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Ozzy Osbourne: de príncipe das trevas à bom velhinho

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Comparar o jovem Ozzy Osbourne com a atual versão do pai do metal nos faz pensar naquela que parece uma missão de velhos astros do Rock, decepcionarem seus fãs e se transformarem em paródias de si mesmos. Invariavelmente, aqueles que passaram do 35 ou 40 anos de idade começam a se tornar chatos de galocha, neo-moralistas que renegam tudo que disseram e fizeram no passado, com medo disso ou daquilo, ou por necessidade de abrandar as críticas da opinião pública. O The Who em uma de suas canções, My Generation, brada: “Eu prefiro morrer do que ficar velho.”

Hoje o The Who ou o que restou da banda é algo tão grotesco, tão patético que chega a dar pena dos tiozinhos saudosistas dos dinossauros anêmicos ingleses, aliás, a Inglaterra é especialista em fabricar dinossauros anêmicos. Pessoalmente, acho que todos os verdadeiros e grandes astros do Rock deveriam morrer antes do 30 anos de idade como fez Kurt Cobain, Ian Curtis, Jimi Hendrix, Jenis Joplin, Mark Bolan e outros de maior ou menor grau de importância na escala rockeira, visto que a minoria tem seus melhores trabalhos lançados nos primeiros anos de banda.

Ícones como Iron Maiden, Rush, David Bowie e Iggy Pop parecem ser dos poucos que viram as rugas se espalharem pela cara sem perder o tesão e a necessidade de botar o dedo nas feridas da sociedade, especialmente quando abordam temas religiosos e políticos.

Em março, o velho Ozzy Osbourne baixa no Brasil pela terceira e última vez. Quando aqui passou pela primeira vez em 1985 no saudoso Rock In Rio I, era um louco que via sua carreira solo saudável, enquanto o Black Sabbath definhava com a saída do ótimo Ronnie James Dio.

Acompanhado de músicos brilhantes que completavam seus dotes vocais, visitou terreiros de candomblé onde fez uso de atabaques africanos e ainda teve a pachorra de numa abafada madrugada carioca, comer frango de um trabalho de macumba e tomar a cachaça oferecida aos encostos.

Mas vamos voltar a um tempo em que Ozzy não era esse senhor incomodado com o avanço do compartilhamento de suas músicas na internet e arrancava cabeça de morcegos, dormia em cemitérios, bebia sangue, mijava em monumentos históricos e incitava os outros ao suicídio, além de ter escrito um dos maiores clássicos do ocultismo:

Ozzy Osbourne ( Mr. Crowley )

“Mr. Crowley, what they done in your head

(Oh) Mr. Crowley, did you talk to the dead

Your lifestyle to me seemed so tragic

With the thrill of it all

You fooled all the people with magic

(Yeah)You waited on Satan’s door

Mr. Charming, did you think you were pure

Mr. Alarming, in nocturnal rapport

Uncovering things that were sacred, manifest on this earth

(Oh) Conceived in the eye of a secret

Yeah, they scattered the afterbirth

Solo

Mr. Crowley, won’t you ride my white horse?

Mr. Crowley, it’s symbolic of course

Approaching a time that is classic

I hear that maidens call

Approaching a time that is drastic

Standing with their backs to the wall

(Solo)

Was it polemically sent?

I wanna know what you meant

I wanna know

I wanna know what you meant, yeah!

Mr. Crowley, o que se passava pela sua cabeça?

Mr. Crowley, você falava com os mortos?

Seu estilo de vida me parecia tão trágico

Com toda aquela diversão

Você enganou todas as pessoas com magia

Você esperou a chamada de Satã

Mr. Encantador, você achou que fossemos puros?

Mr. Alarmante, em harmonia noturna

Desmascarando coisas que eram

Manifestos sagrados nesta terra

Concebido no olho de um segredo

E eles espalharam os recém nascidos

Solo

Mr. Crowley, você não irá cavalgar no meu cavalo branco?

