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Sufismo

Mulla Nasrudin

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Mulla Nasrudin viveu numa pequena cidade da Turquia por volta do séc. XIII. Contou e escreveu histórias onde ele próprio era a personagem principal e tornou-se um personagem folclórico que superou sua própria biografia. Através do humor, estre mestre sufi nos leva a perceber o caráter paradoxal da vida e nos desvela nossa forma de pensar condicionada.  Não há melhor forma de apresentar este personagem do que simplesmente contando suas histórias.

A Culpa

Nasrudin e sua mulher voltaram a casa
Encontrando a porta escancarada
E a habitação violada e assaltada.
“A culpa assiste-lhe”, disse a mulher,
“Devia ter verificado a porta antes de sair.”
“E também as janelas.”
“Não verificou as trancas.”
“Não se preveniu quando saiu.”
Disseram os vizinhos.
“A culpa é sua”, disse a mulher,
Disseram todos.
“Esperem”, alegou Nasrudin,
“Uma coisa assim…
Serei por acaso o único culpado?
Serei eu o vilão?”
“E de quem queres que seja a culpa?”, perguntaram.
“Que tal culpar os ladrões?”

O anúncio

Nasrudin postou-se na praça do mercado e dirigiu-se à multidão:
– Ó povo deste lugar! Querem conhecimento sem dificuldade, verdade sem falsidade, realização sem esforço, progresso sem sacrifício?
Logo juntou-se um grande número de pessoas, todos gritando:
– Queremos, queremos!
– Excelente! Era só para saber. Podem confiar em mim, que lhes contarei tudo a respeito, caso algum dia descubra algo assim.

 

Viagem de Barco

Nasrudim às vezes levava as pessoas a viajar no seu barco. Um dia, um pedagogo exigente contratou-o para que o levasse até ao outro lado de um rio muito largo. Assim que se lançaram à água, o sábio perguntou-lhe se faria mau tempo.
– Não me pergunte nada sobre isto – disse Nasrudim.
– Você nunca estudou gramática?
– Não .
– Neste caso, metade de sua vida foi desperdiçada.
O Mulla não disse nada. Logo desabou uma terrível tempestade. O pequeno e desorientado barco de Mulla começou a meter água. Ele inclinou-se para o pedagogo:
– Alguma vez aprendeu a nadar?
– Não – respondeu o pedante.
– Nesse caso, caro mestre, toda sua vida foi desperdiçada, pois estamos a afundar.

 

Nasrudin e o ovo

Certa manhã Nasrudin embrulhou um ovo num lenço, foi para o meio da praça da sua cidade, e chamou aqueles que estavam ali.
– Hoje vamos ter um importante concurso! A quem descobrir o que está embrulhado neste lenço, eu dou de presente o ovo que está dentro!
As pessoas se olharam, intrigadas, e responderam:
– Como podemos saber? Ninguém aqui é capaz de fazer esse tipo de previsões!
Nasrudin insistiu:
– O que está neste lenço tem um centro que é amarelo como uma gema, cercado de um líquido da cor da clara, que por sua vez está contido dentro de uma casca que se parte facilmente. É um símbolo de fertilidade, e lembra-nos dos pássaros que voam para seus ninhos. Então, quem é que me pode dizer o que está aqui escondido?

Todos pensavam que Nasrudin tinha um ovo nas suas mãos, mas a resposta era tão óbvia, que ninguém se atreveu a falar para não passar vergonha diante dos outros. E se não fosse um ovo, mas algo muito importante, produto da fértil imaginação mística dos sufis? Um centro amarelo podia significar algo como o sol, o líquido em seu redor talvez fosse uma poção alquímica. Não, aquele louco estava a querer faze-los passar por ridículo.

Nasrudin perguntou mais duas vezes e ninguém respondeu.

