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O Evangelho Segundo Marilyn Manson

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Qualquer pessoa que acompanha minimamente a carreira de Marilyn Manson, já deve ter percebido que o anticristo é quase sempre levado a responder as mesmas perguntas aos jornalistas, desde que se tornou o mais célebre sacerdote da Igreja de Satã, nos anos 90.

O que temos a seguir é uma compilação de diversas entrevistas com o objetivo de passar em um único documento as principais respostas de Manson e assim dar aos interessados uma ampla visão, da filosofia que permeia suas músicas e sua trajetória como artista.

O Diabo… e Deus

Eu simplesmente não consigo admitir definições de deus ou demônio que me são atribuídas. Apenas aponto coisas que estão relacionadas com o bem ou com o mal. Mas se você procurar a definição correta no dicionário, verá que a arte tem que ser diabólica e os artistas devem ter um pouco de mal dentro de suas almas. É assim que eu sou.

Isto não significa que você deva ser uma má pessoa, mas significa que você seja reprovado por qualquer religião, e hoje os satanistas me reprovam. A arte é um polo oposto à religião. Eu estudo muito filosofia e procuro manter minha mente sempre aberta, não caindo em falsos dogmas. Como minha mente é aberta, consigo abrir a mente de outras pessoas também.  O Diabo para mim está dentro de mim, talvez ele poderia ser meu irmão gêmeo. De qualquer modo, foi por isso que escrevi You, Me and the Devil Makes 3 (Você, eu e o Diabo Formamos Três). Naquela música, eu falava comigo mesmo.”

Vida Privada

“ Fazendo este disco ( Eat Me, drink Me ) compreendi muitas coisas. Apenas uma parte muito pequena de meus amigos me conhecem efetivamente. Decidi que, nesse disco, no entanto, o Manson anônimo não estaria no centro. Mas se as pessoas realmente soubessem quem eu sou, uma nova inquisição seria instaurada, pois eu não passo de um bom garoto, um grande garoto que espalha o terror. Columbine ensinou isso a todos não ?”

Relação com a Church of Satan

“Acho que após a morte dele (Anton LaVey, fundador da Church of Satan, morreu em 1997), muita coisa se perdeu. Anton tinha seus defeitos como qualquer ser humano, mas era muito honesto em relação as suas práticas e sobre aquilo que ele esperava de seus seguidores.  Não acho que há mais espaço para esse tipo de culto performático, teatralizado, a Igreja de Satã pode e deve se reinventar, buscar dentro dela aquilo que LaVey soube explorar e oferecer a quem o(a) procurasse em seu tempo. Não me considero fora dela, mas também não me considero parte dela ou do que ela hoje representa.”

Satanismo no Século 21

“O que é o Satanismo no século 21 ? Se você encontrar alguém que me responda essa reposta eu posso adotá-la como mote de um disco futuro. Se uma coisa pode ser dita é que satanistas finalmente estão menos preocupados com o satanismo e mais preocupados consigo mesmos.”

Evan Rachel Wood

“Quando conheci a Rachel, que hoje é minha namorada, nós não tínhamos nada em comum até que nos tornamos amigos. Eu percebi que apesar do fato de eu ser claramente o imaturo da relação, ela tem uma personalidade que reflete um monte de coisas que eu não esperava que eu pudesse ser.

Ela é a pessoa mais forte com quem já tive a oportunidade de compartilhar minha vida, ela é lúcida, uma lucidez que nunca tive. Ela é minha alma gêmea. Ela tem 19 anos e é realmente muito jovem, mas isso não é um problema para mim. Ela gosta das mesmas coisas que eu. Ela entende que eu gosto de levantar quando cai a noite e dormir ao amanhecer”.

Rivais na Música

Manson ataca a cena gótica atual em diversas frentes: em algumas letras de seu novo disco, “Eat me, drink me”, ele espeta diretamente bandas metidas a góticas, como o My Chemical Romance, H.I.M e 30 Seconds To Mars, que antes fazia emo rock.

“Fico incomodado de ver bandinhas como essa fazendo uma versão rasa do que venho fazendo há anos”.  (Manson, escreveu a canção “Mutilation Is the Most Sincere Form of Flattery” inspirada na atitude de Gerard Way, vocalista dos My Chemical Romance). “Se eles querem identificar-se comigo então aqui têm uma lâmina afiada. Telefonem-me quando acabarem e nós falamos”.

“Já o H.I.M nunca foi Emo, a patetice deles vêm de um nível mais inconsciente.”

Responsabilidade aos responsáveis

É triste pensar que as primeiras pessoas que pisaram a terra, não tinham livros, filmes, jogos nem música, onde se inspirarem para cometerem assassínios a sangue frio. No dia em que Cain esmagou os miolos ao seu irmão Abel, a única motivação que ele precisou de ter foi a sua própria disposição humana para a violência.

