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Por Maria de Naglowska, traduzido por Donald Traxler.
Nota do tradutor para o inglês, Donald Traxler: No início de 1933, talvez ofendida pela crítica de um revisor que havia dito que seu Satã era “moral” e “quase virtuoso “[1], Naglowska escreveu um artigo que foi muito longe para explicar o que ela queria dizer com “Satã” e “Satanismo”. [2] Por causa de sua importância, incluí abaixo minha tradução do artigo completo.
“Satanismo Masculino, Satanismo Feminino”
Por Maria de Naglowska.
As pessoas me perguntam se eu me apresento diante do público como discípula de P. B. Randolph, o célebre autor Americano de Magia Sexualis. Vários ocultistas sérios o fazem. Aqui está minha resposta precisa a esta pergunta: Não, eu não sou discípula de Randolph, pois estou anunciando uma nova religião no mundo, cuja revelação me foi dada (não por uma boca humana, nem por livros) em Roma, no exato momento em que os cardeais reunidos no Vaticano receberam do Mensageiro Celestial a inspiração para a eleição do atual Papa. Já recontei isso, em um dos números das edições anteriores de La Flèche. Esta revelação, que traduzi em palavras humanas em meu recente volume La Lumière du Sexe (A Luz do Sexo), não está formalmente em contradição com certos princípios e procedimentos revelados na Magia Sexualis, mas a Luz pela qual me guio não é aquela pela qual Randolph se guiou. Peço a meus contraditores que se lembrem deste ponto, pois sua importância é enorme. Enquanto Randolph, ainda banhando-se na idolatria Hindu, acredita, como fazem os teosofistas de todas as nuances, na vida independente e individual e na evolução de cada partícula da alma – um conceito que leva em última análise ao terrível reforço do egoísmo espiritual de homens e mulheres – Eu me levanto com toda minha energia, porque tal é o Ensinamento Divino que me foi dado, contra esta ideia desastrosa, errada e geradora de todos os males da humanidade. Eu digo, e peço que se tome nota, que nada é pessoal ou individual, “nem na Terra, nem nos Céus, nem nas águas debaixo da Terra” (que os que têm ouvidos ouçam!). Eu digo: nada é oposto a mim, e eu não sou oposta a nada, nem a ninguém, e entre vocês que me leem, ninguém é oposto a nada, nem a ninguém separado de vocês, e nenhuma coisa, nenhum ser, celestial ou terrestre, é oposto a vocês. Não estamos indo em direção à Unidade, somos Unidade e temos sido desde o início, o que nunca aconteceu. A ideia da separação das partículas autointituladas do Universo é uma ilusão do Satanismo Masculino,*63 e P. B. Randolph, assim como todos os Teosofistas, todos os teólogos Católicos, todos os rabinos Judeus, e todas as pessoas educadas em geral, apoiam, como é justo, uma espécie de Satanismo Masculino. A cabeça do homem, a Razão, pertence a Satã, como já dissemos. É o Satanismo Masculino que afasta a Revelação Divina direta e passa pela peneira de negação do exame de toda Verdade que brilha espontaneamente da força vital. O Satanismo Masculino cria separação porque é separação, mas sua criação é falaciosa. É o Não que se opõe ao Sim, e ele morre sem cessar, pois é privado de vida. Enquanto isso é necessário, pois é o fermento que hospeda a vida e sem a luta a Vida não seria. Desde o início, que nunca foi, os Elohim, o Sim e o Não, se opõem ao Céu à Terra, confirmando assim o princípio dos contrastes, que é a base essencial e profunda do que é, do Único que é e do que nós somos. Até o fim, que nunca virá, os Elohim, o Sim e o Não, continuarão seu grande combate solitário, seu combate universal, que se traduz em toda parte e que forma tudo. Consequentemente, o erro subsistirá, e a ilusão e a Morte não cessarão. O Satanismo Masculino é imortal. É imortal nos Céus, é imortal na Terra, é imortal nas águas sob a Terra. Se a Morte que ela gera parasse, a Vida cessaria. Agora a Vida não pode morrer. E porque a Vida é, a Morte persiste. Abram seus ouvidos, ocultistas sérios e inchados de orgulho, e tentem entender esta Verdade…
Mas em Satã há também o lado feminino. Isto é tranquilo na maioria das vezes, porque desde o início as palavras foram tiradas dele. Às vezes Deus o deixa falar, mas somente nos momentos em que o sofrimento se torna grande demais, e então é o canto do cisne. Um tempo termina então, e outro tempo começa, só porque o Satanismo Feminino*64 se expressou. O Satanismo Feminino é o princípio do Novo Nascimento, e seu grito de alegria anuncia o novo dia. A Palavra nasce então no ventre casto da Mulher; ela sobe à sua cabeça e fala pela boca, determinando o início de uma Nova Era. O Satanismo Feminino geralmente se cala, porque é o Guardião do Umbral, o Guardião silencioso que se opõe ao falo solar para impedir a fecundação. É sua atribuição opor-se à fertilização, a alegria do Sol, porque sem esta oposição, a Vida não seria. Mas quando o sofrimento se torna grande demais e as provações são muito difundidas, curvando corpos demasiado fracos, o Guardião do Umbral, Mulher-Satã, Divina-Mãe-Satã,†65 pronuncia sua Palavra. Então tudo muda nos Céus e na Terra e nas águas sob a Terra, e durante um instante sublime, a separação não existe mais; o Homem e a Mulher não são mais do que uma única coisa, os dois contrários são dissolvidos em Um só, o grito de alegria ressoa, a salvação chega, e a Vida triunfa.