 

Casamento

Nasrudin estava proseando com um conhecido, que indagou:
– Mullah, responda-me, você nunca pensou em casar?
– Sim, claro que já. Quando eu era jovem, tentei achar o meu par perfeito. Cruzei o deserto, cheguei a Damasco, e conheci uma mulher belíssima e espiritualmente muito evoluída; mas as coisas triviais, do dia a dia, a atrapalhavam.
Mudei de rumo e lá estava eu em Isfahan. Ali conheci uma mulher com dom para as coisas materiais, da vida caseira, e além disso mostrou-se muito espiritualizada. Porém, carecia de beleza física.
Pensei: o que fazer? E resolvi ir ao Cairo. Lá cheguei e logo fui apresentado a uma linda jovem, que também era religiosa, boa cozinheira e conhecedora dos afazeres do lar. Ali estava a minha mulher ideal.
– Mas você não casou com ela. Porquê?
– Ah, meu prezado amigo, ela também estava à procura do homem ideal.

O Mestre Nadador

Numa tabuleta acima de sua porta podia-se ler:

“MULLA NASRUDIN MESTRE-NADADOR
Salvamentos – Natação em todos os estilos – Água doce ou salgada”

Um dia, alguém bateu à porta. Nasrudin abriu e convidou o desconhecido a entrar. Feitas as apresentações de praxe, perguntou-lhe o motivo da visita. – Veja – respondeu o visitante –, eu amo a natação. Gostaria de transformar-me num bom nadador, e não apenas de saber boiar. Tenho, mesmo, alguma experiência de correntes e águas calmas. Fiz até caça submarina. Mas sei que me falta alguma coisa. E, se me permitir, gostaria de tomar umas aulas com o senhor, para ser mais hábil.

Nasrudin expôs resumidamente seu programa de aulas. Depois o visitante o interrogou sobre seus preços. – Devo adverti-lo – respondeu Nasrudin – que meu método comporta etapas sucessivas:

O primeiro estágio lhe custará vinte dólares por aula (naquela época o dólar já era uma moeda forte) ; o segundo lhe custará quinze dólares por aula; o terceiro, dez dólares; e finalmente o último estágio, quase grátis, não lhe custará mais do que cinco dólares!

Muito bem – respondeu o visitante, dirigindo-se alegremente para a porta. – Agradeço-lhe imensamente. Voltarei para o último estágio, ele me convém perfeitamente!

O contrabandista

Volta e meia, Nasrudin atravessava a fronteira entre a Pérsia e a Grécia montado no lombo de um burro. De todas as vezes passava com dois cestos cheios de palha e voltava sem eles, arrastando-se a pé. Todas as vezes que o guarda procurava por contrabando nunca encontrava.
– O que é que você transporta, Nasrudin?
– Sou contrabandista.
Anos mais tarde, com uma aparência cada vez mais próspera, Nasrudin mudou-se para o Egipto. Lá encontrou um daqueles guardas de fronteira.
– Diga-me, Mullá, agora que você está fora da jurisdição grega e persa, instalado por aqui nesta boa vida boa, o que é que você contrabandeava, que nunca conseguimos perceber?
– Burros.

 

A felicidade não está onde se procura

Nasrudin encontrou um homem desconsolado sentado à beira do caminho e perguntou-lhe quais eram os motivos de tanta aflição.
– Não há nada na vida que interesse, irmão. Tenho dinheiro suficiente para não precisar trabalhar e estou nesta viagem só para procurar algo mais interessante do que a vida que levo em casa. Até agora não encontrei nada.
Sem mais palavra, Nasrudin arrancou-lhe a mochila e fugiu com ela estrada abaixo, correndo feito uma lebre. Como conhecia bem a região, foi capaz de tomar uma boa distância. A estrada fazia uma curva e Nasrudin foi cortando o caminho por vários atalhos, até que retornou à mesma estrada, muito à frente do homem que havia roubado. Colocou a mochila bem do lado da estrada e escondeu-se à espera do outro. Quando apareceu o miserável viajante, caminhando pela estrada tortuosa, estava mais infeliz do que nunca pela perda da mochila. Assim que viu sua propriedade bem ali, à mão, correu para pegá-la, dando gritos de alegria.
– Essa é uma maneira de se produzir felicidade – disse Nasrudin.

A Farmácia cósmica de Nasrudin

Nasrudin estava desempregado. Perguntou, então, a alguns amigos que tipo de profissão deveria seguir. “Bem, Nasrudin,” disseram, “você é muito capaz e conhece bastante as propriedades medicinais das ervas. Poderia abrir uma farmácia.”

