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O eterno ciclo do CLT

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Rafael Ferreira. 

Recentemente, fui demitido do meu último emprego. O que poderia ter sido motivo de tristeza, na verdade, se revelou uma bênção — tanto para mim quanto para a empresa, que precisava de um perfil que eu, sinceramente, não poderia mais oferecer. Trabalhando desde os 13 anos, entendo que isso faz parte da jornada do trabalhador. Se alguma vez uma demissão foi dolorosa para mim, já não me lembro mais dessa sensação, ou, como dizem os terapeutas, ressignifiquei..

Ao invés de me preocupar apenas com questões financeiras, comecei a refletir sobre minha história e a perceber de maneira diferente o que significa ser trabalhador e viver sob o regime da CLT. Nossa jornada no mercado de trabalho é um ciclo contínuo de aprendizado, onde evoluímos desde os primeiros passos como estagiários até atingir altos cargos ou mesmo nos mantermos em uma posição que nos satisfaça por anos. É como nos planos reencarnatórios, onde começamos em um estado mais primitivo e, ao longo do tempo, expandimos nossa consciência para níveis mais elevados de entendimento.

Se você estudou o ensino médio, foi para a faculdade e conseguiu um estágio, você simplesmente nasceu para o mercado de trabalho. Esse estágio é como o jardim da criação, onde você recebe influências tanto de profissionais excelentes quanto daqueles que deixam a desejar, enquanto vivencia as experiências mais intensas de relacionamento. Você encontrará pessoas que estenderão a mão para ajudar, e outras que serão tão falsas quanto uma nota de quinze reais. Pessoalmente, não posso reclamar do meu início de jornada, que foi impulsionado por amigos que contribuíram muito para o meu desenvolvimento. E claro, sou grato também aos que, de alguma forma, entregaram o que tinham para oferecer, mesmo que não fosse o ideal.

Chega um momento em que você sente que é hora de seguir em frente, e você aceita o desligamento com tranquilidade. No entanto, há também momentos em que a demissão chega de surpresa, lembrando que tanto a demissão quanto a morte são as únicas certezas que temos nesta linha do tempo. Se você completou sua missão dentro daquelas funções, está preparado para explorar novos caminhos que trarão novas propostas para sua vida. Assim como na reencarnação, cada fim é, na verdade, um novo começo.

No Hinduísmo, esse ciclo de nascimento, morte e renascimento é conhecido como samsara, e ele é guiado pela lei do carma — a ideia que se popularizou no ocidente como sendo as consequências de nossas ações, mas na verdade é movimento da nossa existência. De forma similar, no mercado de trabalho, nossas atitudes, habilidades e o modo como enfrentamos os desafios moldam as oportunidades que surgirão em nossa próxima “vida” profissional.

Ao iniciar uma nova função ou trabalho, surgem desafios que impulsionam seu crescimento, assim como quedas que o fazem beijar o chão. Cada experiência é influenciada pelas histórias passadas, e você percebe que está carregando o carma de suas “vidas” anteriores. Cada nova oportunidade é uma chance de aplicar o que aprendeu, enfrentar o desconhecido e evoluir.

Aqui, uma diferença importante entre a reencarnação espiritual e as “vidas” profissionais se destaca: enquanto na reencarnação tradicional muitas vezes não lembramos das vidas passadas, no mercado de trabalho carregamos conscientemente as experiências acumuladas. Isso significa que cada novo emprego, cada nova função, traz consigo um legado de sabedoria, erros, sucessos e aprendizados que podem ser aplicados de forma imediata, enriquecendo nossa nova jornada desde o início.

Esse conceito de evolução contínua também é encontrado no Platonismo. Platão, filósofo grego, acreditava que a alma é imortal e que, após a morte, ela entra em um ciclo de reencarnações. Nesse ciclo, a alma passa por várias vidas, buscando alcançar um estado de pureza e sabedoria, aproximando-se cada vez mais da verdade suprema, ou do mundo das ideias, onde reside o conhecimento verdadeiro. Essa jornada de purificação e evolução da alma pode ser comparada à nossa trajetória no mercado de trabalho, onde cada nova experiência profissional nos aproxima de um maior entendimento e realização.

