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A lenda de Beowulf é um épico do paganismo, vítima de uma vergonhosa tentativa de ser transformado em instrumento de conversão dos arautos do cristianismo. De autoria desconhecida; composto provavelmente entre os séculos VIII e IX da era cristã; embora já fosse “cantado” pelos menestréis da Idade Média desde o século VII; o mais antigo texto de que se têm notícia da literatura anglo-saxônica.
O poema é ambientado na Escandinávia do século VI, contém numerosas alusões a outras lendas e heróis das típicas crenças das tribos germânicas; não existindo fatos que provem a existência real do príncipe Beowulf, embora alguns fatos tenham contenham comprovação histórica.
O poema, dividido em duas partes, tem mais de três mil versos. Primeiramente relatando como Beowulf, o príncipe sueco, corre em auxílio ao rei da Dinamarca, cujo país era ameaçado pelo demônio Grendel. Com seus companheiros, Beowulf derrota Grendel e mais tarde, a mãe de Grendel, que tenta vingar a morte do filho.
Na segunda parte, Beowulf, depois de reinar em paz por cinqüenta anos em seu país natal, trava sua última batalha com um dragão que aterroriza seu povo. Embora consiga derrotá-lo, Beowulf sela sua vitória com a própria morte.
O poema, um dos mais queridos pelos fãs da literatura épica – característica dos tempos medievais – era também o favorito de Tolkien, o velho professor como ficou conhecido. A trilogia Senhor dos Anéis foi fortemente influenciada pela lenda de Beowulf.
Em Beowulf: Monstros e Críticos, Tolkien deu sua interpretação cristã sobre a obra. Os estudiosos da literatura medieval anglo-saxã, que reduziram Beowulf a uma obra de menor valor; ( porém jamais deixando de reconhecer que seu valor poético e nobreza de estilo fossem dignos das maiores honrarias ) – demasiadamente voltado para temas da “ingenuidade pagã”, como dragões e monstros submarinos, não fossem adequados a uma época em que o cristianismo triunfava sobre os velhos deuses.
Tolkien assume então uma postura vergonhosa: ao reduzir a obra a uma tática de guerra do cristianismo, onde os monstros do paganismos eram representados como as agruras enfrentadas pelo homem, onde a fé cristã ainda não existia, portando, deixando a humanidade refém de uma época dominada pelo paganismo vigente.
Bem agora que o básico já foi exposto vamos aos fatos:
Quem sai do cinema após assistir a versão hollywoodiana de Beowulf, sai com duas certezas: uma é a de que o sionismo, que controla há quase um século a principal indústria do entretenimento mundial – o cinema ( também a da música ) – perdeu de vez a vergonha na cara e passou a incitar a agressão e provocar o cristianismo de todas as maneiras possíveis e imágináveis.
Fingindo apoiar a causa pagã, promovem um certo descaso cheio de ressentimentos para com a maior religião do planeta; fosse isso feito por satanistas ou por qualquer outro gênero religioso/espiritual não convencional, a patrulha moral já teria tomado providêncais mais nefastas. Filmes como: No reino dos Céus, Excalibur, Cruzadas, Vikings e tantos outros lançados anteriormente já seguiam esse paradigma anti-cristianismo.
O segundo é que: se o filme como dizem os produtores, foi baseado no poema escrito nos séculos VIII e IX e conservado por um monge numa abadia da Inglaterra; e não na versão original – ricamente pagã – aquela dos menestréis que cantam os grandes feitos de um Beowulf já idoso, é provável que Neil Gaiman, o grande Gaiman não tenha interpretado corretamente o poema, talvez não seja o forte dele. Pois o poema é claramente muito mais voltado para o modelo cristão do que pagão.
Foi feito desta maneira para auxiliar os pregadores que convertiam os povos pagãos da antiguidade a compreenderam mais facilmente a mensagem cristã. Era como um quadro, com a mesma pintura mas com uma moldura diferente. Os líderes cristãos da época sabiam que não conseguiriam extirpar as crenças e práticas dedicadas aos Deuses e heróis do Paganismo tão facilmente.
