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Sar Naquista
“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.” – Isaias 9,6
A tradição judaica baseada na Torá desde seu inicio ensinou que o nome de Deus, o Todo Poderoso Criador do Mundo e instrutor da humanidade é escrito por um conjunto de quatro letras chamado Tetragramaton. Estas letras são יהוה (yod, he, vav, he) e geralmente traduzido como Iahweh. A partir do século XV contudo o desenvolvimento da Cabala Cristã fez com que autores como Pico della Mirandola (1463-1494) e Johannes Reuchlin (1455-1522), passassem a entender que este nome não estava completo no Antigo Testamento, pois não havia se manifestado com todas as suas letras. Algo que só aconteceu através de Jesus Cristo, cujo nome em hebraico “Ieschouah” é o Tetragramaton com a letra Shin no centro (יהשוה), lembrando que a letra ש Shin é a na cabala a letra ligada a seleção, instrução e compreensão e não a toa a primeira letra da palavra Shekhinah, (שכינה) que designava a presença de Deus oculto no Santo dos Santos por trás dos véus do Templo de Jerusalem.
Nas obras ocultistas renascentistas, este pentagrama (ou nome divino de cinco letras) era frequentemente organizado em torno de um pentagrama místico, onde cada uma das cinco letras hebraicas יהשוה era colocada em um dos pontos com a letra shin ש era sempre colocada no vértice apontando para cima do pentagrama. Um dos primeiros exemplos atestados deste diagrama está no Calendarium Naturale Magicum Perpetuum ou “Calendário Mágico” (publicado em 1620, mas datado de 1582) de Theodor de Bry. A ideia do pentagrama foi canalizada para o ocultismo moderno pelo escritor francês do século XIX Eliphas Levi e pela influente Ordem Hermética da Aurora Dourada do final do século XIX.
Nas obras ocultistas renascentistas, este pentagrama (ou nome divino de cinco letras) era frequentemente organizado em torno de um pentagrama místico, onde cada uma das cinco letras hebraicas י ה ש ו ה era colocada em um dos pontos (a letra shin ש era sempre colocada no vértice apontando para cima do pentagrama).[2] Um dos primeiros exemplos atestados deste diagrama está no Calendarium Naturale Magicum Perpetuum ou “Calendário Mágico” (publicado em 1620, mas datado de 1582)[3] de Theodor de Bry (alemão de origem flamenga, 1528-1598) ou Matthäus Merian, o Ancião (suíço, 1593–1650).[4] A ideia do pentagrama foi canalizada para o ocultismo moderno pelo escritor francês do século XIX Eliphas Levi e pela influente Ordem Hermética da Aurora Dourada do final do século XIX. A Golden Dawn favoreceu a transcrição consonantal IHShVH ou YHShVH, e a pronúncia Yeheshuah.
Ieschouah (יהשוה) é chamado também chamado no contexto martinista de “O Grande Arquiteto do Universo”. O primeiro registro deste uso é encontrado na obra “Tratado de Arquitetura” de Philibert Delorme (1510-1570) mas se popularizou graças a Johannes Kepler (1571-1630) em seu livro “Astronomia Nova” antes de ser adotado pela maçonaria e pelo martinismo.
Cristo não é Deus
Quando usada dentro do contexto martinista, sempre que falamos do Grande Arquiteto do Universo estamos falando do Cristo, mas para Martines de Pasqually e seus discípulos Cristo não é Deus. Pelo menos não na forma como a teologia cristã entende Deus . O “Tratado da Reintegração” mostra Cristo como um “Espírito Octonário” ou seja um ser que não é simplesmente humano (ou Quaternário) mas duplamente mais forte que os seres humanos e que assim tem tanto uma origem como uma missão especial e diferente da nossa.
