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Em fevereiro de 1997, poucos meses antes da morte de Anton LaVey, a revista Rolling Stone pediu para que Hunter Thompson, o mais genial, cru, talentoso e intempestivo jornalista que já pisou na face da Terra, escrevesse um artigo sobre a decadência da Igreja de Satã nos últimos anos daquela década.
Com a queda da histeria americana em relação a rituais e denúncias; sobre abusos praticados por satanistas nas práticas de magia negra, era evidente que o templo de LaVey se arrastava na busca de novos seguidores, especialmente naqueles que fizeram a imagem e fama da igreja: figuras de Hollywood ou estrelas do rock, mesmo aquelas já em decadência.
Thompson profetizou: “A Igreja de Satã não chega viva ao século XXI.” Se ela ainda mantém as portas abertas e realizando suas missas negras e reuniões é outra história; mas a influência e importância que teve nas décadas de 60 e 70, isso já expirou faz muito tempo. Ninguém mais quer ouvir o que ele ou seus asseclas e/ou profetas têm para dizer.”
Dentre estes profetas ilustres, vale notar a mudança de postura de Marilyn Manson, neste período de decadência da Church of Satan, que na sua última passagem pelo Brasil, já mostrou que vive fora de seu tempo e sequer se preocupou-se em representar o esperado papel de satanista. Grande articulador e arregimentador de novas ovelhas negras para o templo de LaVey nos anos 90, o Anticristo hoje se diz cansado dos Satanistas e da Igreja de Satã. Entrevista após entrevista, Manson não perde a chance de alfinetar gente como Rex Diabolos e Peter Gilmore, hoje as grandes estrelas da companhia circense intitulada Church of Satan.
Marilyn Manson foi verdadeiramente uma estrela satânica em seu início de carreira, mas a sua própria autobiografia, intitulada ‘A Longa e Dura Jornada Para Fora do Inferno’, conta que ele já se cansou do cargo. Manson se considera hoje tão Satanista quanto Jesus Cristo, um rebelde, um insatisfeito com seus contemporâneos que achava que poderia mudar o mundo. E reconhece por fim que nem ele nem Cristo são capazes de mudar suas próprias vidas, quanto mais o mundo em que viveram.
Evan Rachel Wood, 19 anos, a namoradinha louca e adolescente de Manson já soa tão ameaçadora e sincera em suas declarações quanto o próprio Anticristo, em entrevista a revista GQ disse que acha normal ter idéias diferentes sobre romantismo. “No vídeo, quando estávamos nos beijando e chovia sangue, para mim, foi um dos momentos mais românticos de toda a minha vida”, disse ela.
O vídeo ao qual ela estava se referindo é o da música Heart-Shaped Glasses, em que ela atuou com o namorado. A fita causou polêmica por ter uma cena de sexo que foi considerada real, mas Evan negou que tenha transado realmente com Marilyn Manson na gravação. Porém afirma que entre quatro paredes, já partilhou de todas as vontades de Manson, incluindo Sadomasoquismo, Ménages e outras peculiaridades.
Outro fator que fez com que as polêmicas e as influências da Igreja de Satã fossem reduzidas a pó foi a transformação do Islamismo, e não mais o Satanismo como alvo principal do medo histérico com que o fundamentalismo cristão americano manipula seu rebanho. Se no Brasil, o nome de Satanás ainda é o mais ouvido nos templos evangélicos, em território Yankee, Osama Bin Laden e Maomé foram declarados os principais inimigos do American Way of Life. A única forma de Marilyn Manson voltar a ser lavado a sério é se curvando em direção a Mecca e se convertendo ao islamismo.
Na década de 80, um candidato a deputado do partido republicano, foi eleito com a segunda maior votação da história no estado de Illinois – terra natal de LaVey – com uma única proposta para seu mandato: impedir a abertura de um templo da Igreja de Satã na cidade de Chicago. Hoje, a campanha eleitoral para presidente dos EUA, gira em torno do pavor dos americanos em relação a religião muçulmana. A figura de Satã tornou-se tão polêmica e ameaçadora para a sociedade ocidental quanto o último disco do Backstreet Boys.
Talvez o grande marco do final desta primeira fase do satanismo tenha acontecido no ano passado, em 06 de Junho de 2006, quando a Igreja de Satã promoveu um evento especial na cidade de Los Angeles para comemorar o que eles proclamaram como o renascimento da Besta do 06/06/06. Houve grande interesse da mídia: jornais, revistas e internet estiveram presentes em massa no Steve Allen Theater. Poucas minutos após o encerramento do evento, Peter Gilmore, Bryan Moore e Rex Diabolos – hoje os principais nomes da Igreja de Satã – comemoravam o sucesso e a repercussão que tiveram.
