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por Dom Wilians (Seilenós)
Bebidas alcoólicas são produzidas freneticamente, promovidas a todo instante nas mídias e ingeridas por milhares de pessoas em todo mundo, mas poucos compreendem as suas influências espirituais e como usá-las para favorecer a espiritualidade. Esse artigo trará uma abordagem introdutória da influência alcoólica á nível espiritual, assim como as características mágicas do álcool e formas de utilizá-lo como ferramenta.
Sumariamente, a palavra “álcool” tem sua origem no idioma árabe. Os árabes liquefaziam um pó escuro que batizaram de “al-kohul, al-ġawl e al-kuhul” que significa “pó fino/sutil”. Esse pó escuro era a sobra da destilação do vinho e outras bebidas e ficou conhecido principalmente por servir de pó de maquiagem usado pelas mulheres dos haréns. Embora civilizações antigas tenham conhecido a produção de bebidas alcoólicas, foi somente com os alquimistas árabes na Idade Média que tal produção chegou a nível de uma destilação eficaz que podia controlar o teor alcoólico das bebidas, diferente da produção dos egípcios e babilônios que tinha baixo teor alcoólico em suas bebidas por somente conhecerem o processo natural de fermentação. Mas com suas experiências os alquimistas árabes descobriram também que o álcool servia para diversas coisas além da produção de bebidas e utilizaram esse componente para a criação de trescalâncias, para extrair a essência dos óleos e até da alma de uma entidade. A bebida alcoólica também era vista como uma essência e mesmo o Al-anbiq (alambique), que por sua vez tem origem no termo grego “ambix” que significa “copo”, denotava essa ideia de um repositório de onde tal essência era extraída, fato aludido mais tarde pelos europeus ao usarem o nome “Aqua Vitae” para o vinho e outras bebidas, sendo que até hoje em alguns países os destilados são chamados assim.¹
Ao ingerir álcool, o corpo entra em um processo de extração da essência da alma e, junto com esse processo, aspectos ocultos -o pó escuro- podem vir á tona e a pessoa parecer “transformada” em outra totalmente diferente ou acentuada na sua própria estirpe. Também o álcool tem a capacidade de extrair a essência da alma abrindo um espaço/vazio para que entidades possam usar seus atributos para influenciar o corpo, caso visto com frequência em possessões após uma pessoa ingerir uma quantidade demasiada de bebidas alcoólicas. Na maioria das pessoas que sofrem tais possessões, o espaço criado com a extração da essência da alma é utilizado por demônios que somente querem aproveitar o corpo como veículo e alimento. Essas pessoas geralmente não se lembram dos próprios atos na hora da embriaguez pois não estavam realmente no controle. Esse é o caso narrado no folclore do demônio árabe “ghoul” cujo nome tem raiz na palavra “Al-Kohul”, um demônio que mora nas profundezas da matéria e também em cemitérios e que se alimenta de carne, isto é, defuntos e pessoas cujo corpo perderam a “luz” ou essência da vida.
Atualmente a palavra árabe para álcool é “al-ġawl”, termo utilizado para se referir ao etanol e destilados em geral. Essa palavra deu origem para “al-ghul”, Algol, a estrela binária conhecida como Cabeça do Demônio e que tem influência direta no corpo através da bebida alcoólica. Algol é uma estrela da constelação de Perseus e é vista no norte. Os árabes atribuíam a ela uma influência sinistra e acreditavam que muitos demônios teriam vindo dessa constelação. Por conta dessas atribuições malignas, muitos outros povos também associaram seus demônios a estrela Algol. Os judeus, por exemplo, chamavam Algol de Rosh ha Sitan/Cabeça de Satã ou chamavam de Lilith que era conhecida na época como um espírito dos ventos hostis na península arábica, principalmente no extremo sul da palestina, já os chineses chamavam-na de estrela Tseih Ela, “a pilha dos cadáveres nas alturas”.
Essa estrela está relacionada a qlipha de A’arab Zaraq regida por Baal que tem fortes características da vitória² através de meios violentos e também carrega atributos da lascívia da Venus Negra que é Lilith e relação astrológica com Saturno. Ao ingerir álcool o corpo cria uma maior correspondência com os eflúvios da estrela Algol e avizinha seus demônios ao ponto da lancinante influência ser sentida como diretora do corpo através das expressões mais fortes da natureza humana que são o desejo por poder e o apetite sexual. Os antigos árabes associavam as forças malignas de Algol aos olhos, portal por onde o eflúvio sinistro da estrela invade a concha vazia no momento de embriaguez. Curiosamente Algol é conhecida como o “olho da Medusa” devido sua posição está marcada exatamente no olho esquerdo da górgona diabólica na constelação de Perseus.
O pó de maquiagem que era o resultante dos destilados se tornou relevante nas mulheres dos haréns árabes que escureciam os olhos para ficarem mais lascívas. Vemos também que no Egito o pó de maquiagem, muito utilizado nos olhos pelas sacerdotisas, mulheres do faraó e dançarinas, tinha muita importância. Os egípcios chamavam-no de “Kajal Kohl”, palavra intrinsecamente ligada a Al- Kohul. Era um pó feito principalmente de galena triturada, o mineral mais importante do chumbo que tem correspondência com Saturno. Essas pinturas nos olhos eram feitas também durante oferendas funerárias e tinham a finalidade de fazer o sacerdote/sacerdotisa ser reconhecido pelos mortos e deuses do submundo como um familiar espiritual.
