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Martinismo

A importância do simbolismo na tradição esotérica

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por Sar Naquista

“Infeliz o homem que vê nesses textos apenas simples narrações e palavras comuns. Essas narrativas nada mais são que as vestes da Lei. Infeliz daquele que toma essas vestes como se fossem a própria Lei”.
– O Zohar, Rabi
Shimeon Bar Yohai

Um símbolo é qualquer elemento material ou abstrato que represente alguma entidade ou idéia abstrata. Este nome vem de um objeto de cerâmica chamado sumbulum que na antiguidade era quebrado em duas partes e usado como um certificado de autenticidade entre oficiais pois apenas quem portava uma das metades poderia se encaixar com perfeição nas ranhuras e contornos da outra. Essa ideia de dois elementos separados que se unem para esclarecer um ao outro persiste hoje nos diversos símbolos religiosos, seculares e esotéricos que temos atualmente. Alguns símbolos são representações gráficas de coisas da natureza como a Pomba da Paz, o Leão de Judá e o Crescente Islâmico, outros tem base na geometria sagrada e são traçados com como pontos, linhas e figuras geométricas, tal como são os símbolos astrológicos, alquímicos e matemáticos. . 

O conhecimento destes símbolos são muito importantes dentro da tradição martinista, na busca pela transformação do ser humano e em seus estudos sobre Deus e o Universos uma vez que estes e outros assuntos não podem ser expressos por meras palavras. Mas ao contemplar e interagir com estes símbolos iniciáticos temos acesso a verdades profundas que ainda que fossem possíveis de serem tocadas diretamente nos nos seria insuportável, tal como um vagalume no centro do Sol.

Símbolos que remetem a coisas concretas como o sinal de pedestres e carros são fáceis de entender, maas quanto mais abstrato a outra metade do sumbulum, mas difícil é sua representação e mais necessária sua existência em termos iniciáticos. Este é o berçário das analogias. Um tigre se torna uma forma de falar sobre o Força, uma serpente uma referência à sagacidade e um relâmpago um lembrete do Poder. Quando a abstração é tão grande que não se tem equivalente material – como a Onisciência de Deus – torna-se necessário imaginar muitas vezes de forma arbitrária algo por convenção, um símbolo que o represente. Por sua própria natureza profunda quase todos os símbolos esotéricos  são assim.

Mas esta abstração vai só até um certo ponto. Carl Jung nos falou de símbolos universais chamados de imagens arquetípicas que representam arquétipos abstratos e eternos que podem ser encontrados em toda história da humanidade. O Homem, a Mulher, a Criança, o Sábio, a Sombra, o Herói, etc.. Embora as imagens em si variam de cultura para cultura estes personagens simbólicos estão sempre presentes de uma maneira ou de outra. É o que ocorre por exemplo com o simbolismo da Árvore comum a tantos mitos da criação.

Assim podemos falar de símbolos que são criados, símbolos que são inventados e símbolos que são descobertos. Símbolos voluntariamente eleitos e símbolos que crescem por si só. Em outras palavras, símbolos criados pela mente consciente ou pelo nosso inconsciente.

Os símbolos inconsciente são bastante poderosos uma vez que nascem espontaneamente dos sonhos, visões e experiências místicas da humanidade. Robert Anton Wilson falava das mitologias como sonhos coletivos e de nossos sonhos individuais como mitologias particulares. Ambos repletos de árvores, sombras, cavernas, montanhas e animais. Assim entendemos que Mitos e Sonhos são duas formas que nossa experiência interior têm de transbordar para nossa vida exterior.

Considerou-se por muito tempo que os símbolos eram apenas a confissão de que somos incapazes de explicar as coisas de um modo racional e preciso. Contudo graças a  psicologia houve ressurgimento do interesse dos pensadores modernos pelo simbolismo e sabemos que as coisas não são tão simples assim.

Ao lado de Jung o trabalho de pesquisadores como o mitologista Joseph Campbell e o filósofo romeno Mircea Eliade foi muito importante para mostrar que esse símbolos oníricos e mitológicos não são apenas criações sem sentido, mas muito pelo contrário, possuem um sentido muito elevado que nos permite lidar com aspectos da realidade que escapam ao pensamento vulgar. Símbolos são assim como embaixadores do invisível no mundo visível, como escadas de Jacó ligando a terra ao Céu. Fica assim fácil de entender sua alta relevância nas iniciações.

Na perspectiva martinista o símbolo é o elemento que permite transmitir a nossa consciência ideias que nosso raciocínio ainda não está capacitado para perceber devido a nossa condição espiritual atual da humanidade. Ao interagir com eles e contemplá-los, os símbolos entregam à alma aquilo que o intelecto ainda não tem condições de processar.

Desta maneira podemos aos poucos expandir nossa consciência e daqui da matéria acessar realidades espirituais muito profundas. Enquanto a via da razão tenta colocar todo universo dentro de si em caixas fechadas, o símbolo nos abre e nos coloca dentro deste todo. Como Eliade discute em sua obra, os símbolos nos permitem uma livre circulação por todas as camadas da realidade.

Desta forma os símbolos participam de nossa evolução espiritual no sentido de que não se limitam a apenas representar uma ideia ou qualidade: essa é apenas a ponta do iceberg. Junto dele o símbolo trás todos os aspectos misteriosos por trás dessa ideia. Desta forma nos leva a mundos superiores e  níveis de consciência mais elevados e nos transforma por dentro. Por essa razão é sempre arriscado em termos iniciáticos reduzir um símbolo a uma explicação fechada e dogmática.

Um símbolo esotérico deve ser contemplado e não consultado em um dicionário. Aqui se percebe também porque o segredo em torno de símbolos ocultos não é algo sensato. Os mistérios divinos não são como receitas secretas ou códigos cifrados. Na via do coração apenas o acesso direto aos símbolos é capaz de nos levar a aquilo ao que estão ligados. E se Deus é a meta da iniciação, quem poderia defini-lo ou escondê-lo? Não deveria nunca ser uma preocupação esconder e ocultar informações místicas justamente porque Deus e suas leis não podem ser diretamente acessados pelo discurso da mente objetiva.

Desta forma, desde a antiguidade a às narrativas simbólicas são indistinguíveis da experiência religiosa. “A Arca de Noé”, “Os Doze Trabalhos de Hércules”, “A Rebelião de Lúcifer” são apenas alguns dos nomes mais conhecidos de uma verdadeira avalanche de imagens espirituais a nossa disposição. O grande perigo aqui é tentar ler essas histórias com os olhos do mundo material e não compreender que muitos dos eventos e personagens dessas narrativas não podem ser encontrados no nosso tempo linear, mas sim fora do espaço-tempo a qual estamos acostumados. Termos como “Na Época dos Deuses”, “Era uma vez..” “No Princípio”. “No Tempo Sagrado”, “Na Era de Ouro”, “No Tempo Primordial” são formas de se expressar esse tempo não-linear onde as coisas realmente importantes estão sempre acontecendo.


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