Embora os termos sejam diferentes esta concepção não é outra senão a do próprio Cristianismo Primitivo dos primeiros séculos que considerava Cristo algo como um anjo superior. Jesus só foi promovido ao próprio Deus a partir do século IV. Quanto a isso a leitura do livro “Como Jesus Se Tornou Deus” do historiador Bart D. Ehrman é uma excelente referência.
De fato não é rato encontrar na literatura cristã do século I, II, principalmente entre os chamados Patriarcas da Igreja os termos como “Anjo-Messias” ou “Angelos-Christos” ou ainda “Anjo do Grande Conselho” para se referir Jesus Cristo. Os primeiros cristãos estavam mais preocupados com a mensagem do Cristo e com o iminente fim do mundo do que com a elaboração de teorias teologais.
Mas quando a Ressureição dos Mortos não ocorreu como esperavam e e principalmente no IV várias leituras passaram a ser feitas dando origem a uma série de controvérsias. Vejamos algumas delas
Monofisismo: Dizia que com a encarnação Jesus Cristo e a Divindade tornaram-se uma única pessoa com uma única natureza, Jesus sendo portanto ao mesmo tempo Deus e Homem.
Diofisismo: Em oposição ao Monofisismo, dizia que Cristo mesmo sendo uma só pessoa tinha “duas naturezas”, uma divina e uma humana.
Monotelismo: Dizia que Jesus era não uma mas duas pessoas, uma divina e outra um ser humano.
Docetismo: Acreditavam que Jesus Cristo era uma espécie de ilusão criada por Deus e que apesar de ter uma aparência humana, não possuía carne e nem sangue e sua crucificação foi apenas aparente.
Arianismo: Dizia que Jesus é um ser humano superior não Deus, mas filho de Deus e assim subordinado ao Pai.
Em 325 o Concílio de Nicéia bateu o martelo e a partir de então que não aceitasse o dogma da divindade de Cristo era oficialmente um herege.
Vejamos agora, segundo o martinismo quem foi Jesus Cristo. Ou melhor, quem foi Jesus e quem é Cristo.
Jesus Cristo
Assim que Jesus foi batizado, saiu da água. Naquele momento o céu se abriu, e ele viu o Espírito de Deus descendo como pomba e pousando sobre ele. Então uma voz dos céus disse: “Este é o meu Filho amado, em quem me agrado”.
– Mateus 3,16-17
A primeira coisa que martinismo ensina é que há uma diferença na origem e natureza de Jesus, o Filho do Homem e Cristo, o Filho de Deus. Falaremos sobre a natureza de Cristo logo mais, mas é importante entender que o primeiro foi uma encarnação humana e outro uma emanação do Deus Pai, e que ambos por fim, se tornaram um para que sua missão fosse comprida.
Jean-Baptiste Willermoz ensinou que Jesus Cristo foi realmente um ser duplo: homem e Cristo Cósmico. Esse não era o próprio Deus, mas também não era por assim dizer um ser humano comum. Além de ser um iniciado nos mistérios era antes disso a encarnação do “Segundo Adão”, aquele que protagonizou a Queda e que desta vez usou seu livre-arbítrio para unir a sua vontade com a vontade de Deus, por meio do Cristo que recebeu ao ser batizado no rio Jordão.
Assim o segundo Adão fundiu-se totalmente a Cristo e se tornou uno com ele. Uma das implicações disto é que não foi Cristo que sofreu na cruz mas apenas Jesus, pois o segundo por sua própria natureza não pode sentir dor. Esta doutrina exposta por Willermoz não é encontrada nas obras de Pasqually, mas em geral os martinistas concordam que o discipulo aprendeu tais ensinamentos diretamente com o autor do “Tratado da Reintegração”.
Cristo como Instrutor
“Se vocês me amam, obedeçam a meus mandamentos.