Nasrudin foi para casa, pensou e disse para si mesmo: “sim, acho que é uma boa idéia. Acho que sou capaz de fazer isso.” Naturalmente, sendo Nasrudin, nessa ocasião em particular passava por um de seus momentos de desejar ser proeminente e importante. Assim, pensou:

“Não abrirei apenas uma loja de ervas ou uma farmácia que lide com ervas; abrirei algo grandioso e que cause um forte impacto”.

Comprou uma loja, instalou prateleiras e armários e quando chegou a hora de pintar a fachada, montou um andaime, cobriu-o com chapas e trabalhou atrás delas. Não deixou que ninguém visse o nome que daria à farmácia ou como a fachada estava sendo pintada.

Após vários dias, distribuiu folhetos que diziam: “Grande inauguração, amanhã às nove horas”. Todos de sua aldeia e das aldeias vizinhas vieram e ficaram esperando em frente à nova loja. Às nove horas, Nasrudin apareceu, retirou a placa da frente e lá estava um enorme cartaz onde se lia: “Farmácia Cósmica e Galáctica de Nasrudin” e abaixo estava escrito: “Influenciada e harmonizada com influências planetárias”.

Muita gente ficou impressionada e ele fez um ótimo negócio naquele dia. Ao anoitecer, um professor local aproximou-se de Nasrudin e lhe disse: “Francamente, essas alegações que você faz são um pouco duvidosas”.

“Não, não”, respondeu Nasrudin, “cada alegação que faço sobre influência planetária é absolutamente correta. Quando o sol se levanta, abro a farmácia e quando o sol se põe, eu fecho.” Portanto, podem haver diferentes interpretações sobre quanto a influência planetária afeta alguém e sobre o quanto dessas influências alguém recebe ou usa.

Aprender a conversar com Deus

Nasrudin, estava precisando de um burro para o ajudar nas tarefas.

Desesperado, sem ter meios de encontrar um, começou a orar, pedindo a Deus que lhe enviasse um burrico. Rezou por algum tempo e, certo dia, ao andar por uma estrada, deparou com um homem montado num burrico. Atrás levava um outro burrico mais jovem. Nasrudin aproximou-se do homem e este disse-lhe:
– Mas que vergonha, eu estou trazendo um burrico de tão longe, estamos todos esgotados, e aqui está este homem descansado, sem fazer nada!
E ameaçando-o com uma espada, completou:
– Vamos! Coloque o burrico nas suas costas e venha comigo até a próxima cidade!
Nasrudin, com medo não disse nada, simplesmente colocou o burrico em suas costas e seguiu o homem. Andaram por várias horas e Nasrudin estava exausto de tanto peso. Ao entardecer, chegaram na cidade mais próxima e o homem simplesmente fez Nasrudin descer o burrico das suas costas e seguiu adiante, sem sequer agradecer.
Nasrudin ergueu os seus olhos para o céu e disse:
– Está bem, Deus. Aprendi a minha lição. Na próxima vez serei mais específico…

 

Aqui há mais luz

Alguém viu Nasrudin procurando alguma coisa no chão.
– O que é que você perdeu, Mullá? – perguntou-lhe.
– A minha chave – respondeu o Mullá.
Então os dois se ajoelharam à procura da chave. Um pouco depois, o sujeito perguntou:

– Onde foi exactamente que você perdeu esta chave?

– Na minha casa.
– Então por que você está à procurar aqui?
– Porque aqui há mais luz.

 

Em visita a Índia

O célebre e contraditório personagem sufi Mulla Nasrudin visitou a Índia. Chegou a Calcutá e começou a passear por uma das ruas movimentadas. De repente viu um homem que estava a vender algo que Nasrudin acreditou que eram doces, mas na realidade fossem chiles apimentados. Nasrudin era muito guloso e comprou uma grande quantidade dos supostos doces, dispondo-se a dar-se um grande banquete. Estava muito contente, se sentou num parque e começou a comer chiles às dentadas.
Logo que mordeu o primeiro chile sentiu fogo no paladar. Eram tão apimentados aqueles “doces” que ficou com a ponta do nariz vermelha e começou a soltar lágrimas até aos pés. Não obstante, Nasrudin continuava levando os chiles à boca sem parar. Espirrava, chorava, fazia caretas de mal-estar, mas continuava a devorar os chiles. Assombrado com o que via, um homem que passou por ali perguntou-lhe:
– Amigo, não sabe que os chiles só se comem em pequenas quantidades?
Quase sem poder falar, Nasrudin comentou:
– Bom homem, creia-me, eu pensava que estava comprando doces.
Mas Nasrudin continuava a comer os chiles. O homem disse:
– Bom, está bem, mas agora já sabes que não são doces. Porque os continuas a comer?

