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O Coven de Nyarlathotep foi fundado para experienciar as teorias Lovecraftianas ou Cthulhu Mythos Magic. Muito além de tentar simplesmente encaixar as imagens Lovecraftianas e temas em sistemas mágicos existentes – como tabular as entidades mitológicas na árvore da vida ou escrever grimorios exacerbados sobre o assunto – nossa meta maior tem sido tirar inspiração dos trabalhos de H.P. Lovecraft e de outros autores como Clar Ashton Smith, Algernon Blackwood, etc. E ver onde isto nos leva.
Os sonhos são altamente significantes na ficção de Lovecraft – sem dúvida nenhuma este é um reflexo de sua própria facilidade de sonhar criativamente. Já que sabemos que a maioria das personagens, cenários e temas foram tirados de seus sonhos e pesadelos. Na ficção de Lovecraft, o protagonista geralmente experiencia sonhos estranhos os quais instigam o sonhador a se aprofundar cada vez mais em outra realidade, a realidade dOs Antigos e nas maquinações de seus servos. Um exemplo pode ser o telepático sonho-sinal emitido por Cthulhu em “The Call of Cthulhu” e sua experiência terrível com Filman, em “The Dreams in the Witch-House”. Através dos sonhos, podemos experimentar outras realidades e também trazer de volta conhecimento e inspiração.
A importancia de sonhar desde muito tempo tem sido reconhecida em culturas magicas. Em algumas tribos, por exemplo, xamãs são escolhidos através do significa de seus sonhos e das informações vitais que recebem através destes – novas fontes de alimentação, caça, avisos de calamidades, etc. Tudo através de sonhos. É somente em sociedades “civilizadas” como a nossa que o significado dos sonhos é subestimado, embora tem sido colocado uma grande ênfase na interpretação de sonhos através da psicanálise e seus símbolos, é alguém é que diz que um sonho em que se esta voando é na verdade um sonho em que está se fazendo sexo, o que diabos então é um sonho em que se está fazendo sexo?
O que é particularmente interessante na ficção de Lovecraft é que os sonhos não são somente portas de ingresso a outros estados de consciência, mas também é uma maneira de entidades de outras realidades ingressarem ao nosso mundo. É como se o sonhador abrisse (mesmo que na ficção sem saber) um portal através do qual pode-se aventurar ou ser sugado, mas de qualquer forma os que estão no outro lado podem passar também e algumas vezes usando o sonhador como veículo, algo como uma “possessão-onírica”, talvez. O que pode ocorrer também é o sonhador acordar e perceber que algum objeto estranho de seu sonho veio para o “mundo real” e a isto refere-se o “Aporte”.
É esta faceta da magia dos sonhos que decidimos explorer, assim como o desenvolvimento de nossos trabalhos de criar um Sabbath astral e explorarmos o axis Cthulhu-R’Lyeh.
Para este trabalho decidimos usar a imagem de ‘Yuggoth’ como foco central. Yuggoth, é freqüentemente associado ao planeta plutão, pode ser considerado como ponto-contato entre a consciência humana e extra-terrena que são os domínios dOs Antigos (veja “Cults of the Shadow, de Kenneth Grant.) Nos mitos de Lovecraft, Yuggoth é o lar de Mi-Go, uma raça de crustáceos que adoram Shub-Niggurath. Em “The Whisperer in Darkness” descobrimos que os Mi-Go são capazes de transportar a consciência humana e de outros seres através do tempo e espaço. Por isso podem ser considerados uma espécie de Psicopompos – não tanto ao reino dos mortos mas entre estados de consciência dos quais não existe volta.
Como muitas outras personagens dos Mitos de Lovecraft, os Mi-Go são encontrados em lugares solitários como montanhas e florestas. Para nós, isto reflete um outro aspecto da Magia Lovecraftiniana que recebeu pouca atenção. Existe sim uma tendência entre magistas de praticar viagem astral ou qualquer outro rio dentro de espaços seguros ou templos, ou mesmo em suas confortáveis camas. Uma das primeiras decisões tomada pelo Coven Nyarlathotep foi a de que sempre que possível, nossos trabalhos seriam feitos ao ar livre, ou pelo menos teria uma conexão com o selvagem que é apresentado tão fortemente na literatura de Lovecraft. Os Grandes Antigos e seus semelhantes estão quase sempre conectados com a natureza como mostra esta passagem de Necronomicon em “The Duncwich Horror”:
“Eles andam invisíveis e escondidos em lugares solitários, onde as palavras foram ditas e os ritos uivados durante estações. Os ventos com Suas vozes e a terra com Suas consciências. “
Com isso em mente nós decidimos manter esta conexão, tendo pelo menos um estágio de cada ciclo maior realizado ao ar livre. Trabalhando ao ar livre, nós devemos enfatizar que não estamos somente buscando um lugar legal para estabelecer o círculo. O que nós queremos é encontrar lugares que reflitam uma atmosfera particular – o tipo de lugar onde a pessoa se sinta conectada, sinta que os véus entre mundos foi levando, ou mesmo rasgado. Nesta busca fomos sortudos que aqui no Reino Unido existe uma variedade de locais ligados ao folclore mágico que causa este efeito. Ao escolher lugares apropriados para nosso trabalho levamos em consideração o seguinte:
Acesso ao local. Isto faz referencia ao fato de como chegar ao local, se é apropriado ao camping, etc. e se este local foi visitado freqüentemente por turistas, etc. para que possamos evitar qualquer interrupção enquanto estivermos lá.
