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Rodrigo Lamore (@rodrigolamorerock)
Se padres e ministros fossem usar as técnicas para encher suas igrejas cem anos atrás, que usam nos dias de hoje, eles poderiam ser caricaturados de heresia, chamados de demônios, frequentemente perseguidos, mas certamente excomungados sem hesitação. Os religiosos lamentam, “Nós devemos acompanhar os tempos”. (A Bíblia Satânica, Anton Szandor Lavey – tradução: Morbitus Vividus, 1999)
Você já viu ou participou de alguma edição da Marcha Para Jesus? Tem trio elétrico, abadá, músicas dançantes, como axé, rock, eletrônico, etc. Muita alegria e descontração. No que isso difere de uma micareta ou de uma festa típica de carnaval numa avenida em Salvador no mês de fevereiro? Ficou sabendo de algo que viralizou na internet, sobre as notícias das festas de São João, sem o “João”, sem mastro, sem fogueira e sem álcool? Também temos os roqueiros cabeludos e tatuados que fazem a roda de mosh… pra Deus. Tem funk, tem pagode, tem forró “sim sinhô”. Tem pornô, tem comédia, tem drama. Tem de tudo. Só não tem impostos… “Ôh glória”.
O que temos aqui? Estamos diante de uma situação em que algo já acabou e ninguém percebeu, mas que foi transformada em outra coisa, exatamente porque o produto anterior já não existe mais, e quem descobriu isso mais rápido, ficou bilionário. O uso de um nome, uma marca, restos de uma grande egrégora, que foi adaptada arbitrariamente ao novo tempo do novo aeon, onde o objetivo principal é: vender.
Estamos falando do Cristianismo, a religião do aeon de Peixes/Virgem, que por não vibrar de acordo com as frequências vigentes, não possui mais qualquer poder que tinha antes. Claro que precisamos nos lembrar que essa religião na verdade é um conjunto de várias outras religiões de cunho pagão, de diversas partes da Europa, Ásia e norte da África, além do Judaísmo e Gnosticismo, que unidos, formaram as bases para um projeto político-econômico-religioso que se expandiu a partir de guerras, acordos, coerções, assassinatos, destruição de culturas e povos, etc. Durante as grandes navegações que levaram a descoberta e colonização do continente americano pelos ingleses, portugueses e espanhóis, a Igreja Católica Apostólica Romana, detentora de todos os “direitos autorais” do Cristianismo também participou do processo colonial, a partir de seus soldados, os Jesuítas que tinham como tarefa a catequização dos nativos (ler-se: destruição de sua cultura e religiosidade). Posteriormente também lhe foi atribuída uma outra tarefa, a legitimação, no âmbito espiritual, da escravidão africana, elaborando o falso conceito de que, aqueles africanos escravizados eram pessoas que “não possuíam alma”, portanto era legitimo o seu uso enquanto instrumentos de trabalhos forçados, levando assim a uma divisão entre, os indígenas que “possuíam alma”, por terem sido catequizados, e os africanos que “cultuavam orixás demônios”.
Passando para os dias atuais, durante o início da vigência do novo aeon Aquário/Leão, vemos alguns fenômenos curiosos e em alguns casos cômicos, como por exemplo, a Igreja Apostólica Romana que tenta desesperadamente manter a imagem de que tem e mantém os ensinamentos e doutrina da “energia crística”, do amor e do perdão, da Gnose, do ritual do sacrifício do filho que foi enviado pelo pai para purificar a humanidade a partir da autoimolação (que diga-se de passagem, quase não rolou: “Indo um pouco mais adiante, prostrou-se com o rosto em terra e orou: ’Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice’”. Mateus 26:39)
Um exemplo do amor máximo daquele que dá a sua vida para salvar muitas outras vidas, mas que foi usado pelo Igreja como uma estratégia para manter povos inteiros sob um regime de escravidão e ignorância, manipulando as oitavas baixas da caridade (servidão), do amor (ingenuidade), do perdão (sujeição), etc, por um longo período, que ficou conhecido na história como Idade das Trevas. Mas finalmente a Era da Criança veio e tudo isso está em seu fim… SQN.
“Algo deve mudar para que tudo continue como está” – Giuseppe Tomasi di Lampedusa.
Se no passado os católicos usaram tão bem, para benefício próprio os conhecimentos ocultos sobre o funcionamento dos aeons, nesse momento, quem as utiliza são as igrejas neopentecostais. Aos que têm olhos, chega a ser ridículo o tamanho da obviedade. Mas não pense que isso se limita a essas instituições. Basta dar uma pequena olhada, e verão no youtube por exemplo, a proliferação de um fenômeno que se manifesta como nomes de “coaches”, “podcasts”, “palestras motivacionais”, etc, todos eles focados em “fazer você se sentir bem”. VOCÊ é o foco.
