Categorias
Sitra Achra

Aborto e Satanismo

Este texto foi lambido por 386 almas esse mês

“Muitos que estão vivos mereciam a morte. E muitos que morrem mereciam a vida. Por isso não se afobe quando pensar em distribuir a morte. Pois até mesmo aquele que é sábio não consegue enxergar todos os fins.” – Gandalf o cinzento

Antes de mais nada devemos ter em mente que enquanto religião o Satanismo difere da grande maioria por não criar dogmas universais a serem seguidos, ele cria, sim, um ambiente para que cada um desenvolva os próprios dogmas, não como limites pessoais, mas como forma de desenvolver o próprio caráter, o próprio código e honra e com isso criar limites que devem ser transcendidos.

Assim o Satanismo não tem uma opinião formada sobre o aborto, mas possui indivíduos com opiniões próprias, pessoais.

Antes de prosseguirmos vamos nos atentar ao que é aborto e a uma rápida revisão histórica de como ele tem sido enxergado. Tecnicamente a interrupção da gravidez é a remoção ou expulsão prematura de um embrião ou feto do útero.

A história do aborto é quase tão antiga quanto a própria humanidade, na antiguidade os métodos eram variados, desde o uso de ervas abortivas, objetos cortantes até a aplicação de pressão abdominal. Durante milênios, por mais avançadas que fossem as tecnicas correntes o aborto era sempre um risco tanto para a mãe quanto para o embrião culminando no século XVIII e XIX a criação de varias leis que tornava o aborto um crime, somente no século XX é que o aborto induzido se tornou uma prática legal em vários países.

Como então, sob uma ótica Satânica, opinar sobre o assunto?

Uma das formas é observando o resumo da crença Satânica, presente nas 9 declarações formuladas por LaVey, uma delas em especial:

Satã representa responsabilidade para com os responsáveis.

Independente do que leva uma pessoa a buscar o aborto, temos que levar em conta que independente da visão pessoal que possamos ter, o ato significa no fim das contas acabar com a “possibilidade” de uma criança. Com uma vida. E ai a balança tomba para um dos lados, citando a Bíblia Satânica:

“O homem, o animal, e o próprio deus para o satanista. A forma mais pura da existência carnal repousa nos corpos de animais e crianças que não cresceram o suficiente para condenar a si mesmos seus desejos naturais. Eles podem perceber coisas que o homem de idade adulta nunca poderá perceber. Por essa razão, o satanista mantém esses seres em consideração sagrada, sabendo que ele pode aprender muito através desses mágicos naturais do mundo.”

A princípio crianças são as criaturas mais sagradas dentro da crença satânica à parte do próprio Satanista. Temos então, sempre que pensamos em discutir o aborto sermos atento a exatamente o que estamos atacando: o direito de matar crianças ou o direito de liberdade do indivíduo decidir fazer o que quiser.

Vamos analisar rapidamente a primeira opção:

De fato nas primeiras semanas a criança não passa de um embrião, sem sistema nervoso, apenas uma parte da mãe que está se desenvolvendo.

Agora criar leis que permitam a interrupção desta nova vida é algo que talvez ainda não estejamos prontos para fazer. Simplesmente porque não temos ainda como julgar de fato se aquilo é apenas um pedaço de carne, um parasita que se aliment de outro ser, ou se é mesmo um futuro indivíduo que tem todo o direito de viver.

Em uma sociedade satânica ideal, as pessoas deveriam se responsabilizar por seu atos.

“SE AS PESSOAS TIVESSEM LEVADO EM CONTA AS CONSEQÜÊNCIAS DE SUAS PRÓPRIAS AÇÕES, ELAS PENSARIAM DUAS VEZES!”

Uma pessoa dificilmente engravida sozinha, se livrar da responsabilidade de criar alguém é apenas a maneira mais fácil de se livrar de qualquer responsabilidade.

De fato, milhares de mulheres morrem ou ficam sequeladas em clínicas clandestinas e uma lei que libere o aborto daria a elas acesso a condições que as preservassem. Mas por outro lado isso apenas transforma o aborto, a longo prazo, e mais um médoto contraceptivo. Se engravida e se interrompe a gravidez. Isso acaba criando apenas um sistema que começa a se alimentar da irresponsabilidade. É o mesmo que se liberar a heroína em um país onde todos se viciarão apenas para oferecer em troca clínicas de recuperação pagas: podem experimentar à vontade, tendo dinheiro trataremos de vocês com toda a humanidade e tecnologia que você tem o direito.

Acredito que a liberação do aborto apenas abre mais ainda a porta de irresponsabilidade e cria mais um vício financeiro, quantos mais abortos mais dinheiro circula, inclusive dinheiro do qual se possa cobrar impostos.