– João 14,15
Falemos agora do Cristo, apropriadamente chamado de Filho de Deus por ser uma emanação do Pai. Dentro do martinismo, seja na obra de Martines de Pasqually ou de seus discípulos como Louis-Claude de Saint-Martin e Jean-Baptiste Willermoz, usamos diferentes nomes para enfatizar diferentes aspectos de Cristo como “Messias”, “Reparador”, “Reconciliador” ou “Sabedoria.” Dentre estes nomes se destaca o enigmático “Heli” que significa “Receptáculo da Divindade” ou ainda “Força de Deus”.
Para Pasqually a idéia por trás do conceito de Heli é a de que Cristo não é apenas um personagem histórico que nasceu em Belém dois milênios atrás, mas que muito antes disso já era o “Eleito Universal”, escolhido por Deus para encarnar em vários momentos diferentes da história para guiar a humanidade. Essa mesma visão também pode ser encontrada, por exemplo, no clássico “Homilias Clementinas” e muitos outros textos gnósticos dos primeiros séculos que falam de um ser sublime enviado diversas vezes para viver entre e beneficiar a humanidade.
O Cristo, “Heli” se manifestou em todos os antigos profetas e em todos os grandes guias da humanidade. Dentre eles Pasqually cita “Abelo, Enoque, Noé, Melquisedeque, José, Moisés, Davi, Salomão, Zorobabel e Jesus Cristo”. Com o acesso multicultural de hoje apenas podemos conjecturar que também não era essa mesmo Espírito que veio como “Krishna, Budah, Confucio, Lao Tsé” e tantos outros mestres do passado orientais. Podemos ainda imaginar, não sem o risco de sermos alvo de críticas que este mesmo Heli estava presente em profetas que vieram depois de Jesus como Muhammad e Chico Xavier Mas seja como for Pasqually considerava que foi através de Jesus Cristo, que Heli se manifestou em sua maior gloria, uma ideia também defendida pelos primeiros cristãos.
Após a Queda de Adão que vimos no artigo Adão segundo o Martinismo, o martinismo ensina que ao tomar consciência de seu erro primeiro homem envolto por uma camada material implorou o Perdão de Deus. Assim fou-lhe enviado Heli, não só como uma forma de perdão, mas também como uma forma de ensinar a humanidade sobre sua missão espiritual. Após a Morte de Abel, Adão transmitiu esse ensinamento a Seth, seu terceiro filho que então o legou a primeira geração da humanidade.
Cristo como Criador
“No princípio era a Palavra e a Palavra estava com Deus, e Deus foi a Palavra.” João 1,1
Além de ser o instrutor maior da humanidade, o Cristo Cósmico teve também um papel como o organizador do mundo material. Ele já existia antes mesmo da Criação Universal, como nos fala Isaias e João:
De fato, Ieschouah teve um papel importante na Criação Universal, pois coube ao Espírito Octonário descer no caos inicial e colocá-lo em ordem para que fossem criado o mundo material e as leis que o sustentam. É nesse sentido que dizemos que Cristo foi o Arquiteto do Universo, o Logos (Razão/Verbo) graças ao qual o cosmos foi erguido de modo.
Cristo Reconciliador
“Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.”
-João 14,6
Como mencionado Pasqually e seus discipulos também usavam os nomes de “Reconciliador” para falar de Cristo, mas isso, como vimos no artigo O Bem, o Mal e de Volta Outra Vez não pode ser feito indo contra o livre-arbítrio, nem fazendo pelas pessoas o trabalho espiritual que deveria ser feito por elas.
Como já foi visto no artigo “Os Sete Céus de Martinez de Pasqually” a reconciliação é uma etapa anterior a reintegração. Filosofo Desconhecido ensina que uma pessoa reconciliada é aquela que teve uma experiência interior com o Cristo. Essa, que fique bem claro, não é a conversão a este ou aquele dogma, nem a entrada nesta ou naquela religião mas sim o “culto espiritual” sem o qual é impossível o arrependimento da prevaricação e o retorno ao Amor de Deus.
