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Amprodias (Os Túneis de Set)

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Por Kenneth Grant, O Lado Noturno do Éden.

 

O DÉCIMO-PRIMEIRO caminho ou kala é atribuído ao elemento Ar e seu aspecto negativo é o demônio ou sombra conhecido como Amprodias cujo sigilo é dado aqui e cujo número é 401. Esta sombra pode ser evocada vibrando-se o nome Amprodias na clave de ‘E’479. O sigilo deve ser pintado em amarelo pálido luminoso em um quadrado baseado em esmeralda(?) manchado com dourado.

 

401 é o número do Azoto que significa a ‘soma e essência de tudo, concebido como Um’. Em sua fase negativa esta essência é concebida como Nenhuma e é o Vazio do qual procede a manifestação 480. A natureza deste vazio é também 401 como ATh, a palavra hebraica significando ‘fora de’; sua raiz é o Ut egípcio, portanto útero, o portal da saída. É fora do útero do Ain, via Kether, que a manifestação é emitida.

 

O sigilo de Amprodias exibe uma boca aberta típica do útero que pronuncia a Palavra. Esta Palavra é a Luz Oculta, cujo símbolo é a cruz rodopiante ou suástica. Ele é idêntico à letra A ou aleph, a letra atribuída ao décimo-primeiro caminho. No grimório mágico CCXXXI, o seguinte verso pertence a este kala:

 

A, o coração de IAO, reside em êxtase no local secreto dos trovões. Entre Asar e Asi ele habita em júbilo.

 

Os Túneis de Seth.

 

O raio, ou dorje, é a arma do suporte do relâmpago da Luz Oculta que risca para baixo a partir do vazio, reificando tal como este faz a terra ou matéria. O número 401 é também aquele da palavra ARR que significa ‘amaldiçoar’. Ele é a maldição primal do Fogo do Espírito aprisionado na forma corporal, descrito nos Livros Sagrados ‘a Injustiça do Começo’481, o começo sendo considerado como Kether, através da qual cintilam os raios do Ain ou Olho do Vazio.

 

Os animais atribuídos a este kala são a Águia e o Homem. O Homem representa a mais elevada forma incorporada da divindade; a Águia é aquele querubim do Ar que penetra os mais altos éteres na forma de inteligência: i.e., consciência dirigida por vontade extra-terrestre ou ‘divina’. Contudo o significado íntimo deste caminho está resumido no poder mágico do décimo-primeiro kala que é aquele da divinação. Isto depende do aspecto divino ou supra-mundano do espírito que cintila para dentro do útero e fecunda a terra virgem com Luz (inteligência) desde além do último Pylon (Kether). Poder divinatório é o aspecto intuitivo da inteligência e como tal seu curso é tão imprevisível quanto o relâmpago bifurcado que penetra o útero do espaço e se manifesta como o trovão. – o A entre o I e o O482. O mistério do trovão é explicado no CCXXXI. Aqui, a suástica do décimo-primeiro caminho é comparado com o fulgor do caminho 28 (q.v.) que contém o mistério da transformação da santa virgem. Ela aparece ‘como um fogo fluídico, transformando sua beleza em um raio’ (i.e., uma suástica). Isto simboliza a “Força que restaura o mundo arruinado pelo mal’, i.e. pela maldição primal ou Injustiça do Começo.

 

No plano mágico, o poder divinatório se manifesta no irracional, dessa forma os maiores mestres da Magia(k) traficam constantemente com as energias do décimo-primeiro kalas. O elemento irracional aparece tão fortemente nos magistas que utilizam este kala que seu trabalho não tem sido frequentemente levado a sério ou tem sido completamente negligenciado. Um exemplo recente é H.P.Blavatsky, cujas excentricidades lançaram tal dúvida sobre a autenticidade de sua obra que poucos na sua época foram capazes à estimá-la em seu verdadeiro valor. Similarmente, as palhaçadas de Crowley o colocaram em uma categoria ainda mais duvidosa. Poucos deveras compreendem que o décimo-primeiro caminho é aquele do Louco que dança à beira do abismo, como retratado no trunfo de taro atribuído à este caminho. Salvador Dali, cujas brincadeiras práticas são notórias, também às vezes trouxe descrédito sobre sua arte, embora muitas pessoas fiquem impressionadas pela riqueza que sua arte acumulou. O ocultista Gurdjieff também cai nesta categoria483. Seu livro Cartas a Belzebu tem sido descrito como uma piada prática complicada, então, novamente, obscurecendo deliberadamente a importância vital de um ensinamento que é compreendido apenas pelos poucos. Cristo também não falou em parábolas de forma que ele não fosse compreendido?484

 

A nota principal da escala musical atribuída a Amprodias – ‘E’ – é, como Hé, a letra do útero da virgem impregnado pelo Louco485. De acordo com isto, o Rio do Submundo atribuído ao décimo-primeiro kala é o Acheron, que recebe espíritos como o útero recebe o relâmpago criativo. O arqui-demônio deste caminho é o próprio Satan, Senhor dos Poderes do Ar (aleph) através do que o raio traceja.

