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Compilado de escritos deixados por Robert E. Howard
De acordo com o escritor americano Robert Ervin Howard, cerca de 12.000 anos atrás, houve um glorioso período na pré-história da Terra, entre a submersão da lendária Atlântida e a história conhecida no tempo dos egípcios e mesopotâmicos. Essa era ele chamou de Hiboriana, cujas maiores potências eram os reinos de Aquilônia, Nemédia e Turan, existindo onde hoje se encontram a França, Alemanha e União Soviética. Muitas eram as divindades adoradas no período hiboriano, e grande era sua influência em todos os habitantes do continente. Por essa razão, se quisermos compreender bem o meio ambiente no qual viveu o famoso bárbaro chamado Conan, é de absoluta importância um conhecimento detalhado sobre as entidades que compreendiam as várias religiões da época.
O Reino de Ymir
O deus supremo dos aesires e vanires — habitantes de Aesgaard e Vanaheim — era Ymir, o gigantesco deus da guerra e da tempestade. Nada de muito definido se sabe sobre ele, exceto que governava Valhalla, uma região de planícies geladas e montanhas imensas, jazigo eterno para as almas de todos os guerreiros. Sua filha era Atali, uma jovem linda e de pele branca como a neve, que atuava como uma espécie de mensageira da morte, aparecendo aos lutadores feridos mortalmente durante uma batalha.
Como, na época, Aesgaard e Vanaheim eram simples agregados de tribos independentes e não reinos unificados, provavelmente também tinham um grande número de deuses regionais, subordinados a Ymir. Mas isso é apenas suposição.
Terra de Trevas e Noite Eterna
Ao norte do continente, situava-se a Ciméria, uma região tenebrosa, repleta de montanhas cobertas por densas florestas, cujo céu era sempre cinzento e governado por deuses obscuros. No mais alto de todos os montes achava-se Crom, a severa divindade que controlava os destinos e decretava as mortes. Nenhum cimério tinha, por costume, suplicar algo a Crom, pois ele era lúgubre, selvagem e odiava os fracos. Apesar de ser o deus mais importante do reino, havia outros, com menos seguidores, mas também adorados. Entre estes, podemos citar Lir, seu filho Mannanan, a deusa guerreira Morrigan, e seus subordinados, Badb (a fúria da batalha), Nemain (o venenoso) e Macha.
A visão da vida e da morte para os cimérios era tão triste quanto sua terra e seus deuses. Em sua concepção, não existia esperança nem no presente, nem no futuro, pois eles tinham plena convicção de que os homens lutavam e sofriam em vão, encontrando prazer somente na loucura da batalha. Morrendo, suas almas penetravam em um reino escuro, frio e enevoado, onde vagariam por toda a eternidade.
Não é de se espantar que Crom fosse o deus de uma raça autoconfiante, cujas únicas ambições eram lutar pela sobrevivência e empenhar-se em tantos combates quanto possível.
A Chegada dos Hiborianos
Quando o mundo foi abalado pelo Grande Cataclismo que fez submergir a Atlântida, os ancestrais daqueles que viriam a ser os hiborianos fugiram para o norte do continente. Nessa época, eles não passavam de simples selvagens, pouco mais desenvolvidos do que os homens de Neandertal. Durante os 1.500 anos em que habitaram aquelas terras, os primitivos foram, pouco a pouco, desenvolvendo complexos rituais, bem como formas de adoração a seus ancestrais. Bori, por exemplo, deve ter sido um guerreiro bem-sucedido, transformado em lenda como herói nacional, e, mais tarde, deificado.
Antes de iniciarem o grande êxodo para o sul, os hiborianos eram seminômades, habitavam cabanas de couro de cavalo e viviam da caça e do pastoreio. Dessa forma, assim como as nações arianas e outros povos, eles começaram a adorar os céus e a imaginar formas celestes que governavam tanto os fenômenos naturais como as necessidades humanas. Esse conceito de deuses passou a dominar mais e mais suas crenças, na medida em que aumentava sua expansão geográfica.
