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Comentários Rosacruzes sobre a Proclamação do Evangelho

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Excertos de Evangelho Segundo Marcos
Comentado por Ya’aqov, seguidor de Ya’aqov

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14-15 : O Início do Evangelho do Cristo

Estabelecida a equivalência de Jesus com o Espírito, chega o momento dele indicar a sua função na criação. Assim, o Cristo indica onde ele vai atuar, o porquê dele atuar e como ele vai atuar.

Como nos encontramos no Shabat, o trabalho cessou e, por isso, Jesus irá santificar o Shabat e verificar, em cada ponto de nosso reino interno, o que está pronto e o que não se encontra pronto. Aquilo que estiver pronto fará parte do Shabat e, por isso, será santificado, enquanto o que não estiver pronto, não estará no Shabat.

(14) Depois que João foi preso, veio Jesus para a Galileia proclamando o Evangelho[1] de Deus:

A prisão de João simbolicamente nos indica, pelo menos, duas coisas.

A primeira é que ele cumpriu a sua função, isto é, realizou a purificação daqueles que estavam aptos a serem purificados e dar início a um novo ciclo. Transformou o que era muito em algo único e, agora, pode cessar a sua atividade e glorificar o Shabat. Importante destacarmos que, uma das características do Shabat envolve perceber as coisas no estado no qual elas se encontram e onde elas estão, a fim de se verificar se a obra foi realizada de maneira satisfatória para conseguirmos santificar o Shabat. Isto denota que toda a ação deve ter sido realizada de antemão, isto é, previamente a chegada do Shabat. A esta percepção, também podemos traçar um paralelo com a saída do Egito, no qual os israelitas levaram as suas coisas como elas se encontravam, a exemplo do matzá. É também por conta destes simbolismos que no Shabat não se pode haver transformação[2] e, consequentemente, João Batista não poderia mais atuar.

A segunda está vinculada ao efeito do seu trabalho criativo e criador. Além de ter gerado os elementos constitutivos para o Batismo de Jesus, ao se “alimentar dos gafanhotos”, também gerou mudanças na composição dos elementos de Nephesch. Assim, existem aqueles que foram devidamente triturados, mas que não chegaram a sofrer o efeito do “mel” e, por isso, não foram unificados em Jesus Cristo; existem aqueles que sofreram o efeito do mastigar (ללעוס), mas ainda não foram totalmente triturados; enquanto existem aqueles que não chegaram a ser mastigados, mas que “viram” o que aconteceu com os demais.

Lucas 8 : 11-15

“Eis, pois, o que significa essa parábola [do semeador]: A semente é a Palavra de Yahweh. Os que estão ao longo do caminho são os que ouvem, mas depois vem o adversário e arrebata-lhes a Palavra do coração, para que não creiam e não sejam salvos. Os que estão sobre a pedra são os que, ao ouvirem, acolhem a Palavra com alegria, mas não têm raízes, pois creem apenas por um momento e na hora da tentação desistem. Aquilo que caiu nos espinhos são os que ouviram, mas, caminhando sob o peso dos cuidados, da riqueza e dos prazeres da vida, ficam sufocados e não chegam à maturidade. O que está em terra boa são os que, tendo ouvido a Palavra com coração nobre e generoso, conversam-na e produzem fruto pela perseverança.”

Assim, uma vez que João Batista cessou o seu trabalho e preparou o caminho, cabe a Jesus percorrer todo o nosso reino interno a fim de conferir o que está de acordo com a Lei e pronto para ser utilizado, santificando este momento (Shabat) e aquilo o que não pode ser santificado e, consequentemente, não pode reconhecer a Terra Prometida.

