o nome da Águia alada . . . . Teus pais são o Sol e a Lua; em ti há água e vinho, ouro também e prata sobre a Terra, que o homem mortal possa regozijar… Mas considera, ó homem, que coisas Deus te concede por este meio. Tortura a águia até que ela pranteie e o leão esteja debilitado e sangre até morrer. O sangue deste leão incorporado às lágrimas da águia é o tesouro da terra.” Isto, sem dúvida, é também explicativo da figura reproduzida por Franz Hartman .

Segundo certas autoridades, estima-se em termos aproximativos que a operação não deve levar menos de uma hora da invocação preliminar, com o aprisionamento da força nos elementos, até o ato de compartilhar a própria comunhão a partir do cálice consagrado. Às vezes, de fato, se requer um período muito mais longo, especialmente se houver a exigência da carga do talismã ser completa e perfeita. Deve-se ter grande cautela para evitar a perda imprudente dos elementos. Existe a possibilidade de efetivo vazamento ou um transbordamento da cucúrbita, e a assimilação ou evaporação dos elementos corrompidos no interior desse instrumento constitui também um acidente bastante deplorável. Nunca é demais enfatizar que se os elementos não forem consagrados corretamente; ou em primeiro lugar se a força invocada não se impingir ou ficar inseguramente confinada dentro dos elementos, toda a operação poderá ser anulada. E poderá facilmente degenerar às profundezas mais inferiores, resultando na criação de um horror qlifótico que passará a existir como um vampiro atuando sobre os nãonaturalmente sensíveis e aqueles inclinados para a histeria e a obsessão. Se o elixir for adequadamente destilado, servindo como o meio do espírito invocado, então os céus serão franqueados, e os portais se voltarão para o teurgo, os tesouros da Terra serão colocados aos seus pés. “Se o descobrires, cala e o mantém sagrado. Não confia em ninguém exceto em Deus.” O problema do vínculo para ligar a operação mágica ao resultado desejado deve ser considerado em todos seus numerosos aspectos. Se a operação for daquelas que realmente exige um talismã exterior para a produção visível de seu efeito, um selo apropriado deverá ser construído de metal, cera ou sobre pergaminho. Pode ser consagrado e ungido com o elixir que foi criado através dos canais da Obra hermética. Esses selos e talismãs descritos na Chave de Salomão e em The Magus são para uma finalidade absolutamente adequada. Caso a operação proposta pelo teurgo seja pertinente às qualidades de Júpiter, um pantáculo apropriado deve ser preparado antes da operação. Durante a confecção do elixir, deve-se assumir a máscara divina de Maat e recitar uma conjuração do anjo ou inteligência necessários .

No encerramento da missa, uma quantidade minúscula do rocio superior deve ser colocada sobre o sigillum ou talismã de Júpiter, carregando-o assim de uma força insuperável para a produção dos resultados desejados. Variações deste procedimento provavelmente ocorrerão com a prática .

Não se cogita da questão de um vínculo numa cerimônia conduzida visando uma finalidade na qual o circulo e o triângulo, por assim dizer, ou o demônio e o exorcista, ocupam o mesmo plano; ou seja, quando o teurgo trabalha exclusivamente sobre sua própria consciência sem referência à qualquer efeito exterior. A missa do Espírito Santo, num tal caso, tem automaticamente seu clímax pelo consumo dos elementos carregados, a força invocada encarnando dentro do mago como fato lógico, natural. É neste tipo de operação, acho, que a missa do Espírito Santo gera a maior quantidade de força e atinge o mais alto nível de eficiência .

Mesmo para operações ordinárias, a grande vantagem deste método é que é possível dispensar o cerimonial quase que completamente. O mago pode com absoluta facilidade executar o ritual do banimento no astral e as invocações podem ser silenciosamente recitadas de modo que nenhuma magia de natureza cerimonial possa ser percebida pelo profano. No caso, contudo, de operações em que o resultado desejado existe num outro plano ou exterior à consciência do mago, os efeitos nem sempre parecem se seguir com a mesma infalibilidade e seqüência como acontece nas operações subjetivas. O exame de registros privados conservados por magos que utilizaram esse engenho mágico tendem a mostrar que seu melhor emprego é para trabalhos dentro da consciência do mago. É nestas matérias que a missa do Espírito Santo é o mais poderoso e eficaz. Para o desenvolvimento da vontade mágica, o aumento da imaginação e a invocação tanto de Adonai quanto dos deuses universais para que habitem o templo consagrado do Espírito Santo, dificilmente se pode conceber um método melhor ou mais adequado. Não implica em nenhum gasto de energia vital visto que qualquer energia assim utilizada na operação retorna ao fim ao mago ampliada e enriquecida com o nascimento da Fênix dourada, o símbolo da ressurreição e do renascimento .

