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Os finais do século XIX a atividade intelectual política encontrava uma peculiar efervescência entre livre-pensadores que possuíam certa afinidade quanto a necessidade de uma reformulação social e uma militância anticlerical. Victor Hugo já causava polemica, Carducci e Mazzini engrossavam o caldeirão do diabo, Freud acabara de se formar como médico e em poucos anos a Revolução Russa, levaria comunidades praticamente medievais a se tornarem uma nova e poderosa potencia mundial com a formação do primeiro estado ateu da História.
A explosão de consciência dos anos 60 onde nasceu o satanismo moderno ainda estavam distantes, mas o espírito rebelde já estava presente, destronando famílias reais e levantando de modo depravado a as conservadoras saias vitorianas. E em meio a este turbilhão de idéias e revoluções sociais, gritava e lutava Mikhail Bakunin.
Alexandrovich Mikhail Bakunin nasceu na Rússia em 30 de Maio de 1814 e nunca ambicionou os mesmos valores que sua sociedade esperava que ele ambicionasse. Era um homem de grande vontade pessoal e de privilegiado intelecto. Desta forma valores vigentes como, status social e riqueza nunca foram seus maiores valores. Bakunin se recusava a desejar o que era esperado que ele desejasse e aos 36 anos largou tudo e foi estudar filosofia na Alemanha.
Não demorou em conhecer Hegel e Fichte e começasse a tomar a forma de um revolucionário social. Proudhon e Wilhelm Wietling encarregaram-se de confirmar seu novo estilo de vida. Em poucos anos já participava de militâncias revolucionarias por diversos países europeus.
Em 1849 foi preso pelas autoridades alemãs e permaneceu preso por mais de uma década seja nas prisões da Saxônia, da Áustria ou sendo entregue a força armada czarina. Bakunin passou anos preso na fortaleza de Pedro-e-Paulo, onde pegou escorbuto e tornou-se fisicamente debilitado. Por fim Mikhail foi deportado para a Sibéria, onde ficou até 1861, quando finalmente conseguiu escapar ara a Inglaterra, para continuar suas lutas
Após este período conturbado Bakunin juntou-se a Internacional e defendia uma corrente que se opunha em diversos pontos a idéia socialista que se formava. A verdade é que no fundo Marx e Bakunin são adversários históricos, são os socialistas os principais responsáveis pela disseminação da idéia de que anarquismo é sinônimo de desordem e bagunça, quando na verdade representa a idéia de auto governo e auto organização feita pelo próprio povo, sem senhores sem Estado. Logicamente não demorou muito até que Mikhail Bakunin fosse sumariamente expulso da Internacional, formando a Internacional St. Imier, principal responsável pela força do movimento anarquista histórico.
Lutando com todas as suas forças contra o poder estabelecido, e sendo carregando consigo centenas de membros da Internacional apos sua expulsão não é difícil enxergar a natureza luciferina neste que foi muito mais do que um teórico social. É verdade que uma rápida passada em sua vida e obra nos dá a falsa impressão deste ostentar certos valores osirianos como um leve abandonar do Eu em prol do Todo. No entanto, um estudo mais aprofundado nos revela que Bakunin lutava sim por sua Verdadeira Vontade e daria até a última gota do sangue para isso, e que mesmo seu leve mas aparente moralismo era na realidade fruto de manifestações internas e pessoais e nunca de valores impostos por forças exteriores, como mostram suas seguintes citações:
“Sou um amante fanático da liberdade, considerando-a como único espaço onde podem crescer e desenvolver-se a inteligência, a dignidade e a felicidade dos homens; não esta liberdade formal, outorgada e regulamentada pelo Estado, mentira eterna que, em realidade, representa apenas o privilégio de alguns, apoiada na escravidão de todos; (…) só aceito uma única liberdade que possa ser realmente digna deste nome, a liberdade que consiste no pleno desenvolvimento de todas as potencialidades materiais, intelectuais e morais que se encontrem em estado latente em cada um (…)”
“Não acredito em constituições ou leis. A melhor constituição me deixaria insatisfeito. Precisamos de algo diverso. De tempestade e de vitalidade e de um novo mundo sem leis e conseqüentemente livre”.
Além disso, Bakunin nunca escondeu a admiração que tinha pelo arquétipo mitológico do Diabo, elogiando abertamente a figura com títulos como: “o primeiro livre pensador” e “o emancipador dos mundos” dizendo que no mito bíblico este fez o homem envergonhar-se de sua ignorância e de sua cega obediência a figura divina. Sua repudia ao poder religioso, em especial ao cristianismo fica evidente em diversos outros pontos de sua obra:
(…) Deus deu razão a Satã; ele reconheceu que o diabo não havia enganado Adão e Eva ao lhes prometer a ciência e a liberdade, como recompensa pelo ato de desobediência que ele os induzira a cometer. Assim que eles provaram do fruto proibido, Deus disse a si mesmo (ver a Bíblia): “Aí está, o homem tornou-se como um dos deuses, ele conhece o bem e o mal; impeçamo-lo pois de comer o fruto da vida eterna, a fim de que ele não se torne imortal como Nós”.
“O cristianismo é precisamente a religião por excelência, porque ele expõe e manifesta, em sua plenitude, a natureza, a própria essência de todo o sistema religioso, que é empobrecimento, a escravização e o aniquilamento da humanidade em proveito da divindade. “
Mesmo informalmente, Mikhail Bakunin costumava dizer, que “É preciso ter o Diabo no corpo”, e ainda que sua geração poucos encarnaram o espírito inquieto de Satan numa forma tão completa quanto ele. Bakunin foi um verdadeiro rebelde, capaz de cuspir na cara do mais alto senhor e participar ativamente na luta pelo que achava ser melhor nem que isso custasse sangue; dos outros ou de si mesmo.
Por fim só nos resta dizer que foi sua rebeldia aliada a seu inegável intelecto, que o elevou como o representante satânico de seu tempo. Questionador, Inimigo, Indagador, Bakunin mostrou diversas vezes em sua vida que não se curvaria a nada nem a ninguém. Foi sempre um guerreiro, apesar de nunca ter sido um soldado. Como vemos na citação que encerra este artigo, a indignação fazia parte de seu ser:
“Só desejo uma coisa, conservar até o fim dos meus dias com toda integridade o dom, para mim sagrado, da indignação! A forte atração pelo fantástico é um defeito capital de meu ser, a tranqüilidade me aborrece…”.
1814-1876
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