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Kenneth Grant
Originalmente publicado na revista Man, Myth and Magic (publicado pela Purnell, 1970-72), número 84, sendo parte da série Frontiers of Belief. Traduzido por Caio Ferreira Peres
Poderes malévolos estão à espreita para se projetarem nas mentes adormecidas dos homens; esta terrível ideia é um tema recorrente nas histórias de Howard Philips Lovecraft, ao qual afirma que elas vieram a ele em seus pesadelos. Mas elas eram apenas sonhos ruins, ou ele estava de fato recebendo comunicações de uma fonte desconhecida, como Kenneth Grant sugere aqui?
“Eu estava à procura de dríades e sátiros nos bosques e campos ao anoitecer”; ilustração de Austin Osman Spare, que sentiu as forças que pairavam por trás da obra de Lovecraft, e se inspirou para ilustrar essas presenças.
Howard Philips Lovecraft morreu em 1937; mas o ciclo de mitos a qual ele iniciou em contos de horror cósmico incomparáveis agora levantam a dúvida se de fato eles são apenas meras ficções engendradas na mente assombrada de um escritor obscuro da Nova Inglaterra, ou se eles prenunciavam um tipo particularmente sinistro de invasão oculta.
De acordo com uma tradição oculta bem conhecida, quando a Atlântida submergiu, nem todos pereceram. Alguns se refugiaram em outros mundos, outras dimensões; outros “adormeceram” em um sono voluntário e não-natural através de éons incontáveis de tempo. Estes despertaram; eles agora espreitam em golfos desconhecidos do espaço, o mecanismo físico da consciência humana sendo incapaz de captar suas vibrações infinitamente sutis. Eles espreitam, esperando retornar e governar a terra inteira, assim como era o seu objetivo antes da catástrofe que destruiu a sua civilização corrupta.
Esta tradição é um tema importante nas obras de Lovecraft. Até bem recentemente, as pessoas liam suas histórias e estremeciam (se fossem suficientemente honestas e sensíveis para admitir seu inquietante impacto), sem suspeitar nem por um momento que tais coisas poderiam acontecer.
Poucos sabem que Lovecraft sonhou muitos de seus contos. E algumas vezes ele pensou que esses sonhos, ou melhor, pesadelos, eram causados por más ações em encarnações remotamente distantes quando, possivelmente, ele pretendia adquirir poderes mágicos. Esses sonhos eram memórias do passado e profecias do futuro, pois ele havia dito que “pesadelos são o castigo infligido à alma pelos pecados cometidos em encarnações anteriores – talvez milhões de anos atrás!”
Em sua vida como Howard Philips Lovecraft ele tentou de novo e de novo encarar a provação pela qual sabia que teria que passar, caso ele estivesse disposto a resolver suas dificuldades espirituais. Esta questão é trazida à tona talvez de forma mais clara e urgente em seus poemas do que em suas histórias. Ele está prestes a fazer a descoberta crítica, do surpreendente segredo de sua vida interior, e ele é forçado a recuar repetidamente pelo pavor, pelo medo intenso e devastador que ele reprime em seu trabalho e ao qual ele comunica com tanto sucesso – em doses perfeitas – com seus leitores.
Uma das criações mais vividas de Lovecraft é o antigo livro de feitiços abomináveis composto para facilitar o tráfego com criaturas de mundos invisíveis. Ele atribuiu sua autoria a Abdul Alhazred, um árabe louco que floresceu em Damasco em 700 DC. Esse grimório, durante o curso de sua misteriosa carreira, supostamente foi traduzido pelo acadêmico elizabetano Dr. John Dee, para o grego, sob o título de Necronomicon. Ele contém as Chaves ou Chamadas que destrancam espaços proibidos do sono cósmico, habitados por forças anciãs que uma vez infestaram a terra. As Chaves estão em uma linguagem selvagem e não-terrena remanescentes das Chamadas de Chanokh, ou Enoque, as quais Dr. Dee obteu de fato através de entidades não-terrestres através do mago, Sir Edward Kelley, a qual Aleister Crowley clama ter sido em uma vida passada. É possível que o “maligno e abominável Necronomicon” foi sugerido pelas clavículas ou Chaves de Enoque, as quais Dee e Kelley descobriram, e as quais mais tarde Crowley usaria para ganhar acesso à dimensões desconhecidas.
Howard Philips Lovecraft; ele sonhou com muitos de seus contos, e algumas vezes pensou que esses pesadelos eram causados por más ações em encarnações passadas.
Visões Apavorantes
Embora Lovecraft pareça não estar familiarizado com o trabalho de Crowley, é evidente que ambos estavam em contato com uma fonte de poder, “uma Inteligência preter-humana”, capaz de inspirar uma apreensão bastante real nas mentes naqueles que estavam, tanto através de afiliação passada ou inclinação presente, na mesma sintonia. Se essa Inteligência é chamada Alhazred ou Aiwaz (ambos os nomes, estranhamente o suficiente, evocam associações Árabes) estamos certamente lidando com um poder que busca ingressar no presente ciclo de vida do planeta. Lovecraft abordou a essência da questão em uma maneira possível apenas para um artista com extrema sensibilidade à forças ocultas, apesar de sua parte consciente protestar veementemente contra a crença em sua validade. Ele protestou em vão, pois a sua obra revela em cada linha o fantasma impregnado de medo das vastas e antigas memórias que o assombravam.
