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Por Archibald Cockren, Alquimia Redescoberta e Restaurada, Capítulo 4. Tradução de Ícaro Aron Soares.
Registros da vida de Basílio Valentino, o monge beneditino que por suas realizações na esfera química recebeu o título de Pai da Química Moderna, são uma massa de evidências conflitantes. Muitos e variados são os relatos de sua vida, e os historiadores parecem incapazes de concordar quanto à sua identidade exata, ou mesmo quanto ao século em que viveu. Acredita-se geralmente, no entanto, que 1394 foi o ano de seu nascimento, e que ele realmente se juntou à Irmandade Beneditina, eventualmente se tornando Cônego do Priorado de São Pedro em Erfurt, perto de Estrasburgo, embora nem mesmo esses fatos possam ser provados.
Seja qual for sua identidade, Basílio Valentino foi, sem dúvida, um grande químico e o criador de muitas preparações químicas de primeira importância. Entre elas estão; a preparação do espírito do sal, ou ácido clorídrico a partir de sal marinho e óleo de vitríolo (ácido sulfúrico); a extração de cobre de suas piritas (enxofre) transformando-o primeiramente em sulfato de cobre e, em seguida, mergulhando uma barra de ferro na dissolução aquosa deste produto: o método de produção de sulfoéter pela destilação de uma mistura de álcool de vinho e óleo de vitríolo: o método de obtenção de conhaque pela destilação de vinho e cerveja, retificando a destilação em carbonato de potássio.
Em seus escritos, ele registrou muitos fatos valiosos, e se Basílio Valentino é o nome correto do autor ou um nome presumido importa pouco, pois não diminui em nada o valor de suas obras ou o calibre de seus experimentos práticos. De seus escritos, conclui-se que ele era de fato um monge e também o possuidor de uma mente e compreensão superiores às do pensador médio de sua época. A intenção e o objetivo final de seus estudos eram, sem dúvida, provar que a saúde perfeita no corpo humano é atingível e que a perfeição de toda substância metálica também é possível. Ele acreditava que o médico deveria considerar sua vocação como uma confiança sagrada, e ficou horrorizado com a ignorância da faculdade médica da época, cujos membros seguiam seu caminho designado em complacência presunçosa, mostrando pouca preocupação com o destino de seus pacientes depois de prescreverem sua panaceia de estimação.
A seguinte citação de ‘A Carruagem Triunfal de Antimônio’ de Basílio Valentino é da versão latina publicada em Amsterdã em 1685, e traduzida para o inglês e publicada por James Elliott & Co., Falcon Court, Fleet Street, E.C., em 1893.
‘. . . essa qualidade de médico’, ele escreve, ‘não pode preparar seus próprios remédios (como eles são), mas deve deixar esse trabalho para outro. Ele nem sabe a cor dos remédios que prescreve. Ele não tem a menor ideia se são brancos ou pretos, vermelhos ou cinza, azuis ou amarelos, ou se o medicamento é quente, frio, seco ou úmido. Ele só sabe de uma coisa: que encontrou o nome daquele remédio em seus livros e, vangloriando-se da antiguidade de seu conhecimento antigo, reivindica o direito de posse anterior.
Aqui novamente sou tentado a gritar: ai desses médicos tolos cujas consciências estão cauterizadas com ferro em brasa, que não se importam nem um pouco com seus pacientes e serão chamados a prestar contas terríveis por sua loucura criminosa no dia do julgamento! Então eles contemplarão Aquele a quem traspassaram ao negligenciar o bem-estar de seu vizinho, enquanto embolsam seu dinheiro, e verão finalmente que deveriam ter trabalhado noite e dia para adquirir maior habilidade na cura de doenças. Em vez disso, eles complacentemente continuam confiando no acaso, prescrevendo o primeiro remédio que encontram em seus livros e deixando o paciente e a doença lutarem contra isso da melhor maneira possível. Eles nem se preocupam em perguntar de que maneira os remédios que prescrevem são preparados. Seu laboratório, sua fornalha, seus remédios estão no Boticário, a quem raramente ou nunca vão. Eles inscrevem em uma folha de papel, sob a palavra mágica “Receita”, os nomes de certos remédios, após o que o assistente do Boticário pega seu pilão e bate no miserável paciente qualquer saúde que ainda possa restar nele.