Entre tosses e soluços, Nasrudin disse:
– Já que investi tanto dinheiro neles, não os vou deitar fora.

O peixe que salvou uma vida

Ainda na índia Nasrudin passa diante de uma gruta, vê um yogue meditando, e pergunta o que ele estava buscando.

– Contemplo os animais, e aprendi deles muitas lições que podem transformar a vida de um homem – diz o yogue.

-Pois um peixe já salvou minha vida – responde Nasrudin.

– Se você me ensinar tudo que que sabe, eu lhe conto como foi. O yogue espanta-se: só um santo pode ter a vida salva por um peixe. E resolve ensinar tudo que sabe.

Quando termina, diz a Nasrudin: – Agora que ensinei tudo, ficaria orgulhoso em saber como um peixe salvou sua vida.

– É simples – responde Nasrudin. – Eu estava quase morrendo de fome quando o pesquei, e graças a ele pude sobreviver três dias.

O sermão de Nasrudin

Certo dia, os moradores do vilarejo quiseram pregar uma partida em Nasrudin. Como ele era considerado uma espécie meio indefinível de homem santo, pediram-lhe para fazer um sermão na mesquita. Ele concordou. Chegado o tal dia, Nasrudin subiu ao púlpito e falou:
– Ó fiéis! Sabem o que vou lhes dizer?
– Não, não sabemos
– Enquanto não saibam, não poderei falar nada. Gente muito ignorante, isso é o que vocês são. Assim não dá para começarmos o que quer que seja – disse o Mulla, profundamente indignado por aquele povo ignorante o fazer perder o seu tempo.
Desceu do púlpito e foi para casa. Um tanto vexados, os homens do vilarejo fizeram uma comissão para mais uma vez, pedir a Nasrudin para fazer um sermão na Sexta-feira seguinte, dia de oração. Nasrudin começou a pregação com a mesma pergunta de antes. Desta vez, a congregação respondeu numa única voz:
– Sim, sabemos
– Neste caso não há porque prendê-los aqui por mais tempo. Podem ir embora.
E voltou para casa. Por fim, conseguiram persuadi-lo a realizar o sermão da Sexta-feira seguinte, que começou com a mesma pergunta de antes.
– Sabem ou não sabem?
A congregação estava preparada.
– Alguns sabem, outros não.
– Excelente – disse Nasrudin – então, aqueles que sabem transmitam seus conhecimentos àqueles que não sabem.
E foi para casa.

O Absurdo

Nasrudin vivia numa cidade pacata e muito pequena.

Um belo dia, Nasrudin foi passear e estava com um copo de leite nas mãos. Andou, andou e resolveu parar na beira de um rio que existia na cidade. Olhou para o rio e jogou o leite dentro dele. Pegou um galho de árvore e começou a mexer no rio com movimentos circulares, sem parar.
O Prefeito da cidade, que estava fazendo uma ronda, viu aquilo e pensou que Nasrudin estivesse ficando louco. Então, resolveu se aproximar para averiguar melhor o fato.
— Nasrudin, o que você está fazendo?
— Estou fazendo iogurte!
— Você está maluco! Disse o Prefeito. Mesmo que você jogue e litros de leite seria impossível fazer iogurte!!! O rio é muito grande.
Nasrudin então, olhou bem nos olhos do Prefeito e disse:
— Você já pensou se fosse possível? ”

