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PSICO

A parábola do Vampiro que visitou o Paraíso e o Inferno

Este texto foi lambido por 333 almas esse mês

por Lord A:.[1]

*Conforme sugerido por meu editor, leia ouvindo esta música:

Outra noite voei até o Paraíso. Vampiros e Vampiras, inclusive, podem transitar abertamente por lá. Quem pensa que não podemos ou que não merecemos estar lá, geralmente não consegue chegar. A vida é assim, sempre foi.

A Graça e a Fortuna também. Nem tudo que não se fala deixa de existir. A familiaridade e um tom de perenidade deveriam ser mais considerados na prática da Magia.

O Paraíso é um espaço sideral, silencioso, pouco habitado e belo. Atmosférico, eu diria. Encontrei Deus e bati um papo com ele. Vocês ficariam atordoados se eu contasse…

Vimos uma montanha e escutamos um ruído infernal vindo de lá, um coro de vozes inenarráveis e contínuas. Perguntei ao Grande Arquiteto o que era aquilo. Ele suspirou e respondeu: “É o Inferno. Quer dar uma espiada?” Eu concordei e até brinquei: “Você já vai me jogar lá?” Ele riu e eu também. Desviei o olhar. Já mencionei que podemos visitar e não exatamente permanecer no Paraíso. Enfim, o Senhor dos Senhores e de todos os mundos é impecavelmente magnânimo e muito melhor do que o que falam dele nos livros.

Logo estávamos no Inferno. E o coro interminável e contínuo era realmente insuportável. Vi Lúcifer ou seria Satã no alto de um trono com um fone de ouvido. Como muita gente na Terra diz que sabe o CEP de onde ele mora e quem Ele é de Verdade – esperando que outros lhe perguntem como se referir a ele antes de o mencionar na rede social, pois até mesmo alegam deterem a patente do seu nome, acho melhor deixar assim.

Nem Ele aguentava o coro de lá. Ele acenou para Deus e este retribuiu, falando algo do tipo “Palmeiras não ter mundial”. Se nem a Anne Rice mencionou o papo de Memnoch e do Criador, quem sou eu para isso?

Olhei para Deus e perguntei: “Mas afinal, o que essas almas condenadas tanto cantam ou gritam sem parar neste inenarrável mantra horroroso?”

Deus, virando os olhos para cima, respondeu: “Eles falam sem parar ‘Eu-Eu-Eu’, ‘Eu isso’, ‘Eu aquilo’, ‘Em nome disso’, ‘Em nome daquilo’, ‘Em meu nome’ e por aí vai… e repare que não param, né?”

“É verdade…”, concordei.

Do outro lado, Lúcifer ou Satã, com uma cara de quem acabou de fazer um sermão na montanha(**), gritou: “Vai se achando, barbudo! Ninguém nunca fala que foi no meu nome… haja saco! Bando de gente narcisista, né! Mas, ai, Vampyro, eles só te mostraram a parte brega. Temos lugares mais interessantes aqui para você e seus amigos e amigas, viu!”

Um vulcão ou algo semelhante explodiu lá no fundo do inferno, asas poderosas me resguardaram e eu acordei.

*Esta prosa é adaptada (respeitosamente) de uma anedota Hassídica.

Enfim, quanto mais as pessoas postam na rede social “Eu-Eu-Eu” e quanto mais se apresentam como “puras”, “evoluídas” e do único lado certo e verdadeiro possível, mais sabemos onde elas realmente estão e a própria força delas. Sim, a humanidade é uma abstração, todos nós somos limitados cognitivamente e mais irracionais do que gostaríamos, portanto, mentimos bastante sobre nossa racionalidade quando postamos no Instagram. A maioria só pesquisa o que já sabe para prontamente desfilar na rede social – como é melhor, evoluído e está do único lado certo.

Meu conselho?

“Vocês precisam parar de normalizar tanto o próprio ‘viés’ ou ainda o próprio ‘enviesamento’ como revelação, poder, domínio, maestria, ‘Ser/Self’ e coisas assim neste papo de Magia.” – Lord A”

**E não é que Lúcifer tinha feito mesmo um sermão na montanha! Escute aqui.


Lord A:. tem mais de 10 livros publicados no Brasil e com mais de vinte anos de estrada na senda do vampyrismo. Respeitado não apenas no Brasil, mas também na Comunidade Vampyrica internacional, é rei da Dinastia Sahjaza e desenvolve o Círculo Strigoi desde 2006. Como autor, é um criador de mundos, tendo escrito o sucesso Mistérios Vampyricos (Madras Editora, 2014), Deus é um Dragão (Penumbra Livros, 2019) e a série Codex Strigoi (Selo Literário Rede Vamp, 7 volumes iniciados em 2017). Também organiza encontros, eventos, festas e passeios culturais. Apresenta o programa de rádio e Podcast Vox Vampyrica ; o AcessoRedeVamp e é o editor-chefe do portal da Rede Vamp.


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