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Sitra Achra

A religião satânica – Satanomicon

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O termo religião vem do verbo latino religare, que significa religação. Religação com o que? Com o estado ou essência divina inerente a qualquer ser humano. Numa análise superficial, abre-se a possibilidade de entender religião mais como uma busca, do que um corpo social concreto. Se caminhar neste sentido, qualquer organização é desnecessária. Todavia, a união sempre foi fator de fortalecimento estrutural. Daí a existência de diversas instituições religiosas.  Alguém, neste momento, pode perguntar. Se o homem já é ligado a essa essência divina, qual o porquê do “religar”? O verbo parece realmente impróprio. Não há sentido algum em religar a algo que já está ligado. Contudo, é necessário pensar em termos de consciência. Você realmente está ligado, mas está consciente dessa ligação? Despertou totalmente para ela? É óbvio que não. Logo, o religare possui este sentido, ou seja, um retorno ou retomada de consciência para esta possibilidade máxima de si.

Religião possui dois sentidos, curialmente empregados por todos. O primeiro é o de um corpo ou estrutura social concreta. O segundo é tomado pelo seu adjetivo, religiosidade, ou seja, há uma figura de linguagem chamada sinédoque, que toma o conteúdo pelo continente, uma idéia está contida na outra. O primeiro sentido, de um corpo social, é perfeitamente descartável, a não ser como um aspecto de união ou fortalecimento de crença. O segundo é o mais importante, pois leva em consideração a busca pessoal do indivíduo. Afinal, religiões, em sentido amplo, são apenas rótulos, máscaras que encobrem o fato de você ser o seu próprio deus. Muitas vezes, lhe desviam do seu caminho pessoal. Pior do que isso, se você diz Eu SOU satanista, acabou de criar um rótulo e, com este, se limitou. É melhor dizer Eu ESTOU satanista.

De qualquer modo, religião tem sido onanismo puro há dez mil anos, ou seja, pura masturbação teológica. As pessoas levam muito a sério os dogmas religiosos, quando tudo, na verdade, não passa de uma imensa brincadeira cósmica. Já dizia Heráclito, que a natureza ama se esconder. Você acha que se tudo fosse perfeito seria uma maravilha? Seria imensamente enfadonho. Alguém disse que o verdadeiro inferno é não ter problemas ou não ter o que fazer.  Na verdade, a vida é uma grande aventura!

Eis uma piada: Um sujeito morreu e foi parar num lugar maravilhoso. Foi logo servido com uma farta refeição e apresentado a mulheres belíssimas. Só havia um problema: ele não podia fazer nada. Podia pedir o que quiser, mas tinha de ser servido. No início, ele adorou a coisa e passou a viver como um rei, pois tinha tudo o que queria. Depois de algum tempo, ele virou-se para o encarregado do local e disse:

– Eu gostaria de fazer algum trabalho aqui, é possível?
– Não, aqui você não pode fazer nada. – respondeu o encarregado.
– Mas a minha permanência aqui está se tornando muito apática, porque nunca faço nada. Está parecendo até o Inferno.
E o encarregado:
– E onde você pensa que está?

O Inferno é exatamente isto: você não poder fazer nada. Tudo é muito perfeito e maravilhoso, mas você não pode fazer nada. Com o tempo se torna enfadonho e atrofiante, o ser humano vira um pastel. São criados os dogmas exclusivamente com esta finalidade: para que você não faça nada, para que você viva num Inferno real, para que fique dormindo num sonho espiritual cômodo e agradável, em vez de enfrentar a dura realidade do engodo sócio-religioso. Em outras palavras: é uma prisão para você! Não se pode ver ou sentir essa prisão, mas não passa de uma prisão!

Então, o que é o Satanismo verdadeiro, assentado como base religiosa? Em primeiro lugar, ele é uma espécie de humanismo, pois é a única via que coloca o homem como ponto focal da sua existência. Afinal, foi o homem, não deus, que estabeleceu todas as religiões espirituais e escreveu todas as bíblias sagradas. Se ele se projeta na vida, no mundo, como num enorme espelho de si, também projeta a imagem de deus, razão por que possui a divindade dentro dele. Em verdade, o homem é o seu único deus.