Interpretamos a Bíblia como literatura ou como a palavra final daquilo que Deus supostamente será, o Cristianismo deu-nos uma imagem de morte e sexualidade, em volta da qual temos baseado praticamente toda a nossa cultura. Um homem morto meio nu, permanece nas paredes de quase todos os lares e em volta dos nossos pescoços, e nós temos encarado isso como essencial e como garantia para as nossas vidas.

Será isso um símbolo de esperança ou de desespero? O mais famoso assassínio/suicídio do mundo foi também o nascimento do ícone da morte. Infelizmente, por toda a sua moralidade inspirada, nunca nos Evangelhos a inteligência é rogada como uma virtude. Muitas pessoas esquecem, ou nunca se aperceberam, que eu comecei a minha banda como critica a estes mesmos temas de hipocrisia e desesperança. O nome Marilyn Manson elegeu o triste facto de que a América coloca os assassinos na capa da revista Time, dando-lhes tanta notoriedade como as nossas estrelas de cinema favoritas.

Massacre de Columbine

Desde Jesse James a Charles Manson, a mídia, desde o seu principio, têm tornado os criminosos em heróis folclóricos. Recentemente foram criados mais dois, no momento em que colocaram as fotografias daqueles dois montes de merda; Dylan Klebold e Eric Harris nas capas de todos os jornais. Não se admirem se todos os miúdos que se sintam pressionados e discriminados ganhem com dois novos ídolos. Aplaudimos a criação de uma bomba cujo único objetivo é destruir toda a humanidade, e crescemos vendo os miolos dos nossos presidentes espalhados por todo o Texas. Os tempos não se tornaram mais violentos.

Apenas se tornaram mais televisivos. Alguém acredita que a Guerra Civil foi minimamente civil? Se a televisão existisse na altura, de certeza que teria lá estado para cobrir o acontecimento, ou até mesmo participar nela, como na violenta perseguição automóvel ao carro da Princesa Di.

Abutres desgostosos à procura de corpos explodindo, fornicando, filmando e servindo-o como um banquete ao nosso apetite numa voraz manifestação de desmedida estupidez humana.

Quando chega a interrogação de quem foi a culpa dos assassinatos do liceu em Littleton – Colorado, atirem uma pedra ao ar e acertarão num culpado. Nós somos as pessoas que se refastelam e toleram crianças possuindo armas e somos as pessoas que sintonizam e observam as detalhadas noticias em-cima-da-hora, daquilo que fazem com essas armas.

Acho terrível quando alguém morre, especialmente se for alguém que conhecemos e amamos. Mas o que é mais ofensivo quando estas tragédias acontecem, é que a maior parte das pessoas não se importam mais com isso do que se importam com ver o final da série Friends, ou The Real World. Emudeci ao ver os sanguessugas da mídia , em cima do assunto, não perdendo uma única lágrima ao entrevistar os pais das crianças mortas, televisionando os funerais.

Depois veio a caça às bruxas. O maior medo do homem é o caos. Era impensável que estes miúdos não eram possuidores de uma simples causa preto no branco para justificar os seus actos. Assim, foi preciso um bode expiatório. Lembro-me de ouvir as primeiras alusões vindas de Littleton, que Harris e Klebold usavam maquilhagem e vestiam como Marilyn Manson, quem obviamente deviam adorar já que estavam vestidos de preto.

Claro, especulações desceram como bolas de neve, fazendo de mim o rapaz do cartaz apresentando todo o que é mau no mundo. Estes dois idiotas não estavam usando maquilagem, e não estavam vestidos como eu nem como góticos. Já que a América Média nunca tinha ouvido falar da música que eles realmente ouviam (Rammstein, KMFDM entre outros), escolheram outro mais conhecido que acharam semelhante.

Jornalistas responsáveis reportaram com menos publicidade que Harris e Klebold não eram fãs de Marilyn Manson, que eles até de facto não gostavam sequer da minha música. Mesmo que fossem fãs, isto não lhes dá desculpa nem significa que a música seja a culpada. Procuremos nós pela motivação do James Huberty quando disparou sobre várias pessoas no McDonald\u2019s? O que Timothy McVeigh gostava de ver? E David Korsh, Jim Jones? Pensam que foi o entretenimento que inspirou Kip Kinkel, ou deveremos nós culpar o facto de o seu pai comprou-lhe as armas que ele usou nos assassinatos em Springfield? O que motiva Bill Clinton a rebentar com pessoas no Kosovo?

Foi alguma coisa que a Monica Lewinsky lhe terá dito? Não será matar apenas matar, não obstante de ser no Vietnam ou no Arkansas? Porque justificamos um, por parecer que é pelas razões corretas? Deverá alguma vez existir a correta justificação? Se um miúdo tem idade suficiente para conduzir um carro ou comprar uma arma, não terá ele idade suficiente para ser levado àresponsabilidade por aquilo que fez com o seu carro ou com a sua arma? Ou se for um adolescente, deve ser alguém culpado por ele não ser esclarecido e inteligente como um adulto? 