Isso não é a solução para um problema, isso é remediar a irresponsabilidade.

Uma solução talvez seria: oferecer abortos, com a condição de se esterelizar a mãe. Ou os possíveis pais. Afinal um dos argumentos é: muitas crianças que nascem vivem em estado de miséria, os pais não tem como sustentar ou dar uma criação apropriada! De fato, grande parte da população vive em estado de miséria, colocar uma criança no mundo é uma responsabilidade enorme, privar a pessoa da capacidade de ter filhos é uma forma de evitar que se coloque no mundo mais um parasita social e tira da família ou da mulher abandonada ou irresponsável o fardo de ter que passar pelas dores do parto ou correr o risco de perder a própria vida.

A Índia, um pais que sofre com a superpopulação já fez várias campanhas de esterelização voluntária, os homens se sujeitam a uma vasectomia e ganham em troca um presente, ou um prêmio. Já fieram em trocas de rádios, prometendo acelerar a liberação de licenças para armas, etc… A idéia funciona.

Outro dado interessante, é que a população miserável, dificilmente é a que procura clínicas de aborto, clandestina ou não. São pessoas com alguma organização e meios financeiros que as buscam. São pessoas que dificilmente poderiam ser classificadas como ignorantes que não tem acesso a meios contraceptivos, são pessoas que não podemos dizer que não tem acesso a meios de evitar uma gravidez.

Quando afirmamos que Satã representa uma existência vital queremos dizer viver a sua vida assumindo as consequências de seus atos, ao invés de esperar a intervenção divina para solucionar os seus problemas.

Alguém que aproveita o sexo, ou que se acaba e usa o sexo como ferramenta tem que estar pronto para assumir a responsabilidade por seus atos. Eis que surgem as vozes de: “Mas só porque esta mulher não está pronta para ter uma criança agora, não significa que não amadureça e seja uma ótima mãe mais para frente!”.

Se este é o caso, deveríamos abolir de vez a pena de morte, já que todo criminoso pode também amadurecer e não cometer mais os mesmos atos. Peguem pedófilos e os coloquem como guias escolares, assassinos e dêem curso de medicina, assim eles podem mostrar que amadureceram lidando com aquilo que foi o motivo do crime anterior.

E em caso de estupros? A mãe verá na cara do filho a violência que sofreu cada vez que for amamentar, e ver aquela criança se desenvolvendo e aquela violência estará presente no seu dia a dia.

Antes de mais nada, aborto em caso de gravidez causada por estupro é algo delicado. Em primeiro lugar porque mostra que a lei não é dura o suficiente para com estupradores. Um aborto é uma segunda violência com a mulher, tirar a criança não apaga a primeira violência que sofreu e ainda cria uma segunda. Além disso assumir que uma criança gerada em um estupro não será amada pela mãe é estupidez por dois motivos:

– o primeiro, não levar em conta o sentimento da mãe de antemão. Muitas mulheres carregam a gravidez até o fim, para isso até se dá um nome pejorativo, a criança é conhecida como “filha do estupro”, um peso social extra que já jogam nas costas da mulher, e o fato de que as mulheres que escolhem dar a luz não tem problemas em amar os filhos, muito pelo contrário.

– em segundo isso diz que por lei, toda criança de uma relação que não foi forçada será amada pela mãe. O que também é uma estupidez. Quantas crianças não são abandonadas ou recebem mau tratos em casa e foram criadas numa noite em casa entre o casal?

Se não existe uma medida para pesar os dois lados, qualquer afirmação é falaciosa, procurem se informar sobre filhos de estupro e encontrarão com frequência relatos como:

“Quando a senhora olha para o David, pensa no estupro?

— Nunca. Jamais. Eu amo meu filho mais do que tudo na minha vida.”

Outra coisa é não deixar de lado a vida da criança que nasce disso.

O melhor, é claro, seria se combater a pessoa que violenta outras ou invés de tentar simplesmente dourar a pílula de seus atos.

Imagine uma mulher que olha para o filho e enxerga o estuprador. Horrivel? Imagine mulheres que olham para o local de trabalho, para as ruas, para a televisão e enxergam os estupradores?

Quantas personalidades famosas não são acusadas de praticarem violência sexual e continuam sendo homenageadas todos os dias?

A sociedade acaba criando uma aura de vergonha e impunidade que faz com que a maioria dos estupradores levem a vida normalmente. Ao invés de se tentar criar uma lei que atenue o impacto psicológico em vítimas deveríamos ter leis que não permitissem ao agressor repetir o seu ato.

“Satã representa vingança, ao invés de virar a outra face!”

Para que incentivar a impunidade?