A historia do local, as referencias folclóricas – mitos e lendas ao redor do local.
Uma leitura energética do local feita previamente por um dos membros do Coven que tenha visitado o local.
Nota: A abordagem do Coven quanto a Exploração Mágica.
O Coven Nyarlathotep é uma coletiva de magos e feiticeiros, etc, de diversos contextos que decidiram trabalhar juntos por um tempo explorando a Magia de Lovecraft. Alguns de nós estávamos acostumados a uma abordagem mágica onde o objetivo era decidido previamente, um ritual ou script era previamente escrito para que a ação fosse focada num intento. O Coven decidiu depois de um tempo que esta abordagem limitava o potencial do trabalho. Decidimos então fazer de cada trabalho um projeto de muitas fases, com o modus operandi de cada fase especifica sendo determinada pelo resultado da fase anterior. O que vem a seguir revela este método.
O Trabalho Yuggoth
O objetivo mais amplo dos trabalhos com Yuggoth era abrir um portal entre a gestalt de Nyatlathotep e Yuggoth/Os Mi-Go. Isto serviria de ponto de lançamento individual e grupal para futuros trabalhos astrais e também para a evocação e manifestação de Trans-Yuggothis e seus símbolos dentro da espaço mágico-mítico do grupo.
Nós decidimos que o primeiro estágio deste trabalho era abrir um canal para contatar os Mi-Go. Para este estágio preliminar, nós escolhemos uma floresta perto de Worthing em West Sussex. Desde 1960 esta área tem sido local de visualização de Ovnis e de acordo com fontes folclóricas aconteceram diversos desaparecimentos na mata – de ambos, animais e humanos. Além do mais, é dito que cães evitam determinados lugares e relatos existem de visualização de pegadas amórficas no chão bem como pessoas desmaiando e passando mal sem razão aparente. Isto soou para nós como um país Mi-Go! Decidimos passar a noite inteira na mata, só para sentir a ‘vibe’ e tomar nota do que percebemos e de nossos sonhos.
Apesar da mata ser próxima de uma vilarejo, não encontramos problemas com outras pessoas durante nossa primeira visita noturna e tomamos cuidado para não deixar transparecer nenhum equipamento ou razão oculta-magica. O lugar tinha uma aura meio silenciosa, foi interessante notar a falta de pássaros ou outros pequenos animais que freqüentemente vemos em meio as florestas. Dois membros do grupo que se afastaram durante a noite relataram que sentiram como se estivessem sendo observados e Sor. Kyotto relatou que ela pode perceber pequenos elementais passeando ao redor, mas isso seria o esperado em áreas com mata.
Na manhã seguinte percebemos que o pequeno colar com um pingente de ônix que Fra. Telesis tinha pendurado num galho próximo de um carvalho, desapareceu. Tomamos isso como um sinal positivo e arrumamos as malas, tomando o cuidado de não deixar nenhum lixo para trás.
O próximo estágio foi o de trabalhr por um mês durante o qual o Coven faria visitas individuais a mata, e também tentaria fazer visitas astrais bem como sonhar com o local. Acordado com o fato de que o pingente de ônix teria sido pego pelo gênio da floresta, alguns membros usaram um desenho deste como foco para a jornada astral e onírica. Sor. Kyotto encontrou algumas citações pertinentes no livro “Spiritwalk” de Charles de Lint:
“Todas as florestas são uma… elas são todas ecos da primeira floresta que deu a luz ao Mistério quando o mundo iniciou.
…existiam duas florestas para cada uma que você entrasse. Tinha aquela que você tinha entrado, a física, o eco e tinha uma que estava conectada com todas as outras florestas sem considerar distância ou tempo. A floresta primitiva, relembrada através da memória coletiva de cada árvore… lenda e mito, misturados em um alfabeto de árvores, relembradas, nem sempre compreendidas, mas sempre com maravilhamento. “
Nos pareceu que tínhamos encontrado um lugar físico – um local de poder – do qual poderíamos nos conectar como ponto de ingresso e egresso entre o espaço humano e o que Patrick Harpur chama de ‘Realidade Daimonica’.