Números 13 : 30-33

“Então Caleb fez calar o povo reunido diante de Moshé: ‘Devemos marchar’, disse ele, ‘e conquistar essa terra: realmente podemos fazer isso.’ Os homens que o haviam acompanhado disseram: ‘Não podemos marchar contra esse povo, visto que é mais forte do que nós’. E puseram-se a difamar diante dos israelitas a terra que haviam explorado: ‘A terra que fomos explorar é terra que devora os seus habitantes. Todos aqueles que lá vimos são homens de grande estatura. Lá também vimos gigantes (os filhos de Enac, descendência de gigantes). Tínhamos a impressão de sermos gafanhotos diante deles, e assim também lhes parecíamos.”

A transcrita passagem descreve a situação na qual uma expedição de israelitas havia ido reconhecer a Terra Prometida por Yahweh e retornou para apresentar o seu relatório. Em passagem anterior, houve o seu relato “fomos à terra à qual nos enviastes. Na verdade é terra onde mana leite e mel; eis os seus produtos. Contudo, o povo que a habita é poderoso; as cidades são fortificadas, muito grandes; também vimos ali os filhos de Enac” (Números 13:27-28).

Pelas passagens, verificamos que foi constatada tanto a abundância proporcionada pela Terra Prometida, quanto a grandeza de seus habitantes que faziam com que aqueles que não a habitassem fossem percebidos como gafanhotos. Diante desta situação, a nação de Israel se dividiu entre aqueles que desejavam conquistá-la e aqueles que, por tentação, optaram por difamá-la, a fim de desacreditar os “tesouros” que lá se encontram.

Assim, em decorrência da falta de fé e do comportamento de desacreditar a Terra Prometida, bem como a tentativa de apedrejar aqueles que queriam conquistá-la (Números 14:1-10), Yahweh intercede:

Números 14 : 11-12

“E Yahweh disse a Moshé: ‘Até quando este povo me desprezará? Até quando recusará crer em mim, apesar dos sinais que fiz no meio dele? Vou feri-lo com pestilência e o deserdarei. De ti, contudo, farei uma nação maior e mais poderosa do que este povo.”

Diante da iminência da destruição daqueles que não demonstraram ter fé em Yahweh, Moshé intercede, pedindo que Yahweh os perdoe e a sua súplica é ouvida e atendida (Números 14:13-25). Porém, Yahweh explica o que irá acontecer.

 

Números 14 : 27-33

“Até quando esta comunidade perversa há de murmurar contra mim? Ouvi as queixas que os israelitas murmuram contra mim. (…) Os vossos cadáveres cairão neste deserto, todos vós os recenseados, (…), vós que tendes murmurado contra mim. Juro que não entrarei neste país, a respeito do qual eu, levantando a mão, fiz juramento de nele vos estabelecer. Apenas Caleb, filho de Jefoné, e Josué, filho de Nun, e os vossos [Moshé e Aarão] filhos, dos quais dizíeis que seriam levados como presa, serão eles que farei entrar e que conhecerão a terra que desprezastes. Quando a vós, os cadáveres cairão neste deserto, e vossos filhos andarão errantes neste deserto durante quarenta anos, carregando o peso da vossa infidelidade, até que os vossos cadáveres se consumam no deserto.”

 

(15) “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede[3] no Evangelho[4].”[5]

É iniciado o Shabat interno. Jesus realiza o Kidush (santificação) antes do jantar da noite de sexta-feira, pois a Lei nos ordena “lembrar” (zachor) e “guardar” (shamor) o Shabat.

A recitação do Kidush é feita sobre uma taça de vinho tinto (Bore Peri HaGuefen – “que cria o fruto da videira”)[6]. O vinho é utilizado para representar, dentre outras coisas, a severidade e o julgamento, em alusão a sua cor vermelha, que remete ao sangue[7]. Porém, na taça que está quase cheia de vinho, acrescenta-se um pouco de água, suavizando o vinho e simbolizando o amor e a graça. Assim, cria-se uma mistura harmônica de benevolência e severidade, Chessed e Guevurá, respectivamente[8].

