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Shirlei Massapust
A autoria duma lenda que se espalhou rapidamente pelas redes sociais tem sido creditada ao internauta Marcus, residente em Östersund, Suécia, proprietário do blog Creepypasta. Em 25/06/2012 ele criou ou coletou uma notícia ilustrada com uma foto supostamente tirada em junho de 1972, numa sala do Cedars-Sinai Medical Center, em Beverly Blvd, Los Angeles.
Retratos falados de internautas e fotografia da deusa publicada no blog Creepypasta.
Verificadores de fatos descobriram uma falha cronológica na estória porque, apesar do prédio existir desde 05/11/1972, este hospital só começou a funcionar em 03/04/1976. A falha foi contornada pelo eBaum’s World, que insiste na afirmação de que tal caso seja bem documentado e que a foto seria quatro anos mais nova:
Várias pessoas admitem tê-la visto (ela era uma visão incomum). A polícia não sabia o que fazer com o caso. A versão oficial era de que a mulher era uma psicopata que afiou os dentes e agia como uma fera. A enfermeira que sobreviveu afirma que ela não tem a aparência ou atitude de um ser humano. (…) Seus movimentos também eram muito estranhos. Dizia que olhava para as pessoas inclinado o pescoço em ângulos estranhos quando estava calma.[1]
Se a notícia foi ambientada num prédio vazio, em 1972, isto pertence ao ciclo de estórias sobre conspiração das autoridades para ocultar a presença de alienígenas e outras estranhezas na Terra; seguindo o modelo da lenda da base militar inativa de Roswell, que teria recebido um disco voador em 1947. Contudo, a estória faria mais sentido caso ambientada em 1976, num hospital cheio de estagiários e médicos recém formados (todos desacostumados com a diversidade cultural, impressionados por estórias de guerra contra vietnamitas e telespectadores de filmes de vampiro).
A foto mostra um casal de estagiários manejando um “training dummy” (manequim para treino de estudantes) ou um médico e uma enfermeira socorrendo uma paciente de traços éticos orientais e pele embranquecida por uma maquilagem tão forte quanto aquela tradicionalmente usada por gueixas.
A estória diz que esta paciente de aparência incomum foi achada na rua sem documentos nem dinheiro, com tanta fome que precisou caçar um gato. Ela foi vista mordendo o gatinho, o sangue do animal esguichou no chão e no vestido branco que era a única coisa que esta mulher usava.
Ela vomitou e entrou em colapso. Chamaram socorro e a levaram ao Cedars-Sinai Medical Center. A paciente não respondia perguntas e sua ficha foi catalogada como “Document # 27745 – Patient Unknown”. O vestido sujo foi trocado por um roupão médico. A paciente foi então conduzida a uma cama onde foi vítima de comentários maldosos porque “parecia um manequim com os movimentos e coordenação motora de um humano; tinha o rosto perfeito como o de um manequim, sobrancelhas depiladas e maquilagem carregada”.
Ela permaneceu calma, inexpressiva e imóvel, sem responder perguntas desde que chegou ao hospital até o momento em que reagiu para impedir que lhe injetassem sedativos. Quando viu a seringa tentou fugir e foi segurada por dois membros da equipe. Mesmo fazendo força para se libertar manteve a mesma expressão facial, sem mover nenhum músculo do rosto. Olhou nos olhos do médico com um “olhar sem emoção” e sorriu para ele exibindo uma arcada dentária diferente da humana, com dentes pontiagudos.
Isso seria um gesto gentil e gracioso em certas partes do oriente ou da África onde pessoas faziam modificações estilísticas na arcada dentária para imitar deidades, mas em Los Angeles a moda das próteses e restaurações dentárias que imitam vampiros cinematográficos ainda não estava difundida.
A enfermeira gritou de medo e se afastou da paciente. O médico continuou oprimindo-a e ofendeu-a perguntando “What in the hell are you?” Ela recostou a cabeça no ombro, ainda sorrindo, fez uma pausa e cravou os dentes no pescoço do médico, perfurando a veia jugular ou a traqueia.
Enquanto o norte-americano agonizava, a onna-bugueixa inclinou sobre ele e falou em seu ouvido em péssimo inglês: “I…am…God…” (Ou seria “I am good?”) Depois andou pelos corredores com uma atitude fria e calculista, cumprimentou os seguranças e saiu calmamente do estabelecimento. Quando a polícia interrogou a enfermeira que testemunhou tudo, ela contou essa estória e chamou a paciente de “The Expressionless”.[2]
Provavelmente isto é uma creepypasta (estória fictícia que circula pela internet mudando de tempos em tempos e que ocasionalmente se transforma em lenda digital). Não é um caso forteano ou criptozoólogo (estória baseada em fatos reais tais como o gado morto encontrado em áreas de propagação da lenda do chupa-cabra). A descrição mais parecida que eu pude encontrar em impressos de época foi a duma personagem do livro de ficção científica The Space Vampires (1976), a qual possuía pele branca, lábios vermelhos e cabelos escuros. “Vista de perto, mesmo uma mulher bonita apresenta defeitos. Aquela moça não tinha nenhum”.[3]
O ufólogo John Keel ficava constantemente decepcionado quando entrevistava pessoas contatadas por MIB porque vários retratos falados dos homens de preto são idênticos às “descrições genéricas” dos vampiros cinematográficos.[4] Em 11/09/1976 o doutor Herbert Hopkins teria conversado com um notório exemplar masculino com os lábios pintados, sem sobrancelhas nem cílios.[5] A inexpressividade também era característica de muitos humanos. Uma carta do editor Charles Bowen remetida em 1967 para John Keel descreve um falante tedioso que viajou à Inglaterra a fim de ler um manuscrito sobre vampiros: “His speech was a monotonous, emotionless, expressionless, mechanical one-pitch perpetual motion”.[6]
Notas:
[1] THE EXPRESSIONLESS, Publicado no blog eBaum’s WORLD, 06/10/2021. Acessado em 29/05/2014 às 16:52h. URL: <http://www.ebaumsworld.com/blogs/view/82593430/>.
[2] MARCUS. The Expressionless. Em: CREEPYPASTA, postado no blog em 25/06/2012. URL: <http://creepypasta.tumblr.com/post/25953583300/>.
[3] WILSON, Colin. Vampiros do Espaço. Trad. José Sanz. Rio de Janeiro, Livraria Francisco Alves, 1977, p 41.
[4] CLARK, Jerome. Enciclopédia do Inexplicável. Trad. José Eduardo Ribeiro Moretzsohn. São Paulo, Makron, 1997, p 194
[5] HOMENS DE PRETO. Em: Fator X (Editora Planeta), nº 12, p 231.
[6] SKINNER, Doug. Were Some “Men In Black” Troubled Ufologists? Tópico aberto no forum John Keel: not an authority on anything, em 24/05/2011. URL: <http://www.johnkeel.com/?p=679>.
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