Caso alguém pensasse que suas visões apavorantes eram induzidas por drogas, Lovecraft declarou categoricamente que “via de regra, eu evitei tomar drogas para desempenho literário”, e ele escreveu, a respeito de Quincey, o autor de Confissões de um Comedor de Ópio, “Eu nunca tomei ópio, mas se eu não vencê-lo em sonhos desde dos três ou quatro anos. Eu sou um mentiroso! Espaço, cidades estranhas, paisagens estranhas, monstros desconhecidos, cerimônias hediondas, belezas orientais e egípcias e mistérios indefiníveis de vida, morte e tormento eram lugares-comuns diários – ou melhor, noturnos – para mim antes dos seis anos de idade. Hoje é a mesma coisa, exceto por uma objetividade ligeiramente maior.”
Qualquer um familiarizado com as cartas de Lovecraft (centenas delas foram publicadas por August Derleth de Sauk City, c) irá apreciar estas declarações, pois elas mostram que ele era um extraordinário asceta e modesto escritor, a antítese absoluta de Crowley, cujas extravagâncias pessoais são bem conhecidas.
É evidente que tanto Lovecraft quanto Crowley estavam registrando comunicações de uma fonte desconhecida. O igualmente sensitivo, e, em sua própria maneira, igualmente austero. Austin Osman Spare também sentiu essas forças que pairavam por trás da obra de Lovecraft. O presente escritor uma vez deu a Spare um volume de histórias de Lovecraft para ele ler. Isso o inspirou a ilustrar o horror dessas vastas presenças cósmicas. Ele as sentiu pressionando sua consciência, quase paralisando os movimentos.
É inevitável que alguém como Lovecraft, com contatos elementais profundos, deveria em algum momento ou outro adorar deuses pagãos, e então ele disse: “Na verdade, construí altares para Pã, Apolo, Diana e Atena, e observei dríades e sátiros nas florestas e campos ao anoitecer. Uma vez pensei firmemente ter visto algumas dessas criaturas silvestres dançando sob carvalhos outonais; uma espécie de “experiência religiosa” tão verdadeira à sua maneira quanto os êxtases subjetivos de qualquer cristão. Eu vi Pã com cascos e as irmãs da Hesperiana Phaethusa”.
No caso de Lovecraft, esses deuses pagãos eram véus ou máscaras ocultando entidades como essas invocadas pelo autor do Necronomicon. Austin Spare aludiu a eles como “familiares intrusivos”.
Invasão por Forças Sombrias
Lovecraft, Crowley, e Spare, eram testemunhas consistentes de mundos além do alcance da percepção humana normal. Lovecraft descreveu seus habitantes como existindo “não nos espaços que conhecemos, mas entre eles. Eles caminham calmos e primitivos, sem dimensões e invisíveis para nós”.
Foi Lovecraft quem “fantasiou” Harry Houdini, o ilusionista, quando ele publicou a história Aprisionado com os Faraós, ao qual apareceu primeiramente na Weird Tales, Maio 1924; e mesmo essa história, embora seja uma obra encomendado, revela a visão profunda de Lovecraft sobre os mistérios sombrios da magia antiga.
Lovecraft foi fortemente influenciado por Lord Dunsany e Algernoon Blackwood, mas o seu real inspirador e guru foi Arthur Machen, o escritor galês de contos macabros que preencheu para Lovecraft o papel que Poe realizou para Baudelaire. Machen atiçou a imaginação de Lovecraft com suas histórias sobre as curiosas criaturas do submundo que aparecem como os anões do folclore das fadas. “Antes dos Druidas,” escreveu Lovecraft, “A Europa Ocidental era sem dúvida habitada por uma raça mongolóide atarracada”. Este era um tema favorito de Machen, e aparece em muitos de seus contos maravilhosos, como A Pirâmide Brilhante, O Povo Branco e Mudança. Lovecraft imbuiu esse conceito com a ideia ainda mais sinistra de que essas criaturas atrofiadas – iniciados de uma fé maligna – derivaram seu conhecimento de seres que não são desta terra, entidades proscritas há muito tempo, agora à espreita na periferia da consciência humana no caos mais externo, esperando — sempre esperando — para ter acesso mais uma vez à onda de vida da evolução humana.
Lovecraft escreve sobre comunicações entre monstros nascidos de feitiços mágicos em tempos remotos: eles geraram raças de bruxas e feiticeiros que mais tarde povoaram a terra e invocaram sobre si os anátemas e interditos que caracterizaram a história da bruxaria desde então.
Mutações grotescas engendradas nos vazios além do universo conhecido possuem, por um tipo de Magia superior a qualquer um conhecido sobre a terra, o poder de projetar a si mesmos nas mentes adormecidas dos homens. Elas vêm como “a cor que caiu do espaço” ou “a sombra vinda do tempo”, obcecando a mente com imagens estranhas que tiram os homens dos seus sentidos, tornando-os assim veículos vazios, adequados para invasão por forças sombrias.
O Culto de Cthulhu de Lovecraft e do abominável Yog-Sothoth, que é tanto a Chave e o Guardião do Portal através do qual Os Grande Antigos derramam o seu poder funesto, ecoa muitas das imagens encontradas nas comunicações que Aleister Crowley recebeu de dimensões desconhecidas.
Através de sonhos como os de Lovecraft, contato é estabelecido com fontes antigas de sabedoria proibida ao homem. Apesar de sua morte prematura na idade de 47 anos foi precipitada pelo medo do que pode acontecer com a humanidade se certos Portais forem abertos. Ele conhecia as Chamadas secretas e sabia que um dia elas seriam usadas novamente.
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