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Dom Juan associava o uso da Datura inoxia e da Psilocybe mexicana para a aquisição do poder, um poder que ele denominava “aliado”. Associava o uso da Lophophora williamsii à aquisição da sabedoria, ou o conhecimento da maneira certa de viver.
(CASTANEDA, 1968 – p 10)
A fim de ensinar e corroborar seu conhecimento, Dom Juan utilizava três plantas psicotrópicas bem conhecidas: o peiote, Lophophora williamsii; estramônio, Datura inoxia, e uma espécie de cogumelo pertencente ao gênero Psilocybe. Pela ingestão separada de cada um desses alucinógenos, ele produzia em mim, como seu aprendiz, alguns estados especiais de percepção distorcida, ou de consciência alterada, que denominei “estados de realidade não comum”.
(CASTANEDA, 1971 – p 10)
O xamã, Don Juan, chega a referir-se aos ALIADOS como sendo as próprias plantas, mas, é evidente que, na verdade, são os princípios ativos dessas plantas – submetidos a três diferentes processos de extração e preparação destinadas a três diferentes formas de consumo com objetivos sempre bem definidos – que produzem o efeito desejado: expandir a percepção da realidade proporcionando um Conhecimento.
O tipo de Conhecimento que as substâncias, que a percepção alterada pelas substâncias, vai alcançar, NÃO se apresenta ao aprendiz como uma realidade que esteva escondida atrás de uma cortina e que é revelado porque substância psicotrópica tem um efeito específico de remover essa determinada cortina.
Significa que não basta consumir. É necessário, previamente, saber que Conhecimento e/ou Poder deseja-se obter antes de escolher a substância e a forma na qual será consumida. É necessário usar a substância ou submeter-se ao processo de alteração da consciência com um FIRME PROPÓSITO previamente estabelecido.
Nem todos podem domesticar o fumo; a maior parte das pessoas nem tenta. …Mas quem o procurar tem de ter um propósito e uma vontade irrepreensíveis. (CASTANEDA, 1968 – p 42)
Esta ideia e instrução prática do xamã meso-americano está em plena concordância com ensinamentos da Alta Magia ocidental europeia. O ocultista Papus, em Tratado elementar de Magia Prática, falando sobre os excitantes intelectuais, adverte:
Muita gente pensa que o haschish, que está na classe das drogas mais perigosas sob o ponto de vista psicológico, dá imediatamente visões sublimes e mergulha o experimentador no êxtase. Ora, assim apresentada, a ação do haschish não corresponde absolutamente à realidade… Um experimentador, tendo usado o haschish sem ideia pré-concebida [propósito] e [meramente] esperando o que ia suceder, sonhou muito simplesmente que ele era cachimbo e que fumava a si próprio. (PAPUS, 1995)
Torna-se muito claro que o uso recreativo de psicotrópicos é inadmissível na disciplina de formação e prática dos Magos. Se alguém deseja praticar uma atividade recreativa, carambolas, vá a um parque de diversões.
A experimentação das substâncias é útil para que o aprendiz possa discernir com qual delas sua própria natureza, seu jeito de ser – tem mais afinidade. Uma vez estabelecida essa relação de identificação ou simpatia entre a “droga” e usuário uma escolha é determinada. Significa que o Homem de Conhecimento somente pode possuir um “aliado”, somente pode se permitir usar um tipo de substância psicotrópica.
Dom Juan descreve as características do poder das plantas em termos antropomórficos, como se cada uma delas tivesse uma personalidade e exigências particulares no que se refere ao seu cultivo e/ou coleta, processamento e manuseio.
A Erva do Diabo pode ser preparada de duas maneiras: para ser bebida, como um destilado ou em pasta, para se absorvida através da pele. O cultivo, preparo da “Erva”, seja como destilado ou pasta, é extremamente complexo, ritualístico.
O Fuminho – o cogumelo Psilocybe, este nem mesmo precisa ser cultivado; ele é, simplesmente, coletado e depois de preparado ou processado é consumido unicamente através da aspiração ou “carburando”, absorvendo a fumaça através das vias respiratórias.
Ligia Cabus
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