A euforia do momento, foi substituída pela fúria com que reagiram ao depararem-se com as manchetes e artigos encontrados na imprensa dos dias seguintes: adjetivos/pejorativos como esses foram encontrados aos borbotões: Charlatanismo, Burlesco, Grotesco, Risível, Patético, Ridículo, um bando de ilustres desconhecidos que ao invés de procurar apoio psicológico, jogam seus medos, horrores e consciências pesadas no colo de Satanás, com a vã esperança de se sentirem menos culpados de seu comportamento abjeto.
Mas o Saturday Night Live, com suas paródias da Igreja de Satã foi o mais bem sucedido na arte de ridicularizar os descendentes de LaVey; conseguiram o imponderável: fazer testemunhas de Jeová rirem de Satanás. Nunca o satanismo esteve tão presente na cultura pop como nos dias de hoje: seja na música, no cinema, na literatura ou em qualquer outra atividade que exija liberdade de escolha e de pensamento.
O programa da barraqueira Oprah Winfrey ( que têm 45 milhões de telespectadores diariamente ), veiculou uma reportagem em que membros da Igreja de Satã tentavam sem sucesso, recrutar novos seguidores em Hollywood. Bryan Moore, tentava convencer Sharon Osbourne, esposa de Ozzy Osbourne a conhecer as “instalações” do templo, isso ocorreu em 2004, quando o seriado The Osbournes era um dos mais assistidos nos EUA. Ozzy já havia visitado a Igreja de Satã em São Francisco em 1972, quando da primeira visita do Black Sabbath aos EUA, e não teve boas recordações do encontro com Anton LaVey. Também esqueceram-se do fato de que Ozzy, ao final de cada música em seus shows, diz para a platéia: “Deus abençoe a todos vocês.” Trent Reznor, Macaulay Culkin, Rick Rubin, Howard Stern, Naomi Campbell, Dennis Rodman, Paulo Coelho e J. K. Rowling foram outros que declinaram polidamente às ofertas de Moore.
Estes e outros fatores levam os participantes do movimento satânico, iniciado por LaVey á inevitável questão: Que diabos está acontecendo com o satanismo? É como se os próprios satanistas não estivessem mais preocupados com o satanismo. Disse LaVey: “Esta é uma característica que eu divido com a nova geração de satanistas que poderia ser melhor rotulada como a Cultura do Apocalipse. Não que eles acreditem no apocalipse Bíblico, a última batalha entre o bem e o mal, mas justamente o contrário. Eles não estão preocupados em participar de um culto. Uma urgência maior os impele a parar de nos lamentar porque se o mundo terminar a amanhã saberão que viveram o dia de hoje. Basicamente, tocamos harpa enquanto Roma pega fogo.”
Então seria possível medir a influência do satanismo no século XXI pela decadência da Igreja fundada por LaVey ? A resposta é alta, clara e objetiva: NÃO! Cultos satânicos proliferam nos quatros cantos do mundo, hoje, mesclados com a cultura Wicca, Vampírica, Gótica ou Nazi-Esotérica, arregimentam gente das mais variadas etnias e posições sociais. Nunca o satanismo esteve tão presente na cultura pop como nos dias de hoje: seja na música, no cinema, na literatura ou em qualquer outra atividade que exija liberdade de escolha e de pensamento. A maior prova de que a chamada Era Satânica chegou é que o Diabo se tornou trivial.
Enquanto a América vive os últimos dias como império se intoxicando com fast food e estrelas decadentes, do outro lado do pacífico pesquisas do Departamento do Bem Estar Social da União Européia, que enxergavam o Satanismo como praga e agora busca apenas por distúrbios entre os “satanistas de bem”, relatam que as atividades satânicas, sejam elas proibitivas ( fora da lei ) ou legais crescem a uma taxa assustadora (para o cristianismo ) ao ano, especialmente na Europa Ocidental.
No leste e na Escandinávia, onde a cultura Satânica encontra tereno fértil numa terra fertilizada por séculos de resistência do paganismo, é possível encontrar livros que tratam de questões filosóficas, arte contemporânea e política com bases satanistas em qualquer lista dos mais vendidos. O satanismo do século XXI não têm lugar para missas negras, sacrifícios sangrentos ou hedonismo selvagem. Iconoclastas e Niilistas são mal vistos e os frequentadores da Igreja de Satã são tratados como párias, porque se você precisa de um grupo para poder engrandecer o seu Eu, então alguma coisa está a principio errada. Os satanistas de hoje preferem operar nas sombras, não porquê são ou foram obrigados a isso, mas por reconhecerem que a sombra é seu habitat natural.
Tradução e pesquisa Paulie Hollefeld
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Uma resposta em “Marilyn Manson e o Satanismo do Século XXI”
Que viagem hein rsrs