Essa jornada de “vidas” no mercado de trabalho leva a uma evolução contínua. Mesmo as dificuldades têm um propósito, moldando o caráter e aprimorando as habilidades do indivíduo. A cada nova experiência, você ressignifica o que viveu e se prepara para enfrentar os desafios com uma nova perspectiva, crescendo não só como profissional, mas como ser humano. Assim como a alma no Platonismo busca a iluminação e a verdade através de sucessivas vidas, nós, no mercado de trabalho, buscamos continuamente a excelência, movidos por nossas experiências passadas.

Após muitas “vidas” profissionais, repletas de desafios, conquistas e aprendizados, chega o momento da aposentadoria, que pode ser vista como a culminação dessa jornada, comparável ao moksha no Hinduísmo. O moksha representa a libertação final do ciclo de renascimento, e, da mesma forma, a aposentadoria simboliza a transição para uma nova fase de liberdade e realização. Neste estágio, se a pessoa alcançou a liberdade financeira, encontra-se em uma posição única para criar o seu próprio “universo pessoal”, onde pode explorar novas possibilidades de aprendizado, hobbies, e experiências sem as pressões anteriores. Além disso, a aposentadoria oferece a oportunidade de se tornar um mentor, transmitindo a sabedoria acumulada ao longo de suas “vidas” profissionais para as gerações mais jovens, assim como os mestres espirituais que guiam outros após alcançar o moksha.

Diferente da reencarnação espiritual, onde as vidas passadas são geralmente esquecidas, a jornada profissional é marcada pela retenção consciente de experiências e aprendizados. Cada novo emprego ou função é enriquecido pelas lições acumuladas nas “vidas” anteriores. Essa memória consciente permite uma evolução mais deliberada e dirigida, onde o profissional pode aplicar imediatamente o que aprendeu, ajustando suas ações para evitar erros passados e maximizar seus sucessos futuros. Isso transforma o ciclo de trabalho em uma espiral ascendente de crescimento, onde cada nova “vida” é uma oportunidade de aprimoramento com base no que foi aprendido antes.

A jornada profissional pode, portanto, ser vista como um ciclo de samsara, onde cada emprego é uma nova “vida” e as ações passadas (carma) influenciam as novas oportunidades. A aposentadoria, ou moksha, representa a libertação desse ciclo, um estado onde a pessoa alcança paz e realização, e se permite explorar novas facetas da vida com a sabedoria acumulada ao longo da carreira.

Pensando no contexto do Platonismo, essa jornada pode ser entendida como um ciclo de purificação contínua, onde cada nova função é uma chance de se aproximar da excelência, buscando a “verdade” ou realização profissional. Assim como a alma busca o mundo das ideias, onde reside o conhecimento verdadeiro, o profissional busca alcançar o auge de sua carreira, um estado onde compreende profundamente seu papel e impacto no mundo do trabalho. Esse processo de busca e crescimento contínuo, sustentado pela consciência das experiências passadas, é o que define a evolução na jornada profissional, culminando em uma fase de libertação, realização e compartilhamento de sabedoria com as futuras gerações.

Poderíamos avançar um pouco mais e caminhar em direção à Verdadeira Vontade, um conceito que ressoa profundamente com os princípios do hermetismo, onde a verdadeira essência de nossa existência está alinhada com o propósito maior para o qual fomos criados. No hermetismo, a ideia de “fazer aquilo que nascemos para fazer” se relaciona com o conceito de conformidade com a Lei do Uno, onde cada ação nossa deve estar em harmonia com o todo. Entretanto, deixarei para uma próxima oportunidade, pois o texto está tão longo quanto o caminho da CLT de um brasileiro.


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