Como Nasrudin mostrou a verdade

– Estas leis não tornam as pessoas melhores – disse Nasrudin ao Rei – As pessoas devem praticar certas coisas de forma a sintonizarem-se com a verdade interior, que se assemelha apenas levemente à verdade aparente.
O Rei decidiu que poderia fazer com que as pessoas observassem a verdade e que o faria. Ele poderia fazê-las praticar a autenticidade. O acesso a sua cidade era feito por uma ponte, sobre a qual o Rei ordenou que fosse construída uma forca. Quando os portões foram abertos no alvorecer do dia seguinte, o capitão da guarda estava postado à frente de um pelotão para averiguar todos os que ali entrassem. Um informante foi proclamado:

– Todos serão interrogados. Aquele que falar a verdade terá seu ingresso permitido. Se mentir, será enforcado.
Nasrudin deu um passo à frente.
– Aonde vai?
– Estou a caminho da forca – respondeu Nasrudin calmamente.
– Não acreditamos em você!
– Muito bem, se estiver a mentir enforquem-me!
– Mas se o enforcarmos por estar a mentir, faremos com que aquilo que disse seja verdade!
– Isso mesmo. Agora já sabem o que é a verdade: a sua verdade!

 

Quem é o tolo?

Todos os dias o Mullah Nasrudin ia pedir esmola na feira, e as pessoas adoravam vê-lo fazendo o papel de tolo, com o seguinte truque: mostravam duas moedas, uma valendo dez vezes mais que a outra. Nasrudin escolhia sempre a menor. A história correu pelo condado. Dia após dia, grupos de homens e mulheres mostravam as duas moedas, e Nasrudin ficava sempre com a menor.

Um dia um senhor generoso, cansado de ver Nasrudin sendo ridicularizado daquela maneira, chamou-o a um canto da praça, e disse-lhe:
– Sempre que lhe oferecerem duas moedas, escolha a maior. Assim terá mais dinheiro e não será considerado idiota pelos outros.
– O senhor parece ter razão, mas se eu escolher a moeda maior, as pessoas vão deixar de me oferecer dinheiro, para provar que sou mais idiota que elas. O senhor não sabe quanto dinheiro já ganhei usando este truque. Não há nada de errado em passar por tolo se na verdade o que está a fazer é inteligente. Às vezes, é de muita sabedoria passar por tolo e é muito melhor passar por tolo e ser inteligente do que ter inteligência e usa-la a fazer tolices.

“Os sábios não dizem o que sabem, os tolos não sabem o que dizem!”

 

Nasrudin e o Varal

Um vizinho bateu à porta do Nasrudin e pediu:
– Nasrudin, você me empresta o varal de secar roupa que o de lá de casa se quebrou?
– Um momento. Vou perguntar à minha mulher.
Momentos depois Nasrudin voltou e disse para o vizinho:
– Desculpe vizinho, mas não vou poder emprestar o varal pois minha mulher está secando farinha nele.
O vizinho, surpreso, exclamou:
– Mas Nasrudin, secando farinha no varal??!!
E Nasrudin respondeu:
– É… quando não se quer emprestar o varal, até farinha se seca nele…

 

Meu olho dói!

Um camponês aproximou-se de Nasrudin e queixando-se de que o seu olho lhe doía, pediu-lhe um conselho. Respondeu-lhe:
– Outro dia meu molar doía, e não me acalmei enquanto não o arranquei.

O que poderia tornar-se o quê

Hakim entrou num restaurante e pediu ovos cozidos. O velhaco dono apresentou-lhe uma conta de cinco moedas de prata. Hakim protestou que aquela conta era um absurdo.

-“Se eu tivesse guardado esses ovos parra as galinhas chocarem, teriam se transformado em frangos”, disse o dono do restaurante, “e sua prole, e a prole de sua prole, e a prole da prole de sua prole teriam produzido milhões de ovos – valendo muito mais que cinco moedas. Os ovos saíram-lhe baratos.”

O juiz local era Nasrudin, e foi a quem Hakim apresentou a queixa. O dono do restaurante teve que ir também, para que pudesse se defender. Nessa época, Nasrudin resolvia os casos em casa, pois dizia que: -“Na vida, a Justiça sempre aparece”.

Assim que ouviu ambos os argumentos, Nasrudin cozinhou um punhado de milho. Então, deixou que esfriasse um pouco e, colherada por colherada, plantou-o no seu jardim.

-“Que raio de coisa você está fazendo?””, ambos perguntaram.