Se você acompanhou os meus artigos anteriores e pesquisando a literatura ocultista no geral, principalmente quando se estuda Thelema, é fácil notar que, para se ter uma compreensão abrangente a respeito de magia, energias, períodos históricos, astrologia hermética, etc, tem que se inteirar sobre os aeons e suas influências na sociedade. Não dá pra falar em grupos sem que eles estejam associados aos amigos, colegas de trabalho, ou similares. E ao mesmo tempo, não dá pra falar em trabalho de qualquer natureza sem levar em conta a individualidade, em sua essência. Individualidade essa que é levada ao ápice do egoísmo, e como estamos falando de empresas disfarçadas de religiões, e empresários disfarçados de coaches motivacionais, o incentivo ao ego e a identidade chegam a níveis extremos, manipulando grandes populações para fins políticos, com discursos do tipo: “não quero pagar impostos para sustentar vagabundos do bolsa família”, como se a própria pessoa que diz isso não se beneficiasse por outras vias dos seus impostos e dos impostos dos seus compatriotas.
Tendo conhecimento ou não sobre o Ocultismo, e se aproveitando da contínua auto destruição do catolicismo, que ainda está presa na ultrapassada campanha em torno da culpa, os novos profetas do novo aeon como os pastores das igrejas neopentecostais, trabalham em torno dos aspectos das energias de Aquário-Leão, só que destacando pelas oitavas baixas dos seus respectivos atributos. Então temos, para citar alguns, ao invés de auto estima como resultado do conhecimento de si, pela prática da individualidade saudável, há a arrogância, o desdém e a antipatia. Ao contrário de termos a auto exposição como uma forma de ser um modelo e exemplo a ser seguido como um membro da comunidade que contribui para as melhorias na vivência coletiva, mantendo as qualidades boas da sociedade e corrigindo e evoluindo nas partes problemáticas, temos o deboche, a exaltação à anti intelectualidade, a viralização de vídeos toscos e o não debates, a fim de gerar ignorância e divisões dentro do povo, etc.
Junte tudo isso ao cansaço gerado pela superação dos conceitos pregados pelas religiões monoteístas, não apenas causados pela mudança do aeon, mas também pelos avanços científicos que refutam muitas coisas ensinadas nas igrejas, como a tal “cobra falante” no livro de Gênesis, ou do sol que gira em torno da Terra. Diversas histórias presentes na bíblia, que fazem as pessoas que leem de fato, caírem na risada (ou ao menos, que resultam em pequenos constrangimentos nos cristãos que no fundo sabem que nada disso existiu). Ao mesmo tempo, um fenômeno que muitos definem vulgarmente como “saudades do mundo secular”, que se relaciona naquilo que foi falado no início desse texto, que basicamente consiste em recriar todos os eventos, costumes, festividades, etc que são classificados pelos evangélicos e neo pentecostais de “coisas do mundo”, transformando em “coisas de Deus”. Na prática, o que se obtém disso, são os já conhecidos, forró gospel, funk gospel, rock gospel, sertanejo gospel, São João gospel, carnaval gospel, pornô gospel, halloween gospel, motel para evangélicos, emissoras pertencentes a igrejas, e muito mais. O combo, mudança de era que se converte em mudança de paradigma, com vácuo de autoridade, instrumentalização dos conhecimentos ocultos sobre energias e astrologia hermética, e capitalismo, sucede-se no final trágico daquilo que aprendemos a definir como Cristianismo. Mas o buraco é mais embaixo. Eu me foco no Cristianismo pelo fato do Brasil e do continente americano como um todo, ser fundamentado na doutrina cristã ocidental, resultado da colonização, como relatado nos parágrafos a cima, porém essa mesma destruição também se manifesta com toda e qualquer religião que ainda está se mantendo arraigada ao aeon passado, e nisso se inclui as outras duas grandes religiões monoteístas: judaísmo e islamismo. Elas também irão pro saco.
Mas, como é bem lembrado no ditado popular: “o mundo é dos espertos”, ao se apropriar do mundo real, da vida concreta das pessoas e apenas renomear tudo como sendo “gospel”, os empresários e magos, travestidos de pastores e bispos, vão jogando dentro da rede de pesca todos os peixes indefesos; de um lado os crentes, que acham que estão servindo a Deus, e do outro os não crentes, que acreditando serem imunes a tais doutrinações, mas ao não se letrarem sobre assuntos mais profundos, como esse abordado nesse texto, permitem e continuação da prisão mental e espiritual humana, a partir da doutrinação irracional e gerando lucro para essa horda de charlatões, e acabam legitimando essa atividade, sem que haja quase nada de contestação. O cristianismo acabou e quase ninguém percebeu, mas uma minoria conseguiu ver a tempo o desenrolar dos acontecimentos e se adiantou para tirar vantagens disso. E essa minoria continua avançando e ampliando sua esfera de influência. E apesar dela ser minoria (pois, conhecimento é poder, e eles não querem dividir esse poder), os seus seguidores fanáticos só aumentam a cada ano. Por enquanto, os seus alvos de ataques atualmente são os terreiros de Candomblé, centros de Umbanda, além de grupos, como os LGBTs, membros de coletivos políticos, etc. No entanto, já estão acontecendo ações contra igrejas católicas, com o subterfúgio de que elas “cultuam imagens”, e então, a mira se voltará para as Ordens esotéricas em geral.
Rodrigo Lamore, cantor, inYoutubestrumentista, compositor, produtor musical, ocultista nas horas vagas, thelemita autodidata, conheceu o mundo mágiko durante a adolescência navegando na internet. Baiano, veio pro Rio em 2012 pra viver de música e foi iniciado na F.R.A. em 2014, saindo dois anos depois por discordar de comportamentos de alguns membros. Aquariano praticante.
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