Embora artisticamente, na visão literária o resultado final seja magnífico, a versão foi alterada ao bel-prazer dos pregadores do cristianismo da época, que tentaram fazer de Beowulf – uma figura pagã das tribos germânicas – um herói do Cristianismo, carregado com suas máculas e sua moralidade torta para nossos padrões.
Foi a época em que o processo de conversão do paganismo para o cristianismo atingiu seu ápice. Os pregadores do evangelho tinham duas táticas diferentes: a que foi usada no caso da lenda de Beowulf, ou naquelas onde os símbolos do paganismo eram massacrados pelas forças da fé cristã.
Destacam-se entre elas, a do monge Bonifácio, apóstolo dos alemães, que destrói a golpes de machado um carvalho dedicado a Odin, mas principalmente a lenda de São Jorge, onde o herói mata o dragão ( sempre um dragão, como em Beowulf ), libertando a prisioneira das forças “maléficas” do Paganismo, exterminando-o pela força conferida a São Jorge por sua fé e confiança no Deus cristão. Porém, as maiores tentativas de alijar qualquer traço de paganismo neste poema épico foram inúteis. Os elementos do paganismo são evidentes nos personagens e suas personificações.
Voltando ao filme, a visão “pagã” dos roteiristas cai na vala comum da ignorância; em algumas situações, ela beira a ingenuidade e até mesmo o constragimento. Hrothgar aparece na maioria das vezes como um imbecil, muito mais digno de ser encaminhado a uma espécie de alcoólicos anônimos da Idade Média do que um Rei respeitável e em apuros como no poema original.
Sempre embriagado, tolo e com uma esposa caricata, Hrothgar é símbolo da dificuldade encontrada por leigos no trato com assuntos do paganismo e suas mitologias e lendas. Sempre confundidos com brutamontes ignorantes, violentos ao extremo e dados a orgias intempestivas, o rei e seus homens são mostrados entoando canções sobre o grande números de incautas que foram arrastadas para seus leitos em suas jornadas por toda a Escandinávia.
A conhecida obsessão de Neil Gaiman e do diretor Robert Zemeckis com assuntos relacionados a sexualidade, também agridem a inteligência do espectador que é fã de Beowulf. Se no poema original ele é constantemente confrontado com sua arrogância e orgulho, no filme Beowulf transpira um sexismo forçado até o limite do insuportável.
Outro erro grave no roteiro são as frequentes menções ao cristianismo a qual mencionamos anteriormente: quando dos feitos de Beowulf, o cristianismo ainda não havia sido introduzido na maioria dos reinos escandinavos, especialmente na Dinamarca. Aí encontramos as chamadas mensagens subliminares que Mel Gibson tanto afirma, serem as estocadas covardes do judaísmo americano contra a fé cristã. Ele não está errado.
O saldo final do filme – entre mortos e feridos – é apenas razoável. Nos Estados Unidos e na Europa, assim como no Brasil as bilheterias são boas, mas a crítica vê o filme como mais um devaneio épico na linha do filme “Cruzadas”, estrelado por Orlando Bloom e a atriz francesa Eva Green. Quem sai da sessão e se dispõe a avaliar a obra segundo a sua origem, ou seja, o poema, também têm muito do que reclamar.
Mas ninguém têm mais a lamentar do que aqueles que estudam seriamente o paganismo em suas mais variadas versões. Não duvidem, logo chegará o dia em que o movimento Wicca será representado em Hollywood por odaliscas satânicas, usando vegetais como consolos orgânicos numa orgia movida a incenso e declamações do Evangelho das Bruxas.
Está por vir o dia em que olharemos para o Fuhrer com olhos mais atentos, e sem as travas que insistem em nos fazer não enxergar a realidade como ela deve ser vista, entendida e aprendida. Sendo assim, a visão cristã de Beowulf no poema, olhando para a chegada de Cristo como algo positivo e confrontador, nos sôa bem menos agressiva do que aquela representada pela caixa registradora mosaica.
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