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André Correia (Conexão Pagã / @bercodepalha)
Gosto de pensar que a experiência mais próxima de deus que conseguimos alcançar é um êxtase emocional tão intenso e prazeroso, que somos incapazes de traduzir em palavras. É uma mistura abstrata e intangível de amor, felicidade, realização e sacralidade. No entanto, essa experiência, por mais que seja causada por estímulos externos, a percepção ocorre no nosso cérebro.
Seguindo essa lógica, seria o Diabo a expressão máxima das nossas emoções e desejos mais selvagens, agressivos, assustadores e repulsivos? Seriam características humanas reais, porém indesejadas, que projetamos em uma “criatura” mitológica com o objetivo de nos afastar da sua tentação? No fim das contas, bem e mal, luz e sombra compartilham a mesma existência, fenômeno e importância. Cada qual valorizando a extremidade do seu opositor.
Cernunnos é o deus galhado celta, guardião dos bosques, dos animais, senhor da vida como aquele que fertiliza e o guardião da morte, mediando os caminhos das sombras.
Muito além de somente “senhor da natureza”, Cernunnos carrega sobre si a galhada que o coroa como aquele que se conecta com o que está acima. E também é aquele que bate os cascos no chão acordando quem está abaixo e abrindo os portões do submundo.
Apesar de possuir datas de celebrações, como 26 de janeiro, 12 de maio e 23 de abril, não há nada exato que o relacione a esses dias. São apenas datações modernas, porém, isso não nos impede de celebrar ciclos e fixar períodos baseados nesses dias.
O culto a Cernunnos é algo relativamente simples.
Como oferenda, é possível colocar em altar doméstico moedas, grãos da estação, mel e frutas. Em períodos de sombra, podemos colocar folhas secas, flores secas e ossos, em respeito e honra aos tempos de morte.
Para honrar Cernunnos, podemos fazer preces, tocar tambor, unha de cabra, chocalhos e entoar canticos.
Uma forma de sentir sua presença, é caminhar em lugares com muitas árvores, prestar atenção no som das folhas, do vento, no aroma da vegetação, tocar a terra e chamar por sua presença.
O mais importante nessa conexão não é a ritualização, mas sim o como ela te coloca em estado mental favorável para acessar a egrégora do deus cornífero.
Na falta desses recursos, uma simples vela verde, marrom, preta ou branca e uma meditação é o suficiente.
André Correia. Psicólogo atuante em clínica desde 2007, adepto da bruxaria eclética, construtor de tambores ritualísticos. Participa dos projetos Conexão Pagã e Music, Magic and Folklore. Coordenador do Círculo de Kildare e autor da obra musical Tambores Sagrados.
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