Mr. Crowley, simbólico, claro

Chegando um momento que é clássico

Eu ouço a chamada das donzelas

Chegando um momento que é drástico

Em pé com as costas contra a parede

Solo

Foi enviado polemicamente?

Eu quero saber o que você quis dizer

Eu quero saber

Eu quero saber o que você quis dizer

 

Quando tudo eram flores… Mortas… mas ainda assim flores

Ozzy foi um delinqüente juvenil interessado em ocultismo, e Aleister Crowley foi um de seus ícones sagrados como podemos mostrar nas letras acima; para quem hoje vê um velho gritando: “Deus abençoe a todos vocês”, ao final de cada música, fica a saudade de quem ouvia o disco de estréia do Black Sabbath que trazia pérolas satânicas como esta aqui, encontradas na faixa N.I.B, com as promessas do Diabo a quem a ele dedica seu amor e sua fidelidade mediante um pacto satânico.

Em seu primeiro álbum com o Black Sabbath, a faixa N.I.B (Nativity In Black), é considerada uma canção de amor dedicada a lúcifer, e um convite a realização de uma aliança com ele e seus espíritos maléficos. Na canção, o Diabo oferece sua mão amiga e auxiliadora, movida pelas emotivas cordas vocais do senhor Osbourne:

N.I.B – Nativity In Black ( Black Sabbath 1970 )

“Some people say my love cannot be true

Please believe me, my love, and I’ll show you

I will give you those things you thought unreal

The sun, the moon, the stars; all bear my seal

Oh yeah!

Follow me now and you will not regret

Leaving the life you led before we met

You are the first to have this love of mine

Forever with me ’til the end of time

Your love for me has just got to be real

Before you know the way I’m going to feel

I’m going to feel

I’m going to feel

Oh yeah!

Now I have you with me, under my power

Our love grows stronger now with every hour

Look into my eyes, you’ll see who I am

My name is Lucifer, please take my hand

(Solo)

Oh yeah!

Follow me now and you will not regret

Leaving the life you led before we met

You are the first to have this love of mine

Forever with me ’til the end of time

Your love for me has just got to be real

Before you know the way I’m going to feel

I’m going to feel

I’m going to feel

Oh yeah!

Now I have you with me, under my power

Our love grows stronger now with every hour

Look into my eyes, you will see who I am

My name is Lucifer, please take my hand

Algumas pessoas dizem que meu amor não pode ser real

Por favor acredite em mim, meu amor, e vou te mostrar

Vou te dar as coisas que você julgava impossíveis

O sol, a lua, as estrelas, todas trazem meu selo

Oh sim

Siga-me agora e você não vai se arrepender

Deixando a vida que tinha antes de nos encontrarmos

Você é a primeira que teve este meu amor

Sempre comigo até o fim dos tempos

Seu amor por mim tem que ser real

Antes que você entenda a maneira como sinto

Eu vou sentir

Eu vou sentir

Oh, sim

Agora tenho você comigo, sob meu controle

Nosso amor se fortalece a cada hora

Olhe em meus olhos, você verá quem eu sou

Meu nome é Lúcifer, por favor segure minha mão

Solo

Oh sim!

Siga-me agora e você não vai se arrepender

Deixando a vida que tinha antes de nos encontrarmos

Você é a primeira que teve este meu amor

Sempre comigo até o fim dos tempos

Seu amor por mim tem que ser real

Antes que você entenda a maneira como sinto

Eu vou sentir

Eu vou sentir

Oh sim!

Agora tenho você comigo, sob meu controle

Nosso amor se fortalece a cada hora

Olhe em meus olhos, você verá quem eu sou

Meu nome é Lúcifer, por favor segure minha mão.

