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Marcelo Ramos Motta

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por Icaro Aron Soares

Marcelo Ramos Motta (27 de junho de 1931 – 26 de agosto de 1987) foi um escritor brasileiro, thelemita, e membro da sociedade ocultista Astrum Argentum – A∴A∴. Conhecido por seu trabalho no campo de Thelema, ele foi uma figura proeminente na comunidade thelêmica e contribuiu significativamente para sua literatura. Motta também era reconhecido por seus nomes mágicos Parzival X° e Parzival XI°. Seus escritos, que incluem traduções das obras de Aleister Crowley e textos thelêmicos originais, tiveram um impacto duradouro no estudo e na prática de Thelema no Brasil e em outros lugares.

Motta nasceu na cidade do Rio de Janeiro (Brasil). Muito pouco se sabe sobre sua infância, apenas que nasceu em uma família de ascendência suíço-alemã e recebeu uma educação muito rigorosa, ampliada pelo seu ingresso na Academia Militar do Rio de Janeiro (Colégio Militar do Rio de Janeiro). Seu pai era seguidor da doutrina de Allan Kardec e sua mãe era católica. Aos onze anos interessou-se pela primeira vez pelos misteriosos “rosacruzes”, depois de ler Zanoni – A Sabedoria dos Rosacruzes, romance de Sir Edward Bulwer-Lytton. Ele também leu obras de Papus, Blavatsky, Patânjali, Paracelso e Arnold Krumm-Heller. Ele “decidiu procurá-los e se tornar um daqueles misteriosos Adeptos”. Mas seu primeiro contato com uma sociedade autoproclamada rosacruz, o ramo brasileiro da AMORC, não o satisfez e ele começou sua busca por uma escola iniciática do tipo que encontrou no romance Rosa Cruz: Novela de Ocultismo Iniciático, de Arnold Krumm-Heller.

A passagem pela Academia Militar do Rio de Janeiro proporcionou-lhe um senso de dever e disciplina, que aplicou em suas pesquisas ocultistas. Nessa época, interessou-se por astrologia e tarô, entre outros temas esotéricos. Esses interesses não eram muito comuns entre seus colegas, mas lhe deram algum conhecimento para discutir com seu professor de filosofia em um debate que ficou famoso durante anos.

Aos 17 anos fez contato com a Fraternitas Rosicruciana Antiqua – FRA, a ordem rosacruz de Arnold Krumm-Heller, e recebeu suas primeiras iniciações em 1948. A tensão política local o levou a se mudar para a Europa e depois para os Estados Unidos. Sua missão nesta viagem, dada pela liderança brasileira da FRA, era encontrar Parsival Krumm-Heller (filho de Arnold Krumm-Heller e então líder jurídico da FRA) e mediar os contatos entre o grupo brasileiro e a liderança internacional.

O primeiro contato de Motta com Thelema foi através do livro biográfico de Aleister Crowley, de John Symonds, The Great Beast – A Grande Besta. Motta viu muitas conexões entre a Lei de Thelema e partes de suas iniciações na FRA, mas nunca tinha ouvido falar de Thelema ou Aleister Crowley. Além disso, o livro lhe deu sérias dúvidas sobre as iniciações de Crowley. Após perguntar a Parsival Krumm-Heller sobre o assunto, Motta recebeu dele considerável material sobre Thelema e Crowley, leituras que mudaram completamente a opinião de Motta sobre Crowley e seus métodos e filosofia. Mais tarde, nos Estados Unidos, Parsival Krumm-Heller apresentou Motta a Karl Germer, o então líder da Ordo Templi Orientis.

Retornando ao Brasil em 1962, Motta traduziu e publicou o Liber Aleph de Crowley e escreveu Chamando os Filhos do Sol, o primeiro escrito thelêmico publicado no Brasil (mais tarde, esta obra foi suprimida pelo próprio Motta por medo de repercussões políticas). Deste ano até 1987, Motta, como membro da A∴A∴, teve numerosos alunos sob sua tutela.

Karl Germer faleceu em 1962 e, em 1969, Grady McMurtry assumiu o controle da O.T.O. com base em suas cartas de “autorização de emergência” dadas a ele por Crowley. Em 1975, Motta publicou “Os Comentários do Livro da Lei”, como O Equinócio, Volume V, Number 1. Este livro foi publicado pela Samuel Weiser, Inc., e continha comentários sobre O Livro da Lei escrito por Aleister Crowley e pelo próprio Motta. Ele também usou este livro para anunciar sua reivindicação de ser o Cabeça Externa da Ordem (O.H.O.) da O.T.O. Esta reivindicação foi rejeitada pela corte dos Estados Unidos em 1978, quando Motta processou sem sucesso a propriedade dos direitos autorais de Crowley. O caso foi finalmente rejeitado em recurso em 1985.

Motta praticou artes marciais asiáticas, especialmente Judô e Tae Kwon Do. Em 1973, Motta produziu por conta própria um filme chamado O Judoka, baseado em um super-herói de quadrinhos (“O Judoca”). O filme não recuperou o custo, fazendo com que ele pagasse suas dívidas nos anos seguintes.

Ele também escreveu letras para as músicas “Tente Outra Vez”, “A Maçã”, “Eu Sou Egoísta”, “Peixuxa” e a faixa-título, “Novo Aeon” do músico Raul Seixas do álbum de mesmo nome.

Motta carecia de estabilidade econômica, mudando de emprego em emprego e ganhando a vida como professor de inglês, auxiliado pela ajuda de seus seguidores.

