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Visão 3: O Fluxo Flamejante de Unidade Interior – A Experiência Psicodélica

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(Olhos fechados, estímulos exteriores ignorados, aspectos emocionais)

 

as instruções do Primeiro Bardo devem mantê-lo(a) face a face com o êxtase-de-vazio. Ainda existem classes de homens que, tendo carregado conflitos cármicos a respeito de inibições de sentimentos, mostram-se incapazes de manter a experiência pura além de quaisquer sentimentos, e escorregam para visões de caráter emocional. A energia indiferenciada do Primeiro Bardo é tecida em jogos visionários na forma de sentimentos intensos. Pulsantes, estranhas e intensas sensações de amor e unidade serão sentidas; o equivalente negativo são sentimentos de afeição, cobiça, isolamento e preocupações com o corpo.

 

A coisa vem mais ou menos assim: o fluxo puro de energia perde sua qualidade nula e torna-se perceptível como sentimentos intensos. Um jogo emocional é imposto. Novas e incríveis sensações físicas pulsam através do corpo.  O brilho da vida é sentido fluindo pelas veias. A pessoa dilui-se num oceano unitivo de eletricidade fluida orgástica [A Deidade Pacífica do Bardo Thodol personificando esta visão é o Buda Amitabbha, a sabedoria e sentimento todo-criteriosos, luz ilimitada, representando a vida eterna. O Lama Govinda escreve que “A luz vermelho-escura da criteriosa visão interior, brilha do seu coração (…) o fogo corresponde a ele e assim, de acordo com o antigo simbolismo tradicional, ao olho e à função da visão.” (Govinda, op. Cit., p.120). com o Bhagavan Amitabbha vem o Bodhisattva Chennazee, corporificação da compaixão e piedade, o grande piedoso sempre alerta para descobrir a angústia e socorrer quem está com problemas. Ele é acompanhado pela Bodhisattva “A Gloriosa de Voz Gentil”, e a mulher encarna a “música” e a “luz”.], o fluxo infinito de vida compartilhada, de amor.

 

Visões relatadas a respeito do sistema circulatório são comuns. O sujeito cai em sua própria rede arterial. O motor do coração reverbera com a pulsação da vida. O coração pára então, e o fogo rubro sangra para fundir-se com todos os seres vivos. Todos os organismos vivos estão vibrando juntos. Se está alegremente consciente da dança sexual elétrica de dois bilhões de anos de duração; se está por fim livre de roupas e membros robóticos e ondula-se na infinita corrente de formas vivas. Dominando esse estado extático está o sentimento de amor intenso. Você é uma parte alegre de toda vida. A lembrança das antigas desilusões da individualidade e diferenciação provoca gargalhadas exultantes. Toda a angulosidade dura, seca e frágil dos scripts de vida derrete-se. Você deriva – suave, úmido(a), quente. Fundido(a) com a vida. Você sente a si mesmo flutuando num mar quente. Sua individualidade e autonomia de movimentos estão desaparecendo umidamente. Seu controle capitula perante o organismo total. Feliz passividade. Unidade ondulante, orgástica, extática. Todas as preocupações são varridas para longe. Tudo é recebido ao mesmo tempo que é dado. Há revelação orgânica. Toda célula do seu corpo está cantando uma canção de liberdade – o universo biológico inteiro está em harmonia, libertado da sua (de você) censura e controle e de suas restritas ambições.

 

Mas espere! Você, você… está desaparecendo na unidade. Está sendo arremessado(a) pela ondulação extática. Seu ego, aquele único e pequenino fio remanescente do self, grita: PARE! Você está terrificado(a) pela atração da radiante luz vermelha, transparente, ofuscante, gloriosa. Você se torce e sai do fluxo vital, puxado por sua intensa afeição por seus antigos desejos. Há uma terrível sensação quando suas raízes o separam da matriz vital – um rasgar de suas fibras e veias arrancadas do corpo maior ao qual você estava amarrado(a). E quando você tira a si mesmo(a) do fluxo flamejante de vida a vibração pára, o êxtase cessa, seus membros endurecem e enrijecem em formas angular, seu corpo de boneco de plástico recupera sua orientação. Então você se senta, isolado(a) do fluxo da vida, mestre impotente dos seus desejos e apetites, miserável.

 

Enquanto você vai deslizando pelo rio evolucionário, vem uma sensação de ilimitado poder individualizado. O deleite do fluir do pertencer cósmico. A descoberta estarrecedora de que a consciência pode sintonizar-se a um número infinito de níveis orgânicos. Há bilhões de processos celulares no seu corpo, cada qual com o seu universo de experiência – uma variedade sem fim de êxtases. As simples alegrias e dores e responsabilidades do seu ego representam um conjunto de experiências – um conjunto repetitivo e empoeirado. Quando você escorrega para o fluxo flamejante de energia biológica, séries e mais séries de conjuntos experienciais passam diante de seus olhos. Você não está mais enclausurado(a) numa estrutura de ego e tribo.

 

Mas através do pânico e de um desejo de encerrar-se no âmbito familiar, você interrompe o fluxo, abre os olhos; então a fluidez se perde. A potencialidade de se mover de um nível de consciência a outro se vai. Seu medo e o desejo de controlar o(a) levaram a instalar-se num sítio estático de consciência. Para usar a metáfora oriental ou genética, você congelou a dança da energia e comprometeu a si mesmo(a) a uma nova encarnação, e fez isso por causa do medo.

 

Quando isso acontecer, existem vários passos que podem levá-lo(a) de volta ao fluxo biológico (e dele para o Primeiro bardo). Primeiro, feche os olhos. Deite-se sobre seu estômago e deixe seu corpo descer pelo soalho, fundir-se com o que está em volta. Sinta as extremidades quadradas e duras do seu corpo amolecerem e começarem a se mover no fluxo sangüíneo. Deixe o ritmo da respiração transformar-se num marefluxo. O contato corporal é provavelmente o método mais eficaz de amaciar superfícies endurecidas. Sem movimentos. Sem jogos corporais. O contato físico com outro invariavelmente traz de volta a unidade do fluxo-flamejante. Seu sangue começa a fluir no sangue de outro. A respiração dele(a) joga ar em seus pulmões. Vocês dois derivam no ria capilar.

 

Outra forma de imagens do fluxo vital é o fluxo de sensações auditivas. A série infindável de sons abstratos (descritos na visão anterior) atravessa a consciência. A reação emocional a eles pode ser neutra ou pode envolver sentimentos intensos de unidade, ou de medo e aborrecimento.

 

A reação positiva ocorre quando o indivíduo funde-se com o fluxo sonoro. A batida surda do coração é sentida como um hino básico da humanidade. O som da respiração como o correr do rio de toda vida. Sentimentos irresistíveis de amor, gratidão e unidade se misturam no instante do som, dentro de cada nota do concerto biológico.

 

Mas, como sempre, o viajante pode intrometer-se com sua personalidade e as vontades e opiniões dela. Ele pode não “gostar” do barulho. Seu ego ajuizador pode ficar ofendido pelo sons da vida. A batida do coração é, afinal, monótona; a música natural do ouvido interno, com seus cliques e zumbidos e assobios, carece da simetria romântica de Beethoven. A terrível separação de “mim” do meu corpo ocorre. Horrível. Fora do meu controle. Desligue isso.

 

O guia treinado normalmente é capaz de perceber quando a ego-afeição ameaça puxar a pessoa para fora do fluxo unitivo. Nesse momento ele poderá guiar o viajante lendo estas intruções.


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