 

A posição de Ozzy como satanista sempre foi mais instintiva do que intelectual. Em entrevista a Circus Magazine ele fala sobre sua visão do diabo com sua naturalidade que se equilibra entre a blasfêmia fleumática e a ironia pura:

“Eu sempre tive esse negócio de Satan na minha cabeça desde que eu era pequeno. Mas eu descobri que o diabo não é essa porra de olhos vermelhos e chifres e toda essa merda. O Diabo está dentro de nós o tempo todo.” (Circus, Aug. 26, 1980, p. 26)

Mas talvez devamos deixar Ozzy um pouco de lado, e checar o portfólio satânico dos verdadeiros satanistas e seus ex-companheiros de banda, como Geezer Butler, baixista do Sabbath e integrante da banda solo de Ozzy por longos anos:

“Ozzy me emprestou um livro de magia negra do século XVI, livro do qual gastei horas e horas tentando decifrar seus mistérios e seus rituais. Certa noite, enquanto eu tinha dificuldades para pegar no sono, uma figura de formas humanas mas totalmente enegrecida começou a flutuar aos pés da minha cama, eu mal conseguia respirar e subitamente ela sumiu.

Eu sempre me interessei por magia negra, mas nunca tive a coragem de praticar a fundo, quando eu me envolvia com coisas desse tipo. algo ruim acontecia na minha família. Então contei a Ozzy no dia seguinte e ele veio imediatamente com a canção Black Sabbath, como se tivesse tido as mesmas visões que eu tive:

 

Black Sabbath ( Black Sabbath 1970 )

What is this that stands before me?

Figure in black which points at me

Turn around quick, and start to run

Find out I’m the chosen one

Oh no

Big black shape with eyes of fire

Telling people their desire

Satan’s sitting there, he’s smiling

Watches those flames get higher and higher
Oh no, no, please God help me

Is it the end, my friend?

Satan’s coming ’round the bend

people running ’cause they’re scared

The people better go and beware

No, no, please, no

O que é isso que se levanta a minha frente?

Um vulto preto que aponta para mim

Viro rapidamente, e começo a correr

Descobri que sou o escolhido

Oh não!

Uma grande figura negra com olhos de fogo

Dizendo às pessoas seus desejos

Satã está sentado lá, ele está sorrindo
Observem aquelas chamas crescendo cada vez mais

Oh não, não, por favor Deus me ajude!

Esse é o fim, meu amigo?

Satã está vindo lá na curva

As pessoas correm pois estão assustadas

Todos vocês, é melhor correr, tomar cuidado!

Não, não, por favor, não!

 

Bill Ward, baterista do Sabbath, admite que havia uma presença sobrenatural que inspirava o Black Sabbath. Era tudo tão real que Ward confessa: era como se o Diabo fosse o quinto membro da banda. Ozzy com o tempo parece ter sido dominado por seus medos e pela esposa, e deixou de sentir essa presença.

No entanto, acho que Sharon é uma influência muito mais perigosa para ele do que o próprio Diabo. Ozzy é um fantoche nas mãos dela. Ozzy foi parar na cadeia por tentar estrangular sua esposa Sharon Osbourne. É realmente uma pena que ele não a tenha matado, conclui Ward.”

“Eu me recordo de ter assistido o Exorcista tantas e tantas vezes, e sempre me identifico com aquilo tudo, sinto que estou possuído não por um, mas por vários demônios ao mesmo tempo. Diz Ozzy”

Para nossa alegria, vamos relembrar do Ozzy que adorava cemitérios:

“Eu adorava sentar nos túmulos, apreciar a paisagem, eu amava aquela tranquilidade. Há sempre um silêncio penetrante, um cheiro doce que provém dos mortos.”

“Eu nasci em meio ao medo, eu tenho muitos, muitos demônios que me influenciam de várias maneiras.”

Saída do Black Sabbath

Em 1978 Ozzy Osbourne não conseguindo conciliar o abuso de álcool e drogas com a carreira foi afastado como vocalista do Black Sabbath. Neste época conheceu seu esposa, Sharon, graças a quem conseguiu manter um pouco de sanidade e a carreira promissora. Desde esta época Ozzy já vendeu mais de 70 milhões de álbuns. Sua carrreira como príncipe das trevas também estava só começando., como deixou claro em entrevista a revista Hit Parader em 1981 “.. que todos saibam que estou tão mal e louco como sempre fui.”.