Sabemos que foi dada a seguinte promessa ao Justo: “a Mulher esmagará a cabeça da Serpente Maléfica na hora marcada.” Agora, isto é o que eu faço. Eu esmago a cabeça da Serpente, o Satanismo Masculino, e proclamo o triunfo do Eixo Solar*66 na boca do Satanismo Feminino.†67 Ali você tem a diferença entre meu ensino e o de Randolph, todos os teosofistas, todos os teólogos e todos os rabinos. Proclamo o triunfo da Vida,‡68 por causa da alegria do Guardião do Umbral. Esta alegria é espiritual, pois vem da transformação das águas do Inferno em correntes do Céu.
E agora, que o sábio diretor da L’ Astrosophie de Cartago me releia. Que o venerável bispo da Igreja Gnóstica de Lyon, que pergunta se meu ensinamento é tradicional, me releia. Que os livreiros ocultistas, que recusam meu livro em suas lojas, possam reler-me. Que os desavergonhados sexólogos, que pregam a dissolução das mulheres, se arrependam. Que os médicos que nada entendem sobre isso, mas que se dedicam à filosofia sexual da mesma forma, corem de vergonha, pois estão cometendo o pecado contra o Espírito, o único que não será perdoado, pois impedem toda a compreensão da Verdade e lançam a humanidade na devassidão mortal. Eles fariam bem em ficar em silêncio, pois a Verdade resplandece e logo os confundirá…
Hoje é o breve instante do triunfo da Verdade. Apressem-se, se quiserem desfrutar dela. Quando o instante tiver passado, a Mentira voltará, a Mentira dos comentários.*69 Então será tarde demais. Os eleitos, aqueles que o mereceram, entrarão no novo Templo, e os outros serão esmagados sob as ruínas das casas desmoronadas.†70
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Notas do tradutor Donald Traxler:
*63. Naglowska parece estar aqui incluindo em sua definição de “satanismo” qualquer outra coisa além da posição não dualista que ela acaba de expressar. Ela parece sentir que a noção de “separação” é, em si mesma, satânica. Esta é uma afirmação extraordinária, e mostra claramente quão grande é o abismo entre a definição de “Satanismo” de Naglowska e a nossa. Nenhuma das pessoas que ela menciona é adoradora de Satã, e ela também não. Na verdade, como não dualista, ela não pode sequer conceber um Satã fora do Eu. Se os exemplos que Naglowska dá, teosofistas, teólogos católicos, rabinos judeus e pessoas educadas em geral, representam o “Satanismo”, então o que ela quer dizer com o termo? Parece, à primeira vista, como se a palavra satanismo pudesse ser substituída por metafísica, teologia, pensamento filosófico-religioso, ou talvez até mesmo discurso racional.
*64. O pensamento de Maria aqui pode se tornar mais acessível substituindo a palavra satanismo pela palavra teologia ou a palavra filosofia.
†65. De acordo com o anterior, a palavra Satã nestes compostos poderia provavelmente ser substituída por teólogo ou filósofo.
*66. O falo.
†67. Os termos Satanismo Masculino e Satanismo Feminino evidentemente incluem metafísica, religião, filosofia, e talvez todos os processos racionais.
‡68. = Deus.
*69. A palavra francesa usada, “commentaire”, também pode significar “crítica”, e é provavelmente assim que deve ser entendida aqui.
†70. Naglowska pode estar aqui se referindo à catástrofe da Segunda Guerra Mundial, que ela previu e publicou a previsão em 1935,[3] ou então a um desastre que ainda não chegou.
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Referências:
1. Revisão anônima, “La Lumière du Sexe,” L’Astrosophie 8, no. 5 (January
21, 1933): 176.
2. Maria de Naglowska, “Satanisme Masculin, Satanisme Féminin,” La
Flèche Organe d’Action Magique 16 (March 15, 1933): 20–24.
3. La Redaction, “Avant la Guerre de 1936,” La Flèche Organe d’Action
Magique 20 (January 15, 1935): 3.
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Fontes:
NAGLOWSKA, Maria de. La Lumière du Sexe, 1932. Éditions de la Flèche.
TRAXLER, Donald. The light of sex : initiation, magic, and sacrament / Maria de Naglowska; translated from the French with an introduction and notes by Donald Traxler; illustrations by Lucien Helbé. Inner Traditions
One Park Street. Rochester, Vermont 05767. <www.InnerTraditions.com>. Translation, introduction, and commentary © 2011 by Donald Traxler. Foreword © 2010 by Hans Thomas Hakl. Originally published in French in 1932 under the title La Lumière du Sexe by Éditions de la Flèche. Illustrations by Lucien Helbé. All rights reserved.
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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.
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