Nos cultos dos sacerdotes de Douaou/Ouati³ – aspectos da estrela Vênus vista no crepúsculo matutino e vespertino – os egípcios costumavam se embriagar com cerveja e se tocavam sexualmente. Muitos utilizavam o pó de maquiagem, principalmente de galena, malaquita e lápis lazuli triturados e misturados a óleos, como colírio e pingavam nas pálpebras para “limpar” os olhos e criar maior condição de visões do mundo astral. Já a bebida servia como meio de Gnose para entrar em sintonia com Vênus nas suas duas faces, sendo que em Ouati -aspecto da Vênus Negra no crepúsculo vespertino-ocorria a gnoses sexual. Nesse culto as bebidas eram produzidas principalmente por mulheres, homens jovens e crianças.
A seguir, temos algumas correspondências mágicas de bebidas alcoólicas que podem auxiliar na hora de utilizar a embriaguez como ferramenta espiritual, mas deve ser observado que a quantidade a ser ingerida vai do critério de cada um e caso haja mistura de bebidas ingeridas, o corpo irá reagir dentro de várias correspondências combinadas e isso tem que ser bem estudado para não criar efeitos indesejáveis e atrair influências que não favoreçam a pessoa. Também deve se ter conhecimento da visão animista dessas substâncias, pois espiritos habitaram certas propriedades dessas bebidas e ao serem extraídos na destilagem, muitos de seus aspectos ficam misturados:
Cerveja: (Elemento Terra), ligada a deusas da fertilidade, da guerra e sexo. Ninkasi, foi a Deusa Suméria da Cerveja, relacionada a fertilidade, pureza e alegria; Sekhmet, a deusa leoa dos egípcios também é conhecida como protetora dos cervejeiros e quando se embriagava ficava furiosa e acentuava seu instinto guerreiro e vontade de destruir inimigos; Ceres, a deusa grega dos grãos, agricultura e fertilidade. Do seu nome que surgiu a palavra cerveja. A cidra é utilizada em operações em que se deseja ser recompensado com os frutos de seu trabalho.
Vinho: (Elemento Terra/Ar), é a bebida mais famosa dos gregos e tem ligação com os deuses da orgia, beleza e êxtase. Baco é especialmente conhecido pelas suas orgias secretas no ritual da bacanália, onde todo êxtase e alegria eram buscados. O grito Hriliu das bacantes é a forma secreta de avizinhar esses espíritos; Seilenós, o profeta embriagado, que educou Dionísio desde a idade tenra bebia para fazer profecias e obter insights nas suas orgias.
Rum: (Elemento Agua), tem influência na vida material e amorosa, especialmente financeira; a deusa Ningal da mitologia suméria tem correspondência como o Rum, é a deusa da cana, que trazia o dulçor para as festas e agradava o povo com sua beleza jovial e fertilidade. Era chamada de “grande menina”; o Rum também foi a bebida principal nas homenagem à Netuno, onde marinheiros criaram o Festival da Neptunália. Nessa festa era servido o Uzo, uma forma mais antiga do Rum. Esse festival era realizado no Verão como forma de atrair a seca e proteger a plantação ; também nas religiões de matriz africana temos os espíritos Marinheiros que trabalham com o rum. Esses fazem serviços de toda a natureza e são geralmente de natureza sombria.
Absinto : ( Elemento Ar/Agua), tem grande utilidade em operações no nível astral. Essa planta chamada cientificamente de “Artemisia Absinthium” interage com as deusas lunares e seu nome vem da deusa Artemis que corresponde a Diana, a deusa lunar e virgem das matas. Pode ser ingerida ou utilizada em oferendas para abrir portais astrais.
Tequila: (Elemento Fogo), é a forma moderna da Pulque (ou octli), uma bebida alcoólica consumida na mesoamerica pelos xamãs. A tequila tem um grande efeito sobre o desejo sexual o aumentando. É feita do agave, uma espécie de cacto e está ligada ao deus asteca Macuiltochtli uma das principais divindades dessa tradição e atua nas rapturas e excessos.
Gin e Vodka: (Elemento Terra), essas bebidas tem as mesma correspondências, com a diferença de que a Vodka atua com os elementos de forma mais sutil e o Gin de forma mais grosseira. As duas bebidas tem produção básica á partir de trigo, cevada ou milho e estão ligadas a Deméter, a deusa da terra, abundancia e fertilidade. Servem para atrair vigor físico, curar doenças, inclusive o Gin já foi utilizado como remédio, e também servem para proteger a vida material, projetos e fazer empreendimentos vigorarem. Também atraem energias subterrâneas de Persefone, a deusa do Hades.
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Sobre a Cachaça (aguardente, a lava infernal) falaremos em um artigo inteiramente dedicado a essa bebida. Ademais, os espíritos destilados estejam em suas taças!
Notas:
1-O nome dado pelos europeus ao álcool nos destilados é aqua vitae ou água da vida. Mesmo hoje, os destilados em geral são chamados eau-de-vie pelos franceses;na Dinamarca, akvavit e aquavit pelos noruegueses. Também é comum as bebidas serem chamadas magicamente de espíritos.
2-Netzach ou Vitória é a contraparte de A’ arab Zaraq. Nessa esfera a conquista é feita de forma harmoniosa com Hod. Já no antipolo A’rab Zaraq a capacidade de superar obstáculos é acentuada ao ponto agressivo onde não se vê as barreiras e sim o resultado a ser alcançado.
3-Sacerdotes de Douaou/Ouati geralmente estavam realizando trabalhos médicos de oftalmologia e tinham grande capacidade oracular com visões.
por Dom Wilians (Seilenós)
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