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Há algum tempo pessoas tem discutido a diferença entre o Luciferianismo e o Satanismo. Fóruns foram abertos, diálogos expostos, divergências alardeadas! De modo que pareceu formar-se um pelotão de fuzilamento a todos aqueles que mantivessem uma visão confluente destas duas vidas, que na realidade são uma só! Este ensaio visa conciliar e sanar esta encruzilhada crucial e preponderante…
O primeiro ponto que devemos expor sobre isso é o fato do Luciferianismo cultuar a figura de Lúcifer e o Satanismo cultivar a figura de Satã. Temos aqui a primeira diferença. Agora cá entre nós, se ambos os míticos seres evocam um simbolismo análogo e sincrético, como podemos afirmar que se trata de diferenças reais?! Não são dois nomes diferentes para uma mesma “divindade” e “energia”?! Assim como Ísis que tinha em si centenas de aparições, como o arquétipo da grande mãe universal?!
Satã é um nome peculiar que remonta na realidade ao Deus Egípcio Seth, o arquétipo da consciência de si (Selfiana) que todos guardamos em nós, imanentes. Lúcifer, por outro lado representa a Mônada, a essência divina em nós. O Portador da Luz que ilumina as mentes da humanidade. Satã é o fogo ao passo que Lúcifer é o ar! Eles não se alimentam mutuamente?! O fogo pode existir sem o oxigênio?! Mais uma vez, onde está a distinção de uma via e outra?! Não são arquétipos em comum?!
Alguns argumentam que o Satanismo é uma via idólatra, que cultua a figura de um papa, com corolários mais que argamassados. Entretanto, nada poderia estar mais longe da verdade, pois o satanismo é totalmente Libertário neste sentido! Sustentam ainda, destarte, que é uma via que endossa a histeria do ser humano como um super-herói, sendo necessariamente superior ao seus “semelhantes” e a expressão mais sórdida do reino animal por outro lado! Hora, sabemos muito bem que o Luciferianismo também advoga a excelência em seus padrões e também prima por uma busca pela auto-perfeição, pela magnificência, ao passo que tem a premissa de se aceitar enquanto ser humano, de ter níveis realistas de auto-análise. Esta não é uma busca símile em cada uma destas ideologias?!… Acaso o Satanismo não conclamou a derrota da ilusão da egolatria em suas premissas?!
Um aspecto que muitos utilizam para distinguir um viés do outro é justamente a crença em Deus e no Diabo, a forma como eles encabeçam estes aspectos em suas filosofias. Pois bem, se alguns são ateus e outros agnósticos e outros ainda deístas, todos sabemos. A questão é identificar que diferença isso faz no “conjunto” que se demonstra à nós!
Ser ateu não é um estigma ao qual o Satanismo tenha de carregar, mesmo que alguns de seus representantes alteiem-no mais alto a ponto de beirar a vertigem. O Satanismo não pode se resumir a este ou aquele concidadão apessoado, por mais talentoso que seja, pelo contrário, é uma ideologia livre deste fardo, tanto quanto o é o Luciferianismo! Acaso haveremos de negar que existem Luciferianos que são tão incrédulos quanto qualquer “Satanista Moderno”?! Outro disparate, aliás, que se arraiga em nossa sociedade!
Muitos movimentos sustentam que existem grupos tradicionais, agora nenhum deles carrega uma patente legítima em seus estandartes, apenas pretenções, é isso que temos! Pretenções! O Satanismo é um fenômeno universal que existia no passado tanto quanto no presente, isso quando falamos de Essência, pois o “Papel do Adversário” sempre se fez unânime em toda História! Há aparições dele aos quatro cantos do mundo, vestígios de seus rastros é só o que existe!
Doravante, se a problemática do âmbito Tradicional e Moderno não é suficiente para firmar uma distinção de um movimento e outro, o que será então que nos resta para auferir?! Tratar-se-á do fato de Lúcifer remontar à Grecia Antiga, estar aliado ao mito de Prometeu, do Demiurgo e por isso não estar aprisionado à ótica da Idade das Trevas?! O Satanismo também não é pré-cristão acaso?! Ambos os movimentos não lidam com o imaginário medieval que nos circunda até a presente data?! Não se nutrem dele para ser um movimento contra cultural por natureza?!
O que poderemos dizer então do aspecto devocional?! Lúcifer e Satã ainda são seres distintos não é mesmo?! Então, está é meramente uma particularidade de cada um. Adotar o simbolismo particular de uma “heráldica” é uma possibilidade que cabe ao adepto, exclusivamente! O Satanismo foi o primeiro a dar o exemplo cultuando o panteão demoníaco como um todo, e de ter quatro príncipes infernais ao invés de um só mandachuva! O mesmo por sua vez não poderia ter surgido como “Luciferianismo” em seus primórdios, faz alguma diferença afinal?! A questão que levantamos é que o termo Satanismo sempre foi mais famoso e impactante, ao passo que o termo Luciferiano não era tão utilizado assim!
