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Magia, Multiverso e Função de Onda

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Esse artigo constitui uma jornada especulativa a respeito dos seguintes temas: Magia Caótica, Mecânica Quântica, Cosmologia e Neurologia. Eu não pretendo ser mais do que um leigo bem informado nos 3 últimos campos, no entanto, a respeito da Magia, expertise é um julgamento subjetivo. Na Cosmologia e nas Neurociências, estamos passando por revoluções incríveis. Esses últimos 10 anos praticamente reconstruíram nosso entendimento sobre às macro-estruturas cósmicas e as micro-estruturas do nosso cérebro. A Mecânica Quântica, que já tem quase 100 anos desde a sua formulação, é tão contra-intuitiva (mas também demonstrada repetidamente por meio de experimentos) que ainda estamos tentando compreende-la e interpretá-la corretamente. Eu tentei escrever um texto relativamente simples, mas sem algum conhecimento nessas ciências você poderá achá-lo muito complicado. Não tão complicado, pelo menos, quanto alguns cientistas considerariam as bases teóricas da Magia Caótica.

Teoria do Multiverso

Esse ensaio trata, para propósitos místicos, do modelo cosmológico e quântico designado de Multiverso. Esse modelo foi formulado originalmente por Hugh Everett III, enquanto era um estudante de graduação. Em 1957, preocupado pela divergência entre os modelos Newtoniano e Quântico da Mecânica, Everett sugeriu a interpretação dos Muitos-Mundos, que ajuda a resolver os problemas conceituais envolvidos na definição da Função de Onda.

Podemos entender por analogia a Função de Onda da Mecânica Quântica. Um dos princípios fundamentais dessa teoria (o Principio da Incerteza de Heisenberg) afirma que é impossível saber ao mesmo tempo a posição e a velocidade de determinada partícula. Em outras palavras, dá pra saber a velocidade de um elétron mas não onde ele se encontra, e vice versa. Imagine que seus amigos te telefonam do Rio de janeiro e que você vive na cidade de São Paulo.. A incerteza da Mecânica Quântica afirma que, numa analogia extrema, não se pode prever quanto tempo vai durar a viagem, eles só sabem onde estão e não tem idéia qual sua velocidade. Se eles telefonam e dizem que estão se movendo a 100 quilómetros por hora, isso implica que a sua localização exata é desconhecida, então só podemos
estimar probabilisticamente quanto tempo a viagem vai levar.

O argumento mais comum é que essa analogia se refere ao nível macro-molecular, onde opera a Física Newtoniana, não no nível micro-molecular, onde opera a Mecânica Quântica, mas isso é uma escapada patética da maioria dos cientistas, ou então seriamos forçados a crer que as Leis da Física operam de modo diferente em escalas distintas de magnificação da realidade?

A Função de Onda é uma equação baseada na probabilidade de que determinada partícula, que esteja se movendo em certa velocidade, vai estar em um lugar a tal instante. Mas é claro que ela é muito mais complexa..

Aqui vai outra definição pra ela:

A Função de Onda, também chamada de Equação de Schroedinger, é a descrição matemática de todos os estados probabilísticos de determinado objeto ou sistema físico. Por exemplo, imagine-a como um baralho, onde cada carta corresponde a um estado quântico não observado. O baralho possui 52 possíveis configurações de estado, de forma que a Função de Onda que o descreve possui 52 cristas ou depressões.

Segundo a perspectiva formal da Mecânica Quântica, qualquer um desses eventos é possível (porque as condições iniciais do sistema são indeterminadas), mas alguns são mais prováveis que os outros. Mesmo os físicos possam dizer muito pouco sobre a probabilidade de cada evento em particular, a Física Quântica funciona – é possível fazer predições a partir dela por causa da aparição de padrões probabilísticos, após a realização de um numero suficiente de medições. É mais provável que alguns eventos ocorram em vez de outros, e depois de muitos experimentos, um padrão de resultados se torna previsível. De forma que, para que seu método funcione, o físico quântico atribui uma probabilidade a cada uma das configurações alternativas de estado representadas pela Função de Onda.

Por analogia, sabemos que leva umas 4-5 horas de carro entre o Rio e São Paulo. Fazemos essa predição porque padrões de probabilidade emergiram como resultado do número de vezes em que realizei essa viagem, também porque o mapa confirma essa informação e todos concordam com essa expectativa. Em outras palavras, porque podemos acumular informações sobre uma quantidade significativa de eventos é que se torna possível fazer previsões probabilísticas.