Ainda existem os casos de má formação de fetos, e problemas de desenvolvimento. Novamente o aborto é apenas uma solução rápida. Antes de julgarmos se uma criança deveria ser extirpada por algum problema acho que deveríamos ouvir aquelas mulheres que levaram a gestação até o fim. Uma mãe que tem um filho com síndrome de Down apenas dirige pena ao filho? Famílias que tem pessoas portadoras de doenças degenerativas prefeririam que a criança nunca tivesse nascido? O ser humano hoje tem a consciência de julgar quem tem o direito ou não de nascer, baseado na formação genética da criança?

Por um lado temos crianças que nascem sem cérebro que ultrapassam um ano de idade, que se desenvolvem por anos, e recebem o amor incondicional das mães. Por outro lado temos crianças que nasceram perfeitas, que um dia entram em um apartamento de uma ex namorada com uma arma e depois de dias a mata e fere a amiga com tiros e se mata.

Se má formação significa um ser humano pior, deveríamos perdoar todos os outros? De novo a propaganda social é algo que pesa, a idéia que se formam de crianças má formadas, de casos extremos, de autismo. Devemos viver em uma sociedade que permite o desenvolvimento da vida de indivíduos diferentes, ou devemos partir para a eugenia e evitar desperdiçar recursos com algo porque é mais fácil remediar do que evoluir?

Uma pessoa deve ser julgada pelo espaço que ocupa no mundo, e a forma que ocupa ele, ou pelo que faz ou pelo que gera neste mundo?

“Satã representa bondade com aqueles que a merecem, ao invés de amor desperdiçado em ingratos!”

Porque dependendo de nossa resposta deveríamos considerar os recursos que gastamos com outros casos semelhantes, como asilo para idosos, tratamentos para pessoas em coma. Pessoas que por causa de acidentes se tornam socialmente improdutivas.

Não existe nada mais sagrado para o Satanismo do que a vida, o respeito pela vida. Um dos dez Mandamentos Satânicos não é: “Não se arrependerá de seus atos intencionais “? Ou ainda do mesmo texto de Morbitvs Vividvs: “Aprenderá a rir e a sorrir … Aprender a rir é essencial , especialmente de você mesmo, e não, isso não significa fazer o papel de palhaço . Receba os obstáculos como desafios, nunca como problemas e se tropeçar e cair , levante rindo. Lembre-se de Nietzche : “O que não o matar, o tornará mais forte .”

Claro que vivemos em um mundo onde a grande maioria não assume suas próprias responsabilidades, descobriram as vantagens do eterno papel de vítima: “aquilo que o mundo te pede, não é o que o mundo te dá”, por isso não temos como cobrar dos outros uma atitude destas.

Ainda, existe o lado não do aborto em si, mas da liberação da lei, ao menos que permite tal ato. De novo estamos caminhando em areia movediça.

Nos milênios em que o aborto vem sendo praticado, quantas vezes foi pela mãe não estar pronta para gerar a criança, e quantas vezes para esconder um erro? Mulheres pensavam nos riscos da gravidez para si, ou pensavam que o marido e a família não gostariam de um filho vindo de um adultério ou de um ato irresponsável?

Não temos como saber, por isso mesmo temos que dar o mesmo peso para ambas as possibilidades. Novamente usar a história de como era natural apenas serve para dar a chance do aborto ser uma forma de se livrar da responsabilidade dos próprios atos.

O problema de transformarmos o aborto em algo que seja regulado ou desregulado por lei é que tira das pessoas a “responsabilidade” de ponderar sobre o peso dele. Se um homem, como qualquer outro, decide depois de muito refletir, colocar sua toga e liberar o aborto, tira dos ombros o peso da responsabilidade da sociedade de tratar de criminosos e de lidar com crianças que surgiram dessa responsabilidade.

Proibir o aborto simplesmente faz o mesmo, de um lado teremos clínicas que pagam impostos para o estados e de outro clínicas que não pagam. A não ser que além de legalizar o aborto ele por lei seja incluído em planos de saúde, as mesmas pessoas que hoje buscam o serviço são as que continuarão buscando. Legalizar o aborto não é o mesmo que criar uma bolsa aborto que garante o dinheiro do procedimento para aquelas pessoas que se enquadrarem na lei do: essa pode!

É claro que a ignorância tem um peso quando falamos em leis. Afirmar que na verdade o aborto é algo que foi criado pela igreja e que a liberação dele é a liberação de um jugo religioso pode não ser uma afirmação correta. A igreja de fato é contra o aborto, mas por outro lado é contra o sexo ilícito, o sexo antes do matrimônio e o sexo fora do matrimônio. Culpar a igreja pela superpopulação por proibir o uso de camisinhas e pelo aborto é o mesmo que dizer que na verdade isso ocorre porque nunca demos o poder pra ela para regularizar o sexo também.