O poder supremo atuante nessa técnica é o amor. Por mais banal que isto possa parecer, e por mais que esta palavra tenha se tornado vulgar, é preciso reiterar que o amor é o poder motivador, uma força de amor mantida sempre sob controle pela vontade e controlada pela alma. O poder destrutivo da espada e tudo aquilo em que implica a espada, o caráter dispersivo da adaga ou de qualquer outra das armas elementares, aqui não tem lugar. Este método, portanto, se recomenda como sendo dos mais excelentes. Visto que participa efetivamente do amor, pertence ao estofo e essência da própria vida .

Em operação essa missa é extraordinariamente simples. De fato, um mago observou que não é mais complicado do que andar de bicicleta, isto é, uma vez certas preliminares e o treinamento tenham sido concluídos. Mais do que qualquer outra coisa requer uma vontade peculiarmente potente e independente, sustentando, claro, prévia disciplina e uma mente que tenha sido treinada em concentração por longos períodos de tempo. Uma das peculiaridades dessa técnica é que a menos que se seja excepcionalmente cauteloso e alerta desde o início é coisa fácil para o mago perder o controle de seus instrumentos alquímicos e assim arruinar a operação inteira. Alegria na mera execução técnica da missa com a exclusão devido trabalho mágico constitui o grande e supremo perigo. Por outro lado, porque este elemento de prazer e alegria aqui realmente ingressa, esta técnica supera em excelência todas as demais. A mente tem que ser treinada na concentração sob todas as circunstâncias. Como uma preliminar à prática mágica deste tipo, a técnica da ioga se revela sumamente vantajosa. Pode-se até afirmar que para o verdadeiro sucesso em toda a magia é absolutamente essencial uma completa fundamentação na técnica da ioga .

Uma observação adicional não seria inoportuna. Superficialmente e à primeira vista pode parecer que entre esse tipo de operação mágica, descrito de maneira tão hesitante, e o trabalho cerimonial costumeiro há um grande hiato. É verdade que a missa do Espírito Santo constitui um avanço no funcionamento lento e embaraçoso do cerimonial, isto embora este último seja essencial no princípio do treino mágico. Este método é consideravelmente mais direto e incisivo, e devido à classe peculiar de energias que desencadeia sobre a natureza, seus efeitos são extremamente mais poderosos e de alcance bem maior do que os do cerimonial por si só. Entretanto, a despeito de subsistirem como duas categorias distintas de trabalho, podem com grande proveito ser combinadas e usadas uma em conjunção com a outra .

As autoridades alquímicas, as quais avaliaram esse método, têm como consenso geral que por mais que seja grandioso seus resultados não podem ser logrados sem a oração. Sem a oração sincera nada permanente ou divino poderia ser realizado. Por conseguinte, enquanto a operação da missa está em andamento e o fogo no Athanor se intensifica, uma invocação entusiástica, seja astral ou audível, deve ser pronunciada. É aconselhável que seja da natureza de um curto mantra apropriado à natureza e tipo do trabalho, de composição rítmica. A operação como um todo poderia ser precedida por uma invocação mais geral para legitimar o trabalho. À medida que o trabalho astral de criação progride, o mantra rítmico ajudará a formular e vivificar os moldes produzidos pela vontade e a imaginação, atraindo a força espiritual desejada. E então, quando a serpente é transferida do Athanor e a corrupção alquímica começa no glúten da águia branca, a cucúrbita será o receptáculo de uma nova substância, viva e dinâmica, contendo a marca indelével das invocações que terão dotado sua plasticidade e potencialidade de ímpeto avassalador numa dada direção. Conclui-se que se partilhando dessa substância que é o mercúrio filosófico, impregnado com uma inteligência de energia espiritual dinâmica capaz de produzir dentro dos limites de sua esfera a mudança desejada, a realização plena e satisfatória coroará a aspiração do mago .

Conduzida dentro de um círculo adequadamente consagrado, após um perfeito banimento, seguida por uma poderosa conjuração da força divina e o assumir da forma divina apropriada, a cerimônia pode se revelar detentora de poder incomparável para franquear os Portais dos Céus. Utilizando-se apenas a taça e o bastão como armas elementares, em associação com o mantra ou a invocação rítmica especializada, é raro que a missa falhe ou não produza efeito. Esta união de duas armas mágicas diferentes, bastante divorciadas como possam ter se afigurado num primeiro momento, aumenta a potência de cada uma delas já que combinam numa operação única os melhores aspectos e as maiores vantagens de ambas .

A Árvore da Vida – Um Estudo sobre Magia


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