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Texto de G. B. Marian. Traduzido por Caio Ferreira Peres
Explicando a crença da LV-426 de que os filmes de monstros são mais sagrados e profundos do que qualquer tralha de Kirk Cameron.
“Acredito que Set e outros deuses pagãos gostam de se revelar por meio da mídia cultural popular e, na maioria das vezes, de forma subliminar.”
Eu adoro interpretar filmes, séries de TV, e música popular por uma perspectiva Setiana. Isto não é só um “hobby”; é uma parte essencial da minha espiritualidade. Acredito que Set e outros deuses pagãos gostam de se revelar por meio da mídia cultural popular e, na maioria das vezes, de forma subliminar. É fácil reconhecer a deusa Ísis naquela velha série de TV da década de 1970, The Secrets of Isis, onde ela é de fato uma personagem que luta contra o crime. Mas você já percebeu a similaridade entre O Exterminador do Futuro (1984) de James Cameron e o mito de Ísis fugindo de Set para garantir um nascimento seguro para Horus? Apenas imagine que Sarah Connor é Ísis, Kyle Reese é Osíris, o Exterminador é Set, e John Connor é Hórus; percebe o que estou querendo dizer?
Não estou sugerindo que James Cameron realmente fez isso de propósito. Apenas penso que um ou mais dos deuses mexeram em seu cérebro em 1984 e embaralham algumas coisas ali enquanto ele escrevia o roteiro. Acredito que isso aconteça o tempo todo, não apenas com James Cameron, mas potencialmente com qualquer cineasta. Sei que isso parece constrangedor ou até mesmo “doido”, mas a ideia de que os deuses deixaram “mensagens secretas” para nós acharmos em filmes, séries de TV, ou até mesmo nos desenhos matinais de sábado não é diferente de ler presságios nas folhas de chá ou pelo Zodíaco. Não é porque essas mídias são invenções humanas que os deuses não poderiam as usar para seus propósitos. Se eles podem revelar a si mesmos através de nuvens e árvores e em sonhos, eles podem facilmente o fazer através de qualquer coisa criada por mãos humanas.
“Mas G. B.”, ouço você me perguntar, “Quanto às coisas inspiradas propositadamente pelo Egito? Coisas como Stargate SG-1?” Bem, minha resposta para essa pergunta é um tanto complexa, eu teria que escrever um outro sermão inteiro sobre isso para fazer justiça ao assunto. Mas com pouquíssimas exceções, eu quase nunca me impressiono com qualquer coisa que foi intencionalmente inspirada pela mitologia egípcia.
Para mim essas obras tendem a se enquadrar em algumas dessas categorias clichê:
- Os filmes de “múmias assassinas”, na qual a múmia é sempre um malfeitor que busca tomar a reencarnação moderna de seu amor perdido a muito tempo. (Isso inclui qualquer filme chamado de A Múmia ou tenha a palavra “Múmia” em alguma parte no título, como o The Curse of the Mummy’s Tomb de 1964.)
- Os filmes dos “astronautas antigos”, em que os deuses egípcios se tornam em alienígenas que voam em espaçonaves. (Esta onde Stargate se encaixa.)
- Os filmes de “épicos bíblicos”, que tratam o livro de Êxodo como uma transcrição de um julgamento. (Essa inclui clássicos estimados como Os Dez Mandamentos, O Príncipe do Egito e Êxodo: Deuses e Reis.)
Você esperaria ver mais de Set em algo como Deuses do Egito (em que Ele de fato é um personagem) do que em um filme como o Godzilla original de 1954 (que não tem nada haver com o Egito na superfície); mas acredito que o oposto seja verdadeiro. Quando a mitologia egípcia é intencionalmente adaptada à ficção, o resultado é menos interessante do que a fonte do material original. Representações cinemáticas de Set em particular nada tem haver de como alguém adorava a Ele na vida real. (Na próxima vez em que você assistir Conan, o Bárbaro original de 1982, tenha em mente que alimentar serpentes gigantes com mulheres nuas nunca foi uma forma padrão na prática religiosa Setiana.) Há outras obras criativas que não invocam Set intencionalmente de qualquer forma, mas que o fazem por acaso, e que são muito mais consistentes com os valores e ideias Setianas. Isso é para mim um sinal de que esses filmes foram “tocados” por Set, especialmente se as pessoas que os fizerem nunca ouviram falar Dele antes.
Na minha opinião pelo menos, os filmes que mais parecem ressoar com Set são os filmes de monstros—ficção científica, terror, e viagens fantásticas que mostram alienígenas, animais gigantes, mutantes, bestas sobrenaturais, ou até mesmo criptídeos como o Pé Grande ou o Monstro do Lago Ness. Não importa quais criaturas eles mostrem, todos os filmes de monstros são sobre o caos invadindo o mundo da ordem. Algumas vezes esse caos é causado por forças externas à humanidade (como invasores alienígenas), e algumas ele é causado por monstros humanos (como serial killers). Algumas vezes o caos visita os inocentes (tornando a história em uma tragédia, ou quando coisas ruins acontecem com pessoas boas), e algumas vezes ele cai sobre os maus (tornando um conto moral, ou quando pessoas más recebem sua punição). De qualquer forma, isso se reduz ao eterno conflito entre ordem e caos, luz e escuridão, criação e aniquilação.