Saint-Martin explicou esta ideia de muitas formas, particularmente no livro “Dos Erros e da Verdade”, onde diz que a oitava página do Livro do Homem trata daquele que é “o Único apoio, a Única força e a Única esperança do homem”. A “Festa de leschouah” que os martinistas realizam em dezembro está particularmente ligada a este trabalho de união com Cristo Reconciliador.
Cristo Reparador
Chegando o dia de Pentecoste, estavam todos reunidos num só lugar. De repente veio do céu um som, como de um vento muito forte, e encheu toda a casa na qual estavam assentados. E viram o que parecia línguas de fogo, que se separaram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito os capacitava.
– Atos 2,1-4
Mas se houveram inúmeros personagens históricos que guiaram a humanidade antes e depois de Jesus, trazendo os ensinamentos mais apropriado para o avanço da humanidade em seus respectivos locais e épocas. Porque então a ênfase em Jesus Cristo? Ocorre que sua missão resultou na abertura de novas vias espirituais para a humanidade, permitindo acesso a certo planos que até então nos eram fechados. Isso está na própria etimologia do nome Ieschouah” (יהושׁע) que significa “Salvação”.
Ao abrir esse caminho, Ieschouah exerceu um papel de “Reparador”, no sentido de ter purificado a Criação. Isso foi realizado em dois níveis: no Mundo Terrestre e outro na Imensidade Celeste:
Saint-Martin explica que no Mundo Terrestre Cristo purificou o Enxofre, o Sal e o Mercúrio que formaram a nossa realidade nos primeiros dias da criação e assim “regenerou as três bases constitutivas do mundo material purificando-as de suas escórias”.
Na Imensidade Celeste “ele regenerou os sete pilares do Templo Universal” ou seja as sete energias dos planetas pelos quais se escoam as Virtudes Divinas até o nosso mundo.sta dupla Reparação efetivou-se no Pentecostes, ou seja, sete semanas, ou quarenta e nove dias após a Pascoa quando como Louis-Claude de Saint-Martin coloca “abriu-se a quinquagésima porta através da qual todos os escravos esperavam obter sua liberdade, e que se abrira novamente no final dos tempos”.
A Imitação de Cristo
“Em verdade, em verdade vos asseguro que aquele que crê em mim fará também as obras que Eu faço e outras maiores fará, pois eu vou para o meu Pai.” 14,12
Em todas as suas vindas o Cristo relembrou ao ser humano sua missão de Reintegração no Amor de Deus tanto por seus ensinamentos como por seu exemplo e desde sua vinda como Ieschouah as vias de acesso para a regeneração mística nunca estiveram tão favoráveis.
Por isso, o martinismo ensina que a salvação dos espíritos humanos não dependem de nenhum ritual religioso em particular nem da adesão de nenhuma cartilha, mas sim na imitação a vida do Cristo, que nada mais é do que a via cardíaca levada a sua perfeição.
No livro “O Novo Homem” Saint-Martin expõe as etapas desse processo de imitação desde a Anunciação feita a Maria até a Ressurreição, em outras palavras, desde o a visita do nosso Anjo ou ” “Amigo fiel” até a reconquista de nosso corpo glorioso com o qual alcançamos as esferas superiores. Todos os acontecimentos da vida do Cristo são assim símbolos das várias etapas que devemos percorrer em nosso processo de imitação de Cristo. E mais ainda, pois o Filosofo Desconhecido, nos diz que o ser humano está destinado a ir ainda mais longe que o Cristo sendo chamado para uma missão ainda maior que a Dele.
Seguir seus ensinamentos e imitar sua vida é realmente muito mais importante para o martinista do que definí-lo em termos ontológicos. Fazer o contrário é nos arriscar a nos perder em teorias intelectuais que fazem pouca diferença na via cardiaca e, como já vez com muitas pessoas, levar a contenda e mesmo conflito aberto entre pessoas de opiniões diferentes. Ou como a história provou diversas vezes, a prática do Mal em nome de Deus.
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