Depois que este período de trabalho individual terminou, começamos a visitar a mata de maneira coletiva para discutir nossas descobertas. Fra. Hali por exemplo, comentou de um sonho que teve ao focar a atenção na memória do pingente e ônix. Neste sonho ele estava viajando acima da terra em grande velocidade, e pareceu que estava entrando no espaço profundo. Pouco antes de acordar, ele disse que percebeu um som estranho em seu ouvido, como o sibilar de uma cobra, como se alguém estivesse tentado sussurrar algo para ele. Todos nós nos sentimos muito conectados com a mata e sentimos que existia uma presença na mata que ia além do espírito da própria floresta, algo que era estrangeiro ao local e que visitava-o ocasionalmente.
A próxima fase foi de fazer algum contato direcionado com esta presença. Note que a esta altura nos paramos de falar sobre os Mi-Go pois percebemos que tentar enquadrar esta experiência inteiramente dentro de uma abordagem Lovecraftiniana era contra a proposta do Coven. O que importava era que usando temas e imagens de Lovecraft como um ponta-pé inicial demos inicio a uma emocionante aventura. E que o conceito de Mi-Go foi útil para colocar a imaginação e vontade em ação, mas que não deveria ser tomado como verdade de forma tão inflexível.
Discutimos o que fazer durante nossa segunda noite coletiva na mata. Muitas sugestões foram anotadas desta conversa, incluindo:
Que continuaríamos com nossos trabalhos oníricos-astrais individuais até que alguém recebesse uma imagem ou face com a qual poderíamos criar um fetiche, objeto ou máscara para o ritual em grupo.
Que iríamos pegar algum objeto da mata como uma pedra ou pedaço de pau que iria nos conectar magicamente com ‘a presença’
Nas primeiras horas da manhã, dois membros do Coven, Frates Hali e Telesis, que foram eleitos para fazer uma vigília noturna ao invés de dormir, captaram uma fraca luz azul através da mata, e foram investigar. Quando se moviam em direção a luz, Hali disse que pôde sentir o pelo de sua nuca arrepiar. Telesis relatou sentir um frio repentino (outro fenômeno associado a mata). Ambos disseram que sentiram que a luz de suas lanternas ficaram mais fracas enquanto eles se moviam mais adentro da floresta. Eles pararam de andar depois de alguns minutos e ficaram de pé no escuro da mata, conversando sobre o que fazer em sussurros. De repente ambos ouviram um distinto bater mental contra pedra, muito próximo. Eles congelaram, e Hali disse mais tarde que por um momento foi como ele tivesse sido vencido pelo medo. Eles se abaixaram e quando a sensação de perigo passou, levantaram-se e pegaram suas lanternas para olhar ao redor. Toda sensação de medo e estranheza tinha passado, eles voltaram ao acampamento aliviados. Hali comentou que por um instante se sentiu tentado a fazer um ritual de banimento, mas sentiu que mesmo se o fizesse não surtiria efeito. Quando o restante de nós acordou, o acontecimento nos foi relatado. Pouco antes de sairmos, alguns de nós foram até o local com Hali e Telesis onde a luz azul foi vista.
Enquanto o grupo estava olhando ao redor, Soror Zirel fez uma descoberta. Ela estava examinando uma arvore torcida, onde ela viu um brilho metálico dentro de um nó. Chegando mais perto ela viu que era o pingente de ônix do Fra. Telesis! E não foi muito longe de onde Telesis e Hali tiveram sua experiência algumas horas antes. Zirel disse que quando ela pegou o pingente, sua base metálica esfriou e brilhou. Todos examinamos a área, mas não encontramos nada fora do normal.
Este ‘retorno’ do pingente, todos sentimos como pertinente. Tinha sumido fazia mais de um mês e agora re-descoberto perto de onde estávamos acampados e longe de onde havia sumido. Isto, juntamente com a experiência de Hali e Telesis pareceu indicar-nos que agora tinhamos nossa ligação com a mata – um objeto que sumiu naquele espaço limítrofe representado pelo Yuggoth e através do qual foi a nós devolvido. Neste ponto, sentimos que nossos trabalhos chegaram a um ponto de conclusão, por hora.
Decidimos então acrescentar o pingente ao nosso altar de objetos mágicos e imagens. Durante nossos trabalhos, ele foi usado de diferentes maneiras:
Um talismã onírico usado por membros de maneira individual.
Usado por um sacerdote durante um ritual.
Usado para carregar um sacramento durante um trabalho ritual.
A mata se tornou um portal para muitas viagens astrais e jornadas oníricas. Embora alguns membros retornaram a mata individualmente de tempos em tempos, não a visitamos de maneira coletiva novamente por um tempo – sabendo como rumores sobre grupos satânicos iriam se espalhar rapidamente pelo local caso o fizéssemos. Este trabalho produziu uma série de imagens e inspiração para futuros trabalhos. Esta experiência também nos mostrou a eficácia do passo-a-passo e os benefícios de se trabalhar num local apropriado e seguro. Em particular, a estranha experiência de Telesis e Hali serviu para reforçar a ‘realidade’ Lovecraftiana (o espaço mágico-mítico que provém um pano de fundo de significado e interpretação para as experiências do Coven) que estávamos tentando criar.
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