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por Sar Naquista
“O homem não pode dar um passo sem encontrar seu altar; e esse altar está sempre provido de Luminárias que jamais se apagam e que subsistirão pelo tempo que durar o próprio altar… Ele leva sempre consigo o incenso para que a todo instante possa se dedicar aos atos de sua religião”.
– Louis-Claude de Saint-Martin
Um templo é um local consagrado à comunhão humana com o divino. Todos os povos e culturas desenvolveram em suas religiões estes locais sagrados onde a presença divina podia ser experimentada. Além de cumprirem uma função social e mística tais localidades sempre foram também espaços onde a interpretação de símbolos oraculares serviam como instrução dos desígnios dos deuses para a humanidade.
No famoso Oráculo de Delfos, durante a Grécia Antiga este papel era feito pelas Pitonisas, sacerdotisas de Apolo que proferiam suas profecias no monte Parnaso. Os judeus possuíam o Templo de Jerusalém, construído conforme a visão do rei Davi, enquanto que os cambojanos atribuem a construção do templo de Angkor-Vat aos próprios deuses. Na Roma Antiga,este era o trabalho dos augures, que com seus cajados traçavam no céu espaços delimitados nos quais buscavam observar os sinais dos deuses como os sinais das nuvens e dos pássaros. Além da palavra latina “templum”, os romanos também usavam outra, “fanum” para se referir a estes “lugares consagrados”. Dai que temos hoje a palavra “profano”, para se falar de tudo o que fica na parte de fora do templo e por extensão a todos aqueles que não eram iniciados em seus mistérios.
Pontos Cardeais
Do Stonehenge às Catedrais Góticas, os templos são um grandioso símbolo do macrocosmo e uma ligação entre o mundo divino e humano que usualmente levam em consideração os pontos cardeais, a saber: o leste (lado Oriental), Oeste (lado Ocidendal), Norte (lado Setentrional) e Sul (lado Meridional). Estas quatro direções têm hoje uma forte carga simbólica, principalmente devido a questões astronômicas que acompanham a trajetória do Sol.
O Leste, por exemplo, representa a fonte de onde toda luz irradia, uma vez que é no oriente que o Sol se levanta todos os dias. No hemisfério norte onde a tradição se desenvolveu o Sol prossegue até atingir seu ponto mais alto no zênite ao Sul, por esta razão o lado meridional representa a luz em sua maior plenitude, maturidade e potência. No Oeste o Sol se põe e prossegue em direção ao mundo invisível e assim esse ponto cardeal representa o manifesto, e o local onde o iniciado enfrenta o desconhecido. Por fim, ainda no hemisfério norte o Sol jamais passa para o Norte e este ponto representa assim às trevas e a escuridão que a semente encontra no solo e que a gesta e faz no tempo adequado germinar.
Particularmente na tradição martinista é entendido que o ser humano não tem acesso atualmente ao Leste Místico, a origem da Luz, descrito acima. Desta forma o mundo é representado com apenas os pontos do Sul, Norte e Oeste espirituais. O Leste entretanto pode ser contemplado por meio da iniciação, que nos abre para a Luz da Sabedoria.
Oficiais do Templo
O Templo Martinista, também chamado Loja, é constituído por sete oficiais, cada um deles ornado por uma estola correspondente a sua posição: três de estolas brancas, três de estolas pretas e um de estola vermelha. Vamos nos ater um pouco a cada um deles.
Os três oficiais de estola branca são o Associado, o Iniciado e o Mestre e formam junto o triângulo executivo da loja. O Mestre é o responsável pela Loja e se posiciona no Oriente do Templo. Ele é auxiliado tanto pelo Iniciado como pelo Associado. Estes em algumas ocasiões podem presidir suas classes, ocasião na qual ocupam o lugar do Mestre da Loja e tem os seus próprios preenchidos por um oficial suplente.
Os três oficiais de estola preta são o Sentinela, o Incógnito e o Arquivista e também formam entre si um triângulo. o Sentinela via de regra se coloca no Ocidente, ou seja, a porta do Templo onde admite a entrada apenas dos irmãos e irmãs autorizados. O Incógnito se coloca à direita do Mestre e representa as forças espirituais da Loja e dos nossos mestres invisíveis. Por fim, à esquerda do Mestre se coloca o Arquivista cuja função é manter os registros de todas as atividades administrativas e ritualísticas.
Os dois triângulos formam um hexagrama e em seu centro um último oficial de estola vermelha se posiciona perto do altar. Este oficial é o Orador, o guardião e porta-voz dos irmão e irmãs durante os rituais.
Além disso, no Oriente da Loja, ao lado da cadeira do Mestre é colocada uma cadeira coberta com um pano branco. Este é o lugar que lembra e honra os mestres do passado e representa sua presença em nosso meio, invocada no início de cada conventículo. Atrás dela uma vela brilha nos recordando que a Loja é um local de comunhão com o mundo espiritual e do adágio martinista de que estes mestres “não existem mais e, o entando ainda estão entre nós.”
A Mesa do Mestre e o Altar
Há na mesa do Mestre da Loja outros objetos de grande valor simbólico como o candelabro de três braços que nos remetem às três faculdades divinas que manifestam a Criação: Pensamento, Vontade e Ação. Da mesma forma estas faculdades estão presentes em outros elementos como às três rosas, a espada, a máscara vermelha e o malho. O Pensamento é simbolizado pela máscara vermelha, a Vontade pelo malho e espada por fim simboliza a Ação. Mais importante ainda, estes objetos nos lembram que o ser humano, uma vez que também é dotado de Pensamento, Vontade e Ação é ele mesmo dotado destas faculdades criadoras dentro de sua própria escala de existência.
O Orador, como vimos se coloca diante do altar que se situa no centro da cruz formada pelos eixos Leste-Oeste e Norte-Sul representando assim a união entre os mundos celeste e terreno. Mantendo este simbolismo entramos no templo vindos das trevas exteriores em direção a luz e o altar é sempre mantido à nossa direita como ponto central quando nos movimentamos para entrar ou sair do templo.
Neste altar há três luminárias que manifestam a Sabedoria, a Força e a Beleza, os três atributo divinos do Grande Arquiteto do Universo. Por sua Sabedoria, nos preside, por sua Força nos sustenta e por sua beleza nos orna. Estas três qualidades estão presentes assim no templo e em potência no próprio ser humano quando animado pelas mais puras aspirações.
Estas aspirações também são representadas no altar por meio do incenso que queima e se eleva ao alto nos induzindo a nos tornarmos mais receptivos ao divino e assim nos harmonizarmos melhor com o mundo invisível. O altar martinista trás ainda a Bíblia Sagrada aberta na primeira parte do Evangelho de São João. Da mesma forma que o evangelho inicia nos lembrando que “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” a Bíblia aberta nos lembra da presença de Ieschouah (Yod He Shin Vav He), “O Grande Arquiteto do Universo,” no coração de nossa Loja.
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