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Método Rebirthing: Renascendo para a vida

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por Irene Abbondio

Para a maioria de nós – ou, pelo menos, para aqueles que não vieram ao mundo através do método Leboyer ou outros métodos de parto sem dor, natural, espontâneo e suave -, o nascimento não foi nada agradável. Não nos lembramos conscientemente desse momento, mas pesquisas psicológicas nos informam que nossa vida atual frequentemente foi “programada” por sensações que sentimos durante nossa vida pré-natal, ainda no ventre materno, nas fases de um parto difícil e durante o momento doloroso da primeira respiração. Quer dizer, a “programação” está condicionada por um medo asfixiante, mortal, em vez de por uma grande alegria de viver.

No Oriente, berço da ioga, o recém-nascido sente imediatamente o contato com a pele da mãe, mesmo antes de o cordão umbilical ser cortado. Esse contato suave inspira segurança e confiança. O neném não precisa expelir aquele grito primordial, horrendo, que no Ocidente é interpretado com satisfação como o primeiro sinal de vida. No Oriente, a respiração, o alento, se torna um instrumento de felicidade, êxtase, criatividade e espiritualidade máximas. Para o homem ocidental, ele se torna, na melhor das hipóteses, um treinamento rígido da força de vontade em ioga e no esporte, para providenciar ao corpo o oxigênio em falta desde o nascimento. Descobrir novamente nossa respiração e liberá-la, encontrar no próprio interior a fonte da vida, a alegria de viver e a autoconfiança primordial — isto é o que ensina o método Rebirthing. Essa palavra inglesa nos chega da América do Norte, onde Leonard Orr, há 15 anos, por necessidade e experiência próprias, conseguiu constatar o efeito específico do respirar intensivo sobre sua consciência. Desta maneira, ele pôde reviver seu próprio nascimento e “modificá-lo”, fazendo o mesmo depois com milhares de pessoas. Uma tradução aproximada de rebirthing seria “a experiência do renascimento”.

O psicanalista francês Dominique Levadoux conheceu Leonard Orr e seu método de autoajuda no início dos anos 70, no Instituto Esalen, na Califórnia (EUA). Ele completou essa experiência com seus próprios conhecimentos, aliados aos de Stanislav Grof, famoso pesquisador da consciência e cofundador da psicologia transpessoal — uma escola psicológica que também considera o transpessoal, nos campos místico e divino, como aspecto importante do ser humano. Dominique Levadoux constatou uma grande semelhança entre o rebirthing e os estados de consciência transpessoais descritos por Grof em relação às fases do nascimento. Seu livro “Renaitre”, o primeiro publicado na Europa sobre esse tema, conta suas experiências.

Há dez anos, Dominique Levadoux, juntamente com Jacques de Panifieu, prepara em Paris (França) profissionais interessados em utilizar o rebirthing e outros métodos concentrados no corpo como instrumentos terapêuticos. A respiração intensiva tem um papel decisivo também na “terapia primária” de Arthur Janov.

Atualmente, o rebirthing é utilizado nos círculos mais variados e em combinação com outras técnicas. Representantes de uma “linha dura” enfatizam a parte dolorosa desse processo; outros preferem uma aproximação mais branda. Muitos psiquiatras e psicanalistas englobam sessões de rebirthing em seu trabalho. Terapeutas humanistas e da linha gestalt oferecem o rebirthing em seus programas de autorealização e experiência pessoal, na forma de sessões individuais e grupais.

Os discípulos da técnica original, desenvolvida por Orr, não veem o rebirthing como terapia no sentido específico da palavra, mas como um método de autoajuda e autocura. Para eles, é suficiente que tenham passado pessoalmente pela quantidade de sessões determinada por Orr, para depois começarem a ajudar outras pessoas. Na Alemanha Ocidental, formou-se há um ano uma associação que abrange e apoia todos os profissionais que utilizam esse método: a Associação Alemã para Rebirthing.

Stanislav Grof desenvolveu, baseando-se nessa técnica de respiração, uma forma ligeiramente diferente, a chamada “respiração holotropica”: ele a vê como um meio de desenvolver a espiritualidade, a abertura espiritual para o misticismo. Como representante dessa forma algo diferente do rebirthing original, como é ensinado no Centre d’Evolution, em Paris (França), participei com muito interesse de um seminário desse cientista realizado no outono de 1985, na Suíça.