Você provavelmente deve estar se perguntando por que um ministro teria um sério interesse nesse tipo de assunto. (Afinal, pessoas religiosas não são levadas a achar que filmes de monstros são “doentios” no melhor dos casos, ou “satânicos” no pior?) A verdade é que, os contos de monstros são o mais antigo tipo de história conhecida pela humanidade. Claro, aventuras épicas e romances quentes também estão conosco há muito tempo, mas a única emoção com a qual nossos primeiros ancestrais provavelmente estavam mais familiarizados era o medo.
Considere o que John Goodman diz no Matinee – Uma Sessão Muito Louca (1993) de Joe Dante:
A zilhões de anos atrás, um cara vivia numa caverna. Ele sai num dia, bam! Ele é caçado por um mamute. Ele teme a morte e foge. E quando isso termina, ele se sente bem […] Então ele volta para casa, de volta à caverna, e a primeira coisa que ele faz […] ele faz um desenho de um mamute. E ele pensa, “pessoas virão ver isso. Deixa eu fazer melhor. Deixa-me fazer o dente realmente longo, e os olhos reais.” Boom! O primeiro filme de monstro.
Quando você pensa sobre isso, o medo motivou as pessoas a fazerem várias coisas. Ele motivou os nossos ancestrais a se juntarem, a caçar por comida, desenvolver a agricultura, e estabelecer leis para que não matassem um ao outro. Ele também os motivou a contar histórias, a ter fé em poderes maiores, a repelir desgraças com amuletos e magia, e a ter esperança por uma vida melhor no grande daqui para frente. Em suma, o medo é simplesmente a mãe de tudo o que está incluído na civilização humana, incluindo a religião.
Existe até mesmo o elemento do monstruoso na religião. O tema do caos invadindo a ordem aparece em qualquer mitologia e religião. Cada panteão de deuses precisa lutar contra pelo menos uma monstruosidade horrenda que quer destruir a todos nós:
- Nos Textos dos Caixões (datando em volta do século 20 a. C.), Set está e sempre estará derrotando o monstro Apep.
- No Enuma Elish babilônico (datando em volta do século 7 a. C.), o deus Marduk mata o dragão Tiamat e cria o cosmos de seu cadáver.
- Na Teogonia de Hesíodo (datando em volta do século 7 a. C.), os deuses olímpicos derrotam os titãs e os enterram debaixo da terra.
- No Salmo 74 (de 585 a. C.), Javé mata o Leviatã e o dar de comer aos santos no fim dos tempos.
- Em Apocalipse 20 (datando de 81-96 d. C.), Cristo derrota Satã e o Anticristo, lançando ambos ao lago de fogo.
- No Bundahishn (datando em torno do século 9 d. C.), Ahura Mazda destrói o monstro Ahriman e reabilita os condenados.
- Na Edda Poética (datando do século 13 d. C.), os Æsir e os Vanir matarão e serão mortos pelos gigantes de gelo da antiguidade.
Cada filme de monstro ecoa um ou mais desses mitos de combates em algum nível básico. Até mesmo no O Silêncio dos Inocentes (1991), o personagem de Jame Gumb ou “Buffalo Bill” de fato é apenas mais um outro Tiamat ou Ahriman, e Clarice Starling é o substituto para Marduk ou Ahura Mazda. Os personagens e as circunstâncias podem ser diferentes, mas a história é essencialmente a mesma, e ela é a história mais antiga do mundo.
Muitos credos também têm uma noção horrível do que poderia acontecer se as pessoas pararem de praticar a religião. Os deuses nos abandonariam; o mundo inteiro cairia; e por aí vai. Filmes como Os Pássaros (1963) e O Nevoeiro (2007) podem ter nada haver com religião superficialmente, mas cada um demonstra algum julgamento cósmico severo contra a humanidade por seus pecados coletivos. E o número de filmes que apresentam a vingança contra os vivos pelos mortos inquietos—como Poltergeist – O Fenômeno (1982) e A Hora do Pesadelo (1984)—está nos milhares. Por esses motivos, acho que os filmes de monstros são o melhor meio para a expressão e interpretação religiosa, superior até mesmo do que filmes abertamente religiosos. Há mais de divino e verdade a ser procurada em algo como A Ameaça Veio do Espaço (1953) do que, por assim dizer, em Saving Christmas (2014) de Kirk Cameron.
Agora louve a Set, e me passe o controle!
Link para o original: https://desertofset.com/2020/06/15/the-monster-film-as-mythos/
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