Além disso, Satanismo é religião, porque tem princípios, estrutura e rituais próprios. Se não tivesse, seria simples Humanismo. Ninguém vive sem princípios, todavia a posição do princípio aqui é para servir ao homem, ou seja, para trabalhar no sentido da sua máxima realização nesta vida. Em outras palavras, o princípio deixa de ser impositivo, perde a sua força cogente, seu caráter dogmático, para se tornar orientador. Afinal, ninguém vai ser castigado, ninguém vai ser ameaçado pelo Inferno, caso não os adote. Por outro lado, o ritual serve para mudar eventos que normalmente não ocorreriam, caso não houvesse a interação da vontade do mago. Outro sentido do ritual é a busca pela livre expressão do Self. Finalmente, a estrutura se dá num corpo social, com pessoas que têm grandes afinidades religiosas. Sem esta estrutura, não há qualquer defesa contra a perseguição religiosa, como sempre houve entre as religiões divinas.

Na questão das estruturas estabelecidas pelas religiões divinas, o Satanismo também é considerado uma anti-religião, pois é adversa a todas. Parece paradoxal, ser religião e ser anti-religião, mas depende do enfoque. Como busca pessoal, é religião, pois estimula a comunhão do ser consigo mesmo; daí ser também anti-religião, combatendo todas as capas de tirania religiosa, principalmente as abraâmicas, pois impedem a referida comunhão, transformando dita busca em seguimento, uma espécie de sinônimo para sujeição.

Se um modelo não funciona, é necessário optar pelo que melhor lhe convém. As religiões divinas, ao longo dos milênios, têm negado as satisfações básicas do homem, infundindo o terror não só pelo medo do Inferno, mas também pela perseguição religiosa, com uma infinidade de mortes. O conceito vigente de deus é falho, porque leva o homem à submissão total, o que, em nada, contribui para a sua transformação. O Satanismo é a religião da vida, do prazer, da autonomia do ser humano. O Satanismo abre a possibilidade de religação do ser humano à sua potencialidade máxima, sem negar as suas necessidades em prol de uma recompensa futura. A máxima é de Rajneesh: Use tudo!

Por outro lado, o Satanismo propõe uma dissidência com qualquer autoridade externa, à violência da ordem constituída, fonte de patologia, para restituir ao homem a sua natural plenitude criativa. Não significa que o Satanismo endosse a prática de crimes, mas sim a rebeldia contumaz, que leva a pessoa a vencer socialmente dentro das regras do próprio sistema, mas sem sofrer vilipêndios por causa das suas maquinações. Num exemplo pobre, se o sistema é um barco, o barqueiro é a elite dominante e o rio é a vida, o satanista usa o barco para atravessar o rio, e não ser levado para onde o barqueiro quer.

“O caminho mais rápido entre dois pontos é a linha reta. Se todas as culpas que têm sido construídas podem ser transformadas em vantagens, elimina a necessidade da purgação intelectual da psique na tentativa de limpá-lo de todas essas repressões. Satanismo é a única religião conhecida pelo homem que o aceita como ele é, e promove a racionalidade de tornar uma coisa má numa coisa boa melhor do que esforçando-se excessivamente para eliminar a coisa má.” (LaVey) Portanto, o ser humano se torna mais íntegro a partir do momento em que aceita a sua natureza e a trabalha de forma adequada. Afinal, para se chegar em qualquer lugar, o primeiro passo é partir de onde se encontra.

Neste ponto, alguém, com certeza, vai questionar: Por que usar o termo Satanismo? Por que usar como modelo um nome que soa tão ofensivo à maioria das religiões? Eis as razões:

  • É um modo radical e pragmático de descondicionar os modelos das religiões divinas  profundamente infiltrados na psique.
  • Porque, sem hipocrisia alguma, o Satanismo trabalha com a chamada natureza negra do homem em primeiro lugar, com consciência e responsabilidade, de forma a eliminar o aspecto dual da sua personalidade, tornando-o inteiro, como sempre deveria ser.
  • Revelar que a Sombra é o grande portal do Self, o centro divino no ser humano, capaz de transformá-lo definitivamente no estado transpessoal conhecido como consciência cósmica.

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