O fato é que outros podem surgir com um tal de Belialismo, ou Leviatanismo, ou Belzebuísmo… Isso fica bem claro no caso da utilização do Altar Satânico, onde muitos dos seus devotos orientam-no para o norte (Belial) ou mesmo para o oeste (Leviatã) ao invés de firmá-lo no sul (Satã)! Tal aspecto é subjetivo e não importa tanto assim! O Importante mesmo é que todos eles lidam com o sinistro, com a noite, com a glória magistral da Escuridão! São epítetos que velam o mesmo mistério, todos estão fadados à se confrontar com seus demônios e diabos!
Se o Luciferianismo tem em Prometeu o contato com o Sol, em seu aspecto matutino (A Estrela D´alva), Satã tem em Seth a força que o mantém atrelado à dinâmica Ísis (Lua-Mãe), Osíris (Sol-Pai) e Hórus (Filho)! Ele é o mágico silêncio que movimento a grande dialética do princípio masculino e feminino, por isso mesmo também é solar em si, tanto quanto o Lúcifer o é! Seth mata Osíris, que representava o antigo reinado patriarcal; Ísis o recolhe em seu ventre, quando então surge Hórus, o filho do sol e da lua! Um arquétipo perfeito do Tao! Satã neste caso não é Luciferiano?!
A problemática de existirem Satânicos que se pautam no Bestiário Cristão não invalida a premissa desta Ideologia como um todo, por sua vez. Afinal, a mesma coisa pode acontecer no Luciferianismo! Grupos cultuando a figura de Lúcifer à lá Cristianismo Invertido, tendo em Lúcifer o seu Grande Mestre da Noite, do Profano Sabá! E isso existe de fato, como é o caso do sincretismo existente em cultos afrobrasileiros!
Agora nos contem, porque o Luciferianismo pode se dar ao luxo de ser imune à tal problema e o Satanismo não?! Não estamos desvelando agora um acordo que não partiu de nós, Satanistas, mas de déspotas ridículos e miseráveis?! Que intentam nada mais que empossar o archote da luz em seus berços imundos de trevas literais! O Templo de Seth não é um exemplo nítido de que o Satanismo pode ser tão Luciferiano quanto qualquer movimento autointitulado?! Não é o retrato da própria maleabilidade (Ar-Lúcifer) que esta ideologia sustenta em si mesma, desde os seus primórdios?!
Claro, o intuito deste manuscrito não é pregar uma uniformidade, mitigando a capacidade dos homens de buscarem a diversidade e a individualidade tão salutar. Só o que estamos a fazer é tentar acabar com a suposta superioridade do Luciferianismo em relação ao Satanismo, o que é uma postura totalmente conveniente da parte de alguns, que acabam descambando para uma postura ególatra de vida, que só vêem a verdade em seus berços ao invés de identificá-la também nos demais. Somos, portanto, totalmente contra tal posicionamento!
O Satanismo e o Luciferianismo são, doravante, uma faca de dois gumes, um instrumento só que tem em si amplas finalidades, tanto a de ser um instrumento mortal e destrutivo (que ataca a velha ordem!) como uma ferramenta utilizada para a secção de áreas mórbidas da mente subconsciente. Um aparato metamórfico de transmutação do ser como um todo… Socialmente ambos têm uma finalidade única em termos estruturais, possibilitando a cobertura de novos diálogos culturais!
O Satanismo como Elemental Fogo retrata e evoca a fúria e a violência. Lúcifer como o Elemental Ar concentra as qualidades da maleabilidade e docilidade, mas que pode tanto ferir como acalentar! Todos eles são símbolos duais. Enquanto o Satanismo pode destruir os templos das arcaicas teologias, para reformá-lo (reconstruí-lo) por inteiro! Lúcifer, como Iluminação, tem o papel de construtor dos novos arautos da Religião e do Homem. Sendo estes o compasso e o esquadro do hexagrama thelêmico, o mundo espiritual e carnal unidos num só plano, no duplo contexto que compõe a vida!
O Fogo ao mesmo tempo que destrói também ilumina; a descoberta e o domínio dele representou um dos momentos mais imprescindíveis da evolução humana, quando o homem primitivo pode ter seus primeiros momentos de reflexão e “viagens siderais”, sob o véu da noite, despertando seus poderes psíquicos… Foi a época também que adquiriu uma maior confiança em si e que teve uma maior proteção contra as adversidades que envolviam o entardecer! O Fogo era o Símbolo da luz, as vestais são exatamente a representação da pureza! Satã em tal aspecto não é um Lúcifer?! Acaso podemos negar tal evidência?!
Pensem meus amigos! Não é preciso ir muito longe para se dar conta de que tal disparate é fruto apenas da ignorância, e tal homologação não sairá do papel! Este estatuto foi rasgado ao meio, e limpamos com ele o rabo de nosso Ilustre Diabo das Eras, para continuarmos a praticar, nos tempos modernos, o nosso honorável e sublime Osculum Obscenum! Amém…
Por Cauê de Barros Braga
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