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Numa fria manhã de novembro de 1654, uma feiticeira, Janet Haining, foi condenada a morrer na fogueira diante de uma pequena multidão de espectadores silenciosos na aldeia rural de Laight, na Escócia. Quanto à execução nada havia de extraordinário — afinal de contas, foi a própria Janet que admitiu diante dos juízes o conhecimento de “certos sortilégios e feitiços”.
Durante o julgamento de Janet, segundo se afirmava, a velha possuía um Livro Negro de Doutrina do Demônio. O livro em si, contudo, não foi apresentado no julgamento, nem qualquer evidência do mesmo foi encontrada na aldeia. Janet, em verdade, lutou com veemência negando sua existência, mas três testemunhas insistiam em que viram a velha estudar atentamente um manual com “símbolos estranhos”, em sua casa de campo bem cuidada, mas de aspecto sinistro.
Janet — tal como tantas outras — poderia não ter lido ou escrito, havia poucos pontos que merecessem investigações adicionais que bem podiam ser invencionices da parte da acusação para acelerar a ida da velha para a fogueira.
Em outros três julgamentos na Escócia, neste mesmo período, fazem alusão a livros sobre a Arte da Magia Negra. Houve quem afirmasse com veemência: “Havia em nosso tempo livros sobre feitiçaria que passaram por feiticeira e bruxos e todos eram obra de um feiticeiro de Edinburg, que osproduziu baseado em trabalhos de 1600 mais ou menos”.
Sabemos que o livro continha “símbolos cabalísticos, círculos, exorcismo e sortilégios”, provavelmente escritos na forma originar em “vinte e três folhas de papel velino encadernado em couro”. De fato, tal livro está no Museu Britânico, classificado como: An Elizabethan Devil-Worshiper’s Prayer-Book (Livro de Devoções para Adoradores do Demônio da Era Elisabetana).
Pouco se sabe do autor, mas deduz-se foi um homem de certa erudição, já que os rituais e feitiços que mencionou foram retirados de livros anteriores, em latim e grego. O resultado foi um livro extraordinário e único no gênero, que em mãos habilidosas pode ser utilizado para executar uma variedade de ritos da Magia Negra para melhorar a vida, em particular, os prazeres sexuais. Notável também, porque, diferente da maioria de outras obras, não se trata apenas de uma lista de feitiços extravagantes para evocar o diabo e seus espíritos malignos e realizar, em geral, coisas impossíveis. Mais exatamente, serve a objetivos práticos, tais como subjugar mulheres para sedução, uso de drogas, estímulo para ambições pessoais e todos os princípios de conforto e bem-estar.
No livro do Museu Britânico as cerimônias são apresentadas em um estilo sem explicação ou detalhes excessivos, uma forma de proteção para o proprietário se o livro fosse apreendido. Era compreensível que, se as autoridades escolhessem um feitiço ao acaso, e as chances de sua escolha caíssem em um rito muito impressionante, mas pouco eficiente, desse modo a cumplicidade do proprietário com o diabo não poderia ser automaticamen- te estabelecida.
A Escócia eliminou praticantes suspeitos com maior brutalidade e maior fanatismo, com a Inquisição conduzida pela igreja presbiteriana.
O autor era, um estudioso das artes obscuras, antes de tudo com objetivos imorais. Procurava excitação e prazeres carnais ao invés de convocar espíritos malignos e demônios. Enquanto outros feiticeiros se esforçavam para invocar o próprio demônio sob forma humana, o velho feiticeiro conduzia seu Sabbat vestido como o diabo e realizava uma “cerimônia” maquinal de submissão ao mal — sem dúvida, para aumentar a excitação e então deleitar-se e satisfazer sua luxúria. Ele procurou instruções para seus rituais nos velhos manuscritos e livros e destas fontes desenvolveu seu trabalho das artes negras da Inquisição. Nos registros diz- se: é um “livro torpe de conspiração com Satã”, prova suficiente para condenar seu possuidor como feiticeiro e herege a morrer na fogueira. Desse anônimo discípulo de Cipriano, transcrevemos alguns trabalhos de feitiçarias que comprovam o alto grau das práticas diabólicas dos magos na Idade Média. Anotem as precauções que tomavam com vista a não serem colhidos pelas malhas repressivas da Santa Inquisição.
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