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Toda Escravagista Está Nua Por Debaixo Das Roupas – A Abolição da Emancipação (8 de 8)

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Bem, somos todos escravos e escravas. Não há o que discutir. Qualquer filosofia que tente negar isso é apenas uma forma de escapismo, uma maneira de tentar evaporar nossos grilhões com a força da mente, mas basta visitar qualquer prisão para ver que este exercício muito raramente funciona.

No capítulo passado falamos por cima da ilusão que é acreditar que vivemos em um mundo de não certezas mas de probabilidades. Bem, isso é mesmo uma ilusão. Se lembre da entropia, ela é a única certeza que você pode ter e qualquer lançamento de dados te leva para ela, o truque que muitas pessoas usam é lançar um dados apenas algumas vezes e usar alguns poucos resultados como uma forma de conforto para essa verdade.

A única forma de nos libertarmos é deixarmos a ilusão para trás e aceitarmos a verdade como ela é. E no fundo ser um escravo ou escrava não é algo tão ruim. Ok, a vida pode judiar da gente. Ok, pode ter dias que não vale a pena levantar da cama. Ok, toda vez que lutarmos estaremos apenas tentando derrotar um gigante com uma pluma e no fundo o que vale é a intenção. Mas por outro lado estamos vivos, temos uma senzala garantida. Por que não tirar o melhor proveito disso? Como já disse Morbitvs Vividvs: por que tentar fugir da prisão se é dentro dela que a diversão acontece?

Pense conosco agora, por um instante. Se tudo está determinado, então já sabemos o que está para acontecer. Por que não tiramos vantagem? É claro que os cínicos ou frustrados de plantão irão afirmar que isso é uma besteira, se soubéssemos o que irá acontecer acidentes, surpresas e desastres jamais nos pegariam desprevinidos, nós os evitaríamos certo? Bem, como já disse o Rev. Obito e um dos poucos surtos de lucidez que ele já experienciou: as pessoas sabem de tudo isso, só fingimos que não para tornar a vida suportável!

Amigos, se Ela está usando uma mini-saia e a natureza coloca uma escadaria para enfrentarmos podemos reclamar do infortúnio ou podemos no abaixar para ver o que a mini-saia esconde de nós.

Por mais de 8 anos o professor Daryl Bem realizou nove experimentos com mais de 1000 participantes. Bem é professor emérito de psicologia e sempre se interessou por envolver-se com algo que poucos de nós se envolvem: com algo que ele de fato sente tesão em fazer! E o que dava tesão em Bem era tentar desmascarar pesquisas realizadas por pessoas que desejavam comprovar que seres humanos possuiam habilidades psíquicas. Na verdade ele gostava de procurar falhas metodológicas nos estudos que os pesquisadores de percepção extra-sensorial (PES) realizavam e que comprovavam que pessoas podiam adivinhar pensamentos, mover coisas com a mente, cuspir fogo, etc. O problema é que em muitos dos estudos realizados a metodologia não possuia falhas. Como todo bom cético ele então passou a desenvolver os próprios estudos para comprovar por si mesmo essas capacidades e como ele mesmo afirmou:

“Das várias formas de PES, como nós as chamamos, a precognição sempre foi a que mais me intrigou, porque é a mais mágica de todas. Ela é a que mais viola nossa noção de como o mundo físico funciona. Os fenômenos da física quântica são tão espantosos quanto a precognição, mas são tão técnicos que a maioria dos não-físicos nem os conhecem.”

O resultado dos estudos do professor, como você já deve ter imaginado, nos mostra evidências de que os seres-humanos possuem uma habilidade de antecipar o futuro. Os resultados de sua pesquisa foram publicados no American Psychological Association’s Journal of Personality and Social Psychology.

Tenha em mente que Bem não estava tentando provar algo e sim desenvolver um experimento que estivesse de acordo com o processo científico, algo que, metodologicamente, não pudesse ser refutado e o próprio professor se assustou com os resultados. Quando lhe perguntaram porque o assombro, já que ele sempre disse que acreditava no fenômeno ele respondeu: “acreditar em algo é uma coisa, mas ver isso funcionando é algo completamente diferente”.

E o que funcionou foi uma experiência extremamente simples. Normalmente, experimentos científicos de psicologia funcionam da seguinte forma: se apresenta um estímulo a alguém – pode ser desde um choque até imagens, passando por boquetes, qualquer coisa – e então se mede a resposta da pessoa – que pode ser um pulo na cadeira, uma reação facial, um apertar de botão ou um grito. Daryl Bem literalmente criou uma situação onde colocou o carro diante dos bois, ou o grito antes do boquete: ele mediu as respostas dos candidatos que se submeteram ao teste e então lhes apresentou o estímulo.