Até ai tudo bem. Todavia, as equações da Mecânica Quântica só funcionam se aceitarmos que todos os outros estados possíveis de determinado evento são reais e existem verdadeiramente. Ela provou, experimento após experimento, que a perspectiva Newtoniana do mundo é inadequada, sugerindo também que – para que uma probabilidade se manifeste na realidade observada por seres humanos – a existência de todas as outras probabilidades, em algum lugar, é requerida. Nesse local, por exemplo, interruptores podem estar ligados e desligados ao mesmo tempo, elétrons estão em mais de um lugar ao mesmo tempo, articulas subatômicas são capazes de se comunicar instantaneamente a distancia (aparentemente violando a Teoria Relativística), um gato pode estar 1/2 vivo e 1/2
morto.

De fato, todos esses resultados foram demonstrados empiricamente, exceto pelo experimento do gato, de forma que o aparecimento de evidencias empíricas dessas anomalias não foi somente contra-intuitivo, mas extremamente problemático, minando a visão Newtoniana e (de certo modo) também a visão Relativística da realidade. Em outras palavras, continuando a metáfora automobilística, existem historias alternativas onde meus amigos nunca conseguem chegar à minha casa, onde essa trajetória demora 24 ou 36 horas, ou onde eles desencanam de andar de carro e simplesmente vem voando ou se teletransportam imediatamente pra cá. Essas não são exatamente probabilidades irreais, nós podemos facilmente imaginá-la, e segundo a Mecânica Quântica, não há nenhuma razão para descarta-las.

A maioria dos cientistas está acostumada a raciocinar de acordo com a Navalha de Occam, ou seja, consideram desnecessária a multiplicação de entidades empregadas na explicação de fenômenos, em linguagem comum pode-se
dizer que preferem soluções simples em vez de soluções complicadas. Então, por muitos anos, especialistas na Mecânica Quântica, cosmólogos e até mesmo neurologistas, tentaram desviar o foco da discussão, o que requeria a postulação de entidades matematicamente muito complexas para serem examinadas por leigos, como o Espaço de Hilbert. Esse espaço possui um numero infinito de dimensões, é abstrato e real (o que geralmente é dito em sussurros), servindo como o local de existência de todas as probabilidades descritas pela Função de Onda. Decoerência é o termo técnico empregado para descrever o processo através do qual eventos se manifestam em nosso cantinho do Espaço de Hilbert. Esses eventos de algum modo sofrem uma desestabilização, tornando-se observáveis para nós. Como a Mecânica Quântica tem sido um campo tão rico de estudos, gerando muitos desenvolvimentos tecnológicos, somente recentemente é que outras partes do espaço de Hilbert tem sido mais discutidas, adentrando
vagarosamente no conhecimento popular.

O que deixa tudo mais difícil é o fato de que o estado probabilístico se manifesta para nós aleatoriamente. A Ciência, e também o nosso próprio modo de perceber a vida, se baseia em regras que se repetem e na Ordem. Ao afirmarmos que uma probabilidade se manifesta porque é observada parece ser um raciocínio circular que não nos leva a lugar nenhum. O Universo deve então ser ao mesmo tempo caótico e coordenado, mas definitivamente controlado pelas Leis da Física. Até mesmo na Teoria do Caos, que está em moda atualmente, define o Caos como um tipo de Ordem pertencente a uma escala de magnitude muito elevada para o nosso domínio instrumental. A Magia Caótica, apesar desse nome, está estruturada sobre esta condição (de outro modo ela só funcionaria de modo inesperado). A verdadeira aleatoriedade, fenômenos que não possuem qualquer lógica implícita, é tão impossível quando a Ordem absoluta. Conseqüentemente, o fundamento da Ciência é que o funcionamento da Natureza faça sentido.

A contradição entre as visões de mundo Newtoniana e Quântica decorre na suposição de que os fenômenos diferem em suas escalas micro e macro. Esse blefe intelectual apresenta certos problemas: ela divide a totalidade do Universo entre 2 conjuntos de regras mutuamente incompatíveis. Pior do que isso, porque dados cosmológicos atestam as observações quânticas, por exemplo, a radiação cósmica de fundo. A Função de Onda é completamente determinística, habitando numa dimensão infinitamente abstrata – o Espaço de Hilbert – e todo evento não passa de uma dessas probabilidades que colapsa, tornando-se observável através de nossos aparelhos de medição.. Everett sugeriu então que a melhor interpretação para o que ocorre com todos os outros estados probabilísticos que são reais, de acordo com a Função de Onda, mesmo que não possam ser observados, era considerar o Universo, ou mais
precisamente o Espaço de Hilbert, como infinito.