A América hoje

A América adora encontrar um ícone para pendurar os seus pecados. Admiti e assumi o papel do Anticristo; eu sou a voz da individualidade dos anos noventa, e as pessoas tendem a associar todos aqueles que se afiguram e se comportam diferentemente com atividades ilegais e imorais. No fundo, a maior parte dos adultos odeiam os que caminham contra a engrenagem. È irônico o facto de as pessoas serem ingênuas o suficiente para terem esquecido o Elvis, o Jim Morrison e o Ozzy tão depressa.

Todos eles foram sujeitos aos mesmos velhos argumentos, pesquisas e preconceitos. Escrevi uma canção chamada “Lunchbox”, e alguns jornalistas interpretaram-na como uma canção acerca de armas. Ironicamente, a canção é acerca de ser chateado e da minha lancheira dos Kiss, que eu usava como arma para me defender no recreio. Em 1979, as lancheiras de metal foram banidas por serem consideradas armas perigosas nas mãos de delinquentes. Também escrevi uma canção chamada “Get Your Gunn”.

O título é escrito com dois “n\u2019s”, porque a canção foi uma reação ao assassinato do Dr. David Gunn, que foi morto na Florida por ativistas pró-vida, na altura em que vivi lá. Isto foi a derradeira das hipocrisias que assisti enquanto cresci: estas pessoas mataram outra pessoa em nome do conceito “pró-vida”. As de certa maneira positivas mensagens destas canções, são usualmente as que os sensacionalistas interpretam de forma errada como promoções às coisas que eu decremento. Neste momento toda a gente está a pensar como podem evitar que aconteçam coisas como o massacre de Littleton. Como se previne a SIDA, as guerras, depressões, desastres de automóveis? Vivemos num país livre, mas em união á liberdade, está um fardo de responsabilidade pessoal.

O Mundo hoje

Ao invés de ensinar às crianças o que é moral e imoral ou o que é certo e errado, primeiro que tudo devemos estabelecer quais são as leis que nos governam. Pode-se sempre escapar ao inferno, não acreditando nele, mas não se pode escapar à morte nem à prisão. Não é nenhum espanto que os miúdos estejam a crescer mais cínicos; eles estão num mundo de informação à sua frente.

Eles podem ver que estão a viver num mundo que é feito de tretas. No passado havia sempre a ideia que se podia virar a cara, fugir e começar uma coisa melhor. Mas agora a América tornou-se num gigantesco centro comercial, e devido à Internet e a toda a tecnologia que rege este mundo, não há lugar para onde fugir. As pessoas são o mesmo em toda a parte.

Por vezes música, livros e filmes são as únicas coisas que nos fazem sentir que há alguém que sente o mesmo que nós. Eu sempre tentei deixar perceber às pessoas que está tudo bem, ou até melhor, se não encaixam no programa. Usem a imaginação – se um lerdo de Ohio consegue ser alguma coisa, porque não conseguirão todos os outros com força de vontade e criatividade?

Eu escolhi não saltar no meio do espalhafato da mídia e defender a mim mesmo, apesar de me ter sido suplicado por todos os programas de televisão que existem. Não quero contribuir para estes jornalistas e oportunistas à procura de fama e à procura de encher as suas igrejas ou de serem eleitos devido aos seus próprios planos daquilo que é certo ou não e dos seus bodes expiatórios.

Responsabilidade aos Responsáveis

Querem culpar o entretenimento? Não será a religião o principal entretenimento? Toda a gente concorda que não há nada mais recreativo que o Clinton a disparar o seu aguilhão e as suas bombas numa verdadeira forma política. E as noticias – isso é óbvio. Então, é o entretenimentos o culpado? Gostava que os comentadores se interrogassem, já que as coberturas do acontecimento, foi um dos mais agressivos entretenimentos que já temos visto.

Penso que a National Rifle Association é demasiado poderosa demais para acatar com a culpa, por isso muitas pessoas culpam ainda Doom, The Basketball Diaries ou este vosso querido. Este tipo de controvérsia não me ajuda a vender discos ou bilhetes, e eu não o quereria. Sou um artista controverso, atrevo-me a ter uma opinião e a criar música e vídeos que desafiam as idéias das pessoas num mundo seco e esquisito. No meu trabalho, examino a América em que vivemos, e tenho sempre tentado mostrar às pessoas que o diabo que culpamos pelas nossas atrocidades é realmente cada um de nós.  Por isso não esperem que o fim do mundo chegue um dia assim fora do contexto. Está a acontecer todos os dias desde à muito tempo.


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