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Demônios e Anjos

Exorcismo, entre a Fé e o desequilíbrio

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Na Igreja Católica, o exorcismo deve ser com licença expressa, e para cada caso, do Bispo da Diocese. Raríssimamente concedido. No Ritual Romano se lê: “Os sinais de possessão demoníaca são… falar várias línguas desconhecidas…revelar coisas distantes ou ocultas… manifestar forças superiores à idade ou aos costumes.”

Nenhum destes sinais hoje é válido. A Parapsicologia explica como perfeitamente naturais a xenoglossia, a adivinhação e sansonismo.

Xenoglossia

Ilga K. de Trapene (Letônia) apesar de sofrer de deficiência mental, era às vezes capaz de falar em qualquer língua, contanto que alguém na sua presença pensasse, ou lesse mentalmente, as frases correspondentes. Era uma adivinhação na base de escapes sensoriais (HIP- Hiperestesia Indireta do Pensamento). E, na ausência de qualquer pessoa, ou no isolamento da emissora de rádio da Universidade de Riga, era incapaz de qualquer xenoglossia. Será que o demônio não pode entrar no isolamento de uma emissora de rádio???

Adivinhação

Sobre a adivinhação, além da citada Hiperestesia Indireta do Pensamento, temos também a percepção extra-sensorial e suas diversas divisões… A telepatia da mesma forma não tem nenhuma relação com o demônio.

Sansonismo

Os psiquiatras falam em hiperdinamismo. Um louco, sem camisa de força, numa crise de fúria, dificilmente poderá ser contido, mesmo por várias pessoas. Numa situação parapsicológica, o aproveitamento ao máximo das energias musculares e nervosas pode dar a impressão de “força superior à idade ou aos costumes”. Na realidade é sõ isso: aproveitamento ao máximo, parapsicologicamente, da força muscular (sansonismo) e nada de sobre-humano; é sempre numa dimensão humana. Se alguma vez, uma menina tivesse levantado um automóvel com um dedo, ou derrubado uma parede com a mão, então poderíamos pensar em força sobre-humana, demoníaca… Mas isso nunca aconteceu.

Ritual Romano

Poderá parecer que eu esteja desrespeitando a autoridade do Ritual Romano no tema dos exorcismos. Toda lei disciplinar universal da Igreja, obriga os católicos ao assentimento interno. O católico poderá discordar, em casos evidentes, mas não publicamente. A Igreja é hierarquica e mesmo que no Ritual Romano não se trate de doutrina religosa propriamente dita, uma ordem disciplinar universal obriga ao respeito e acatamento inclusive nos conceitos teóricos pressupostos.

Mas a parte do Ritual Romano que se refere aos exorcismos não é uma ordem disciplinar universal, como o são todas as outras partes do Ritual. Expressamente na bula em que se promulgavam os exorcismos, Gregório IX dizia: “Hortamur” , isto é, ” Exortamos “, recomendamos, que o costume que se tinha na Alemanha se estenda a todo o mundo. É uma exortação, aliás antiquíssima, e antiquada, e não uma ordem disciplinar universal.

Aliás, a própria evolução dos exorcismos mostra que a Igreja neste tema científico e não propriamente religioso, e portanto fora do alcance direto da Igreja, foi acompanhando a evolução da Ciência. O termo ” argumentos ” (de possessão diabólica) foi substituído pelo de ” sinais ” . Mais adiante, a Igreja colocou um ” talvez sejam” em vez de “são sinais”. Depois acrescentou ” não creia facilmente que se trate do demônio”. Modernamente a Igreja proibiu administrar os exorcismos (a não ser com licença expressa do Bispo da Diocese).

E esta licença só será concedida a um exorcista oficialmente nomeado, que se supõe, saiba o que tem em mão. Aí, já depende muito da cultura do exorcista. O Padre José de Tonquedec, exorcista oficial durante trinta anos na Diocese de Paris, não encontrou nenhum caso de possessão demoníaca. Ele conhecia a Parapsicologia daquela época, anterior a 1930. E escreveu um livro intitulado ” Possessão Demoníaca ou Doença ? “, que já por sí é todo um símbolo.

Posteriormente, a Igreja reduziu, e praticamente suprimiu os exorcismos do Ritual do batismo e das outras bençãos oficiais. Atualmente tirou inclusive a própria ordem menor de exorcista. Hoje ninguém se ordena exorcista, como anos atrás e durante tantos séculos se vinha fazendo.

O exorcismos, segundo as normas, deveria ser raríssima exceção. Mas na realidade, muitos padres, mais ou menos supersticiosos, dão exorcismos por conta própria.

Em conclusão: Não se pode invocar a autoridade do Ritual Romano para defender a possessão demoníaca, porque o próprio Ritual Romano e a prática da Igreja foram bem claramente acomodando-se à ciência na sua evolução. Fica portanto plenamente autorizado o cientista a continuar ” forçando” a evolução da Igreja neste tema que só indireta e escassamente pertence à religião, e direta e principalmente à ciência.

É claro que a Igreja se acomodou e se acomoda à ciência no erro científico do passado e no progresso moderno. É claro também que não corresponde à Igreja adiantar-se à ciência: a parapsicologia é muito nova e pouco conhecida; seu influxo ainda é escasso entre a maioria dos cientistas. Seria prematuro a Igreja negar já a possessão demoníaca; deve se esperar que a Parapsicologia se imponha…

Algumas pessoas dizem em favor da possessão, que os exorcismos curam. ” Por Poder Divino, se expulsam de fato os demônios”.