-“Plantando milho, que desta maneira see multiplicará”, disse Nasrudin.

-“Desde quando alguma coisa que foi cozzida poderia multiplicar-se desta forma?”, bradou o dono do restaurante.

-“Esta é a sentença deste tribunal”, diisse Nasrudin. -“A vocês dois, um bom dia.”

Os melhores conselhos

Nasrudin começou a construir uma casa. Os seus amigos, que tinham cada um a sua própria casa, e eram carpinteiros ou pedreiros rodearam-no de conselhos. Mulla estava radiante. Um após outro, e às vezes todos juntos, disseram-lhe o que fazer. Nasrudin seguia docilmente as instruções que cada um lhes dava. Quando a construção terminou, ela não se parecia em nada com uma casa.
– Que curioso! – disse Nasrudin – e contudo eu fiz exactamente aquilo que cada um de vocês me tinha dito para fazer!

Agora com mais luz

Um vizinho encontrou Nasrudin de joelhos procurando alguma coisa. – “O que você perdeu?”

– “Minha chave”, disse Nasrudin.

O outro homem ajoelhou-se e pôs-se a procurar com ele.

Passados alguns minutos, ele perguntou:

– “Onde a deixou cair?” – “Em casa.”

– “Então por que, em nome de Deus, está procurando a chave aqui?”

– “Porque aqui tem mais luz.”

O Papagaio e o Corvo

Numa linda manhã de domingo, Mulla Nasrudin passeava no mercado. Qual não foi sua surpresa ao deparar com seu amigo Yussuf: este segurava uma gaiola com um pequeno papagaio, cujo preço de venda era três peças de ouro! Escandalizado, o Mulla gritou:

– Yussuf, como se atreve a pedir tal soma por um mísero papagaio? Yussuf encarou Nasrudin severamente e disse:

– Fique sabendo, Mulla, que eu peço um preço justo. Este não é um pássaro qualquer: ele fala! Sem saber o que responder, Mulla seguiu seu caminho.

Uma hora mais tarde, grande foi a surpresa de Yussuf quando viu seu amigo Mulla instalar-se ao seu lado, trazendo uma gaiola com um velho corvo. Pregado à gaiola, um letreiro anunciava o preço: doze peças de ouro!

– Ladrão! Escroque! – gritou Yussuf, vermelho de raiva. – Você não tem vergonha de pedir um preço desses por um velho corvo depenado?

– Não – respondeu calmamente Mulla Nasrudin. – É verdade que é um corvo velho, é verdade que ele não fala, mas este não é um pássaro qualquer: ele pensa!

Sopa de pato

Um conterrâneo de Nasrudin veio do interior visitá-lo e trouxe-lhe um pato. Muito grato pelo presente, Nasrudin cozinhou a ave e compartilhou-a com sua visita.

Não tardou para que chegasse outra visita. Era um amigo, conforme disse, “do homem que lhe deu o pato”. Nasrudin igualmente recebeu-o e deu-lhe de comer. Isso aconteceu várias vezes.

A casa de Nasrudin tornou-se uma espécie de restaurante para visitantes de fora da cidade. Todo mundo era, em algum grau, amigo daquele primeiro sujeito que havia presenteado o pato. Finalmente, Nasrudin esquentou-se.

Um dia, um estranho bateu à porta. “Sou amigo do amigo do amigo do homem que lhe deu o pato”, disse. “Entre”, disse Nasrudin. Sentaram-se à mesa e Nasrudin pediu que sua mulher trouxesse a sopa. Assim que o visitante deu o primeiro gole, pareceu-lhe estar tomando nada além de água quente.

“Que tipo de sopa é esta?”, perguntou ao mullá. “Esta”, respondeu Nasrudin, “é a sopa da sopa da sopa do pato”.

Doente, Graças a Deus!

Nasrudin, sentado na sala de espera do consultório médico, repetia em voz alta:
– Espero que eu esteja muito doente.
O que intrigava os outros pacientes. Quando o médico apareceu, Nasrudin repetia quase gritando:
– Espero que esteja muito doente.
– Porque você diz isso? – perguntou o médico.
– Detestaria pensar que alguém que se sinta tão mal como eu e não tenha nada!.


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