E ele não estava brincando. Durante esta época, os fãs levavam animais vivos aos seus shows, como rãs, cobras, galinhas e gatos que eram atirados ao palco.  Durante a Turnê, “Bark ar the Moon” ele agarrou um morcego no ar e o mordeu durante a apresentação. Por este ato impensado passou por duas semanas de trabalhos forçados e muitos dos shows posteriores foram acompanhados por manifestações de ambientalistas que se uniram ao coro evangélico de protestos e vaias.

Nesta fase Ozzy primou por construir uma imagem vampiresca, numa entrevista a revista Qui, (Março 1982) ele descreve com naturalidade seu costume de beber sangue:

Ozzy: “. . . Eu passei três anos em um matadouro, matando vacas, porcos e todo tipo de coisa. Fique mesmo bom nisso, descobrindo várias formas diferentes de matar estes animais. Você já bebeu sangue?

Qui: “Eu? Eu desmaio se ver carne vermelha. De que tipo de sangue estamos falando? Ozzy: Oh, Sangue de Boi, sangue de porco. Eu tenho e eu admito que na primeira vez que se bebe você tem uma sensação esquisita.

Qui: “E como foi sua primeira vez?”

Ozzy: “Bem, você tem que espetar um a faça e segurar um copo embaixo. Depois disso eu ganhei o hábito e comecei a beber frequentemente. ” (Qui, March 1982, pp. 36, 56)

Ozzy, a caminho da extrema-unção

Para o polêmico bebedor de sangue que se hospedou no Copacabana Palace, tínhamos de tirar o chapéu para o madman. Mas o tempo passou e Ozzy transformou-se numa figura grotesca digna de pena. Recentemente num show em Toronto no Canadá, o jornalista do Toronto Star, Ben Rayner, fã de longa data de Ozzy, cobriu o show e disse ter ficado com pena de Ozzy:

“Foi horrível. Zakk Wylde parece mais uma enfermeira ao lado de Ozzy tendo de perguntar o tempo todo se ele está se sentindo bem, sem contar a dificuldade dele em acertar o tempo das músicas e mesmo saber que porra está acontecendo entre um irritante solo de Wylde e um previsível “I love you guys” que Ozzy dispara ao fim de cada música.”

Ozzy agora, deu para reclamar das baixíssimas vendas de seu último álbum ( verdade é que seus últimos quatro álbuns juntos venderam menos de dois milhões de cópias juntos ):

“Estou sendo lesado pelas pessoas que baixam música de graça. Se não fizerem nada ninguém mais entrará em estúdios para trabalhar e fazer música. Como as bandas novas farão para sobreviver?” Bem senhor madman, o Iron Maiden está nadando em dinheiro e são seus contemporâneos, bandas novas faturam muito mais intermediando seus próprios negócios do que recebendo 12% do valor das vendas como costumava ser antes do fenômeno Napster.

Por fim, Ozzy pensa constantemente na morte e afirma:

“Gostaria muito de ser lembrado como um herói, um cara que trabalhou muito, e não porque arranquei a cabeça de um morcego em cima do palco. No ano que vem, farei meu 40º aniversário como músico profissional.

Quarenta longos e cansativos anos de carreira, e eu me recordo quando o primeiro álbum do Black Sabbath saiu naquela sexta-feira 13 de 1970, pensei: Este será bom por alguns anos; eu conseguirei algumas cervejas e um pouco de drogas. Numero um, eu não sei como estou vivo. Numero dois, eu não sei.

Para os velhos fãs de Ozzy, fica um misto de saudade e revolta, de como uma cara que poderia ter saído por cima, pode ter se transformado num fantoche ridículo de uma mulher covarde e sem escrúpulos chamada Sharon Osbourne, cujo a grande obra na vida foi ter atirado ovos no Iron Maiden no Ozzfest porque os caras estavam empolgando mais a platéia do que as bandas que ela costuma proteger.

Imagina se Ozzy morre em cima do palco no Parque Antárctica ? Isso sim seria um fim ainda mais trágico para quem um dia despontou como herói dos ocultistas e satanistas em geral.

God Bless all of you !!! No Thanks Ozzy.

Pesquisa e tradução: Paulie Hollefeld


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