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Sitra Achra

O fator medo – Satanomicon

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O medo é considerado, ao par do amor e do ódio, um dos maiores fatores de motivação humana. Apesar de ser considerado uma emoção “negativa”, mereceu um capítulo à parte, pela sua evidente importância. Medo, pelo Novo Dicionário Aurélio, é um “sentimento de grande inquietação ante a noção de um perigo real ou imaginário, de uma ameaça”.

Em primeiro lugar, o medo é enfocado como um sinal de alerta em relação ao perigo eminente. Neste sentido, é salutar e producente, porque despeja adrenalina no ser vivo e, com isso, a energia necessária para fazer frente a uma situação de perigo. Uma pessoa perfeitamente integrada sabe que o medo é funcional e não se torna escravo de sua atuação, conjuga-o mesmo a seu favor.

Se o perigo é futuro, a solução vista noutro capítulo de aceitá-lo torna-se um coadjuvante poderoso na extinção do problema, não apenas pela mudança de paradigma emocional, quanto pela recepção de idéias importantes e necessárias. A repressão ou a fuga só servem para fortalecê-lo, e certamente o problema, antes imaginário, tornar-se-á plenamente real. Além disso, será um constante foco de estresse, podendo, daí, originar até mesmo uma depressão. Um parênteses aqui: depressão é uma doença que difere do estresse, devendo ser tratada por alopatia. Estresse, na maioria das vezes, é momentâneo ou provisório.

Noutro caso, o medo também se apresenta pela sintonia com outro ser. Fulano, ao entrar num recinto cheio de pessoas, sente medo sem causa aparente. Das duas uma, ou é também um sinal de alerta inconsciente (por exemplo, devido à presença de um inimigo), ou está simplesmente captando o medo de outra pessoa. Na segunda hipótese, torna-se plenamente possível perceber quem é o emissor da emoção, e isto serve como indicador do estado sentimental de tal pessoa; neste caso torna-se útil, se não houver a ilusão de que a fonte é o próprio Fulano. Infelizmente, muitos sensitivos, por não conhecerem esse processo, passam uma vida miserável, agrilhoados ao medo. Refutam mesmo seus dons, achando que só lhe trazem problemas.

Às vezes, o medo surge como subproduto de uma egrégora. É o que acontece em inúmeras religiões, que constroem o medo artificial, de forma a envolver e escravizar seus seguidores. Daí se falar em “ira de Deus”, “salvação do inferno”, “reencarnação purgativa” e demais anátemas. Uma determinada religião outorga-lhe o medo e, com isso, controla sua vida. Leva-o a agir de modo antinatural, inversamente à sua índole, pelo medo das possíveis conseqüências que advirão, diga-se de passagem conseqüências absolutamente falsas, pré-fabricadas com o único escopo de lhe tolher. É o processo de automação do ser humano.

Por outro lado, o constante temor é uma espécie de imã, capaz de atrair situações nefastas. Uma pessoa está passeando de bicicleta, repentinamente vê um buraco e sente medo. Logo em seguida, cai no buraco. Coincidência? Não, o temor atraiu a situação. Observe que tal temor, quando conscientemente percebido como um aviso, não irá atrair o buraco; é a fixação no medo, quando este assume o controle, que atrai o fato funesto.

O medo é usado por vários estrategistas como forma de manipulação e logração de objetivos. Robert Greene cita: “Mantenha os outros num suspense terrorífico; cultive um ar de imprevisibilidade.” Muitos magos usam o medo na magia manipulativa. Poucas pessoas sabem lidar com o medo, portanto é um grande aliado para conseguir o se quer. Já dizia Miguel de Cervantes que “quem perde sua coragem, perde tudo”. Observe que pessoas medrosas são facilmente manipuláveis. Basta criar o medo e sua possível solução, esta dependente da vontade do manipulador, que aquiescerá após ter obtido seu intento. O covarde fará tudo para sair da situação desagradável em que se acha, dando como paga a própria liberdade; esquece, contudo, que se tornou um escravo, que o chantagista usará o mesmo método sempre que lhe aprouver, sem nenhum remorso ou peso na consciência, típicos, aliás, dos fracos de propósito. Como todos possuem seus pontos frágeis, o medroso facilmente escaparia das malhas da chantagem emocional, contudo o raciocínio embotado e a emoção vilipendiada não lhe permitem enxergar com clareza.

Quanto ao satanista, sabe que o medo é sempre seu aliado, e não se deixa enredar pelas maquinações de terceiros, dando a paga na mesma moeda. Se incute o medo em terceiro, fá-lo para lograr um objetivo necessário segundo sua óptica, para se defender de um perigo ou obter algo importante. Um satanista não é um vampiro psíquico, mas não se deixa conduzir por moral alguma. Usa o medo conforme sua vontade e depois o descarta. E, se alguém deseja ser escravo em/de determinada situação, nada mais sábio que a fórmula crowleyana que o escravo servirá, mas que sirva consciente de sua condição de ser inferior, dependente e não-emancipado, coisa que as religiões “divinas” usaram e abusaram em proveito próprio, mas sem nunca tornar o escravo consciente de sua condição.


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