O procedimento comum a esse tipo de experimento é ligar uma pessoa a uma máquina parecida a um detector de mentiras que mede uma resposta emocional do organismo através de mudanças fisiológicas de seu corpo, mudanças de carga elétrica, de batimentos cardíacos, resposta muscular, descargas químicas, etc., coisas que uma mente consciente dificilmente pode simular, é uma resposta direta da reação do corpo a algo. Então mostram para a pessoa uma série de imagem aleatórias que vão desde fotos pornográficas até imagens feias (corpos mutilados encontrados em cenas de crimes).

“Sua fisiologia ‘pula’ quando você vê uma dessas imagens depois de um tempo vendo fotos de paisagens ou imagens neutras. Mas o curioso é que notamos que a fisiologia das pessoas parece pular instantes antes das imagens surgirem na tela – instantes antes do computador decidir que imagem vai mostrar. Isso mostrou que sua fisiologia pode anteciapar um evento por vir mesmo que sua mente consciente não possa.”

Alguém aqui está pensando nas dezenas de histórias de pessoas que se sentiram mal antes de embarcar em um avião e o avião cai? Ou da mãe que sente aflição para descobrir que o filho caiu no poço? Ou das pessoas que sentem que alguém morreu para então receberem um telefonema com as más notícias? Ou então daqueles dias que você acorda pensando:”nossa, estou me sentindo com sorte!” e curiosamente o dia se revela um dia maravilhosamente bom para você?

Só que os experimentos de Bem não pararam em apenas mostrar que podemos antecipar imagens chocantes em alguns instantes, ele procurou respostas que pudessem ser de fato mensuradas. Em uma das experiências participantes viam uma lista de palavras e recebiam um teste onde tinham que escrever em uma folha o maior número de palavras que pudessem se lambrar da tal lista. Então um computador escolhia de forma aleatória algumas das palavras da lista e oferecia exercícios para os participantes realizarem com essas palavras. Quando os testes de memória eram conferidos – o de ter que se escrever o maior número de palavras que podiam se lembrar da lista – foi descoberto que as pessoas se lembravam mais das palavras com que seriam testadas posteriormente pelo computador do que das palavras que não fariam parte do teste. Em outras palavras: os exercícios que praticaram com as palavras do computador influenciou um teste de memória que fizeram antes de realizar os exercícios com o computador.

De acordo com Bem, a probabilidade dos resultados serem causados pelo acaso ou por falhas estatísticas são de 74 bilhões para 1.

Alguém aqui está pensando na Mega-Sena?

Claro, ainda existirão aqueles que afirmarão que o acaso tem sim um papel importante nos acontecimentos do universo e em menor escala no nosso dia a dia. Que hiper-determinismo é conversa para boi dormir.

Dois exemplos rápidos para esses:

1- Ao meio dia encare o sol, de olhos abertos, sem nenhuma proteção. Enquanto faz isso tente se lembrar do que vai ler agora. O sol, e outras estrelas, apenas nos parecem luminosas porque emitem fótons. Pequenas partículas de luz. O sol só nos parece quente porque no seu estômago existe uma fornalha nuclear, é nessa fornalha que surge toda a energia que emana dele. Para vermos os fótons eles teriam que sair da fornalha, viajando à velocidade da luz, deixar o sol para trás e chegar até nós. O problema é que fótons não fazem isso. Desde o momento que são criados eles pulam por todos os lugares, são espalhados, absorvidos e reemitidos por todos os elétrons, por todos os átomos de gás que encontram no caminho – e eles encontram muitos. O caminho que um fóton faz é totalmente aleatório. Mas não importa o quão aleatório seja esse passeio a radiação acaba saindo da estrela e vem direto para suas retinas. Não importa que cada fóton acredite que sua vida é regida pelo caos e pela aleatoriedade, se você encarar o sol o destino desses fótons é te deixar cego.

2- Se você não gosta de astrofísica então pegue uma moeda e a jogue para cima e veja se cai cara ou coroa. Uma moeda não tem memória, ela não sabe se caiu com cara para cima ou coroa para cima na última vez que você a jogou. A jogada é aparentemente aleatória, pode dar tanto cara quanto coroa. Mas se o processo é de fato aleatório e caótico, porque sabemos que depois de tantas jogadas os resultados de cara ou coroa tendem a se aproximar de 50% das jogadas? Se não existe um hiper-determinismo, um destino traçado, então por que não temos uma sequência de 975 caras em mil lançamentos aleatórios de uma moeda?

Texto A Abolição da Emancipação


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