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Os estudiosos dos estudos islâmicos euro-americanos no século 20 cunharam o termo “Versos Satânicos” para certos versos que fontes muçulmanas dizem que Satanás tentou incluir no Alcorão.
Uma série de respeitados comentários do Alcorão e escritos históricos fornecem testemunhos sobre este incidente, incluindo Said ibn Jubayr (d. 714,), Ikrima (d. 723), al-Suddi (d. 745), Ibn Ishaq (d. 767), al- Waqidi (d. 823) e al-Tabari (d. 923).
Embora difiram em detalhes, estes relatos afirmam que quando Muhammad ainda estava pregando em Meca, Satanás o enganou para que entregasse revelações “falsas” que reconheciam a existência de três filhas de Alá.
Após recitar o Alcorão 53:19-20 (“Considerai Al-Lát, Al-Uzza. E a outra, a terceira (deusa) Manat?”), de acordo com esses relatos, Muhammad teria dito, “De fato, estas são os guindastes exaltados / as donzelas exaltadas (gharaniq), e sua intercessão é desejada”.
(O duplo significado de “gharaniq” aqui pode ter sido um dispositivo retórico, ou pode indicar que os guindastes eram símbolos para as deusas. As aves nas tradições do Oriente Médio são animais que ligam o céu e a terra).
Ao mencionar as três deusas, Muhammad parece admitir que elas tinham o poder de agir para o benefício daqueles que as adoravam.
Isto tem sido visto como um esforço para apelar aos membros de Quraysh que estavam descontentes com os ataques de Muhammad contra seus deuses e deusas.
Os relatos históricos continuam dizendo que Muhammad mais tarde percebeu que havia cometido um erro e repudiou os versos em questão.
Eles também indicam que ele recebeu uma revelação subsequente na qual Deus declara que Satã era responsável por seu erro, e que ele (Deus) permitiu que isso acontecesse como um teste de fé:
“Antes de ti, jamais enviamos mensageiro ou profeta algum, sem que Satanás o sugestionasse em sua predicação; porém, Deus anula o que aventa Satanás, e então prescreve as Suas leis, porque Deus é Sapiente, Prudentíssimo.
Ele faz das sugestões de Satanás uma prova, para aqueles que abrigam a morbidez em seus corações e para aqueles cujos corações estão endurecidos, porque os iníquos estão em um cisma distante (da verdade)!
Quanto àqueles que receberam a ciência, saibam que ele (o Alcorão) é a verdade do teu Senhor; que creiam nele e que seus corações se humilhem ante ele, porque Deus guia os fiéis até à senda reta.”
(Alcorão 22:52-54).
Os estudiosos muçulmanos rejeitaram cada vez mais a veracidade histórica deste incidente e suas opiniões prevaleceram até o presente momento entre a maioria dos muçulmanos.
As primeiras gerações de estudiosos que se opuseram à veracidade do incidente dos Versos Satânicos incluíram comentaristas notáveis do Alcorão como Abu Bakr ibn al-Arabi (d. 1148), Fakr al-Din al-Razi (d. 1210) e Ibn Kathir (d. 1373).
Eles argumentaram que o incidente retratava Muhammad como um profeta falho, alguém que cometeu um erro ao reconhecer que havia outras divindades além de Deus e que não podia dizer a diferença entre a palavra de Deus e a palavra de Satanás.
A doutrina correta em sua opinião, que estava ganhando aceitação generalizada, era que Deus tinha feito todos os profetas, inclusive Muhammad, incapazes de errar e livres do pecado.
Muhammad, portanto, nunca poderia ter sido enganado por Satanás e nunca teria endossado a idolatria. A atribuição da infalibilidade (isma) para Muhammad afirmou a verdade do Alcorão e da Sunna de Muhammad, ambas já se tornaram bases essenciais da lei islâmica (fiqh).
Além disso, a doutrina foi reforçada pela veneração popular por Muhammad e outros homens e mulheres santos muçulmanos ligados à propagação do Sufismo.
Em 1988, o premiado autor indiano Salman Rushdie (b. 1947) publicou um romance em língua inglesa intitulado Os Versos Satânicos, que provocou uma controvérsia de proporções globais.
Ele agravou as relações entre muçulmanos e não-muçulmanos, bem como entre muçulmanos piedosos e seculares, uma vez que Rushdie era ele mesmo um muçulmano mais por herança do que por convicção.
O livro não era tanto sobre Muhammad e o incidente dos Versos Satânicos em si, mas continha passagens que foram interpretadas como blasfêmias contra o Profeta e suas esposas.
Manifestações contra o livro irromperam em Bradford, Inglaterra (14 de janeiro de 1989), Bombaim, Islamabad, Paquistão (12 de Fevereiro), e Índia (24 de fevereiro). No Irã, o aiatolá Ruhollah Khomeini emitiu uma Fatwa (decisão consultiva baseada na Sharia) em 14 de fevereiro de 1989, que exigiu a sua morte.
Khomeini explorou o incidente para revitalizar o apoio popular iraniano a seu governo revolucionário, que estava apenas terminando uma longa e cara guerra com o Iraque.
Ele também pode ter sido pessoalmente ofendido por passagens depreciativas no livro de Rushdie que falam de um “imã” puritano, o próprio Khomeini.
Como consequência, Rushdie foi forçado a se esconder por quase 10 anos.
Khomeini morreu em 1989, mas a fatwa foi reafirmada pelo governo iraniano em 2005.
Rushdie, enquanto isso se manteve ocupado em escrever mais romances e fazer numerosas aparições públicas.
Leitura adicional:
– O Significado dos Versos do Alcorão Sagrado, tradução por Samir El Hayek;
– Shahab Ahmed, The Problem of the Satanic Verses and the Formation of Islamic Orthodoxy (forthcoming);
– Lisa Appignanesi and Sara Maitland, eds., The Rushdie File (London: Fourth Estate, 1989);
– Salman Rushdie, The Satanic Verses (London: Viking Penguin, 1988);
– W. Montgomery Watt, Muhammad at Mecca (Oxford: Oxford University Press, 1953).
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Fonte:
Encyclopedia of Islam
Copyright © 2009 by Juan E. Campo
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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.
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