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Por Enfys Book.
Não me lembro por que inicialmente entrei no Tumblr, mas rapidamente se tornou uma ferramenta valiosa para me manter a par das tendências, gírias e discursos atuais sobre questões de direitos civis entre a Geração Z.
Uma coisa que achei surpreendente, porém, é uma reação incrivelmente prevalente ao uso da palavra “queer”, às vezes chamada de “q-slur” por pessoas que acreditam que não deveria ser usada.
Quando estudei na Austrália, 20 anos atrás, o espaço LGBTQIAP2S+ era chamado de “espaço queer”. Fiz um curso chamado “Culturas Gays, Lésbicas e Queer”, e o termo “queer” era geralmente considerado preferível ao acrônimo cada vez maior. Descobri que realmente gostava de usar o termo e passei a gostar ainda mais à medida que envelhecia.
Parte do que eu gosto na palavra “queer” é que originalmente significava (e, até certo ponto, ainda significa) “estranho”. Como uma criança inteligente com um senso de humor peculiar crescendo no meio-oeste, as crianças frequentemente (quase diariamente) me chamavam de “bizarra” de uma forma zombeteira. Costumava ferir meus sentimentos ser “vista como a outra” nessa capacidade, mas um dia pensei comigo mesmo: “Sabe de uma coisa? Eu sou estranha. E isso é algo que eu gosto em mim!” A partir daquele dia, a palavra deixou de ter poder sobre mim.
De maneira semelhante, as pessoas queer e outros movimentos de direitos civis têm uma longa e orgulhosa história de recuperação de palavras usadas contra eles por seus opressores. As pessoas da comunidade queer vêm reivindicando a palavra “queer” desde antes do primeiro tijolo ser jogado em Stonewall.
Não só isso, o termo foi integrado ao ponto em que a disciplina acadêmica de Estudos Queer surgiu no início dos anos 1990 – quase 30 anos atrás!
Para alguns, é realmente difícil ouvir palavras que foram lançadas contra você por seus opressores – e em algumas partes do mundo, “queer” é usado quase exclusivamente como um insulto (no português seria algo próximo ao termo “viada”, conforme usado pelo Círculo da Viada Chama Púrpura no Liber Queer). Tenho compaixão por aquelas contra quem o termo é rotineiramente usado como arma e reconheço que ninguém deve ser forçada a usar o termo como um identificador pessoal, mesmo que eu defenda seu uso como um termo genérico em nossa comunidade.
Temo que parte do esforço para demonizar “o q-slur” tenha origem na comunidade Feminista Radical Trans-Excludente (em inglês: Trans-Exclusionary Radical Feminist – TERF), um grupo que trabalha para remover pessoas transgênero de espaços queer inclusivos. Porque, por mais que o longo acrônimo LGBTQIAP2S+ tenha o potencial de nos unir sob um guarda-chuva comum, ele também nos separa em subcategorias às vezes inúteis e deixa espaço para que pessoas que se beneficiariam dessa comunidade se escondam entre as rachaduras. As pessoas trans viveram por muito tempo à sombra da comunidade queer, assim como as pessoas não-binárias e assexuais, que muitas vezes são deixadas de fora das conversas críticas.
Ao usar “queer”, reconhecemos que o guarda-chuva é grande e pode acomodar uma grande variedade de pessoas abaixo dele, incluindo pessoas cujas identidades estão em fluxo, incertas ou ainda não têm um rótulo confortável (pessoas como eu, honestamente – enquanto escrevo isso, ainda não encontrei um descritor de gênero específico que se encaixe em mim, então “queer” é um bom termo para “não sou cisheteronormativa”).
Fico feliz por aqueles que colocam a linguagem sob o microscópio, que cutucam os termos para ver se ainda são os melhores termos para atender às nossas necessidades. Fico feliz que essas conversas estejam acontecendo. Talvez algum dia encontremos um termo melhor do que “queer” para descrever de forma sucinta e inclusiva nossa comunidade (uma opção, que ainda não ganhou força popular, é GSRM: Minorias de Gênero, Sexuais e Românticas, em inglês, Gender, Sexual, and Romantic Minorities). Quando esse dia chegar, aceitarei alegremente sua substituição.
Mas por ora? Eu estou aqui. Eu sou queer. Acostume-se a isso!
Fonte:
https://majorarqueerna.com/why
Texto enviado por Ícaro Aron Soares.
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