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A História da Hipnose

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Por Rodrigo Elutarck

A hipnose é um fenômeno complexo que envolve a mente humana em um estado de foco e receptividade. Segundo Dave Elman, hipnose é a ultrapassagem do “Fator Crítico” da mente consciente, estabelecendo um pensamento seletivo e aceitável. Essa definição é amplamente reconhecida pela NGH (National Guild of Hypnotists) dos EUA. Assim, pode-se dizer que todos nascem em “Estado de Hipnose”, pois, de zero a seis anos, o fator crítico da mente é formado pelo meio em que a criança vive, permitindo um aprendizado acelerado, alta capacidade de memorização e percepção positiva da vida. Por outro lado, também facilita a entrada de crenças limitantes. Existem duas teorias que explicam a hipnose: a teoria de “Estado” e a de “Não-Estado”.

A teoria de “Não-Estado” sugere que o estado hipnótico é um fenômeno comportamental sem alterações significativas no cérebro do sujeito, baseando-se na concentração e engajamento do indivíduo no processo. Já a teoria de “Estado” propõe que a hipnose é um estado alterado de consciência que permite o acesso ao subconsciente, mantendo o paciente consciente e no controle de suas ações.

Modelos de mente como o proposto pelo hipnotista Gerald Kein dividem a mente em três partes: consciente, subconsciente e inconsciente. A neurolinguística faz a seguinte associação: o lóbulo frontal representa o consciente; outras áreas do cérebro representam o subconsciente, responsável por memória e funções adicionais; e o inconsciente engloba estruturas como o cerebelo e medula, que controlam funções motoras e autonômicas.

Hipnose na Antiguidade

A hipnose, sendo um estado natural do ser humano, sempre esteve presente na história. Grupos primitivos e seus xamãs, termo generalizado para incluir sacerdotes de diversas culturas, utilizavam estados de transe em rituais de cura, conexão com o sagrado e práticas divinatórias. Na Mesopotâmia, os sacerdotes caldeus usavam “passes magnéticos” e imposições de mãos para induzir estados de transe em enfermos. No Egito, existiam rituais de cura nos “templos do sono”, conforme documentado no Papiro de Ebers, que contém fórmulas mágicas e descrições de procedimentos de cura.

Na Grécia antiga, sacerdotes invocavam Esculápio para induzir estados de transe e promover curas. Durante a Idade Média, os estados hipnóticos eram atribuídos a intervenções divinas ou, fora da igreja, a possessões demoníacas. Esses fenômenos hipnóticos ainda ocorrem no cotidiano moderno, como ao procurar um objeto que está na mão (alucinação negativa) ou esquecer o nome de alguém logo após uma conversa.

Biografias dos Grandes Nomes da Hipnose

Franz Anton Mesmer (1734-1815)

Franz Anton Mesmer foi um médico alemão que deu origem ao conceito de magnetismo animal, considerado um precursor da hipnose moderna. Formou-se em medicina pela Universidade de Viena e desenvolveu a teoria do “fluido universal”, que, segundo ele, influenciava o corpo humano e podia ser manipulado para curar doenças. Em 1773, Mesmer realizou seu primeiro tratamento usando magnetismo em Franziska Esterlina, amiga da família Mozart.

Embora suas técnicas fossem controversas e rejeitadas pela comunidade médica de Paris, seu trabalho trouxe à tona a noção de cura através da sugestão e concentração. As investigações da época não validaram o magnetismo animal, mas as curas de Mesmer influenciaram a psicologia e a hipnoterapia. A rejeição a Mesmer pelas instituições médicas impulsionou o desenvolvimento do método científico e da psiquiatria.

James Braid (1795-1860)

James Braid, um cirurgião escocês, é frequentemente referido como o “Pai do Hipnotismo Moderno”. Após assistir a uma demonstração de magnetismo animal, Braid passou a investigar o fenômeno com rigor científico. Ele introduziu o termo “hipnotismo” para descrever o estado de concentração induzido pela fixação do olhar em um objeto, que leva a um estado de consciência alterado sem necessidade de magnetismo. Suas investigações desmistificaram o processo, mostrando que a hipnose era um estado autoinduzido pelo sujeito, dependendo da sugestão e da concentração.

Braid contribuiu significativamente para a aceitação da hipnose na academia, demonstrando que o fenômeno podia ser explicado pela ciência e não dependia de uma “força magnética” do hipnotizador. Suas técnicas ainda são usadas, como a indução por fixação ocular.

James Esdaile (1808-1859)

James Esdaile foi um cirurgião escocês que utilizou a hipnose para realizar cirurgias indolores na Índia colonial. Seu uso da hipnose, ou “mesmerismo”, resultou em uma drástica redução na mortalidade pós-operatória, de 50% para 5%, devido à redução do choque cirúrgico. Esdaile utilizou uma técnica local chamada Jhar-Phoonk, que combinava gestos e sopros sobre o paciente, induzindo um estado de anestesia hipnótica. Embora não tenha sido diretamente relacionado à hipnose moderna, seus experimentos influenciaram o desenvolvimento da anestesia e a aceitação da hipnose na medicina.

