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por Lilith Ashtart
Solidão. Algo tão temido e evitado pelo ser humano por simples incompreensão. A mensagem que sempre recebemos é a de que para sermos felizes devemos ser uma pessoa social, com muitos amigos e que jamais se encontra sozinha. Tola ilusão! Não percebem que o estímulo para viver em meio a tantos de sua mesma espécie é apenas mais uma artimanha para criar pessoas sem identidades próprias, em que todas desejam ser iguais para serem igualmente aceitas e apreciadas. Criação de Personalidades que desde cedo moldam o ser humano e se enraízam tão profundamente que não há mais no futuro como identificá-las como não sendo parte dele.
Quem nunca entrou em conflito ao perceber, mesmo que momentaneamente, que era diferente dos demais e dos padrões impostos pela sociedade? Quem nunca pelo menos durante um dia que fosse não tentou viver a vida de outras pessoas para tentar ser como elas e se encaixar em um grupo? Tudo pelo horror de imaginar-se só, excluído. Estas experiências ocorrem em nossas vidas nos demonstrando a imensa força da sugestão da cultura e costumes sob as quais crescemos e que nos cercam todos os dias através de todos os meios.
Engana-se quem afirma que o humano é um ser sociável por natureza. Isso ocorreu pelas condições artificiais que ele mesmo criou e se submeteu. Como todo animal, o ser humano apenas é instintivamente sociável em momentos de necessidades vitais, i.e. a reprodução, ou quando permanecer em meio ao coletivo se torna útil, como em casos de interesses em comum. Porém, mesmo se encontrando em um grupo, sua natureza permanece essencialmente individualista. Isso não é difícil de ser observado ainda nos dias de hoje: retirando a máscara de solidariedade e compaixão que muitos usam para se travestir, quem escolheria entregar sua vida no lugar de outra em um momento de perigo, assim como o fazem os animais realmente sociáveis?
Todos somos seres solitários, mesmo quando nos encontramos no seio de uma família de semelhantes. Unimo-nos por um propósito em comum, lutamos juntos por ele, auxiliamos uns aos outros através da troca de nossas experiências e estudos, mas sabemos que cada um deve traçar seu caminho por si só. Isso porque temos a compreensão de que somos seres únicos, e como tais, ninguém além de nós mesmos pode se tornar responsável por nossa queda ou ascensão. Sabemos que não há sentido em abandonarmos nossa própria iniciação pela de outra pessoa, ou esperar a nossa chegar através de alguém. Contudo, há aqueles dispostos a nos auxiliar a perceber os obstáculos que muitas vezes estão ocultos em nós mesmos. E é aí que se encontra a verdadeira essência da fraternidade: não a de confortar a dor com a ilusão de cura, mas a de cutucar na ferida para que sua raiz seja encontrada e então efetivamente arrancada.
Belo, mas também doloroso. E por mais consciência que tenhamos disso, se não totalmente compreendida, é inevitável encararmos de vez em quando nossa solidão como negativa. O que não é condenável, em vista que ainda estamos rumo a nossa evolução, e muitas escolhas devem ser feitas. Negar vivenciar estes primeiros passos é negar a evolução em si: mesmo na natureza ela passa por estágios intermediários antes de chegar ao seu mais atual estado de perfeição. Condenável é se entregar a tais sentimentos e, consequentemente se estagnar naquele patamar. É nesta fase em que devemos nos precaver mais, pois ficamos mais suscetíveis ao surgimento de conflitos internos e externos, decorrentes de diversos fatores:
- Autocrítica severa que, se encarada de modo negativo, pode vir a nos desestimular a continuar pelo surgimento de aparente incapacidade de alcançar a meta almejada;
- Sensação de vazio em relação a perdas materiais ou mesmo sentimentais decorrentes da prioridade de nossas escolhas, que, embora efetuadas conscientemente, nos traz um período de mudanças até total compreensão e assimilação da nova fase;
- Sentimento de abandono em relação àqueles que julgamos nossos semelhantes, quando ainda esperamos mesmo que inconscientemente uma ajuda além daquela que eles podem nos fornecer, a qual apenas pode ser obtida por nós mesmos; ou quando desejamos estar em seu meio constantemente e isso não é possível.
- Conflitos gerados por pessoas ao nosso redor que testam constantemente nossa Vontade, Fé, Força e Constância em seguir nosso
São nesses momentos, em especial, que nossa solidão deve nos guiar para dentro de nós mesmos, onde podemos encontrar todas as respostas e então ressurgir renovados para continuar nossas batalhas e desfrutarmos nossos prazeres. Hoje compreendo, e não mais me condeno como há tempos atrás, que gastar algum tempo em uma profunda reflexão muitas vezes é essencial para continuar a jornada… Embora possa parecer uma possível estagnação perante olhos alheios, se também não nos enganarmos que estamos trabalhando com nosso interior, este é um momento que traz muito mais frutos do que um avançar forçado e carregado de indagações e incompreensões. E é nisso que reside a beleza de nossa solidão: cada conquista, cada meta alcançada, cada obstáculo vencido, nos traz a merecida recompensa, a sensação de uma conquista única e pessoal, assim como cada prazer que obtemos com nossa liberdade consciente… Não devemos nada a ninguém, os louros são apenas nossos…
Nada se torna mais importante do que nós mesmos, e por isso todo o nosso redor começa a tornar-se secundário, supérfluo, chegando algumas coisas até mesmo a desaparecer por completo de nossas vidas. Trilhamos sozinho nosso caminho, por mais que possamos estar rodeados de pessoas que compartilhem a mesma jornada… Nossa única e real companhia somos nós mesmos, tudo que se encontra dentro de nós, nossa sombra e nossa luz…
Lilith Ashtart é psicóloga, taróloga, escritora, pesquisadora e praticante de ocultismo e LHP. Editora da publicação aperiódica Nox Arcana. Autora do livro Lux Aeterna
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