 

Onze é o número atribuído à zona de poder (Daäth) dentro do abismo. A cor atribuída a Daäth é o Lavanda, ou Violeta Pura, que tipifica a cor além do espaço que vibra em uníssono com o kala ativado pela evocação de Amprodias. Ela é a cor do Louco; aquele que está fora do alcance da inteligência normal. A negação da razão que tipifica seu estado de consciência é consoante com o lado positivo deste caminho que é atribuído àquela parte da alma conhecida como a Ruach, ou Razão. Mais corretamente, a ruach é a respiração do espírito, a semente rodopiante que impregna a virgem do espaço e faz nascer inúmeros mundos.

 

O órgão corporal correspondente a este simbolismo é o nariz, o órgão da respiração e o veículo do sentido olfativo. Esta atribuição ajuda a explicar os fenômenos olfativos conectados às operações ‘satânicas’. O fedor do incenso empregado em ritos medievais era o véu grosseiro e externo de um fato espiritual interior. Portanto, uma das armas mágicas associadas a este kala é o abanador, que dispersa os vapores fétidos que envolvem o mago assim que ele evoca o demônio deste kala. Porém o instrumento principal é a adaga do ar, isso quer dizer a arma que rompe o hímen do éter virgem (representado pelo Ovo Negro do Espírito) e exibe a deidade terrível além da margem do ‘universo’; aquele que está sentado no Centro de Tudo, o deus louco celerado por Lovecraft sob o nome de Nyarlathotep486, o deus rodeado por ‘tocadores de flauta idiotas’.

 

A flauta é a Flauta de Pan, e aquele que ergue este véu e perscruta além é desprovido de razão e senso. Em outras palavras, ele vê a verdade das coisas em seu brilho nu e ele percebe que aquilo novamente é nada mais que um véu do sacramento primitivo alcançável apenas através da suprema fórmula da aniquilação, pois este é o caminho final, que conduz – via Kether – ao Grande Inane (Ain).

 

Onze, sendo o ‘número geral da Magia(k), ou Energia tendendo à mudança’487, o décimo-primeiro caminho representa particularmente o caminho da reversão e o ponto da volta do mais próximo para o outro lado da Árvore.

 

A enfermidade típica do décimo-primeiro caminho é o ‘fluxo’, que em termos mágicos é expressado como descargas desequilibradas ou ‘intempestivas’ da energia lunar. Este é portanto o kala do Sangue da Lua Negra. Ele adverte sobre um vazamento de fluido vital que, ao transbordar, forma um resíduo de energia mágica desequilibrada. Isto cria fantasmas que aparecem na forma de Silfos; elementais associados ao ar ou éter. Como as fadas e os duendes dos contos infantis eles são, mais frequentemente que não, retratados como criaturas diáfanas e enganadoras. Mas no aspecto no qual eles se manifestam no lado negativo da Árvore, eles assombram as terríveis brechas do espaço interior onde eles aparecem em feições de extremo horror que obsedam o mago e muitas vezes o deixam literalmente fora de si. Então eles invadem o espaço desocupado e, como sanguessugas, drenam o sangue de sua mente488 para dentro de seus próprios organismos. Esta é a origem dos mitos relacionados a magos aprisionados no espaço exterior489, suas mentes segregadas em celas transparentes que flutuam através dos golfos do vazio como imensas bolhas, aumentando em tamanho e luminosidade enquanto os silfos invasores extraem mais e mais energia vital dos fluxos que atacaram o imprudente invasor neste caminho.

 

Estas criaturas foram vagamente sentidas por Lovecraft490. Ele as descreve como ‘entidades sem forma compostas de uma geleia viscosa que pareciam como uma aglutinação de bolhas’491. Uma descrição similar é aplicada à semi-entidade Yog-Sothoth. A passagem é citada em O Renascer da Magia (p.116) onde a atenção é dirigida à grande similaridade entre o fenômeno descrito e a esfera de globos iridescentes incorporados por Crowley no desenho de seu pantáculo mágico pessoal onde elas aparecem por trás do Pentagrama de Set invertido.492

 

As maiores iniciações sozinhas podem conferir imunidade contra estes vampiros que navegam com asas cintilantes. O conhecimento das fadas tem ocultado estas criaturas com véus de encantamento que ocultam o horror de suas perseguições e contata com os habitantes dos sistemas alienígenas de consciência nas regiões mais inferiores do cosmo. Arthur Machen, o escritor galês que sabia mais sobre estes assuntos do que ele se preocupava em admitir, nota esta propensão do estudioso das fadas em caiar estes seres aéreos e retratá-los como entidades justas.493

 

O título do trunfo de taro atribuído ao décimo-primeiro kala é o ‘Espírito do Éter’. No lado mais próximo da Árvore este espírito é mais resplandecentemente belo e luminoso do que as palavras podem descrever, mas seu reverso ou reflexo é tal como acima descrito; assim também são as bolhas sopradas pelo Louco do Taro em sua louca carreira à margem do abismo.

