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Abu Hamid al-Ghazali, também conhecido como Al-Ghazzali ou Algazel (1058-1111) foi um dos mais famosos intelectuais muçulmanos da Idade Média, ele escreveu importantes obras sobre misticismo islâmico, teologia e filosofia que tiveram um efeito duradouro no pensamento religioso muçulmano medieval.
Al-Ghazali nasceu na cidade de Tus, no Irã, onde recebeu seus primeiros estudos antes de se mudar para Nishapur, um importante centro iraniano de aprendizado sunita nos séculos XI e XII.
Entre seus professores mais famosos em Nishapur estava al-Juwayni (m. 1085), um renomado estudioso da teologia Ashari e da jurisprudência islâmica (Fiqh).
Al-Ghazali permaneceu em Nishapur até a morte de al-Juwayni.
Depois, ele se juntou ao círculo de estudiosos patronizados por Nizam al-Mulk (m. 1092), o poderoso vizir turco seljúcida do Império Abássida.
Al-Ghazali logo se tornou um dos principais estudiosos de Bagdá, e em 1091, foi um dos primeiros professores nomeados para integrar o corpo docente da nova Faculdade de Nizamiyya (madrasa), onde ensinou a lei Shafii.
Há informações de que algumas de suas palestras atraíram até 300 alunos, um número invulgarmente grande para uma escola medieval.
O sucesso público de Al-Ghazali como acadêmico e professor o levou a questionar seus motivos e a sinceridade de sua fé, de modo que em 1095, ele se viu incapaz de falar ou de continuar com seu trabalho.
Esta crise espiritual levou-o a renunciar ao cargo, deixando sua família e partindo em um período sabático de 11 anos na Síria.
Durante este tempo, suas explorações se concentraram nos caminhos e ensinamentos do Sufismo.
Em sua autobiografia espiritual, Al-Ghazali escreveu sobre o que ele descobriu durante este longo retiro:
De todas as várias escolas de religião no Islã, “eu sabia com certeza que os Sufis são exclusivamente aqueles que seguem o caminho para o Deus Altíssimo, seu modo de vida é o melhor de todos, seu caminho o mais direto, e sua ética a mais pura” (Al-Ghazali, 56).
Ele voltou a ensinar brevemente na madrasa de Nishapur e fundou um hospício sufi (khanqah) em sua cidade natal, Tus, onde passou seus últimos dias.
Al-Ghazali adquiriu um profundo conhecimento de muitas áreas do pensamento religioso islâmico e abordou seus assuntos de forma sistemática.
Os estudiosos o identificaram como autor de cerca de 60 livros.
Seu livro mais famoso é O Renascer das Ciências Religiosas (ca. 1097), uma obra abrangente que busca casar a prática islâmica com as verdades teológicas e místicas.
Escrito durante seu longo retiro, o livro está organizado em quatro partes:
1) os Cinco pilares do Islã e seu significado espiritual;
2) como conduzir moralmente os assuntos diários – tais como práticas alimentares, casamento, trabalho, viagens e ouvir música – de modo a aproximar-se de Deus;
3) como disciplinar o eu para eliminar as fraquezas humanas tais como desejo, calúnia, inveja e ganância que levam à condenação; e
4) como purificar a alma humana e buscar o caminho para Deus e a salvação.
A última parte também inclui descrições vívidas da morte e do pós-vida, o destino final de todos os humanos.
Dois outros livros bem conhecidos, A Incoerência dos Filósofos (ca. 1095) e O Libertador do Erro (ca. 1108), mostram o saber-fazer de Al-Ghazali – tanto das tradições teológicas e filosóficas de seu tempo como dos diferentes pontos de vista dos estudiosos e dos homens de religião.
Nessas obras, ele procurou demonstrar logicamente o que ele pensava serem as falácias e os erros dos filósofos e teólogos dos Ismaili, isto é, dos xiitas ismaelitas.
Defendendo a escola de teologia ashari à qual ele pertencia, ele sustentou que as verdades religiosas pertencentes a Deus, à criação e à alma não poderiam ser adequadamente sondadas pela mente racional, a não ser pela revelação.
Na opinião de Al-Ghazali, os argumentos de filósofos muçulmanos como Al- Farabi (m. 950) e Ibn Sina, Avicena (m. 1037) contra a existência de almas individuais e a crença em uma ressurreição corporal estavam em conflito com as verdades do Alcorão, assim como sua posição sobre a eternidade do mundo.
A principal crítica de Al-Ghazali aos Xiitas Ismaelitas, que representavam uma séria ameaça à hegemonia sunita durante os séculos XI e XII, era a de que eles davam demasiada autoridade aos seus Imãs.
Os crentes só tinham que reconhecer a existência de Deus e aderir à Umma (a Comunidade Islâmica) de Muhammad para conduzir suas vidas.
Além disso, Al-Ghazali advertiu contra permitir que os plebeus se engajassem em especulações teológicas ou filosóficas, pois isso prejudicaria suas chances de salvação.
Ele também criticou as reivindicações exageradas dos místicos sufistas, que falavam do conhecimento divino e da completa aniquilação do eu em Deus.
Somente Deus pode se conhecer plenamente, escreveu ele, e a aniquilação, se alcançada, é apenas temporária.
As contribuições de Al-Ghazali para a história do pensamento e do misticismo islâmico ainda hoje estão sendo debatidas.
Muitos reconhecem que seus escritos ajudaram a dar um novo significado às práticas muçulmanas, unindo-as aos valores e entendimentos sufistas.
O uso de argumentação lógica em seus escritos teológicos estabeleceu um padrão a ser seguido pelos teólogos muçulmanos posteriores.
As críticas ousadas de Al-Ghazali aos filósofos muçulmanos ecoaram em todo o mundo intelectual muçulmano e obrigaram Ibn Rushd (m. 1198), o filósofo e jurista andaluz, a escrever uma réplica intitulada A Incoerência da Incoerência.
No lado negativo, Al-Ghazali pode ter contribuído para o declínio da reflexão filosófica islâmica pela força de seus argumentos baseados teologicamente contra muitos dos seus principais princípios.
Leitura adicional:
– Massimo Campanini, “Al-Ghazzali.” In History of Islamic Philosophy, edited by Seyyed Hossein Nasr and Oliver Leaman, 258–274 (London: Routledge, 1996);
– Abu Hamid al-Ghazali, Al-Ghazali’s Path to Sufism: His Deliverance from Error, al-Munqidh min al-dalal. Translated by R. J. McCarthy (Louisville, Ky.: Fons Vitae, 2000);
– W. Montgomery Watt, The Faith and Practice of al-Ghazali (London: George Allen & Unwin, 1953).
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Fonte:
Encyclopedia of Islam
Copyright © 2009 by Juan E. Campo
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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.
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