Na recitação do Kidush, todos os presentes devem se colocar de pé. E, uma vez recitado o Kidush, aquele que o recitou, bebe do vinho e, depois, o compartilha com os presentes[9]. Então é procedida a Netilat Yadayim (o ritual de lavagem das mãos), há a bênção sobre o pão e é iniciado o jantar.

Ao fim da refeição, recita-se o Bircat Hamazon, em agradecimento a Yahweh pela Sua criação, beneficência e generosidade e se pede por uma época na qual só exista o Shabat, um período de paz, abundância, deleite e repouso para toda a humanidade.

O versículo também nos indica que o Reino de Deus está próximo. Isto é, adentramos no início do Shabat, na sua fase escura, noturna, a Grande Luz, o Sol, ainda está por vir. Este é o momento de nos nutrimos daquilo que produzimos durante os outros dias da criação, entender que o que ficou para trás, ficou e não pode ser resgatado. Mas podemos observar o que será passível de nos acompanhar de manhã e devemos crer nos vento do leste que nos traz boas mensagens[10].

Notas:

[1] Vide nota referente ao primeiro versículo deste capítulo.

[2] Os 39 (trinta e nove) trabalhos criativos e criadores proibidos no Shabat são: arar (cavar a terra, tornando-a apta ao plantio); semear (o estímulo ao crescimento da planta); colher (tirar a planta de noite cresceu); agrupar a colheita, reunindo-a no local onde cresceu; debulhar (fazer força ou pressão para separar a casca do cereal da parte que se deseja usar); dispersar o grão ao vento (aqui é o ato de jogar para o alto e deixar que o vento faça a separação da parte utilizável da não utilizável); selecionar e separar; moer; peneirar; fazer massa (criar uma mistura de ingredientes distintos); assar/cozinhar/fritar (para não ter a transformação do alimento, mas é possível aquecê-lo ao sol); tosquiar; lavar; desembaraçar a lã não trabalhada; tingir; fiar; esticar o fio para prepará-lo para tecer; passar o fio entre os anéis do tear; tecer; desfazer os fios a fim de retocá-los; atar; desatar; costura; rasgar intencionando suturar; caçar; abater; pelar o couro; curtir o couro; alisar o couro; demarcar o couro; cortar; escrever; apagar; construir; destruir ou demolir (com intenção de reconstruir); acender fogo (incluindo aumentá-lo, prolongá-lo ou propagá-lo); apagar o fogo (incluindo diminuí-lo); terminar de manufaturar qualquer objeto; e transportar objetos. O cerne das proibições se encontra no fato de que a obra foi realizada e, no Shabat, não há modificação. Tudo deve estar como se encontra para que possa ser santificado de acordo com o seu atual estado.

[3] A expressão normalmente é relacionada com a ideia de “fé”, porém, este é um entendimento que se desenvolveu com o tempo. Na época, a expressão original, pístis (πίστις), transmitia a ideia de confiança, assim como a de seus derivados, a exemplo de confiante, fiar e desconfiar.

[4] Vide nota referente ao versículo 1 deste capítulo.

[5] Também é traduzido como: “Completou-se a ocasião e está à mão o reinado de Deus. Mudai de mente e confia no bom anúncio”. a expressão confia decorre da tradução do termo em koiné πίστις (pístis), que transpassa a ideia de confiança

[6] Na hipótese de não haver vinho tinto ou suco de uva, é possível fazer o kidush sobre o pão (Hamotzi Lechem min Ha’aretz – “que tira o pão da terra”).

[7] Sangue em hebraico é Dãm (דם), que possui a mesma raiz de Homem (Adam), no sentido de humanidade, e de solo (Adamah).

[8] Dois dos Atributos Divinos.

[9] Caso sejam muitos, os presentes que ouviram sem interromper o kidush, cumpriram a sua obrigação mesmo que não bebam do vinho.

[10] Êxodo 14:21 “Então Moshé estendeu a mão sobre o mar. E Yahweh, por um forte vento oriental que soprou toda aquela noite, fez o mar se retirar. Este se tornou terra seca, e as águas foram divididas.”


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