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Friedrich Wilhelm Nietzsche

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 “É comandado aquele que não obedece ao seu próprio eu” – Nietzsche

Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu na Saxônia prussiana em uma família de pastores prostetantes e é até hoje considerado o primeiro filosofo anti-metafisico, celebrante da carne, do mundo imanente e da condição humana natural, é com certeza uma forte influência em qualquer filosofia guerreira do século XX em diante.

Nietzsche é provavelmente mais conhecido por seu primeiro canto em ‘Assim falou Zaratrusta’ onde escreveu que “Deus está Morto.” Mas ao contrário do que gritam as multidões, não foi este pensador que matou o todo poderoso. Ele simplesmente assinou o atestado de óbito de uma mentira que estava sendo desmascarada por muitos anos. Ao anunciar a morte de Deus, este homem simplesmente deixava bem claro para a humanidade o que tinha acontecido no mundo moderno através da ciência. Este pensador não estava preocupado em matar Deus, ele já estava morto, ele nunca tinha sequer existido e as pessoas já começavam a perceber isso. As respostas fáceis da metafísica já mostravam sérios sinais de cansaço. E com a Ciência revelando que as explicações antigas eram enganosas e tendenciosas, todos os antigos valores estavam caindo abaixo.

Nietzsche no entanto vigiava com atenção a doença hereditária deixada pela metafísica judaico-cristã aos homens dos tempos modernos.  Embora muitos dos mitos antigos já estivessem desmentidos o homem moderno ainda persistia em cultivar a antiga e decadente moral que o antecedeu. Nietzsche alertava que a perda da fé em Deus resultaria em pouco tempo numa sociedade vazia e numa profunda crise em toda a civilização. Para ele, o homem moderno cairia na armadilha de sua própria sociedade cientifica. Se a ciência matou Deus, a mesma não parecia apta a se colocar em seu lugar, viria então o “niilismo moderno” onde o viver não tem sentido e a vida não têm valor.

A resposta de Nietzsche contra o Niilismo foi à valorização do Poder. A virtude do homem seria então seu próprio Poder. Nas palavras do pensador “O que é bom? Tudo aquilo que envolve o desejo de potência, a vontade de potência, enfim, a própria potência” . Nietzsche acreditava na luta de si mesmo para elevação do seu próprio poder” e observou que a Vontade de poder era a virtude original de tudo o que é vivo. É pela busca de poder que ser busca manter e garantir sua própria existência. Amor, Riqueza, Ciência ou qualquer outros valores seriam somente secundários, pois sem Poder nenhum destas coisas será sinônimo de satisfação e com poder todas estas e outras coisas lhe seriam acrescentadas. A Vontade de Poder reflete-se então no cultivo de nossas próprias potencialidades, livre de toda a culpa moral. O desejo de elevar o próprio poder, saúde e capacidades em algo cada vez maior, é a auto superação que levaria a humanidade niilista moderna à Super Humanidade preconizada pelo filosofo;

Übermensch, Super-Homem, seria esta representação de superação da condição humana. O Super-Homem representaria a humanidade ascensa em si mesmo e o homem emancipado. É a retomada da Imanência pré-socrática e a superação do dualismo cristão “bem versus mal”, pelo grego “bom versus ruim”, pois bem e mal tendem a uma falsa universalidade e bom e ruim limitam-se a contextualidades relativas ao momento. O Super Homem refere-se também ao abandono do ascetismo e da negação vital pela retomada da própria vida como valor da vida.  O único valor do ser humano moderno para Nietzsche seria o de servir como uma ponte entre o macaco e o Super Homem futuro.

A conquista da super-humanidade, ou da liberação do homem exigiria segundo o pensador um combate feroz contra a antiga moralidade escravocrata que aprisiona o ser humano.  O primeiro inimigo seria a moral socrática que reduz tudo sob os pés da razão. Depois disso se deveria exterminar a moral cristã, a moral do escravo, que vale de supostas recompensas em um mundo inexistente, valoriza a debilidade e por meio da exaltação de tudo o que é fraco e doente nega a vida à vontade de potencia. O Cristianismo herança e aprimoramento da deturpada moral judaica condena os instintos naturais do homem como sendo erro e tentação. E sendo os instintos a manifestação da vida, essa negação da moral cristã seria um apoio à destruição da própria vida, ao ódio pelo próprio corpo e, portanto ao ódio de si mesmo e conseqüentemente ao ódio ao restante do mundo e finalmente ao próximo. Tudo é claro sem abandonar as vestimentas de suposta santidade.