Na realidade, os exorcismos “curam” (por sugestão) ou agravam…

Os endemoninhados de Ilfurt foram cada vez manifestando maiores fenômenos parapsicolõgicos à medida que se lhes iam aplicando os exorcismos.

As freiras de Loudun também foram complicando as suas manifestações e só se curaram quando depois de grandes tragédias (houve até suicídios), a igreja abandonou o caso. As freiras, deixadas em paz, esqueceram o tema da demonologia (e chegaram inclusive a uma vida muito piedosa e regular no seu convento. Por acaso, o demönio se converteu em apóstolo?).

Os irmãos Pausini manifestavam fenômenos após asistirem a uma sessão espírita. O vigário pensando tratar-se do demõnio; aplicou os exorcismos, e aí se complicou tudo: começarama manifestar cada vez maiores fenômenos.

No cemitério de São Medardo, sobre a túnica do Diácono Paris, muitas pessoas foram se contagiando com “possessões” e contínuos exorcismos até que o rei enviou o exército e acabou com a “possessão demoníaca”. Os exorcismos estavam agravando cada vez mais a situação. Foia dispersão, evitando o contágio psíquico, que com o tempo “curou” o fenômeno. E um engraçadinho colocou um cartaz na porta do cemitério: “Por ordem do rei se proíbe a Deus fazer milagres neste local”

Muitos casos ao longo da história, foram se complicando, justamente porque as crianças (geralmente) eram tidas por endemoninhadas, e se assustavam ao pensar que tinham o demônio dentro de sí e o desequilíbrio foi cada vez maior, em consequencia também maior, a manifestação parapsicológica.. Até que, tranquilizadas por outros métodos, ou pelo passar do tempo , desapareceram, inclusive por sí sós, os fenômenos parapsicológicos.

Sugestão

O exorcismo é uma arma de dois gumes. Pode “curar” por sugestão, como pode também complicar as coisas… E, quando “cura”, sempre o exorcismo tem aspectos negativos, como toda “cura” (sugestão) por métodos de curandeiros…

E o endemoninhado pode “sarar” de outras muitas maneiras…

Exemplo: Com água de santo Ignácio se acalmava um endemoninhado que acreditava tomar um remédio muito eficaz. Sarava pela fé no remédio. Também “curam” os “endemoninhados” com defumadores dos umbandistas, com o círculo mágico dos ocultistas, com os passes dos espíritas, com os gritos e danças dos feiticeiros africanos, etc…. Exemplo: Um endemoninhado procurou o Bispo. Como não estava, o criado com a estola, leu em latim um discurso de Cícero: e o exorcismo “ciceroniano” expulsou o “demônio”,

La Fontaine, com hipnotismo curou 23 endemoninhados, e entre eles, a famosa “endemoninhada” Vouillet, que estava sendo muitas vezes exorcizada e que apresentara levitações, xenoglossias, sansonismo, etc.

E não há endemoninhado em pleno ataque que resista a uma dose suficiente de calmante. Antigamente não existiam essas injeções. Será que o demônio também se acalma c om uma injeção??

Invocar o fato de que os exorcismos às vezes “curam”, como argumento de que se trata de possessão demoníaca, resulta, pois, completamente absurdo.

Muita gente “cura” com os exorcismos?? Aqui teríamos que explicar todo o tema do curandeirismo…Sem negarmos a possibilidade da intervenção da divina providência, em resposta á oração e fé dos fiéis, duvidamos que nas circunstâncias concretas da administração dos exorcismos solenes e públicos, possa alguma vez atribuir-se a eles alguma cura. Talvez seria imputar a Deus excessiva condescendência com um erro manifesto e germe de superstições. Em todo o caso, a intervenção especial da Divina Providência, na cura dos “endemoninhados” não deve ser pressuposta, mas, demonstrada. E, nos casos reais, há sempre uma explicação natural, e portanto bem mais plausível.

O curandeirismo é sempre perigoso porque pode tirar os sintomas, deixando intacta a doença; fazer mera transferência da somatização de um órgão a outro, etc.. E, mesmo quando fosse eficaz o curandeiro (o exorcista) seria “crime”, não só por confirmar os pacientes na sua superstição alienante, mas também, porque na realidade, o que se faz é aumentara influência do psiquismo, deixando o “curado” cada vez mais vítima ou mais propenso às novas doenças de origem psíquica, a novas “curas”, e a novas doenças…

A Bíblia

A Bíblia é um livro de Doutrina Religiosa. Não é um livro de psicologia, Medicina, Psiquiatria ou Parapsicologia, nem de qualquer outro ramo da ciência relacionado com os fenômenos ou fatos atribuídos tradicionalmente ao demônio. Nem de antropologia, Biologia, zoologia, evolução ou qualqueroutro ramo da ciência relacionado com a origem do homem. Nem sequer diretamente de história.

Dados que existem na Bíblia podem confirmar, talvez, esporadicamente, alguma verdade científica.

Mas, simplesmente, não se deve procurar na Bíblia argumentos contra quaisquer dados científicos. Religião é uma coisa, ciência é outra.

A religião é de âmbito sobrenatural, a Ciência, de âmbito natural. Nem a religião pode afirmar ou negar nada no campo natural, nem a ciência pode afirmar ou negar nada no campo sobrenatural.

Um tema científico que, indiretamente se relacione com a religião, não autoriza ao exegeta ou teólogo a considerá-lo exclusivamente tema religioso. Não é o teólogo a máxima autoridade nesse tema, mas a mínima.

Religião e ciência, sim, em temas fronteiriços, podem e devem cooperar, mas dentro de seus campos específicos. Nos temas que não lhe pertencem diretamente, o cientista e o teólogo devem dar primordial importância ao especialista a quem de direito lhe corresponde o tema.


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