Essa teoria, que foi reformulada de um modo ou de outro, é praticamente convenção entre os cientistas de hoje. Supõem-se a existência de um numero infinito de universos semelhantes ao nosso, todos coexistindo simultaneamente e contendo todo possível arranjo estrutural de matéria permitido estatisticamente pela Mecânica Quântica. A passagem do tempo é um processo acarretado pela simples sucessão desses universos em seqüência. Cada Universo também é estático, como se fosse um instantâneo de determinada organização de elementos constituintes. Mudanças, ou seja, transições de estado, não ocorrem realmente, mas as infinitas combinações e maneiras de se colocar em seqüência esses segmentos de realidade tornam tudo isso muito interessante. O que nos parece real é apenas uma
travessia por um pedaço infimo do Multiverso. Com a consciência cósmica, todas as possibilidades seriam
observadas indistintamente.

Curiosamente, o cenário do Multiverso também aparece na cosmologia, que é estritamente regulada pela Teoria da Relatividade. Quando Everett sugeriu sua interpretação da Mecânica Quântica, o Universo parecia ser, cosmologicamente, bem menor do que é hoje. As imagens do Telescópio espacial Hubble nos mostram um número incontável de galáxias, o que significa que a distribuição da matéria no Universo é basicamente uniforme. A partir dessa observação, podemos deduzir que provavelmente não há nenhuma fronteira entre o Universo e o Nada. A teoria do Einstein sugere que o Universo possa curvar-se sobre si mesmo, o que implicaria em um Universo fechado, mas poucas evidências foram encontradas em suporte a essa hipótese. Em um Universo infinito, novamente todas as
probabilidades, todos os arranjos estruturais de seus elementos constituintes, são igualmente prováveis e devem existir. A maior diferença entre os dois cenários está apenas na distancia que a sua copia mais próxima esta de você. Na teoria cosmológica, suas cópias viveriam alem do universo observável, e na teoria do Multiverso, elas estão ocupando o mesmo espaço físico, estando em outra realidade paralela, ou vibrando numa freqüência dimensional distinta.

Magia Caótica, Budismo e o Multiverso

Então, já que a maioria dos cientistas agora acredita que cada um de nós possui múltiplas cópias, a maioria bem semelhante a nós, mas muitas radicalmente distintas, o estilo especifico de Magia Caótica que utilizo usa essa teoria para concretizar minhas intenções em atos.

Toda Magia pode ser considerada como o método através do qual manipulamos as probabilidades a nosso favor.

No cenário do Multiverso, o resultado desejável para um ato de Magia, a realização de sua vontade, está exatamente em alterar a minha percepção de uma linha de probabilidade para outra. Eu sei que existo, assim como acredito na existência de todo e qualquer outro fenômeno imaginável, que se estende pela vasta seqüência de realidades paralelas. É claro que existem muitos Universos em que eu nunca nasci, mas como existem infinitos destes no Multiverso, é seguro que podemos encontrar ao menos um onde minha vontade se concretizou. Tendo sido condicionado pela linha narrativa da minha vida até esse instante, ou pelo modo como escolhi perceber o segmento de realidades paralelas pelas quais já transitei, tenho uma tendência menor de vislumbrar realidades paralelas na
qual sou, por exemplo, uma nuvem de vapor..

A maioria das pessoas que são terríveis magos e feiticeiras foram tão condicionados pela sua narrativa pessoal que não conseguem nem imaginar o resultado que gostariam de realizar. A Magia Caótica, portanto, pode ser compreendida como um método de descondicionamento das nossas próprias historias. Também existe uma historia mundial, criada e modificada pelos outros seres humanos, uma falta de sensibilidade de se levar isso em consideração também leva a muitos fracassos nessa área (ou seja, devemos contar com certa resistência proporcional ao número de vidas que afetamos com nosso desejo). Não adianta dizer-se capaz de desligar o sol por alguns minutos, isso não significa nada se as outras pessoas não forem persuadidas a acenderem as luzes, não passaria de auto-ilusão. Porém é possível que isso ocorra, teoricamente, mas está tão fora da realidade
consensual que é até difícil de acreditar. A realidade consensual é constituída por uma serie de regras de observação com as quais concordamos, e isso sustenta a integridade da realidade que compartilhamos. Existem
argumentos, no entanto, que outros animais possuam aparatos sensoriais, como os morcegos com sua eco-localização, podendo perceber segmentos bem maiores do Espaço de Hilbert do que nós. Posso até mesmo argumentar que todos nós usamos o Espaço de Hilbert bem mais rotineiramente do que podemos imaginar.