 

O número de Amprodias se concentra em 5, o mais misterioso e místico dos números no cosmos, e além deste. Lovecraft494 indica a respeito das influências que ele denota quando ele alude à ‘quíntupla tradição matemática dos Antigos’ e suas estruturas de ciclope e moradas baseadas na forma da estrela de cinco pontas. No AL, I,60, Nuit descreve seu símbolo como “A Estrela de Cinco Pontas, com um Círculo no Meio, & o círculo é Vermelho. Minha cor é o negro para o cego… ‘ Todas estas ideias pertencem ao décimo-primeiro caminho495. O círculo vermelho é a lua ‘negra’ ou lua de sangue, os cinco pontos ou raios da estrela são as vibrações vaginais da mulher durante o derramamento de cinco dias. A estrela de cinco pontas é também o glifo dos Antigos transcósmicos; e o ‘Ovo do Espírito’496 é ‘negro para o cego’, ou aqueles cujos olhos espirituais não estão abertos e que são, portanto, como a virgem que mais tarde assume a forma de ‘fogo fluido’ como o relâmpago.

 

O conceito africano de Afefe tem sido atribuído ao décimo-primeiro kala 497. Afefe é ‘o vento’, e é precisamente aqui no mais primitivo simbolismo conhecido que nós descobrimos a identidade da serpente como um símbolo de potência criativa, a ruach ou espírito. Afefe tornou- se o Apep ou serpente Apap dos Mistérios Draconianos no Egito. O Afefe-Apophis é também a origem do Verme Fafnir da mitologia Nórdica e, como Massey mostrou, um derivativo moderno é nossa palavra ‘puff’, ‘estourar’ no sentido de tornar-se grande, inchado, entumecido ou grávido. O Afefe africano revela portanto a força ‘protuberante’ ou ondulante do vento que é a rajada ou espírito que se tornou – em um retrocesso posterior dos Mistérios – o Espírito Santo que impregna a virgem na forma da Pomba, o pássaro típico do ar. Isso é mais adiante confirmado pelo fato de que o gênio do vento, do qual Afefe é o ‘mensageiro’, reside no grande templo de Legba, a divindade fálica africana que nos cultos posteriores foi equacionado com o mal devido à sua conexão com os mistérios do sexo.

 

A letra ‘A’ na fórmula IAO é idêntica com Apophis e é o campo de operação no qual as energias mágicas do I e do O (o phallus e a kteis) se polarizam e realizam sua função criativa.

 

479 Este som deve se elevar a partir de um sussurro escassamente audível até um silvo penetrante como o ar sendo forçado ao longo de um tubo estreito.

 

480 A manifestação pode proceder apenas da não-manifestação. Esta declaração de uma verdade óbvia deve ser percebida, ela é a verdade mais profunda do caminho místico e a plena compreensão desta confere a chave da Iniciação definitiva. (ao lado, ilustração dos 22 Caminhos na Árvore)

 

481 Vide Liber VII, v.42; Liber LXV, iv.56, e em outras partes.

 

482 A fórmula de IAO foi analisada em Aleister Crowley & o Deus Oculto (capítulo 7).

 

483 Vide o excelente estudo de David Hall sobre Crowley e Gurdjieff.

 

484 Lucas, 8, 10.

 

485 Vide O Livro de Thoth, de Aleister Crowley.

 

486 O deus ‘sem face’. Cf. o ‘sem cabeça’ do texto Greco-Egípcio usado por Mathers em sua tradução da Goetia.

 

487 777 Revisado (Crowley).

 

488 Matéria mental ou chittam.

 

489 Vide página 255.

 

490 Lovecraft chamava estas bolhas de shoggoths. Existe uma palavra similar na língua caldaica, viz.: shaggathai. O Beth Shaggathai era a Casa de Fornicação, e isto sugere os semitons sexuais contidos no nome da ‘geleia viscosa’, ou lodo, que é o veículo primitivo da semente criativa.

 

491 Nas Montanhas da Loucura, Lovecraft, p.63.

 

492 Este pantáculo é reproduzido em O Renascer da Magia na pág.52.

 

493 Vide O Povo Branco (Machen), Introdução.

 

494 Nas Montanhas da Loucura (Lovecraft), p.86.

 

495 ‘Meu número é 11, como todos os seus números que são de nós.’

 

496 O símbolo de Akash ou Espaço é um Ovo Negro; isto também tipifica o Espírito.

 

497 Vide Cultos da Sombra, p.30.

 

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.


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