Motta estabeleceu sua versão da O.T.O. chamada Sociedade Ordo Templi Orientis – S.O.T.O. no Brasil e em outros lugares. A ordem nunca revela o número de seus membros, mas era significativamente menor do que a Ordo Templi Orientis legalmente reconhecida. A O.T.O. legalmente reconhecida agora é chefiada por um aluno de Motta chamado William Breeze (Hymenaeus Beta). Os alunos de Motta incluíam o famoso romancista brasileiro Paulo Coelho, o matemático e filósofo Gary Costner (Frater P.L.S.) e o músico Raul Seixas. Ele originalmente legou sua sucessão aos cuidados de três alunos (William Robert Barden, Claudia Canuto de Menezes e Daniel Ben Stone) com a condição de que eles concordassem em um sucessor. (Deed and Trust – Ação e Confiança, datada de 15 de outubro de 1984). Eles falharam em fazê-lo.

Motta faleceu em 26 de agosto de 1987, na cidade de Teresópolis (Brasil), aos 56 anos, de infarto.

ALGUNS SUCESSORES DE MARCELO MOTTA

Euclydes Lacerda de Almeida foi um magista e teórico brasileiro associado ao movimento Thelêmico, tendo sido discípulo de Marcelo Ramos Motta, um dos principais divulgadores de Thelema no Brasil. Ele fundou a Ordem dos Cavaleiros de Thelema (OCT) e a Sociedade Novo Aeon (SNA), organizações que promoviam a filosofia de Aleister Crowley. Euclydes também foi mentor de figuras como Paulo Coelho e Raul Seixas, influenciando suas obras carregadas de misticismo.

Claudia Canuto de Menezes permaneceu relativamente silenciosa antes de emitir uma declaração em 2000, parecendo endossar Ray Eales e H.O.O.R.

Daniel Ben Stone conseguiu publicar alguns anúncios da S.O.T.O. na seção de classificados do Llewellyn New Times e publicou uma impressão muito limitada do Oriflamme VI, nº 6 em capa dura (a única edição que inclui os comentários de Motta) antes de desaparecer.

Barden conseguiu publicar algumas edições autorizadas do trabalho de Motta através de sua filial australiana da S.O.T.O. (operando como Fundação Parzival XI° O.T.O.). Além de distribuir outras publicações de Motta, o Parzival XI° O.T.O., A Fundação publicou cinco números de um periódico, The Journal of Thelemic Scholarship, que reimprimiu escritos raros de Crowley e outros materiais thelêmicos. Em 20 de agosto de 2018, Barden renunciou às suas responsabilidades (embora mantivesse o título de Supervisor Geral) e anunciou um sucessor para atuar como Zelador Chefe de Thelema. Eles agora distribuem as publicações de Motta sob o nome de Caretakers of Thelema (Zeladores de Thelema).

Em 1991, Ray Eales (Frater 939) estabeleceu a H.O.O.R. (Ordem Sagrada de RaHoorKhuit), uma ordem thelêmica externa, e publicou vários volumes de Motta sob o selo da H.O.O.R. Publicações, de Tampa, Flórida. A H.O.O.R. também começou a publicar o periódico Warriors LVX em 1993; este alcançou o Vol 11, nº 1 na primavera de 2004 – sua ‘Edição do Centenário Aeônico’.

Após o fracasso de Canuto, Ben Stone e Barden em eleger um sucessor, David Bersson (Frater Sphinx) anunciou que, como medida de emergência, estava assumindo o papel de Rei nos Estados Unidos (mais tarde proclamando-se Frater Superior do Mundo Inteiro) e continua a operar uma versão da S.O.T.O. em Pittsburgh, na Pensilvânia. Bersson é um escritor prolífico e fez muito para diferenciar sua Escola de Pensamento da de Motta.

Bersson e Eales endossaram a publicação de 1992 de The Equinox VII, nº 1 pela Silver Star Publications (Tampa, FL).

OBRAS DE MOTTA PUBLICADAS EM PORTUGUÊS

Poesias (self, n/d 1951 e.v., Rio de Janeiro)

Chamando Os Filhos Do Sol (self, Abril 1962 e.v., Rio de Janeiro)

O Equinócio dos Deuses (Março 1976 e.v., Sociedade Ordo Templi Orientis no Brasil, Ribeirăo Preto), uma tradução do Liber ABA (Livro 4), Parte IV, de Crowley.

Yoga e Magia (Setembro, 1976 e.v. & 1981 e.v., Sociedade Ordo Templi Orientis Internacional, Ribeirăo Preto), uma tradução do Liber ABA (Livro 4), Parte I.

Magia e Misticismo (Março 1982 e.v. & 1991 e.v., Sociedade Ordo Templi Orientis no Brasil, Ribeirăo Preto) uma tradução do Liber ABA (Livro 4), Parte II.

Ataque e Defesa Astral (Março, 1986 e.v., Sociedade Ordo Templi Orientis no Brasil, Ribeirăo Preto).

Serviços de Inteligência năo săo Inteligentes (Setembro, 2000 e.v., The Headland Press, Old Greenwich).

Carta a um Maçom (1980 e.v., Sociedade Ordo Templi Orientis no Brasil, Ribeirăo Preto)

Dos Propósitos Políticos da Ordem (1987 e.v., Sociedade Ordo Templi Orientis no Brasil, Ribeirăo Preto).

Moral e Cívica Telêmicas (1987 e.v., Sociedade Ordo Templi Orientis no Brasil, Ribeirăo Preto).

A Canção Perdida, uma coletânea de Rituais, instruções e ensaios (2022 – Editora Daemon)


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