Por exemplo, quando escolhemos uma dentre um grande numero de ações possíveis. Não costumamos reconhecer que cada um dos resultados realmente ocorre, mas de acordo com a teoria do Multiverso elas existem. A nossa relação com o Iniverso é que está sendo limitada pela instrumentação orgânica, nossos órgãos sensoriais. Mas as estruturas corticais superiores que interpretam essa informação o fazem pela seleção por semelhança. A linguagem da mente é simbólica – padrões de neurônios em atividade. Os padrões desses impulsos neurais que são tanto químicos quanto elétricos, são rapidamente comparados com os moldes abstratos em estão armazenados nos níveis corticais superiores. Essa informação que chega também pode ser emitida para os nossos órgãos sensoriais – sonhos, síndrome do membro fantasma e etc são evidencias disso. A teoria do Multiverso parece indicar que essas imagens realmente existem concretamente em algum lugar.

De modo que a realização da Magia, nesse modelo, decorre da observação de determinado estado probabilístico. Da multiplicidade de realidades paralelas para cada resultado, escolhe-se um. Por observação, quero dizer: interação, crença, força de vontade, e todo tipo de estímulo sensorial, intelectual, emocional ou instrumental que cria o mundo como percebo, e espera-se que o resultado colapse. As circunstancias da narrativa pessoal e a estrutura do regime de crenças consensuais da qual participamos pode limitar ou impedir que a vontade se
cumpra.

O regime de crenças consensuais é percebido individualmente e comparado com a auto-narrativa que cada um de nós consolida em nossas mentes. A informação de nossos sentidos deve fazer referencia a esses padrões pra ser compreendida, uma vez que eles são indissociáveis de uma resposta emocional, elas despertam tanto sensações intelectuais quanto emocionais. A Magia Caótica afirma que tanto as mudanças pessoais quanto ambientais que experimentamos são limitadas pelo sistema de paradigmas, ou de crenças que possuímos, e que estes podem ser alterados pela intencionalidade.

É difícil compreender o que realmente ocorre quando um desejo se concretiza através da utilização do modelo do Multiverso. Será que um Universo inteiro é criado conforme a nossa vontade? Aparentemente sim. Será que a consciência do praticante de Magia passa a habitar o corpo de sua cópia em uma realidade paralela, ou ela se torna o praticante? Acho que isso nem importa, mas por que parto de uma perspectiva budista sobre o assunto não posso justificar uma distinção fundamental entre mim e qualquer outro arranjo estrutural de matéria  suficientemente similar. Isso quer dizer que o principal ai é a questão da identidade. Seria o eu do Universo onde a vontade é concretizada o mesmo daquele em que formulou-se o desejo? Essas questões sobre identidade rapidamente revertem para o problema do essencialismo e à impossibilidade de se definir qualquer entidade sem fazer referencia a sua correlação com outras. As teorias cientificas foram provadas empiricamente, mas questões sobre a alma continuam sem resolução.

No sistema de crenças do Budismo, já se especulava sobre uma realidade infinita, o que pode até mesmo ter influenciado o desenvolvimento cientifico nessas áreas, e é também possível que a nossa noção atual de Magia tenha partido dessas questões. As entidades do panteão budista, com seus múltiplos braços e membros, provavelmente se referem não somente a seus múltiplos poderes, mas também a sua hiperdimensionalidade, sua
presença em um número ilimitado de realidades.

Uma maneira de compreender essas divindades seria supor que vivem no Estado de Hilbert, colapsando onde desejarem em diferentes ramos probabilísticos. Esse seria o principal motivo para alguem resolver trabalhar com elas, seriam como canais de comunicação pelo Multiverso – o praticante pode duvidar da sua própria capacidade, portanto elas facilitariam principalmente o seu enfrentamento das estruturas do regime consensual de crenças. Poderíamos duvidar de nossa capacidade de realizar isso sem qualquer assistência, mas parece claro que, pela ação de uma
divindade, isso se tornaria muito mais provavel. A Magia Caótica é, portanto, um método para desconstrução de estruturas de  crenças consensuais, selando a parte do ego que duvida de nossascapacidades. Sigilos, servidores e rituais também auxiliam o praticante a se comunicar através do Multiverso, como essas divindades. Cada uma dessas
técnicas parece ajudar os praticantes de Magia a se mover conscientemente pelo Espaço de Hilbert, ao relaxarmos os rígidos padrões de pensamento do hemisfério esquerdo do cérebro que definem o que é real e o que é plausível.