Por cerca de 500 anos, as tribos hiborianas vagaram para o sul e sudeste sem ter suas crenças afetadas, até que, por fim, encontraram raças antigas e poderosas — como os acheronianos, estígios, zamorianos e outros —, e conheceram seus deuses pré-cataclísmicos. Graças ao contato com esses povos, toda a cultura hiboriana foi bastante modificada. As alterações mais marcantes se deram em suas técnicas e equipamentos militares, na estrutura econômica e social, na linguagem e em sua religião. Vivendo em aglomerados isolados entre os reinos, esses hiborianos acabaram fundando nações primitivas, sendo as primeiras Koth e Ophir.
O Grande Deus
Foi em algum momento, nessa época de transição cultural, que surgiu o deus Mitra para se transformar na divindade hiboriana universal. Sua ascensão provavelmente começou cerca de 1.400 anos após a queda do reino de Acheron, quando as terras hiborianas se viram ameaçadas pela sombra de Set, o deus-serpente, e foram salvas graças ao esforço do herói-profeta de Mitra, Epimetreus.
Na época de Conan, Mitra já era considerado o único deus verdadeiro pelos seus adeptos, e, apesar de alguns outros cultos ainda serem tolerados — o de Ishtar, por exemplo —, Mitra reinava essencialmente sozinho.
Cimérios e hiborianos parecem ter sido os únicos povos a não praticar sacrifícios humanos nessa era. Os rituais de Mitra, pelo que se sabe, não incluíam sacrifícios de qualquer espécie. O deus era considerado onipresente e sua real aparência, desconhecida por todos. As estátuas, erguidas em sua homenagem, não passavam de meras tentativas para retratá-lo numa forma humana tão perfeita quanto a mente do homem podia conceber.
Set e Ishtar
Houve uma época em que quase metade do mundo conhecido estava sob o domínio de Set, o deus-serpente. Eram dias em que Acheron ainda existia como uma nação altiva e a Stygia dominava o reino de Shem. No período de Conan, contudo, a adoração ao senhor das trevas foi confinada unicamente à Stygia e suas áreas subordinadas, como o sudeste de Shem.
A origem do deus remonta ao período pré-cataclísmico, assim como as pirâmides da Stygia. Sua origem assustadora deve ter sido baseada nas víboras que habitavam os pântanos ao sul do mar de Vilayet, encontradas pelos estígios em sua emigração para o oeste. O culto a Set era proibido pelos hiborianos, que consideravam a divindade um demônio maligno. Seus rituais eram sinistros e profanos, compreendendo longas procissões de sacerdotes mascarados e sacrifícios humanos em templos subterrâneos.
Ao norte da Stygia, no reinado de Shem, a entidade mais venerada era a deusa Ishtar. Seus templos ricos e exuberantes serviam como palco para sacrifícios de animais, além de outras cerimônias religiosas. Embora o culto fosse claramente inferior ao mitraísmo, ainda era consideravelmente mais elevado do que a diabólica devoção dos estígios pelo deus Set, e bem menos profano do que as seitas pagãs de Turan, Vendhia e Khitai.
Em linhas gerais, esse era o panorama religioso na Era Hiboriana do bárbaro Conan, idealizado pela fantástica imaginação de Robert E. Howard. Embora o bárbaro tenha crescido no temor de Crom, quando iniciou suas andanças para o sul, ele também sofreu a forte influência das culturas mais civilizadas, passando a crer em outras entidades como Ishtar e Mitra. Contudo, mesmo nas horas de maior perigo, o bárbaro raramente invocava o auxílio de algum deus, acreditando piamente, como todos os cimérios, que os únicos poderes capazes de ajudar um homem são a força, a coragem e a lâmina afiada de uma espada.
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