“Apenas os desafortunados são bons; os sofredores, os carentes, os doentes, os feios, apenas eles são dignos de devoção, de piedade, apenas eles são abençoados por Deus… e vocês, os poderosos e ilustres, vocês, ao contrário, são os maus, os cruéis, os devassos, os insaciáveis, os ímpios, os imorais por toda a eternidade, vocês serão os amaldiçoados, os condenados e os danados!”

Nietzsche estava convicto que esta moral dos escravos era fruto direto do “ressentimento do mais fraco” que por serem explorados, oprimidos e vencidos pelos mais fortes fugiram para seu próprio mundo ilusório onde a fraqueza é uma virtude, e os vencidos o povo escolhido por Deus. Tendo isso em mente, em toda a sua obra o filosofo traçou algumas características que levariam a super humanidade.

Segundo ele uma das características mais importantes para se abandonar o niilismo provocado pelo abandono da moral cristã e chegar-se à condição de Super-Homem seria o constante amor e aceitação de sua condição. O Amor Fati ou Amor pelo Destino que se tem, é a profunda aceitação dos fatos, amor a sua situação, amor a si próprio e ao mundo como este é e não como gostaríamos que fosse. Como qualquer satanista de hoje, buscava a aceitação da vida como ela realmente se manifesta.  Segundo Nietzsche se tivermos a coragem de viver no mundo onde estamos, vida passaria a ser uma “coleção de eventos” sem qualquer necessidade de justificação. Não haveria mais um fim maior ou uma meta que obrigatoriamente deveríamos alcançar em quanto se vivemos. A vida revelar-se-ia então como seu próprio objetivo.

Atrelado ao Amor pelo Destino, Nietzsche colocava a importância de se viver o momento. O Eterno retorno ao presente e ao aqui no lugar da fuga para Deus, ou para outros mundos imaginários. O Santo homem para Nietzsche não era aquele que negava o mundo em fugas metafísicas, mas aquele que reconhece a lei natural e não tenta apegar-se a uma ilusão.  A vida acontece aqui e agora e não em qualquer outro lugar. A vida do Super-Homem deveria, portanto ser uma “sucessão de momentos”, uma “soma de instantes” e não um presente inconfortavelmente oprimido entre fantasmas do passado e ilusões do futuro.

Este é bem resumidamente o pensamento de Nietzsche. Seus maiores opositores apontam para o fim trágico de sua vida como um sinal da ira divina e do perigo em se questionar as coisas, fazendo ele um perdedor. Mas a verdade é que Nietzsche soube como ninguém viver o que escreveu; “De todo o escrito só me apraz aquilo que uma pessoa escreveu com seu sangue”.

Nem quando a doença o atingiu ele negou sua filosofia da força. Foi de fato em suas maiores crises que ele reuniu forças para erigir seus pensamentos de exaltação a vida. De qualquer forma as pessoas buscaram muito mais criticá-lo para defender seus próprios fracassados modos de vida do que verdadeiramente entende-lo, sendo inclusive usado como desculpa para o movimento nazista e conseqüente imbecilidades fruto da deturpação dos argumentos, e das tentativas de se forçar exteriormente algo que só poderia acontecer de dentro para fora. O maior problema do Reich foi tentar fazer com uma nação algo que só pode acontecer com indivíduos. Segundo o filosofo “A loucura é rara em indivíduos – mas em grupos, partidos, nações e eras é a regra.” – Além do bem e do mal

A verdade é que Nietzsche não foi punido por Deus, foi punido sim pela sociedade covarde em que viveu. Ele arrancou o véu da mentira e expôs o ser humano como este de fato é. Nietzsche foi crucificado por ser um gigante andando em terra de anões, uma águia pairando sobre o galinheiro. Era um homem do futuro, era um satanista. Como ele mesmo disse: “alguns homens nascem póstumos.”

1844 – 1900


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