Pura especulação

Nos últimos 10 anos, cosmólogos descobriram que o Universo é primariamente composto de energia e matéria escura, com a porcentagem de matéria visível sendo em torno de 10% do conteúdo energético total do Universo. A matéria escura é um tipo não radiante de matéria que estrutura a formação de galáxias e aglomerados filamentosos. A energia escura nem sabemos o que pode ser, mesmo que esta componha a maior porção daquilo que existe, tendo inclusive acelerado a expansão cósmica. Tudo está se distanciando de qualquer outra coisa, sendo preenchido por essa energia escura. Talvez isso esteja relacionado ao Espaço de Hilbert, basta pensar que a emergência da vida, nesses últimos bilhões de anos, se deve ao aumento da complexidade estrutural do universo. Consciência seria apenas um outro modo de nos referirmos à vida. Talvez seja isso que acelere a expansão cósmica, ao criar uma matriz observacional que acelera a expansão cósmica, aumentando o numero de probabilidades a serem observadas. Aprecio o fato de que o Universo tenha a aparência de ser isotrópico e homogêneo, e que há mais conexões cerebrais do que partículas no universo observável. Fenômenos como o ponto cego, a síndrome de Charles Bratton e etc, nos dão uma pequena indicação de tudo que nossas estruturas neurais são capazes de realizar. Creio ser obvio que a incrível complexidade do cérebro humano esteja integralmente relacionada ao Multiverso de modos que quase não percebemos, talvez porque elas ocorram a nível inconsciente.

Uma manual prático

Sendo um fã de teorias complicadas, e de técnicas fáceis que funcionem, quer entendamos ou não as teorias que as fundamentem, fica claro que, na Magia Caótica o que importa é a crença, e já foram realizadas inúmeras discussões sobre a necessidade de sinceridade nessa crença para se obter o resultado. Em minha opinião, o mecanismo seria mais bem descrito como a suspensão de descrença. De qualquer forma, a Magia Caótica depende da transformação psicológica ou pessoal, de modo que essas técnicas, em união com o modelo do Multiverso, sirvam para nos convencer que o resultado que foi sendo manifestado era o esperado.  O que faço é me isolar, tento chegar num estado alterado de consciência, onde a atividade mental se torna mais difusa. Minha intenção era a de trocar de
lugar com uma cópia que tivesse uma auto-narrativa mais consistente.

Foi basicamente o que fiz, e sabia o que estava fazendo mesmo que não possa colocar em palavras, pois como todo ato de Magia bem sucedido está além da descrição simbólica. De qualquer maneira, é bem fácil, considere que existe uma copia sua que habita uma realidade paralela onde seu desejo foi realizado, Troque de lugar com a cópia, e torça para que ninguém perceba o que aconteceu. A sua própria memória se tornará meio confusa, mas é grande a probabilidade de que ela já seja assim, e somos nós que não percebemos isso.

Será que eu realmente tive sucesso, trocando de lugar com a minha copia? Ou apenas me convenci de que isso ocorreu? Segundo a magia Caótica, isso nem importa, pois ela se preocupa mais com resultados. Desde então tenho sido muito mais feliz, e tenho estado muito mais alerta para alterações de comportamento que comprometam esse estado de graça. Considero que tenha tido sucesso, mas apenas o tempo dirá; espero que  minha cópia nunca apareça por aquipra reclamar de seu paraíso perdido.

Suspeito que qualquer estilo de Magia poderia ser modificado pela perspectiva do modelo do Multiverso, o que responderia a muitas perguntas:

– Como a Magia funciona?

Ao fazer uma outra parte do estado probabilístico do Multiverso se manifestar pela observação, ou se preferir, ao trocarmos de lugar com uma cópia de uma realidade paralela.

– O ritual é necessário?

Apenas enquanto ferramenta para transformação de seu sistema de crenças.

– Existem deuses e/ou demônios de dimensões obscuras da realidade?

Sim, com tanta validade quanto a sua própria existência, já que mais pessoas acreditam nesses mitos do que em você eles podem ser até mais reais. Mas não creio nisso, suspeito que a qualidade da observação acaba vencendo sobre a quantidade de observadores. De qualquer forma, não faz sentido perguntar essas
coisas.

Não existe nenhuma razão para considerarmos a Ciência e a Magia como contraditórias. A Primeira categoria é grande o suficiente pra abranger a segunda, mesmo que a mente da maioria dos cientistas ainda seja muito streita. Uma questão mais interessante, do meu ponto de vista, é se os praticantes da Magia estão  finalmente prontos para aceitar que o Multiverso é a melhor explicação para o fenômeno da conformidade da realidade com as nossas expectativas.

por Mark Defrates, trad. Dr. Clandestino:

Uma resposta em “Magia, Multiverso e Função de Onda”

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