Partindo de sua “respiração holotropica”, desenvolvida através de pesquisas (imagem integral do mundo e do homem), Grof desenvolveu, juntamente com sua mulher, Cristina, a “terapia holotrópica”. Ela enquadra dimensões de uma realidade muito além do campo de experiência comum aos homens. Deste modo, consegue-se entrar na dimensão “transbiográfica”, isto é, uma dimensão além da própria experiência individual, onde se encontram recordações primordiais, visões cósmicas, identificação da consciência com o mundo dos animais, plantas e minerais. A pessoa consegue viver experiências mitológicas, entrar em mundos povoados por deuses e demônios – mas alcançando também sua origem pessoal, o próprio nascimento. Essa experiência, naturalmente, é centrada na respiração. Posso resumir minhas próprias experiências nas seguintes palavras: “renascer, com o auxílio da respiração”. Através do rebirthing, aprende-se uma maneira de respirar que pode ser aprendida e aplicada por qualquer um. Curei-me quase totalmente de uma asma e redirigi minha vida, identificando-me ainda mais com minha vocação de pedagoga e terapeuta. Tudo isso em contato com indivíduos que irradiavam energia, sabedoria, simplicidade e amor, como nunca tinha sentido em meu círculo particular de amizade. Aquelas pessoas mereciam toda minha confiança, porque é condição essencial ter esse sentimento em relação a quem nos ajuda durante os exercícios de respiração – quando “viajamos” ao nosso próprio “eu”. É preciso confiar na pessoa que me ajuda a sair da prisão de meu “eu velho”, a prisão onde, antes do meu renascimento, eu repetia eternamente as mesmas experiências antigas e dolorosas em centenas de variações. É necessário muita coragem para enfrentar a própria vida. É preciso coragem para se chegar à verdade interior e ao desenvolvimento; coragem para admitir como muitas atividades aparentes até aquele momento só serviam para ignorarmos a necessidade de modificações, para se acabar com o velho. Coragem, também, para enfrentar as eternas questões a respeito do sentido da vida nesse planeta e se deixar envolver por elas.

Seguindo as indicações do terapeuta, comecei a respirar profundamente, fortalecendo e acelerando as respirações, lentamente encontrando meu próprio ritmo. E, enquanto vivia essas respirações, minha consciência mergulhava no meu mundo interior, em minhas experiências, sensações, imagens e pensamentos. A respiração tem aqui o papel de um catalisador. No início pode ser um processo fisicamente difícil, doloroso, quando se fica consciente dos crônicos bloqueios e das tensões físicas. Sentimentos e sensações também emergem, enquanto se tenta, através de todas essas experiências físicas, continuar respirando. São sentimentos que, em geral, nos recusamos a admitir, aceitar, observar.

A caixa de Pandora do meu inconsciente se abre: coisas inacabadas, sufocadas, limitadas em minha história pessoal são projetadas na minha tela interior. Os demônios da minha incapacidade, meu medo, raiva, desespero, solidão e resignação me assustam talvez. Respirando, desperto partes “esquecidas” de minha vida, projetando-as novamente na minha consciência.

De repente, estou em meio ao meu nascimento, vivendo-o em toda a plenitude de meus sentimentos e sentidos. Talvez minha consciência traduza toda essa história por símbolos e imagens mitológicas, assim que eu participo da “memória humana”. Cada uma das quatro fases pré-natais, segundo Grof, representa profundamente as imagens primordiais, enraizadas em todas as religiões da humanidade, desde o paraíso e a união cósmica ao inferno impiedoso, desde a morte ritual no fogo de purificação à ressurreição e transformação.

Ao respirar, permitindo-me respirar, recebo essas mensagens em meu espírito, aceitando-as como parte de mim. Enquanto respiro, escolho a vida e saio íntegra daqueles abismos infernais onde reina o terror. Respirando, vivo meu próprio ser, minha vida de agora e, talvez, também a que passou; e respirando tenho a possibilidade de reescrever esse roteiro, inconsciente até aquele momento. Noto como me agarrei ao meu próprio sofrimento porque precisava dele, e aprendo agora como abandoná-lo.

Alguma coisa respira e eu posso entregar-me calmamente a essa energia vital, banhar-me nela, sentir como ela flui — como uma sensação de formigamento — em cada célula do meu corpo. Sinto-me relaxada, em paz comigo mesma, com o mundo e o cosmos. Leonard Orr diria que esse formigamento refrescante é a “presença divina no nível celular”. Nessa presença é simplesmente impossível ter um pensamento negativo.

Uma jovem inteligente, impetuosa, encontrando-se numa fase muito autodestrutiva, de repente começou a respirar espontaneamente pelo método rebirthing, e eu a acompanhei durante esse processo, que ela levou ao fim através de seu desespero profundo. Trabalhei com ela do mesmo modo mais algumas vezes, através do método que ela mesma escolhera. Suas palavras ao final do processo foram as seguintes: “Mesmo que quisesse, não poderia nunca mais pensar como pensava antes.”

Uma outra jovem me descreveu a experiência mais impressionante que teve durante dez ciclos de rebirthing, nos quais ela abandonou muitos “programas” dolorosos de pensamentos e sentimentos. Pela primeira vez ela se sentiu unida ao seu corpo, percebendo cada parte como sendo sua, impregnada de energia, o que lhe trouxe imensa felicidade.

É partindo apenas dessa base que a cura acontece. Somente nesse momento conseguimos perceber nossas necessidades reais, sem distorcê-las. À luz dessa consciência, de repente emergem verdades que durante muito tempo tentamos encontrar com desespero. Krishnamurti dizia que na sua procura pela verdade as pessoas simplesmente devem ficar atentas, observar continuamente “o que é” para observá-lo como realidade momentânea, para que “aquele que observa” possa acontecer. Isto vale também para o rebirthing. Respirando, damos a nós mesmos um momento especial para realizar esse trabalho superconcentrado. E, além disso, nos fornecemos a energia necessária para realizar o que tem de ser realizado. O corpo é capaz de ser feliz e relaxado; e o espírito, para usar a energia vital no positivo.

Tornamo-nos mestres de nosso destino, porque, trabalhando nosso corpo com a respiração, descobrimos as leis do espírito e a natureza de nossos pensamentos, e sua influência sobre nossa existência nesse mundo.


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