‘Mude esses tempos malignos, ó Deus! Corte essas árvores, para que elas não cresçam até o céu! Derrube esses gigantes arrogantes, para que eles não empilhem montanha sobre montanha e tentem invadir o céu! Proteja os poucos conscienciosos que silenciosamente se esforçam para descobrir os mistérios da Tua criação!
‘Pedirei a todos os meus irmãos em nosso Mosteiro que se unam a mim em fervorosa oração, dia e noite, para que Deus possa iluminar a ignorância desses pseudo-médicos, para que eles possam entender as virtudes que ele implantou nas coisas criadas, e possam aprender também que eles podem se tornar manifestos e operantes somente por meio daquela preparação que remove todas as impurezas nocivas e venenosas. Confio que Deus responderá à nossa oração, e que alguns dos meus irmãos pelo menos sobreviverão para testemunhar a mudança abençoada que então ocorrerá na Terra, quando o espesso véu da ignorância tiver sido removido dos olhos de nossos oponentes, e suas mentes tiverem sido iluminadas para encontrar a moeda de prata perdida. Que Deus, que governa os destinos dos homens, em Sua bondade e misericórdia, realize esta consumação.’”
Sobre o assunto da perfeição dos corpos metálicos, como em sua referência à Arte Espagírica, ao Grande Magistrum (Grão-Mestre), à Medicina Universal, às Tinturas para transmutar metais e outros mistérios da arte do alquimista, ele mistificou completamente não apenas o leitor leigo, mas os químicos eruditos de sua época e de épocas posteriores. Em todas as suas obras, a chave importante para um processo de laboratório é aparentemente omitida. Na verdade, no entanto, tal chave é invariavelmente encontrada em alguma outra parte dos escritos, provavelmente no meio de um dos misteriosos discursos teológicos que ele costumava inserir entre suas instruções práticas, de modo que é somente por estudo intensivo que o mistério pode ser desvendado.
Sua obra mais famosa é seu ‘Currus Triumphalis Antimonii’ (‘A Carruagem Triunfal do Antimônio’). Foi traduzido para o alemão, francês e inglês, e fez mais para estabelecer sua reputação como químico do que qualquer outra. A melhor edição é, sem dúvida, a publicada em Amsterdã em 1671 com um comentário de Teodoro Kerckríngio. Em seu prefácio, Kerckríngio afirma que ele realmente falou com Valentino além de estudar suas obras. Ele fala de Basílio como ‘o príncipe de todos os químicos, e o mais erudito, íntegro e lúcido de todos os escritores alquímicos. Ele conta ao estudante cuidadoso tudo o que pode ser conhecido em alquimia; disso eu posso lhe assegurar positivamente.’ Uma leitura deste livro deixa bem evidente que Valentino investigou muito completamente as propriedades do antimônio, e as descobertas sobre seu trabalho experimental com este metal foram apresentadas como descobertas recentes por químicos de nossos dias.
Suas outras obras são ‘A Medicina dos Metais’, ‘Das Coisas Naturais e Sobrenaturais’, ‘Da Primeira Tintura, Raiz e Espírito dos Metais’, ‘As Doze Chaves’ e seu ‘Último Testamento’. Alega-se que esta última obra permaneceu oculta por vários anos dentro do Altar-Mor da igreja pertencente ao Priorado. Tal história é bastante factível, uma vez que alquimistas tanto antes quanto depois desta era, considerando suas obras impróprias para a era em que foram escritas, são conhecidos por terem enterrado ou de outra forma secretado seus escritos para a descoberta e benefício, como eles sem dúvida esperavam, de uma era mais merecedora e mais iluminada. Tais manuscritos muitas vezes não seriam descobertos por várias gerações após a morte do autor.
Em vista de suas outras realizações notáveis como um químico de grande habilidade, não parece ilógico supor que o Método Universal de Medicina de Valentino seja capaz de alcançar uma medida de sucesso tão grande quanto suas outras descobertas um tanto mais prosaicas.
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