As primeiras leis anti-aborto, apesar de defendidas pela igreja, foram criadas por médicos, e por pessoas de poder não vinculadas à igreja, por pessoas que eram as responsáveis por aquilo que se chamava o decoro moral.

Um exemplo claro disso é a menina de Recife de 9 anos, estuprada pelo padrasto que engravidou de gêmeos. O circo da mídia, o circo social ficou em torno de que claro que ela deveria abortar vs o padre que disse que era pecado. Em que momento as pessoas se ergueram para independente disso garantir que o padrasto, que também violentava a outra filha que tinha problemas mentais, fosse executado, ou castrado? A briga igreja vs razão novamente consegue ocultar o caso principal aqui: um criminoso, convicto estar por ai, sendo sustentado pelo estado depois de algo que deveria ser considerado o pior dos crimes! Este terminou com a menina engravidando, mas e se ela não engravidasse? A matéria ocorreria daqui a 10 anos quando a menina de 17 anos buscasse o aborto pelos abusos que sofria desde criança do padrasto?

Acredito que em casos como este deveríamos levar em conta criar uma punição e um sistema que impedisse que isso acontecesse do que criar um sistema que pelo menos dê o apoio médico para remediar a incompetência do próprio sistema. Ao invés da menina servir de exemplo de como o aborto pode salvar uma vida, o padastro deveria servir de exemplo do que fazemos com pessoas que se divertem da forma que ele se diverte.

Se dizemos que o aborto é uma forma de dizer que a mulher é livre para fazer o que quiser com o próprio corpo, porque temos leis que proíbem o uso de drogas? Por que não temos faixas em ruas e auto-estradas especialmente para motoristas alcoolizados?

Quando falamos de uma lei que aprove o aborto, estamos aprovando justamente aquilo que pensamos estar combatendo em primeiro lugar.

Primeiro porque deixamos nas mãos dos outros aquilo que podemos ou não decidir. Depois porque aqueles que tomarão a decisão não pdoem fazer se baseando em valores próprios, “Eu sou juiz, e eu acho isso errado, por isso eu proíbo”, e também não pode fazer baseado em evidências, hoje não sabemos onde a vida começa e termina, quando um feto se torna um bebê, o fato de não sentir dor faz com que algo deixe de ser violência por parte do agredido?

Um ser que está se formando é diferente de alguém que é responsável por seus atos. Um aborto não é o mesmo que uma pena de morte ou uma eutanásia.

Quando criamos leis que autorizam exterminar algo que não pode se defender é, de novo, tirar daqueles que criam essa situação que termina com algo que não tem como se defender a responsabilidade por seus atos. De fato, todo homem e toda mulher deveria ter o direito de morrer quando desejasse e da forma que desejasse. Mas no momento que falamos de outra vida não cabe a um juiz ou a uma turba decidir.

 

Lembrando-se que liberar algo por lei não é sinônimo de bom, da mesma forma que proibir não é sinônimo de mau, deixo aqui que qualquer lei que tente controlar a vida é uma forma de controle do indivíduo e deixo a frase usada por Lord Ahriman em seu texto satanarqui: “Quem quer que seja que ponha as mãos sobre mim, para me governar, é um usurpador, um tirano. Eu o declaro meu inimigo.”

Rev. Obito


Conheça as vantagens de se juntar à Morte Súbita inc.

Uma resposta em “Aborto e Satanismo”

Vale ressaltar que o que é realmente importante e “sagrado” para um satanista é o seu corpo e sua liberdade individual. Logo a mulher satanista pode e DEVE ter o direito sobre seu próprio corpo, inclusive para um aborto. Ela sabe que deve lidar com as consequências disso. E sabe que NADA deveria sobrepor a sua liberdade individual, ainda mais quando falamos de um embrião. Mesmo se considerar este embrião como uma criança, qualquer satanista é absolutamente livre parar quebrar as ‘regras’, ‘pecados’ e ‘declarações’ satânicas, estando ciente das consequências. Agora, é um tanto cômico ver UM homem/satanista definindo os limites da liberdade de UMA mulher/satanista, não é?
Não podemos esquecer que somos completamente livres e que não deveríamos interferir na liberdade e corpo alheios. Nossa preocupação somos nós mesmos.
Esse texto bate de frente com outro publicado aqui, “Eu sou Satã – O Lado Negro do Feminino”, o qual achei magnífico. Vale a pena pedir para a Hodu Girl escrever um texto sobre o aborto também, seria no mínimo mais coerente.

Deixe um comentário


Apoie. Faça parte do Problema.