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Muito se tem discutido atualmente a respeito da passagem de aeons e da implicação subseqüente da noção de sacrifício religioso. O princípio de abstinência cristão nunca fora tão questionado e julgado; sendo sua prática cada vez mais delimitada a padrões de grupos específicos norteados pelo fanatismo. Porém a Roda ainda gira e seu fluxo dinâmico não permite exclusão, embora implique necessariamente em transformação. Este seria então o ponto crucial de uma explanação intencionada a discorrer sobre a mudança de perspectiva no que se refere à entrega do eu à sua expressão máxima, enquanto individualidade única, no caminho que leva à santificação, cujo verbo sacrificar é a máxima expressão, significando etimologicamente “tornar santo”.
Dentre todos os preceitos já aceitos e estimulados à exaustão pelas instituições decadentes que ora representaram a glória opulenta do sistema antigo, o sacrifício representa a essência do equilíbrio vital de uma conduta moralmente estabelecida como instrumento de manutenção de uma ordem regida pela hipocrisia intencional de escrúpulos distorcidos e adaptados à cegueira conveniente das castas inferiores. No entanto, devemos nos manter na idéia da origem extremamente elevada de sua noção primordial enquanto fonte de beleza divina emanada do sacrifício do eu à pura consciência da mente interior individual. A criação se fundamenta no sacrifício do criador por necessidade intrínseca de transmutação do fluxo vital de cuja morte é gerada a vida.
A esfera do sacrifício tem como atributo a luz solar resplandecente mostrando sua relação análoga e direta com Thelema (Vontade) e o número 93. Na realidade, sacrifica-se o eu em nome da Vontade, para que este seja então a luz e a sombra unidos em luxúria como que a morte de si mesmo em prol da salvação à medida que Babalon se torna mais nítida e presente fornecendo o líquido de sua própria vida para os ritos de cura e morte. O dogmatismo envolvendo o arquétipo cristão tem como oculto a expressão deste símbolo de poder e negação que agora se revela na mudança de eras, por onde nossa concepção se torna nítida como centros de força e fraqueza, sendo nossa responsabilidade enquanto luz e sombra o desvelar do véu cristão em nome da Real Vontade e a subseqüente degeneração da moral enquanto ilusão de si mesma: escravocrata, pestilenta e doce em sua podridão. Jesus Cristo nada mais é do que o Filho prestes a “regredir” em bebê e adentrar a esfera que não é esfera: daí o nome Jeovah Eloah Va Daath. Enquanto este adentra os túneis para que seja degolado e transmutado de resultado da procriação em fertilizador, tem em sua morte o sacrifício da potência do órgão sexual em Nossa Senhora Babalon, a sacrificadora. Tipheret e Chokmah são ações cujo pivô é Babalon, a Deusa e o feminino, que é Satã, ou Shaitan.
Extremamente importante então é o entendimento no que concerne este fator sexual andrógino de castidade e luxúria que envolve a figura solar de Tipheret como expressão fálica máxima de algo que espera a morte certa para renascer em sua essência mais pura; juntamente potente e passivo ante a força da constrição, e reflexo no ser da serpente primordial (Set enquanto expansão). A submissão à própria potência representa a mais honesta entrega do ser imperfeito ante sua essência da qual ele nada mais é do que reflexo, daí surgido enquanto alma divina, enquanto besta inquebrável, na totalidade do sol que é 666.
Levando-se em consideração que nós enquanto humanos moldamos o divino à nossa vontade, e que tal premissa de divinização fora transferida para uma noção exotérica sob o intuito; extremamente hábil, devemos admitir; de vampirização em massa favorecendo a interesses nada “castos” segundo a própria visão cristã de controle e usufruto da energia divina que é nossa por direito, percebemos a verdade por trás da ilusão político-religiosa de nossos antepassados recentes enquanto instituição mundana. Se quisermos conquistar o mundo dos mortos, devemos então seguir os passos de Osíris, sacrificando-o e entregando-o a Ísis para que esta se encarregue de sua ressurreição, sendo nossa Vontade hábil para tal. Esta é a era de Hórus enquanto filho, o vingador que desceu ao abismo e, retornado sob a égide da Phoenix, veio assumir o trono de Ra para o apropriado sacrifício de nós mesmos na afirmação da dupla baqueta de poder em Set e Shaitan. A totalidade resumida na grafia do inexprimível YHVH; onde o uno e o binário são, quando da sua junção com o ternário, o quaternário; oculta a profundidade do quinto elemento Shin que, intercalado a YHVH, gera o nome Jeheshua, nome original em hebraico de Jesus.
Embora o dogmatismo nos tenha privado daquilo que possuímos como seres divinos por direito enquanto Universo organizado em átomos análogos a Galáxias, temos como dever a compreensão de que a afirmação do sacrifício de Jeheshua como ato de salvação em prol da Humanidade é a mais pura Verdade, já que este salvou sua própria Humanidade. Afinal, não apelamos nós sempre à pequena morte com o intuito de perpetrar a vida de nossa espécie visando a própria salvação?
Therion, a Besta, vem como a libertação da consciência solar há tanto restrita ao desequilíbrio em um pilar onde não pertence; plena em si mesma, a Besta traz a nós nada mais do que nós mesmos para que através dela cheguemos a ser o que éramos, já não somos e quiçá seremos: Deus, Ehieh enquanto Samadhi. Sendo ela a Vontade una no amor de Babalon, a Mulher Escarlate do Apocalipse de São João, temos aqui o significado da Lei em seu enunciado complementar: Amor é a lei, amor sob Vontade.
A perspectiva de dedicação à Obra como recompensa alcançada através do esforço vem a reforçar a noção do sacrifício individual como único meio pelo qual se conquista a Iniciação. Enquanto na visão distorcida da era que se passou a súplica à espera de um reconhecimento era a forma da iluminação, nesta conta-se apenas com a Vontade como transmissora da luz divina emanada do Criador, num contato direto com a Estrela-Cão, Sírius, que é Sothis. Tão bem sabiam disso os mestres do Templo de Set no antigo Egito. Este deus que fora relegado à maldição por seus detratores que vinham como arautos da então futura era de Peixes, representava a força tântrica do Eu Divino Interior, ou Sagrado Anjo Guardião, enquanto libertador e afirmador do direito ao conhecimento absorvido de outras dimensões, sendo o coração do magista. Shiva e Shakti (ou Kali) são exemplos que podem ser citados como aspectos tântricos do Vamamarga, o Caminho da Mão Esquerda, representante Oriental do que o Ocultismo significa para os Ocidentais. Mais uma vez percebe-se a conexão de Chokmah (Set, a Serpente) com o Eu Superior, filho de Chokmah e Binah, Shiva e Shakti:
“Agora vós sabeis que o sacerdote e apóstolo escolhido do espaço infinito é o sacerdote-príncipe, a Besta; e em sua mulher, chamada a Mulher Escarlate, está todo o poder dado. Eles reunirão minhas crianças em seu cercado: eles levarão a glória das estrelas para os corações dos homens.” – Liber Al vel Legis (I, xv)
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