Pierre Marie Félix Janet (1859-1947)

Pierre Janet foi um psicólogo e psiquiatra francês que estudou a dissociação e a memória traumática, pioneirando a compreensão da relação entre experiências passadas e traumas atuais. Ele introduziu conceitos fundamentais como “dissociação” e “subconsciente”, que influenciaram profundamente a psicologia e a hipnoterapia. Janet também explorou o uso da hipnose em pacientes histéricos, ligando traumas a sintomas psicológicos, e suas teorias continuam a ser um alicerce na psicologia moderna.

Sigmund Freud (1856-1939)

Sigmund Freud, fundador da psicanálise, começou sua carreira explorando a hipnose sob a influência de Jean-Martin Charcot. Freud usava a hipnose para tratar pacientes histéricos, mas gradualmente abandonou a prática, preferindo a técnica de associação livre, que permitia aos pacientes falar livremente, trazendo à tona conflitos inconscientes. Embora tenha deixado a hipnose de lado, Freud reconheceu sua importância inicial na descoberta do inconsciente e dos processos mentais subjacentes aos distúrbios neuróticos.

Jean-Martin Charcot (1825-1893)

Jean-Martin Charcot, um dos fundadores da neurologia moderna, utilizou a hipnose para estudar a histeria, afirmando que a suscetibilidade ao transe era um sintoma da doença. Charcot conduziu demonstrações públicas de hipnose no Hospital Salpêtrière em Paris, o que gerou controvérsias e contribuiu para o preconceito em relação à hipnose. Embora suas ideias tenham sido posteriormente refutadas, Charcot foi um dos primeiros a investigar a hipnose de forma científica.

Émile Coué (1857-1926)

Émile Coué foi um farmacêutico e psicólogo francês que desenvolveu o Método Coué de auto-sugestão. Ele enfatizou o poder da mente sobre o corpo, propondo que repetições positivas, como “A cada dia, em todos os sentidos, estou ficando melhor e melhor”, podiam influenciar o bem-estar. Coué acreditava que a sugestão voluntária e consciente podia alterar a programação subconsciente, dando ao indivíduo controle sobre sua saúde mental e física.

Clark Leonard Hull (1884-1952)

Clark L. Hull foi um psicólogo americano que trouxe rigor científico ao estudo da hipnose, rejeitando a ideia de que hipnose é um estado de sono. Em suas pesquisas, Hull demonstrou que a hipnose era um estado de alerta aumentado, onde o sujeito respondia mais facilmente à sugestão. Hull trouxe uma abordagem quantitativa para o estudo da hipnose, mostrando que os fenômenos associados à hipnose poderiam ser alcançados pela sugestão e motivação.

Dave Elman (1900-1967)

Dave Elman, famoso por suas contribuições à hipnose médica, desenvolveu uma das induções mais utilizadas até hoje. Sua técnica, que inclui etapas como relaxamento físico, fracionamento e testes de amnésia, é amplamente empregada por hipnoterapeutas e médicos. Elman também ensinou hipnose para profissionais da saúde, ajudando a expandir o uso da hipnose clínica.

Milton H. Erickson (1901-1980)

Milton Erickson foi um psiquiatra e psicólogo americano que revolucionou a hipnose clínica. Ele via a mente inconsciente como um reservatório de recursos e utilizava a hipnose de forma permissiva e indireta, usando metáforas e histórias para comunicar-se com o inconsciente do paciente. Erickson influenciou diversas abordagens terapêuticas modernas, como a Programação Neurolinguística (PNL), e é considerado um dos maiores nomes da hipnose contemporânea.

Cenário Atual

Após a era de Milton H. Erickson, a hipnose continuou a evoluir, incorporando suas técnicas inovadoras e expandindo seu uso para novas áreas terapêuticas. As décadas que se seguiram viram um crescente interesse na hipnoterapia, com abordagens que integravam conceitos da Programação Neurolinguística (PNL), terapia cognitivo-comportamental (TCC) e mindfulness. A hipnose ericksoniana, com seu foco em metáforas, sugestões indiretas e a exploração da criatividade do inconsciente, tornou-se uma base para muitas terapias breves e estratégias de mudança pessoal. A hipnose clínica ganhou espaço em campos como a psicologia, psiquiatria e medicina, sendo reconhecida por seu papel na redução da dor, tratamento de fobias, manejo da ansiedade, e controle de hábitos como o tabagismo. Pesquisadores e terapeutas como Ernest Rossi, Stephen Gilligan e Jeffrey Zeig continuaram a desenvolver o legado de Erickson, promovendo a hipnose como uma ferramenta respeitada dentro da psicoterapia. Hoje, a hipnose é vista como uma prática integrada, combinando ciência e arte para promover a cura e o desenvolvimento pessoal. Seus princípios são explorados por profissionais de psicologos e psicoterapeutas, mas também por profissionais de marketing, políticos profissionais e pela indústria do entretenimento.

Fontes:


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